Hunter x Hunter — Contos da Torre Celestial #1: Corrodent Blood (Parte 2)

Leo Medeiros
4 min readSep 19, 2019

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A série “Contos da Torre Celestial” elenca fanfics do mangá Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi. As histórias podem ser também encontradas no grupo Hunter x Hunter Seiko, no Facebook. Boa leitura!

PARTE 1

Segundo Kujiro, “sob condições e restrições, praticamente qualquer coisa se torna possível usando o nen. Incluindo transformá-lo em ácido”. Conceber a existência de uma energia misteriosa fluindo pelo meu corpo foi difícil no começo, mais ainda era, confesso, compreender a atestação do meu filho após tudo que aprendi do básico sobre ela.

Mas eu pude descobrir a verdade de suas palavras graças ao homem atrás de mim agora. Suas mãos delicadamente me conduzindo na cadeira de rodas não parecem aquelas tão pesadas outrora, quando ele tomou sua decisão e me abandonou com uma criança nos braços. E, ao reparecer, fora apenas parte da minha condenação final. Meu decaimento irreversível na solidão e no flagelo. Ele quem conseguira o material necessário, o líquido corrosivo no qual eu e Kujiro mergulhamos nossos braços. Kujiro me fez suportar a dor e eu, tonta, acatei com seus esforços.

Ambos saímos muito machucados, no entanto Kujiro era quem carregava um sorriso no rosto. De uma ponta à outra, alva e reluzente abertura; os olhos brilhavam mirados num futuro que, embora desconhecido, eu já temia. Caía em pavor ao pressentir as intenções sórdidas e questionáveis de meu filho, e meus braços, ou os pedaços desmilinguidos que se desfaziam ao chão, eram um terrível prólogo. Estava ali, manifestado no meu corpo, o que o contumaz desejo dele por segurança e estabilidade deixaria no caminho. Até onde iria para conseguir o que quer.

Em momentos como esse, uma mãe se pergunta onde errou. Que pedaço, que parafuso desse filho parido faltou arroxar. Não há perdão para a falha de uma mãe, e meu corpo exaurido nessa cadeira de rodas é a prova viva. Sinto que é tarde. Quero me livrar das correntes, mas o sentimento de que eu mesma criei seu dono me impede. Me entrego ao sofrimento. Só me resta agora torcer para Kujiro.

No topo da modesta platéia, Gakija mantém o olhar fixo na arena. O foco não se perde por nada, nem pelas falas do homem calvo atrás dela.

— Gakija, isto vai ser rápido mesmo? — pergunta o homem, ajeitando o óculos com um pequeno empurrão do dedo indicador. — Este lugar é um pouco ameaçador, sabe?

— Tirando o buraco no meio da cabeça, você não mudou nada mesmo. Continua um covarde — Gakija inferiu certo desprezo nas palavras.

— Eu estou te ajudando, você poderia me tratar melhor. Ainda mais depois de tanto tempo.

— Quem sumiu foi você.

— Sumi depois de ajudar vocês com aquela porcaria de ácido que o seu filho me fez roubar do laboratório. Era o meu lugar de trabalho e eu poderia ter acabado com a minha carreira!

— Meu filho? Quer dizer, Kujiro, o nosso filho. A sua porra não evaporou da minha boceta. Mas acho que você nunca deve ter pensado sobre isso. Deve ter achado que eu carregava uma bola de futebol embaixo do vestido, por isso me abandonou tranquilamente pra ir pra esse maldito laboratório.

— Não seja hipócrita. Reclama à toa. Você mimou esse garoto mais que tudo e não deixou vê-lo quando quis.

— Depois de doze anos seria justo eu te deixar ver Kujiro e traumatizá-lo com sua estupidez, exigindo de mim toda uma explicação sobre o seu sumiço, da qual eu sempre tive que protegê-lo? Sabe, o dinheiro e a ciência são com certeza as piores coisas para uma mulher. Torna os homens gananciosos, desprendendo-os de seus limites morais. Eu achei que conseguiria formar um cara melhor que você. Mas eu falhei. Kujiro nunca conseguiu trabalho, sempre se meteu com coisa errada e agora me puxou junto para um buraco do qual não consigo sair.

— Tsc, eu duvido que você fale com o seu filho desse jeito… Você só sabe apontar o dedo pros outros.

Gakija se retrai. As palavras dele foram precisas em algum ponto. Mas ela sabe quem é que realmente gosta de apontar o dedo ali. A velha responde:

— Quer saber, Miroki? Cale a boca. Faça o favor de só segurar essa porra dessa cadeira e me conduzir de volta quando eu precisar como seu filho pediu. Não, melhor, me leve até o lugar mais próximo da arena. Como foi Kujiro quem mandou, você fará, eu tenho certeza. Então vou me aproveitar.

— Gakija…

— Anda, vamos!

As pernas de Miroki tremem. As mãos soam. A cadeira sai do seu controle por algumas vezes. Gakija se mantém tranquila. Uma serenidade mórbida. Uma vida acatada, reflexo de quem aceitou as ofertas do destino. Era isso: estavam na primeira fileira de um dos lados da arena, bem de frente para o campo de batalha onde Kujiro estaria em breve. Enquanto Miroki limpava a testa e a careca molhada, a narradora fazia as apresentações.

— De um lado, o homem que veste vermelho, o estreante, Nuuujiimuuuraaa! Do outro, também estreante, ele que se classificou para o andar 200 lutando com apenas um braço, o poderoso Kuuujiiiiroooo!

A batalha está prestes a começar.

Continua…

PARTE FINAL

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Leo Medeiros

Escritor, ansioso; a letra da frente sempre fazendo a de trás tropeçar, mas nunca deixando de dizer.