Hunter x Hunter — Contos da Torre Celestial #1: Corrodent Blood (Parte FINAL)

Leo Medeiros
6 min readSep 4, 2022

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A série “Contos da Torre Celestial” elenca fanfics do mangá Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi. As histórias podem ser também encontradas no grupo Hunter x Hunter Seiko, no Facebook. Boa leitura!

PARTE 1

PARTE 2

Corrodent Blood. Poder cooperativo. Necessita o usuário e uma pessoa que o tenha como querido para si. A partir do sacrifício de um membro do corpo de ambos, o usuário consegue atribuir ao nen características extremamente corrosivas (como um ácido) tornando-o capaz de desfazer o alvo atingido instantaneamente, assim como uma propriedade de impulso que permite lançar o nen com grande velocidade e potência, de modo que a técnica se torna indesviável, invencível a até 1 metro de distância. Contudo, há um limite de dois golpes por batalha.

Para o fim exclusivo de proteção do próprio corpo à corrosão, o usuário do nen ácido tem uma habilidade secundária de conjuração chamada Irreducible Cloak, uma espécie de luva cuja extensão contempla todo o membro utilizado para lançar a habilidade (da mão até o ombro). Ela é possível quando o usuário ingere um outro membro do seu companheiro de habilidade.

Antes da batalha, Kujiro pediu um copo de água que não bebeu. Ao invés de aquecer o corpo, passou todo o tempo de preparação encantado com o reflexo no vidro. Era cheio de água o copo e cheia de verdades a própria imagem. E, apesar de intragáveis, as verdades, ele não pode recusar namorar aquela imagem tão exitosa e tão sórdida de si.

Se vencesse hoje, teria metade do caminho andado para pagar a dívida com aqueles homens. Era uma dívida tão velha, de que ele passou tanto tempo correndo, que precisava se esforçar para se lembrar como a tinha feito. Mas não importava: a Torre Celestial apareceu em seu caminho e sua mãe, como sempre, se ofereceu para ajudá-lo. Kujiro precisou apenas escolher o caminho mais extremo e polir sua lábia como nunca para convencer Gakija sobre nen e sobre um futuro em que ele poderia finalmente se tornar um bom menino.

Entrou na arena com mais ansiedade do que gostaria, espremendo a única mão de que tinha à disposição como maneira de conter a vontade explosiva de continuar roendo as unhas já tão castigadas. Sob o anúncio da narradora e a paixão controversa do público pela eminência da porrada, Kujiro pensou em unha, dinheiro e no adversário. Notou a mãe e o pai no lado direito da vista e torturou os olhos para que de maneira alguma os alcançassem . Assassinou a visão periférica. E então respirou fundo.

Nujimura vestia calças e um casaco vermelho de zíper, aberto; por dentro, via-se uma camisa branca. Usava um moicano loiro com mechas vermelhas, parecendo um galo. Realmente lhe agradava a cor vermelha. Mas, apesar da aparência chamativa, não se impunha como alguém que quer destaque no meio da multidão. Que habilidade um homem desse poderia esconder? Kujiro tentou pensar que não importava. Eu serei capaz de destrui-lo de qualquer forma.

O juiz explicou as regras. Kujiro dobrou os joelhos e deixou seu único braço leve e inclinado para trás, pronto para correr e aplicar o seu golpe fatal. Nujimura segurou o pulso com a mão aberta. Emissão. Ele vai atirar alguma coisa. Eu só preciso desviar, do que for e quantos forem, e fazer o meu ataque.

— Comecem!

Kujiro conjurou o Irreducible Cloak e partiu. Era preciso estar a apenas um metro do adversário para que o Corrodent Blood o alcançasse, mas tinha apenas dois golpes para fazê-lo. Não tem problema se eu precisar me proteger de um de seus golpes, é só eu aproveitá-lo para criar uma brecha.

Da plateia, Gakija e o pai de Kujiro assistiram apreensivos uma criatura surgir na frente de Kujiro. Um pequeno, robusto e sorridente dragão vermelho feito de nen. Uma criatura feita de nen… pensou Gakija.

Sem problemas, era uma das possibilidades previstas!, e tão logo pensou e o dragão apareceu, não houve qualquer hesitação, Kujiro apenas inclinou seu corpo para a esquerda, lançando o braço direito, o seu único, na direção da criatura desfazendo-a com um jato do Corrodent Blood. O ser de nen ainda tentou um ataque, um cuspe no ombro direito, mas não houve qualquer dano a Kujiro. E dali mesmo, daquele movimento, ele voltou ao seu trajeto anterior, preparado para alvejar o indefeso Nujimura.

Inclinou novamente o braço para trás, dobrando agora o lado direito do corpo para trás. Uma gota de suor escorreu pela testa de Gakija e Miroki, atrás dela, sorria, contando vantagem. Kujiro atacou. Gakija sobressaltou-se na cadeira, Miroki e toda plateia engataram uma comemoração, mas acabaram censurados pelo silêncio do qual nem mesmo a narradora conseguiu escapar.

O corpo de Kujiro foi ao chão. O lutador atravessou a si próprio com a rajada de ácido. Em etapas, seu corpo pendeu e caiu. Depois disso, os passos de Nujimura foram os únicos sons que não admitiram se calar, calmamente guiando o homem até o derrotado Kujiro.

— Não sei como você desenvolveu uma habilidade dessas nem gostaria de ter experimentado do que ela era capaz — iniciou Nujimura— mas já conheci outro cara com essa dinâmica: nen de transformação perigoso, uma vestimenta de conjuração para se proteger de si mesmo. Quando você conjurou aquela proteção no braço, cheguei a imaginar que você era só um usuário de conjuração ousado, mas, pensando bem, você não me parecia burro o suficiente para só partir para cima de um possível emissor daquele jeito despreocupado.

Kujiro cuspia sangue. A plateia, o juiz, Gakija e Miroki estavam ainda tomados pela surpresa. Enquanto isso, a narradora se questionava, falando por todos eles, como o lutador que parecia tão confiante e tão próximo de acertar seu ataque simplesmente voltou ele contra si mesmo e como, tão logo começou e empolgou ânimos, a luta esmaeceu e chegou ao fim.

— Foi aí que eu lembrei desse carinha com quem me encontrei no passado e pensei — Nujimura apoiou o queixo numa das mãos — hmmm, ele só tem um braço, uma proteção… algum sacrifício foi feito e algum poder perigoso vem aí. E não teve nenhum mistério mais, eu só precisei ser rápido com a minha habilidade — Nujimura mostrou sua mão cheia de nen para Kujiro cujo corpo, mesmo derrubado, parecia estranhamente agitado — O dragão pode atacar e me proteger normalmente como uma criatura de nen, é o que todos esperam. Ele tem uma pequena limitação de área, que no caso da nossa luta não fez diferença, já que você veio até mim. No entanto, a principal parte do poder dele, que é o que ninguém costuma esperar, é o cuspe: dependendo de onde acertar, eu posso controlar o movimento de um dos seus membros. Bom, acho que a partir daí você consegue formular o resto do roteiro, amigo.

Nujimura se agachou e levou a mão com nen até a cabeça de Kujiro. Seu corpo se acalmou.

— Uma pessoa como você seria capaz de, antes do próprio fim, condenar todos ao seu redor, não é mesmo? “Se estou morrendo, por que não levar todos comigo explodindo meu corpo em ácido por aí?” Só que não vou deixar que você faça isso. — Nujimura tirou a mão, revelando os olhos parados e absortos em morte no rosto de Kujiro — Morra e deixe esse mundo em paz, por favor.

Nujimura deu as costas e foi embora diante da ainda silenciada plateia. O juiz, depois a narradora declararam sua vitória. A plateia esperneava uma luta tão curta e chata como aquela, sem sequer uma mísera troca de socos. Miroki olhou para Gakija que contemplava, em lágrimas, o corpo inconsciente do filho no chão.

— Ele morreu…

Paramédicos entraram na arena e começaram a recolher o corpo de Kujiro.

— Gakija, você está b…

— Viu, Kujiro? Eu falei para você… hahaha, eu falei que ele poderia usar manipulação. E você disse disse que estava tudo bem. Agora… eu não vou ter meus braços, nem você, o dinheiro da dívida. Derretermos nossos braços foi inútil, comer o meu braço foi inútil. E eu — inspirou — fui uma grande inútil. Esse tempo todo.

Gakija pediu para Miroki levá-la embora dali. Viraram-se para subir de volta a plateia da arena. Era uma subida íngreme e cheia de percalços. Gakija sorriu, com ódio.

FIM

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Leo Medeiros

Escritor, ansioso; a letra da frente sempre fazendo a de trás tropeçar, mas nunca deixando de dizer.