as fotos que eu não tirei

Miguel Paolini
Revista Passaporte
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3 min readFeb 13, 2018

Começar esse texto, confesso, foi mais difícil que eu pensei. Ensaiei escrevê-lo umas quatro ou cinco vezes. Todas as vezes, eu desistia depois de alguns parágrafos.

Falar sobre viagens é algo que eu sempre quis fazer, mas nunca me considerei viajado, nem entendido. Aliás, eu sempre me achei mediano em praticamente tudo. Viagens é uma das coisas na lista.

No fim de 2016, eu fiquei solteiro de novo. E sempre que a gente tem uma reviravolta impactante na vida, a gente decide viver de um jeito diferente. Em 2014, no meu último término, eu decidi viver mais a vida. Resultado: vivi um ano e meio em festas, conheci pessoas, lugares e afins.

Em 2016, decidi que a meta da reviravolta seria viajar mais. E comecei indo pra Comic Con. Já tinha decidido que faria isso, mas tava meio que fazendo nas coxas. Quando fiquei solteiro, foquei em fazer essa viagem ser incrível. E foi.

Depois dela, fui pro Lollapalooza com a minha irmã. Fiz um vídeo pro meu canal no youtube, mostrando o meu ponto de vista. Depois do Lollapalooza, fui conhecer Pirenópolis, no interior de Goiás. Com 22 anos de idade, nunca tinha ido a uma cidade que fica a uma hora e meia de Goiânia. Depois disso, fui para Brasília algumas vezes, fui pro Rio de Janeiro, fui pra São Paulo, fui para Santos, Maresias e, nesse minuto, escrevo esse texto num quarto de hotel em Brasília de novo.

A coisa em comum com todas as minhas viagens é: quase não tem foto no meu feed do instagram. Eu posto stories sim, posto coisa louco de bebidas, pago micão. Mas não posto nada no feed.

O Igor Mariano fala, em "Você acha mesmo que alguém quer ler sobre as suas viagens?" que sim, as pessoas querem saber. E só querem saber porque você está lá. Você é o diferencial daquele local infinitas vezes fotografado.

Eu concordo com ele, mas sabe o que eu aprendi? NADA no mundo consegue transmitir a sensação da sua presença no local. Você pode tirar a foto mais bonita do mundo, mas NADA vai conseguir explicar pra NINGUÉM como foi a sensação, por exemplo, da areia branca tocando seu pé enquanto você observava o mar indo e vindo, o céu azul brilhante, as nuvens passeando ao longe. O som do vento batendo nas palmeiras NUNCA vai conseguir ser transmitido na mesma intensidade num vídeo.

Com esse raciocínio, eu aprendi que, ao invés de fazer mil fotos milimetricamente calculadas, é melhor viver as experiências. E às vezes, se der, se você se lembrar, tirar uma foto.

O Leonardo Milhomem em "CCXP 2017 e o litoral paulista" postou uma série de fotos incríveis, mas, a mais bonita, na verdade, foi tirada por acaso, no dia mais "merda" da viagem. Estávamos sem grana, compramos cerveja barata no mercado, um balde cor de rosa (que botamos o nome de Cléber), gelo numa distribuidora e bebemos no chão da praia.

Foi o melhor dia. Rendeu a melhor foto. Mas as duas coisas não estão correlacionadas. Sequer são citadas quando contamos uma das duas histórias.

A foto mais bonita não tem nada a ver com nada que aconteceu.

As histórias que você tem pra contar são só suas. Os perrengues, o jeitinho. O Igor Mariano fala disso no texto que eu citei lá em cima.

É muito mais difícil ganhar atenção com um post “10 praias imperdíveis no Caribe” do que com um post “Como eu sobrevivi uma semana na Alemanha depois de gastar todo meu dinheiro no primeiro dia”.

Mas uma coisa que eu aprendi além disso é que a gente pode sim contar uma história sem nenhuma imagem atrelada a ela. E que às vezes, ao invés de perder tempo tentando enquadrar a foto perfeita, a gente pode simplesmente viver aquele momento, que nunca será roubado de nós e ter uma experiência incrível.

Estou saindo do quarto do hotel para mais uma noite de carnaval. Até agora, tirei várias fotos pros Stories. Elas vão deixar de existir em breve. As memórias que eu guardo, por outro lado, são pra sempre.

Não espere por fotos infinitas no meu feed sobre a viagem que eu fiz. Espere pelas histórias que eu vou te contar.

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Miguel Paolini
Revista Passaporte

062 — Publicitário, DJ, Viajante. Não nessa ordem, mas tudo de uma vez.