Uma meta: andar de elefante

Uma viagem à Incredible India

Regiane Folter
Revista Passaporte
10 min readJan 28, 2018

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Incredible India

Isso é o que diz uma camiseta que ganhei na conferência que vivi em Nova Deli. Sem dúvida é o melhor slogan para definir esse país: a Índia é realmente incrível. No tempo que estive ali, cerca de 20 dias, esse país me impactou de distintas formas, todas intensas. O clima, a cultura, as pessoas, as paisagens. Tudo na Índia é mais forte, os sentimentos e as ideias parece elevados ao cubo e por algum tempo, depois de voltar, eu não sabia definir muito bem se havia gostado ou não da viagem. Hoje acredito que ainda precisaria voltar para poder responder essa pergunta como se deve.

Sempre quis conhecer a Índia e novamente tive a oportunidade de desbravar um novo país com a organização para a qual trabalhava. Em agosto de 2015, viajei até Nova Deli para representar o Uruguai numa conferência internacional impressionante. Éramos mais de 123 delegações, cada uma representando um país ou território, cada uma contando uma história diferente sobre o que é ser jovem em sua nação. Foi um privilégio participar de discussões com pessoas de lugares tão distintos (e ainda assim, tão similares) ao meu.

Antes e depois da conferência tivemos alguns dias livres e pude conhecer uma pequena parte dessa terra imensa. Conhecer, na Índia, implica sim ou sim sentir. É respirar e absorver na pele e no coração tudo o que a Incredible India tem para oferecer.

Conhecendo a capital

Meu avião mal tinha desembarcado e eu já estava mais emocionada que o normal. Isso porque uma amiga que fiz no Egito e que não via há 4 anos tinha ido me receber. Foi lindo re-ver essa irmã de intercâmbio! Depois de nos ajudar, eu e a uma companheira de delegação uruguaia (a mesma aventureira que tinha me acompanhado na Colombia), a encontrar nosso hostel, combinamos que ela nos levaria no dia seguinte para conhecer mais da capital do seu país.

Nossas primeiras horas na Índia foram dedicadas a organizar-nos no hostel e aclimatizar. O cansaço de tantas horas em um avião somado ao calor opressor e úmido do nosso novo destino nos deixou meio grogues por um tempinho. Mesmo assim, não queríamos perder tempo e já no primeiro dia nos reunimos com outros colegas da conferência e saímos para explorar os arredores do hostel.

Andar pelas ruas, tendo toda a pinta de extranjera, era como caminhar por uma passarela. As pessoas olhavam, comentavam (coisas que eu não entendia), riam e algumas arriscavam aproximar-se e perguntar algo ou dar as boas-vindas. Enquanto a atenção dos locais estava no grupo de turistas, minha atenção estava para as ruas esburacadas, as pilhas de lixo que encontrávamos nos caminhos, as cores das lojas, os cheiros fortes que vinham dos restaurantes, as vacas que cruzavam as ruas atrapalhando o trânsito. Era muita informação para processar!

Com receio da primeira impressão que teríamos se já provássemos algum prato típico, decidimos comer em um McDonald’s. Não tínhamos nem ideia que até o Mc teria sabor a curry, mas foi a escolha mais segura naquele momento. Já alimentados, subimos a um tuk tuk e vivemos a primeira de muitas viagens insanas dentro desse pequeno automóvel contra o trânsito COMPLETAMENTE desregrado da Índia.

Primeiro dia em Nova Deli

Primeira parada: Porta da Índia. Esse monumento impressionante é um memorial de guerra que se encontra no coração da capital. Ao redor, um jardim convida as pessoas a sentar-se e descansar. Nós preferimos esticar as pernas e andar pelo bulevar Rajpath, que conecta distintos pontos da cidade e nos levaria da Porta até o Parlamento indiano.

Sansad Bhawan é o edifício que abriga o parlamento, um edifício enorme rodeado por um jardim. Não podíamos entrar nos aposentos, mas nos divertimos caminhando ao seu redor e descobrindo os detalhes da arquitetura meio moderna meio antiga daquele prédio.

Depois de muito barganhar com outro tuk tuk, voltamos ao hostel para ter uma boa noite de sono, já que no dia seguinte minha amiga nativa seria nossa guia pelas ruas de Deli.

Passear com alguém que sabia aonde estávamos indo e que coisas contar sobre a paisagem foi outra coisa! Minha querida amiga é muito paciente e animada, então recebeu de braços abertos o pequeno grupo que se juntou para o passeio e nos levou pelos metrôs de Delhi para conhecer alguns dos pontos mais importantes da cidade.

Conhecendo distintas crenças

Começamos o dia indo até Lotus Temple, um dos edifícios mais lindos que já vi. Rodeado por um imenso e florido jardim, esse templo tem o formato de uma flor de lótus e internamente é um grande salão, muito arejado e iluminado, onde pessoas de todas as religiões se encontram para rezar. Sua construção ocorreu na década de 80 e depois de ganhar muitos prêmios por seu aspecto inovador, hoje é considerado um dos prédios mais lindos do mundo. Minha amiga nos contou que além de bonito, o edifício tem um propósito maior: representa o entendimento de que cada um pode ter suas crenças e ainda assim conviver em paz. E foi bem essa a sensação que tive quando estivemos lá e celebraram uma pequena cerimônia em que pedaços da bíblia, do alcorão e do torá, além de trechos de um livro sagrado do hinduismo, foram lidos para todos os presentes.

Seguindo a onda religiosa, saímos daí e fomos até um dos muitos templos de Krishna. Aí conhecemos mais da religião hindu, que é a crença de mais de 80% da população do país. Nesse prédio alaranjado, que representava o lar do deus Krishna, todos os detalhes da decoração e arquitetura são uma homenagem a ele: estátuas em todos os lados, muitas cores, flores e música. Diferentemente de um culto ou uma missa, os praticantes se sentam no chão e adoram o deus cantando, compartilhando impressões ou mesmo em silêncio — você decide! Fizemos parte da multidão por alguns minutos, admirando as imagens nas paredes que contavam a história do deus Krishna e tirando algumas fotos. Na saída, nos ofereceram comida e bebida, um costume dos templos hindus.

O terceiro templo que visitamos pertencia à religião sikh, muito reconhecida pelos seus praticantes homens, que usam grandes turbantes. Diferente do hinduismo, em que vários deuses são adorados, o siquismo é uma crença monoteísta que surgiu em uma região da Índia fruto de elementos hindus e islâmicos. O templo sikh que visitamos era igualmente bonito, embora mais formal e menos colorido. O piso e o prédio eram feitos de mármore e tivemos que correr um pouquinho para não queimar os pés — sapatos são proibidos na maior parte do local. Entramos no salão principal, onde se celebrava uma cerimônia, e nos sentamos no piso. Na frente de todos, vários homens cantavam e os demais acompanhavam. Novamente na saída do templo nos deram comida e bebida. Alimento para a alma e alimento para o corpo, dizia minha amiga nativa.

Perto dali estava uma das atrações mais conhecidas de Deli, o Red Fort (Fortaleza Vermelha). Essa imensa construção, cujas paredes de arenito têm realmente um tom avermelhado, foi residência de líderes indianos por cerca de 200 anos. Passeamos pelos jardins e amplos aposentos abertos daquele edifício que foi construído por volta de 1600 enquanto minha querida amiga nos contava mais sobre a história de seu país.

O triângulo dourado

Depois de nosso dia de passeio guiado não tivemos mais tempo para passear porque começava a conferência. Claro que mesmo nesse evento internacional, que acontecia dentro de um hotel, também conseguimos conhecer mais da cultura índia. O calor insuperável e o curry nos acompanharam durante toda a nossa estadia! E uma vez que a conferência terminou, fomos direto pra estrada para conhecer outras belezas do país. Éramos um grupo de várias pessoas do Brasil, Uruguai, Porto Rico e Panamá, e juntos alugamos um tour turístico para conhecer as cidades de Jaipur e Agra. Juntamente com Nova Deli, as três representam o Triângulo Dourado da Índia.

Viajamos toda a noite até chegar a Jaipur, a cidade rosa. Essa grande cidade indiana é conhecida pelas construções coloridas e cheias de detalhes, na sua maioria numa cor rosada meio pastel. Em Jaipur conhecemos o Palácio Flutuante, Hawa Mahal (ou Palácio dos Ventos) e Amer Fort, lindos passeios para conhecer mais da cultura e ver belezas da arquitetura. Também em Jaipur vivemos a intensa aventura de passear em cima de um elefante, minha meta para essa viagem! Inesquecível 😃

No mesmo dia partimos para Agra, uma cidade um pouco menor, mas igualmente bela onde assistimos o nascer do sol do dia seguinte no incrível Taj Mahal. Ver essa construção que além de ser uma maravilha mundial foi cenário de uma das histórias de amor mais famosas da história me emocionou muito. Naquela manhãzinha, ainda fresca já que o dia recém começava, passeamos pelos jardins e corredores de mármore branco desse lugar que nada mais é que um mausoleo. Ainda que me faltasse conhecer muito mais da Índia, senti que nesse momento realmente havia estado aí.

Em dois dias vimos as principais atrações dessas cidades e logo retomamos o trajeto até Deli, onde na noite seguinte tomaríamos o avião de volta pra América Latina. Embora o tour tivesse sido muito organizado e rápido para dar tempo de ver várias coisas em poucos dias, eu fiquei com um gostinho de quero mais. Normalmente prefiro viagens em que passeio by myself, sem guias e tours, já que estes têm um caráter muito mais comercial que turístico. Mas com pouco tempo e no caos indiano sentimos que não tínhamos opção. Se você tiver a oportunidade de ir pra Índia com mais tempo, se motive a desbravar esse país sem depender de guias externos. Tenho certeza que há muitas outras maravilhas para ver que não estão “à olho nu”.

Quem levei na mala (e no core)

Nessa viagem eu voltei a me conectar muito com essa companheira de aventuras uruguaia. Juntas fizemos muitas coisas, desde dividir o quarto no hostel até tirar selfies no Taj Mahal, e sou grata a ela por isso. Também foi lindo estar em Deli e poder reencontrar minha amiga de intercâmbio! Através dos seus olhos pude entender um pouco mais desse país e seus costumes.

O povo indiano gerou em mim uma mezcla de sentimentos. Embora amáveis e dispostos a ajudar, muitas vezes os homens eram demasiado machistas. Foi um exercício constante o de não me ofender por alguma situação e pensar sempre que na cultura deles as coisas são diferentes e, se eu sou a forasteira, tenho que respeitar. Mesmo com momentos meio chatinhos, a impressão mais forte que ficou é que são um povo batalhador e que não perde o sorriso mesmo em situações difíceis.

Um dia acompanhei uma colega que queria fazer uma tatuagem de henna e fomos juntas até a casa de uma das mulheres que fazia esse tipo de trabalho. A casa era minúscula: num corredorzinho estreito estava o fogão e outros apetrechos de cozinha, havia um banheiro em péssimas condições e um quarto atulhado de coisas. Isso era tudo que tinham para abrigar uma família de ao menos 5 pessoas (os pais e três filhas que estavam aí). Detalhe: não havia janelas. Naquela uma horinha que passamos ali, cozinhando lentamente no calor indiano, em nenhum momento os membros da família pareceram infelizes. Eles riam, tentavam conversar conosco graças a filha mais velha, que sabia algumas palavras em inglês, nos ofereciam chá e conversavam animadamente todo o tempo. Estavam verdadeiramente contentes com a nossa visita.

5 coisas random que não vou esquecer:

  • Passear em um elefante
    Fazer carinho num elefante, subir em suas costas (não sem muita ajuda hehe) e passear por aí geraram sensações impressionantes. Me senti invencível com Rani, a elefante que foi nossa carona naquele dia.
  • Passear de tuk tuk
    Muito mais perto do chão e mais veloz, mas tão memorável quanto Rani, os tuk tuk foram uma presença constante no nosso dia a dia. A bagunça do trânsito indiano só pode ser vivida em sua totalidade quando subimos nesse carrinho doido. Não há meio de transporte melhor pra se esgueirar naquele trânsito maluco.
  • Pintura com carimbos
    Em Jaipur conhecemos muitas lojas de tecidos e vestimentas, muitos dos quais estavam decorados com lindas pinturas de flores, animais ou outras formas. Eu mesma comprei aí orgulhosa algumas peças de tecido leve e muitas estampas! Parte do nosso passeio foi conhecer o processo como os indianos decoram esses tecidos, em que usam pedras em distintos formatos como carimbos para estampar os desenhos. O resultado é lindo!
  • Cores e leveza das roupas
    Falando um pouco mais do tema vestimentas, o calor e a alegria da Índia não poderiam resultar em roupas que não fossem leves, arejadas e divertidas. Nas ruas e nas lojas víamos todo o tempo mulheres e homens vestidos com muitas cores e elementos distintos da sua cultura e religião. A única coisa que seus vestuários levavam em comum era a variedade de cores e a suavidade dos tecidos.
  • Taj Mahal
    Foi um verdadeiro privilégio caminhar pelo Taj Mahal, ver de pertinho seus lindos mármores incrustados de pedras precisas, escutar uma das histórias de amor mais icônicas de todos os tempos. Mágico :)

Quer continuar descobrindo sugestões sobre como encarar uma viagem à Índia? Nessa entrevista com outra viajeira que andou por lá você vai encontrar mais dicas!

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Regiane Folter
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Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros