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Como sobrevivi a 2 anos de trabalho sem salário — e o que aprendi com isso

Paula Inocêncio
Portabilis
Published in
5 min readNov 27, 2019

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Para chegar à posição que estou hoje na Portabilis, tive que quebrar a cara algumas vezes. Mas é verdade, também, que aprendi muito com os percalços ao longo do caminho.

Quem, aqui, se imagina em um trabalho que, no final do mês, não paga seu salário? Eu sempre trabalhei com amor, mas, o problema é que ele não paga as contas.

Por longos 2 anos, mesmo com emprego, não tive pagamento. Além da falta de salário, eu me frustrei por vários outros motivos. Porém, eu aprendi lições que carrego para a vida.

Do meu primeiro emprego até me tornar líder de suporte na Portabilis, vejo o quanto eu cresci e evoluí como profissional e, mais ainda, como pessoa.

Por isso, resolvi compartilhar como foram meus primeiros anos de trabalho sem receber, praticamente nada, a não ser algumas dívidas e uma porção de ensinamentos.

A frustração com meu primeiro emprego

Logo que concluí o Ensino Médio, em conjunto com o Técnico em Informática, fui à procura de um emprego. Depois de 2 ou 3 entrevistas, recebi uma proposta para trabalhar no suporte de uma empresa de e-commerce. Aceitei imediatamente.

No início, eu já notei que meu chefe faltava com a verdade em várias situações, tanto comigo, quanto com os clientes. Eu praticamente pagava para trabalhar, pois, na maioria das vezes, não recebia o salário por inteiro. Tinha meses que não recebia um tostão sequer. Nem mesmo o dinheiro para a passagem, que era o nosso combinado.

Naquele momento, eu era a única funcionária da empresa. Depois de uns meses, mais cinco pessoas foram contratadas. Eu me perguntava como elas seriam pagas, se nem ao menos o meu salário era garantido.

À medida que eu conhecia a história daquelas pessoas, me sentia mal por saber o quanto elas contavam com um dinheiro que não viria.

Esperei chegar o primeiro mês para ver se o salário deles seria pago, mas, como era de se esperar, ninguém recebeu. Depois de um tempo, entrou um novo sócio na empresa, que não tinha pleno conhecimento da situação e, mais uma vez, outra pessoa foi passada para trás.

Quando eu estava para completar um ano na empresa, já não conseguia mais trabalhar naquele ambiente. Pedi demissão e, em seguida, todos os meus colegas pediram para sair também.

No final das contas, todos nós saímos de lá sem receber nada (até hoje). A empresa fechou e o meu antigo chefe deve estar bem, eu imagino.

De empregada a sócia — o outro lado da moeda

Assim que eu pedi demissão do meu primeiro emprego, fui convidada para ser sócia em uma empresa de Marketing. Para falar a verdade, nunca tive o sonho de ser dona de um negócio. Meu objetivo sempre foi trabalhar com algo que me fizesse feliz e que eu pudesse fazer muito bem feito. Mas, como eu adoro desafios, topei o convite.

A partir daí, passei a me envolver com as áreas financeira, operacional e RH. Contratamos muitas pessoas, pois o número de clientes crescia rápido e nós não dávamos conta de todas as demandas sozinhos.

Infelizmente, devido à falta de experiência e algumas decisões equivocadas, não conseguimos mais pagar as dívidas. Depois do que presenciei no meu primeiro emprego, eu sempre priorizava o pagamento dos funcionários. E, mais uma vez, deixei de receber salário durante, praticamente, toda a existência da empresa.

Eu e meu sócio conseguimos nos virar por alguns meses assim. Porém, à medida que as contas acumulavam, eu não via outra saída, senão abrir mão do negócio.

Como sobrevivi a 2 anos de trabalho sem salário e os aprendizados que levei para a vida

Se eu falasse que o meu primeiro emprego foi um desperdício de vida, eu estaria mentindo. Aprendi muito com o meu ex-chefe. Sobre o trabalho em si e, também, sobre como eu não deveria ser quando me tornasse uma líder.

Ao mesmo tempo que meu primeiro trabalho abriu meus olhos para muita coisa, foi, também, um choque para mim. Presenciei situações, como a batida da polícia no escritório, que me tornaram desconfiada com as pessoas. Infelizmente, permaneci com esse trauma por um longo tempo.

A sorte é que eu tinha total apoio da minha família. Pedia dinheiro para o meu pai para, pelo menos, dar conta de pagar o ônibus e ir ao trabalho. E ele me dava, sem reclamar.

Apesar de eu achar injusto não receber salário, tentava me botar no lugar do meu chefe. Eu sabia que vários clientes estavam saindo. Mas, o que me incomodava, de fato, eram as mentiras e enrolações que ele contava.

Como eu acredito que nada acontece por acaso, tempos depois, uma pessoa que conheci lá, me indicou para uma vaga na Portabilis. E aqui estou eu, há quase 5 anos na empresa que pagou meu primeiro salário, e pela qual, tenho total admiração.

Em relação à empresa que eu era sócia, posso dizer que aprendi muito com essa experiência também. Algo que eu e meu sócio tínhamos como prioridade era sermos honestos e transparentes, tanto com os funcionários, quanto com os clientes e fornecedores. Muito pelas lições que tirei do meu primeiro emprego.

Apesar de as contas não terem ido tão bem, ao fecharmos as portas da empresa, todos receberam seus direitos. Eu e meu sócio dividimos as dívidas que restaram e, mais uma vez, meu pai me ajudou muito.

De qualquer forma, eu precisava de um novo emprego que não falhasse com o salário. Eu ainda tinha contas para pagar e não podia, sempre, pedir socorro para o meu pai.

Foi quando comecei a pesquisar por oportunidades e um colega (aquele que conheci no meu primeiro emprego) me falou da Portabilis. Consegui a vaga e, finalmente, ajustei as contas. De bônus, acabei me encontrando profissionalmente na área da Educação. Foi um daqueles casos de amor à primeira vista.

Hoje, depois de quase 5 anos na Portabilis, olho para trás e vejo o quanto eu cresci e evoluí como pessoa aqui dentro.

Com minha dedicação e os aprendizados que acumulei através de experiências frustradas de trabalho, ganhei a confiança das pessoas, passei do operacional para o estratégico da empresa e, hoje, sou líder do time de suporte.

Minha equipe está evoluindo de uma maneira incrível e tenho o grande desafio de ser exemplo para ela. O que enche o meu peito de orgulho e me motiva a acordar e sair da cama todos os dias.

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E então? Você já passou por uma situação como essa, de trabalhar e não receber seu salário? Como conseguiu dar a volta por cima e quais foram os aprendizados que tirou dessa experiência? Conta para mim nos comentários, será um prazer ouvi-lo.

Sou Paula Inocêncio, líder de suporte na Portabilis, empresa especialista em soluções para o governo nas áreas da educação e assistência social.

Meu objetivo é, através do meu trabalho, contribuir para um mundo melhor.

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