O tratamento da saúde mental na rede pública
Uma avaliação do Ministério da Saúde identificou que quanto mais Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) houver nos municípios, menores são os índices de suicídio. Os CAPS são destinados a pessoas com transtornos mentais e oferecem atendimento à população realizando acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários. Outro fator que contribui na redução nos indicadores de atentados contra a própria vida é a disponibilidade de vagas para internação, quando necessária. A possibilidade de um atendimento mais especializado é um dos desafios para o coordenador de saúde mental da Secretaria de Saúde de Porto Alegre, Giovanni Abrahao Salum Júnior.
De acordo com Salum, o setor público está aquém das condições ideais para atender a demanda de indivíduos com transtornos mentais. O Sistema Único de Saúde (SUS) destina recursos insuficientes para patologias de origem psíquica. “A rede é muito deficiente para poder suprir a demanda de saúde mental do município. Há uma falta de serviços histórica dentro do serviço de saúde pública, e isso se reflete em relação ao suicídio também”, destaca Salum.
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Atualmente, a rede para atendimento de saúde mental da Secretaria de Porto Alegre conta com doze CAPS — cinco CAPS AD, quatro CAPS II e três CAPS I. O município tem duas emergências de saúde mental, uma que é o Plantão de Emergência em Saúde Mental (PESM) do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (Pacs) e a outra que é o Instituto de Assistência e Proteção à Infância (IAPI); as demandas de emergência vão para esses dois plantões de atendimento. “Para um município do tamanho de Porto Alegre, é pouco para poder atender às demandas de saúde mental”, ressalta Salum.
A atenção primária em saúde é o atendimento inicial que tem por objetivo orientar sobre a prevenção de doenças e solucionar os possíveis casos de agravos, organizando o fluxo dos serviços nas redes, dos mais simples aos mais complexos. Segundo o coordenador de Porto Alegre, de 40% a 50% das pessoas que frequentam uma unidade têm algum tipo de sofrimento mental que pode ocasionar atos suicidas. A gestão atual da Secretaria quer que a atenção primária fique com cinco transtornos mentais mais prevalentes, que é depressão, ansiedade, álcool, drogas e exposição à violência. Os profissionais de atenção primária têm que saber lidar com esses cinco problemas mais prevalentes, e isso envolve avaliar o risco mais comum que é o suicídio. “É preciso haver mais treinamento para atenção primária para que eles saibam conhecer os problemas de saúde mental comuns e identificar os riscos”, salienta Salum.
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Entre as demandas e projetos da Secretaria estão a ampliação de serviços e treinamentos, informatização, regulação de protocolos especiais, indicadores para ver o quanto a rede está bem ou não. Para 2018, há previsão de abertura de três CAPS, um CAPS AD e dois CAPS III para a infância e adolescente, que é a rede mais insuficiente na capital dos gaúchos de acordo com o coordenador Salum.
Iniciativas de tratamento à população
A Prefeitura de Candelária, através da Secretaria Municipal de Saúde, e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) foram pioneiros ao desenvolver, em 2010, o programa de prevenção, sendo naquele momento o único no país. O projeto “Vida Sim — Programa de Promoção à Vida e Prevenção ao Suicídio” surgiu em razão da cidade estar entre as cincos com maior índice de suicídios do país na época. O programa é voltado para a atenção ao comportamento suicida, assim como o impacto traumático que este evento provoca na sociedade, buscando estratégias para reduzir índices, acolher a demanda e caracterizar um perfil epidemiológico dos indivíduos.
O ‘Vida Sim” trabalha com o principal grupo de risco: as tentativas de suicídios. Foi criado um protocolo que organizou o fluxo desde a captação dos casos de tentativas até o acompanhamento após alta do tratamento. O comportamento suicida é identificado por toda a rede básica de saúde, administração central do sistema de saúde (ACSS), hospital geral, segurança pública, serviços de emergência, e na zona rural a identificação é feita pelos profissionais da Emater, através dos grupos realizados com os agricultores, pois os maiores índices são neste grupo. Quando identificados, os pacientes são encaminhados para o CAPS, onde é elaborado um Plano Terapêutico.
“A depressão e a dependência química, principalmente do álcool, são os principais fatores que levam uma pessoa a tirar a própria vida, — na verdade, quem tenta o suicídio não quer morrer, mas sim, deixar de sofrer, e neste programa oferecemos uma alternativa para terminar com esse sofrimento. Hoje, ainda é um tabu falar de suicídio, porém, omitir, somente serviu para aumentar os índices. Cerca de um milhão de pessoas estão se matando por ano no mundo inteiro e ninguém fala sobre isso, outras doenças, não matam um milhão de pessoas por ano e existem muitas campanhas falando sobre, como a dengue e a H1N1, por exemplo”, conta a assessora técnica da Secretaria Municipal de Saúde de Candelária, Grazieli Juliana Priebe.
O lançamento do Manual de Prevenção ao Suícidio — Divisão de Vigilância Epidemiológica/NVDANT ocorreu para toda a rede SUS do país no final de 2012. No primeiro ano do programa, as mortes por suicídio na cidade diminuíram 70%, demonstrando que o trabalho em rede e a prevenção funcionam. Parte da equipe que iniciou os trabalhos do projeto, por motivos pessoais e profissionais, não atua mais no programa.
A proposta foi reformulada, incluindo os novos profissionais da equipe atual do CAPS e, em setembro de 2017, ocorreu o Seminário Suicídio em Pauta, em uma parceria da Secretaria Municipal de Saúde e Hospital Candelária. O evento contou com a participação de mais de 300 pessoas, entre profissionais de saúde, educação, assistência social, entidades não governamentais, igrejas, e população em geral. “Devemos desmitificar a ideia de que não se pode falar sobre suicídio”, conclui Grazieli.
Produção: Wesley Andriel, Michele Mueller, Rafael Pereira, Taís Forgearini, Gabriela Araújo e Kassandra Pooch.
Em caso de auxílio:
CVV (Centro de Valorização da Vida) — telefone 188 (ligação gratuita) para o Estado do Rio Grande do Sul e 141 (custo de uma ligação local) para todo o território nacional. Pelo site www.cvv.org.br, via chat ou Skype.
O atendimento pessoal é realizado nas unidades do CVV em horário comercial.
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) mais próximo.
Emergência:
Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento, Pronto Socorros, Hospitais, SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Emergência) pelo telefone 192.