Quem são as pessoas beneficiadas pela acessibilidade digital?

A pergunta parece óbvia? Talvez a resposta não seja

Maria Elizabeth Melo
Pretux
6 min readJan 9, 2023

--

Durante o bootcamp de Acessibilidade Digital da How Bootcamps, entre setembro e novembro de 2022, eu comecei a pensar sobre uma série de tópicos de produtos digitais nos quais eu não prestava muita atenção antes. Então vou aproveitar essa experiência para expor as principais reflexões que tive a partir das aulas, encontros e referências do bootcamp.

Para ter acesso a mais textos sobre acessibilidade, consulte as referências ao final deste artigo.

Acessibilidade é para pessoas com deficiência, sim,
e para todas as outras também

Imagem: Freepik

Acho que posso iniciar falando que existem diversos tipos de acessibilidade, tudo vai depender do foco. No entanto, um produto pode ser considerado acessível se grupos diversos de pessoas forem contemplados. Ou seja, se o produto atende apenas em um público específico, por exemplo, pessoas jovens sem deficiências, a acessibilidade deixa muito a desejar (inclusive do ponto de vista jurídico).

Além disso, é bom ressaltar que se um produto pode facilitar a vida de uma pessoa com deficiência, ele também pode servir como facilitador para outras pessoas, a princípio, sem deficiências. Inovações voltadas para pessoas com deficiências podem beneficiar as pessoas usuárias de maneira muito mais ampla do que a gente costuma pensar.

Exemplo 1: Um leitor de tela pode ser dicisivo na inclusão de uma pessoa com deficiência visual, mas também pode facilitar a vida de pessoas que enxergam que, em momentos específicos, não queiram ou não possam ler.

Exemplo 2: As legendas em vídeos das mídias sociais. Pessoas surdas (letradas), podem consumir os mesmos conteúdos audiovisuais que pessoas ouvintes. Do ponto de vista do negócio, é aumento do número de usuários utilizando essas plataformas. Nesse sentido, pessoas ouvintes também podem se beneficiar com legendas quando estão em ambientes públicos sem fones de ouvido, quando são estrangeiras e ainda estão aprendendo o idioma local, etc.

Inclusão digital de pessoas com deficiência
beneficia a sociedade como um todo

Imagem: Freepik

A acessibilidade facilita a difusão de produtos digitais para além de pessoas com deficiência permanente, além de incluir pessoas não-letradas, estrangeiros (que não dominam o idioma e cultura locais), idosos e pessoas com deficiências/limitações não-permanentes, também diminui barreiras para as pessoas em seu entorno, pois um dos princípios dos produtos digitais acessíveis é promover a autonomia das pessoas usuárias. Ou seja, quanto melhor o produto for, mais fácil é a sua utilização de maneira independente, autônoma, sem ajuda de outras pessoas. Dessa forma, o relacionamento com os familiares, amigos e cuidadores pode se tornar mais leve conforme essas pessoas conquistam maior autonomia.

O plano de negócios deve conter acessibilidade
em sua raiz

Imagem: Freepik

As dores geradas pela falta de acessibilidade devem se tornar soluções inerentes aos planos de negócios dos produtos digitais atuais. Do ponto de vista das empresas, gera oportunidades e valor, do ponto de vista da sociedade, aumenta a qualidade de vida da população como um todo. Acessibilidade do ponto de vista do negócio, como foi mencionado anteriormente, significa aumento do consumo do seu produto por públicos diversos, geração de oportunidades de negócio e de inovação tecnológica.

Toda a sociedade perde quando um grupo
tem seus direitos negados.

Imagem: Freepik

Ao negar direitos básicos a uma parcela da população, toda a sociedade perde. E como perda, pode-se citar a inovação tecnológica e o bem estar de toda ou qualquer pessoa em determinadas etapas da vida como a de envelhecimento, acidentes e/ou limitações físicas temporárias.

Existem diferentes tipos de acessibilidade
e inclusão digital

Imagem: Freepik

Com os recortes de raça, gênero e sexualidade, por exemplo, é possível pensar em inclusão a partir de, por exemplo, estratégias narrativas , ou seja, a partir da representatividade nas diferentes mídias e produtos digitais.

Seguindo outro foco, para inclusão de pessoas com deficiência, as tecnologias assistivas têm o papel central na melhoria da usabilidade ou até mesmo possibilitando o uso de produtos que antes era impraticável.

Acessibilidade de conteúdos:
simplificar é realmente sempre a melhor alternativa?

Imagem: Freepik

Ao pensar no conteúdo, (focando em bons produtos para pessoas neurodivergentes, não-letradas, analfabetas funcionais) me questionei sobre alguns pontos abordados nos encontros do bootcamp de Acessibilidade da How.

Foi dito que é importante simplificar conteúdos para que “qualquer um” consiga entender, mas acredito que alguns assuntos, as pessoas precisam antes aprender (passar por um processo de letramento). Nem tudo se resolve simplificando, acho que em alguns momentos é preciso estimular pensamentos complexos também porque acreditar que algumas pessoas sejam incapazes de aprender o que é complexo é de certa forma subestimá-las.

Um exemplo é a linguagem neutra. Dependendo de qual lugar do Brasil você esteja, pode ser muito desafiador fazer parte da comunidade LGBT+ devido a ações discriminatórias de outras pessoas. Dizer que é melhor simplesmente evitar discussões sobre neoliguagem ou até mesmo evitar utilizar novos termos e pronomes que estão sendo criados (pois a língua é viva e está sempre sendo transformada), é priviligiar quem “não-sabe”, não entende ou não quer entender as dores de outras pessoas.

Não acredito que profissionais de tecnologia precisem se contentar em simplesmente se adaptar ao que já existe, muitas vezes esses profissionais podem recriar realidades e estimular transformações positivas na sociedade.

Para facilitar a vida de um grupo
não se pode dificultar a vida de outros

Imagem: Freepik

Nem todo mundo vai ter tempo de aprender as complexidades do mundo da acessibilidade. Então se a gente quer popularizar a acessibilidade no dia a dia, vai ser necessário repensar alguns fluxos de navegação. Por exemplo, produtos digitais, tais como as mídias sociais, precisam incentivar o uso de recursos como legendas e audio-descrições de maneira mais intuitiva e natural.

Muito obrigada à Comunidade PretUX por me proporcionar a oportunidade de participar de um Bootcamp tão bom sobre Acessibilidade. Ainda não me tornei uma especialista, mas já comecei com uma boa base! Eu super indico o Bootcamp Acessibilidade Digital !

Meu linkedin a quem interessar possa: https://www.linkedin.com/in/mariaelizabethmelo/

Referências:

--

--