Como Faço para Manter Meus Hábitos (em 3 Princípios Simples)

É mais fácil começar um novo hábito que mantê-lo no longo prazo. Eis o que aprendi quando consegui manter vários deles por um bom tempo.

Amanda de Vasconcellos
O Prontuário
6 min readNov 8, 2020

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“Consistência é tudo” — dizem quase todas as pessoas que falam de sucesso, produtividade, trabalho, ou assuntos semelhantes. De fato, não há muito como discordar disso. A menos que você seja um dos sortudos que ganha uma bolada na Mega-Sena, ou uma herança de um parente distante, qualquer chance de sucesso em sua vida depende de sua capacidade de fazer as mesmas coisas várias e várias vezes. Trabalhar todos os dias, estudar todos os dias, se exercitar todos os dias… Você sabe do que estou falando.

E essa é, com certeza, a semana perfeita para trazer o tema da consistência a esse blog, porque é a segunda vez seguida em que estou sendo inconsistente. Logo eu, que vinha me orgulhando de escrever religiosamente todas as semanas. Logo eu, que estava sempre publicando no mesmo horário, que havia aprendido que a constância é chave para manter um público fiel na internet, que ouvia meus amigos perguntarem como escrevo com tanta frequência (anteontem mesmo recebi essa pergunta). Eu falhei comigo mesma, e os motivos são pouco relevantes para o ponto que quero defender.

Mais relevante para este texto é o fato de que falhar me fez perceber algumas coisas sobre o que eu vinha fazendo de certo ou errado na manutenção dos meus hábitos, e isso sim pode vir a ser útil para alguém.

O tema do vídeo é justamente não contar com a força de vontade. Você não precisa assistí-lo para entender esse texto, mas eu gosto dele, e a ocasião me pareceu propícia para divulgá-lo.

Já falei sobre como criar hábitos nesse blog, porém eu sinto que só esse conhecimento é insuficiente para fazer mudanças significativas em nossas vidas. Defendo publicamente que contar com a força de vontade é uma cilada, e que devemos procurar ao máximo criar mecanismos para minimizar a quantidade de decisões que tomamos em um dia. Afinal de contas, você não terá que se decidir entre um almoço saudável e uma pizza congelada se não tiver nenhuma pizza congelada na sua cozinha, certo? Ainda assim, a vida mais regida por mecanismos anti-autossabotagem do mundo ainda terá que ser propelida por certas decisões conscientes. Precisamos decidir, dia após dia, que seremos a melhor versão possível de nós mesmos, e essa não é uma decisão trivial, especialmente quando levamos em conta os custos do desenvolvimento pessoal.

Isso porque se tornar uma pessoa melhor é, em bom português, chato pra cara***. Em alguns dias é pior: é exaustivo, é estressante, é sofrido. Entretanto, mesmo nos dias bons, nunca é fácil recusar prazeres imediatos em nome de uma recompensa distante. Às vezes conseguimos fazê-lo por algum tempo, e depois desistimos.

Imagino que existam psicólogos que estudam e se intrigam com o processo pelo qual a motivação desaparece. Sim, todos dizem que não podemos contar com a motivação, e que precisamos de disciplina, mas eu discordo um pouco. Acredito que ao menos um nível basal de motivação seja necessário para levantar da cama todos os dias e fazer a escolha de honrar os compromissos firmados com um eu do passado. É preciso sentir, lá no fundo, que o que estamos fazendo vale a pena, e que serve a algum propósito, seja ele mudar o mundo ou pagar as contas no fim do mês. A apatia completa quebra o hábito.

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Pensando, então, no que tenho percebido nessas que foram as três semanas mais improdutivas deste ano, gostaria de falar um pouco das minhas estratégias pessoais para manter a motivação basal. Naquilo que serve para mim como motor, ao menos para que o impulso inicial se mantenha, e que eu não caia na crença apática de que não vale a pena me esforçar para melhorar a cada dia.

Pense negativo

Exagerei pelo efeito dramático — estamos na internet, eu preciso prender sua atenção de alguma forma. Não quero que você veja tudo da pior forma possível, nem que seja um pessimista crônico. Todavia, algo que eu duvido que faça bem a qualquer pessoa é tentar se enganar.

Conheço quem se obrigue a ver cada adversidade como uma bênção, e cada tarefa difícil como uma oportunidade de se tornar uma pessoa mais forte. Se funciona para você, continue assim. Contudo, o que me parece é que isso costuma vir sobretudo de autoenganação, de energia sendo gasta tentando fazer com que as situações desconfortáveis pareçam melhores.

Eu não acredito nisso. Eu acredito que existam dias ruins e atividades insuportáveis, e nenhum pensamento positivo vai mudar isso. Ninguém pode me convencer de que, na realidade, é muito bom sentir dor na academia! Sentir dor é ruim, ponto. Por outro lado, é ótimo olhar no espelho e ver um corpo fortalecido. E, se a dor é o preço que preciso pagar por isso, que seja.

Me parece contraproducente gastar energia, algo já tão escasso, melhorando situações ruins. Melhor aceitar que elas são ruins e seguir em frente. Se a atividade foi feita, pouco importa se seus pensamentos durante sua execução eram “Eu amo isso!” ou “Eu odeio isso!”.

Compromissos são sagrados

Uma frase de efeito conhecida para quem se interessa por produtividade é o don’t break the chain — não quebre a corrente. A ideia é simples: escolher um hábito e executá-lo sempre, sem falta. A meta aqui é executá-lo sem falhar pela maior quantidade possível de tempo, o que, evidentemente, exige que a cada dia seja feito um esforço para cumprir metas diárias, mas não mais do que isso. O foco é em não quebrar a corrente hoje, e amanhã você pensa no que fará amanhã.

Por um bom tempo, fui partidária da ideia de manter sequências longas de sucessos em meu calendário, até perceber que há situações em que quebrar a corrente pode ser uma boa ideia. Não deve ser seu modus operandi, claro, mas há dias em que o custo de um esforço X ou Y é simplesmente alto demais.

O princípio que adotei, entretanto, se parece muito com a metodologia de não quebrar correntes: compromissos são sagrados — inclusive aqueles que estabeleço comigo mesma. A ideia para os dias difíceis, então, não costuma ser de manter aquele número de “dias sem falhar”, mas de honrar o compromisso que estabeleci no passado. Isso me permite a mesma seriedade da regra de não quebrar a corrente, ao mesmo tempo em que me dá flexibilidade suficiente para lidar com os dias em que falho sem recorrer à autopunição.

Ambientes importam

Essa é um pouco óbvia, não é? Ninguém consegue prosperar em um local ou contexto inapropriado, e extendo essa ideia também à mentalidade. É impossível seguir em frente com bons hábitos em momentos em que a vontade de progredir não está lá. E não estou falando de sentir vontade de fazer coisas difíceis em nome de um bem maior — essa é rara mesmo — , estou falando da vontade do bem maior em si. Nos momentos em que não há sonhos, ou então em que não há as pequenas recompensas que fazem a jornada valer a pena, tudo perde o sentido.

Percebi falhando que os momentos nos quais mais consegui crescer foram aqueles nos quais tudo em minha vida estava direcionado ao progresso. Em que cada parte da minha rotina era regida por algum dos compromissos que já citei aqui. Não duvido da existência daqueles que prosperam em meio ao caos, ou daqueles que conseguem cultivar bons hábitos em solo estéril, mas eu não tenho essa capacidade. Para mim, as pequenas melhoras dependem umas das outras. No momento em que desisto de alguma área de minha vida, as outras tendem a ficar negligenciadas também. Fraseando de outra forma, eu não consigo fazer algo melhor se não estiver me esforçando também para ser melhor.

Obrigada por ler este texto! Se quiser deixar um comentário sobre para me contar o que achou, eu ficaria muito feliz em saber sua opinião. Não se esqueça também de dar aquela forcinha: deixe seus aplausos (de 1 a 50) e me acompanhe nas redes sociais — juro que as semanas inconsistentes foram ponto fora da curva.

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