O machismo é o braço cultural da misoginia

E o fim da misoginia só se dá com o fim do patriarcado

Fêmea Brava
QG Feminista
14 min readMar 7, 2018

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Imagem: Fêmea Brava

“Já que o objetivo do feminismo é a igualdade de gênero, por que vocês, ao invés de lutarem contra o machismo, não lutam pela igualdade?”. São tantas coisas equivocadas nessa pergunta; e quantas de nós, feministas, já não a ouvimos? Posso apostar que muitas. Para início de conversa, considero importante pontuar que feministas não lutamos contra o machismo, e que toda a noção de igualdade — ou equidade, são conceitos liberais vendidos como bandeiras feministas. Então, pelo o que lutamos? É também sobre isso esse texto.

Em sua palestra “Desejo e Poder”, a jurista e feminista Catharine MacKinnon (2013) (1) nos aponta que não haveria diferenças sexuais expressas socialmente, da maneira que são, se não fosse pela dominação masculina — e é contra essa dominação que lutamos. MacKinnon fala ainda que a única — e crucial, eu diria — diferença entre homens e mulheres é que homens têm poder, e mulheres não. “Quero dizer simplesmente que os homens não são socialmente supremos e as mulheres, subordinadas, por natureza; o fato de eles o serem socialmente constrói a diferença de sexo como a conhecemos”, defende. O ponto dela nos faz pensar em como superar tais diferenças sexuais, e, ao mesmo tempo, se o que estamos buscando é poder, ou igualdade, nos termos masculinos que estão colocados na nossa sociedade.

É importante lembrar, no entanto, que o feminismo não é a luta pela igualdade entre os sexos, mas, sim, a luta pela emancipação das mulheres. Pela libertação das amarras patriarcais, pela autonomia de todas. A diferença entre essas duas premissas, igualdade x emancipação, está justamente no fato de que os homens, enquanto casta sexual, já têm tudo. Eles criaram a linguagem desse mundo onde vivemos, eles são autônomos, eles podem decidir, eles têm liberdade, eles são emancipados e eles têm consciência de classe. Eles foram que inventaram o conceito de equidade e é a régua deles que usamos para medir até que ponto podemos defender nossas pautas.

Tendo o homem como medida e “denominador comum de comparação”, a concepção liberal da igualdade de tratamento torna-se alvo de críticas que destacam as diferenças entre mulheres e homens. Para as correntes da diferença sexual, que veem entre homens e mulheres uma diferença ontológica, reprimida ou negada pela modernidade ocidental, a igualdade dos sexos é um conceito e uma política patriarcal que visa “homologar” as mulheres conforme o princípio e a lógica do masculino (Varikas, 2009: 116) (2).

Para ilustrar o mundo em que vivemos e a impossibilidade de existir uma igualdade entre homens e mulheres — ou, porque não deveríamos tê-la como objetivo de luta, Gerda Lerner (2019, p. 38) (3) lança mão de uma metáfora: um palco. Considerando dois atores, um homem e uma mulher, ambos de igual importância para o desenrolar da peça, nenhum como sendo secundário. Porém, foram os homens quem conceberam a peça, eles a escreveram a roteirizaram. Foram os homens que definiram e construíram o cenário, dirigiram a peça e definiram quem seriam os heróis e quem seriam as coadjuvantes. Ao passo em que mulheres tomam consciência disso, passam a pedir igualdade. E o que acontece?

Elas ofuscam a atuação dos homens algumas vezes; em outras, substituem um ator que faltou. Por fim, com muito esforço, as mulheres ganham o direito ao acesso à distribuição igual de papéis, mas antes precisam “se qualificar”. Os termos das “qualificações” são novamente definidos por homens; eles julgam se as mulheres estão à altura; eles permitem ou negam a entrada delas. Dão preferência a mulheres submissas e àquelas que se encaixam com perfeição na descrição da vaga. Homens punem, por meio de ridicularização e exclusão, qualquer mulher que se ache no direito de interpretar o próprio papel ou — o pior dos pecados — reescrever o roteiro.
Leva muito tempo para que as mulheres entendam que receber papéis “iguais” não as tornará iguais enquanto o roteiro, os objetos de palco, o cenário e a direção ficarem estritamente a cargo de homens. Quando as mulheres começam a se dar conta disso e se reúnem entre os atos, ou mesmo durante o espetáculo, para discutir o que fazer a respeito, a peça chega ao fim. (Lerner, 2019: 38)

Esta metáfora nos ajuda a entender a necessidade de resgatar a história das mulheres e de olhar para os lugares ocupados por mulheres na História. É também sobre isso a principal luta das feministas radicais da diferença: é preciso acessar uma genealogia das mulheres para que possamos construir um novo marco civilizatório e emancipado da visão masculina de mundo. Significa dizer que um olhar feminista sobre a História é necessário para que possamos construir um futuro diferente. Afinal, nós estávamos ali, embora os autores e escritores da História não tenham nos mencionado.

Por isso é importante repetir: não queremos igualdade, não queremos nos tornar homens. Não queremos disputar com homens por espaço em um palco construído por eles, ou, pelo menos, não deveríamos querer. Feministas não queremos relação nenhuma com essa classe que, historicamente, nos oprimiu e subjugou. O nosso objetivo deveria ser subverter a ordem masculina de mundo, como nos alerta Margarita Pisano, em O triunfo da Masculinidade (2017) (4).

As mulheres somos um povo colonizado, segundo Robin Morgan (2020) (5), afastado de nossas origens e de nossa própria cultura. Consumimos o que os homens separaram para nós, e o que entendemos de nós mesmas foi por meio do que nos contaram sobre nós. Precisamos reivindicar nossa autodefinição, como sugere Audre Lorde (2019)(6). Nós queremos parar de morrer por sermos mulheres. Queremos parar de apanhar. Nós queremos que todas as mulheres tenham o que comer. Nós queremos poder decidir sobre nossos corpos, nossas vidas, nossos futuros, sem a imposição de uma sociedade que nos cerceia o direito de ir e vir, de falar, de escolher. Isso não tem a ver com igualdade, mas sobre criar uma sociedade livre para crianças e mulheres, para que as próximas gerações possam viver sem subordinação entre castas, raças e classes.

As feministas temos lutado pela sobrevivência de mulheres em uma sociedade que nos faz acreditar que somos fracas, ou fortes; dóceis ou rebeldes; boas ou más; donas de casa ou putas, produzindo dois estereótipos possíveis onde nos encaixar— ambos baseados na feminilidade (7) e na subserviência aos homens. Lutamos, portanto, pela sobrevivência de mulheres em uma sociedade que nos ensina que só sobreviveremos se “escolhermos” o casamento, ou seja, que nossa única chance de sobreviver é dormindo na mesma cama e tendo os filhos dos nossos opressores. É contra essa sociedade que o feminismo luta. O feminismo luta pelo fim do patriarcado e pela libertação de todas as mulheres e crianças.

Essa é nossa tarefa como feministas comunitárias e com as companheiras que queiram construir junto: temos que criar nas escolas, nas igrejas, em todo lugar, mecanismos, metodologias didáticas, formas de educar de não violência. Se o patriarcado, o sistema de opressões que oprime as mulheres, homens, pessoas intersexuais e a mãe e irmã natureza, foi construído nos corpos das mulheres, se trabalharmos com essa violência contra o corpo das mulheres, estamos influenciando a raiz, é radical. Isso começa a subir a todos os tecidos sociais. Não é aceitável bater nas mulheres nem em ninguém, nem nos cachorros, nem homens em homens, nem crianças em crianças, nem meninas em meninos. (Julieta Paredes, em entrevista à Agência Pública, 2020) (8)

Mas, então, o que é o patriarcado?

Para Gerda Lerner, em A criação do Patriarcado (2019), uma definição de patriarcado seria

a manifestação e institucionalização da dominância masculina sobre as mulheres e crianças na família e a extensão da dominância masculina sobre as mulheres na sociedade em geral. A definição sugere que homens têm o poder em todas as instituições importantes da sociedade e que mulheres são privadas de acesso a esse poder. Mas não significa que as mulheres sejam totalmente impotentes ou privadas de direitos, influência e recursos. (p. 290)

Para Christine Delphy, em Dicionário Crítico do Feminismo (2009):

Nessa nova acepção feminista [segunda onda, a partir dos anos 1960], o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder, ou ainda, mais simplesmente, o poder é dos homens. Ele é, assim, quase sinônimo de “dominação masculina” ou de opressão das mulheres. Essas expressões, contemporâneas dos anos 1970, referem-se ao mesmo objeto, designado na época precedente pelas expressões “subordinação” ou “sujeição” das mulheres, ou ainda “condição feminina”. (p. 173)

Patriarcado trata-se, portanto, da estrutura-base da sociedade que vivemos hoje. Ela vem sendo construída ao longo de milhares de anos, e é ela que permite, facilita e alimenta a sociedade para as demais violências e opressões — de sexo, de raça e de classe. Infelizmente, falar sobre patriarcado acaba sendo uma das coisas que só feministas fazem. Para o liberalismo, que muitas vezes domina o pensamento de autodeclaradas feministas, a igualdade daria conta de tornar a sociedade mais justa; mas não para nós. Para nós, é preciso desmantelar o patriarcado enquanto sistema que, se foi construído historicamente sobre os corpos de mulheres, também pode ser destruído, por meio do nosso despertar de consciência e organização coletivizada.

No entanto, infelizmente e graças ao liberalismo, o conceito ainda é bastante nublado pela maior parte das pessoas. Ao invés disso, a gente tende a reduzir situações onde se colocam evidentes relações de poder sexista, e pessoas que protagonizam tais situações, de machistas. Nomear pessoas e situações como machistas é uma forma de rotular as condutas sociais e culturais que precisam e devem mudar.

O que é o machismo?

Audre Lorde explica assim, em Irmã Outsider (2019), enquanto compara as diversas manifestações de violência na sociedade:

Racismo, a crença na superioridade inerente a uma raça sobre todas as outras, e portanto o direito à dominância. Machismo, a crença na superioridade inerente a um sexo sobre o outro, e portanto a dominância. Etarismo. Heterossexismo. Elitismo. Classismo (p. 142) (6).

Quando nomeia de crenças, Lorde assume que essas violências são manifestações culturais que entrelaçam as relações no sistema patriarcal, onde, segundo ela, os privilégios de cor e de sexo são pilares primordiais (2009:, 160). O que aponto aqui é que, com tudo isso, fica evidente que combater o machismo não é nossa principal luta. Práticas culturais, embora precisem sim ser identificadas, apontadas e transformadas, não são nosso principal problema. Julieta Paredes ilustra bem esta diferença.

O feminismo de hoje confunde patriarcado com machismo. Esse é um enorme erro político que interessa a esse sistema de dominação. Uma coisa são comportamentos e modos de pensar, outra é a construção histórica de um sistema de domínio.

Para o feminismo comunitário, o patriarcado é o sistema de todas as opressões, discriminações e violências que oprime a humanidade e a natureza. Mas é um sistema construído historicamente sobre os corpos das mulheres. Então, daí vem a necessidade de fazer o feminismo comunitário, porque nós não lutamos só contra o machismo, que são condutas e formas de pensar individuais que dizem que as mulheres são inferiores aos homens. Machistas podem ser homens e também mulheres (Paredes, 2020) (8).

Muito embora mulheres não se beneficiem das atitudes machistas, a misoginia que internalizamos — ou, como diria bell hooks (2018) (9), nosso auto-ódio — nos conduz a reproduzir pensamentos, piadas, comportamentos que refletem o poder dos homens sobre nós. Apesar do machismo ser a parte mais visível da estrutura complexa do patriarcado, é importante notar que ele apenas reflete toda uma conjuntura onde violências contra mulheres e crianças estão institucionalizadas nos mais variados setores sociais. Gerda Lerner (2019) (3) defende que o machismo define a ideologia da supremacia masculina, e de crenças que a suportam e sustentam.

O machismo tem a mesma relação com o paternalismo que o racismo tem com a escravidão. As duas ideologias permitiram que o grupo dominante se convencesse de que estendia benevolência paternalista a criaturas inferiores e mais fracas (2019: 291) (3).

Ao analisar os debates propostos por hooks, Lorde, Paredes e Lerner, eu diria que: o patriarcado é o sistema consolidado historicamente de opressão dos povos e principalmente das mulheres; o machismo são as crenças e práticas sociais que demonstram como se arraigou culturalmente o poder dos homens; e a ideologia que suporta o patriarcado seria a misoginia. Mas isso é algo que vou falar melhor mais para frente.

Ainda sobre machismo, Julieta Paredes fala sobre como julgamos de forma individualizante a questão dos costumes machistas. Ao comparar com a Inquisição, ela está se referindo a como culpabilizamos pessoas por suas atitudes, como se fossem, cada uma delas, as responsáveis pelo mal maior do mundo. Individualmente, numa sociedade punitivista, quando assumimos que uma pessoa X ou Y é machista, estamos a isolando do contexto social que as fez assim. É como se demandássemos respostas e responsabilizações individuais — e, portanto, liberais — para um problema de estrutura.

Por isso se tornou tão ofensivo ser chamado de machista, da mesma forma que ninguém — ou quase ninguém — quer ser chamado de racista. Porque ninguém quer ser visto como alguém que agride mulheres, ou que silencia mulheres; ou alguém que é agressor, seja de mulheres, ou da popuação racializada. Mas se o machismo é a parte visível da violência contra mulheres, essa é a parte que mais podemos denunciar, então, é a parte que mais nos dispusemos a combater. Acontece que acabar com o machismo não significa acabar com a misoginia, ou, menos ainda, acabar com o patriarcado.

O feminismo hoje assume posições puristas, atacam os machistas, como se nós e nossas comunidades não fôssemos também responsáveis. Você não é feminista ou feminista comunitária para se tornar a nova Inquisição. Trata-se de curar o mundo, de resolver problemas, porque esses homens cresceram no meio de nós. Então é preciso diferenciar: uma coisa é o patriarcado como sistema, outra é o machismo como condutas e formas de pensar, coisas que nós podemos mudar (Paredes, 2020).

Não é, portanto, contra o machismo que estamos lutando, mas pela abolição dos papéis sexuais designados pela estrutura patriarcal. É pela transformação da forma como educamos meninas e meninos (10) (11). Tampouco o machismo é o oposto de feminismo. O feminismo é um movimento social — uma abreviação esquisita de Movimento de Libertação de Mulheres, que nasceu com essa formulação na Europa e hoje vem sendo relido e reinterpretado ao redor do mundo como toda a luta por sobrevivência protagonizada por mulheres; já o machismo, como o entendemos nesse texto, é o braço cultural da misoginia.

O que é misoginia?

A misoginia é o ódio a mulheres, pregado e perpetuado pela sociedade patriarcal. É a parte invisível do poder dos homens. É algo que primeiro foi construído como mito, para que fosse possível nossa dominação sexual e a consequente reificação da nossa capacidade reprodutiva (3), mas que se fortaleceu e hoje permeia toda a nossa sociedade, como um vírus que se contrai simplesmente por viver. Para Andrea Franulic (2003) (12), a misoginia é uma mistura entre ódio e medo das mulheres, o fio-condutor que nos conduz a aceitar a feminilidade e produzir amor-admiração pelos homens, ao passo que produz desprezo-invisibilidade às mulheres.

Há vários séculos, habitamos uma cultura misógina: pensada, criada, organizada e executada pelos homens, devido a sabe-se lá que terror masculino ancestral de um corpo que sangrava a cada ciclo e tinha a capacidade de parir. Não vou me referir à origem desta cultura patriarcal e misógina, mas quero sim apontar que compartilho da hipótese da existência prévia de civilizações mais humanas e vitais presididas por conselhos de mulheres. Hoje em dia, nós mulheres continuamos manifestando nossa servidão aos homens e ao seu sistema ao reproduzirmos relações misóginas entre nós. São armadilhas da masculinidade que desfiguram os verdadeiros responsáveis e nos transformam em suas cúmplices, se não mesmo em culpadas (Franulic, 2003).

Para ilustrar onde quero chegar, devo dizer que, se o machismo é a parte que podemos ver do iceberg do patriarcado; o patriarcado é a estrutura sob a água que sustenta as práticas machistas; e, a misoginia seriam as condições climáticas, a temperatura, a pressão e a densidade que permitem aquela estrutura. Como uma mentira em que todos acreditamos e somos ensinadas e ensinados a passar para frente, ela se perpetua entre homens, mulheres e crianças como verdade, e nos conduz a cotidianos sexistas e de exploração laboral, psíquica e sexual.

Ao escrever sobre mulheres negras, ódio e raiva, Audre Lorde (6) também usa uma metáfora de iceberg para definir o que considera ser o motor para o auto-ódio de mulheres negras. Podemos usar essa mesma metáfora para nos relacionar com a ideia de misoginia aqui, que definimos como esse ódio disseminado e assimilado por nós, ao longo dos milênios.

Quando comecei a escrever sobre a intensidade da raiva entre mulheres negras, descobri que tinha apenas começado a tocar em uma das três pontas de um iceberg, cuja subestrutura mais profunda é o ódio, esse desejo de morte que a sociedade manifesta contra nós desde o momento em que nascemos mulheres e negras nos Estados Unidos. Daí em diante, nos impregnamos de ódio — da nossa cor, do nosso sexo, da nossa ousadia de achar que tínhamos ao menos o direito de estarmos vivas. Na infância, absorvemos esse ódio, somos atravessadas por ele, e, quase sempre, ainda vivemos nossas vidas sem reconhecer o que ele é de fato e como ele funciona. Ele retumba como ecos de crueldade e raiva nas relações que mantemos umas com as outras. Pois cada uma de nós carrega o rosto que ele procura, e aprendemos a nos sentir à vontade com a crueldade, por termos sobrevivido tantas vezes a ela em nossa existência (Lorde: 2019) (6).

O ódio àmulheres, portanto, é o que permeia a política do patriarcado, é o que sustenta toda a sociedade, é o discurso que permite, facilita e estimula, na prática, toda violência exercida sobre metade da população mundial. Da mesma forma que o mito da superioridade branca (ódio à população racializada) é o que sustenta a supremacia branca, da qual a ponta do iceberg é o racismo. Em termos de classe, o mito da superioridade dos ricos (ódio aos pobres), é o que permite a exploração de classes de acontecer, e sua ponta mais visível é o elitismo, ou, as manifestações culturais de desprezo às populações empobrecidas. Esses são os principais pilares da estrutura patriarcal de mundo em que vivemos: pilares de exploração.

O patriarcado lucra com as diferenças mal resolvidas e mal assimiladas entre nós, por meio do capitalismo e das demais instituições patriarcais — a família, a igreja, a escola, a prisão. O machismo é o que identificamos em músicas, no amigo babaca, na indústria cinematográfica. Podemos combatê-lo, e, não se iludam, vamos. Mas, acabar com ele não é acabar com a misoginia. Para acabar com a misoginia, é preciso estudar a história das mulheres e construir uma genealogia própria, ou seja, saber de onde viemos e o que somos; focar no auxílio ao despertar crítico de meninas e mulheres, para que todas saibam cada camada de sua opressão, e consigam arrancar outras mulheres da feminilidade, enquanto regime patriarcal de docilização dos corpos; focar nossas vidas em mulheres, nos voltar para elas, viver com elas, amá-las em toda complexidade que mulheres possuem.

Precisamos combater o patriarcado como essa estrutura que organiza as explorações de todos os povos e animais. Precisamos combater a misoginia, o mito da superioridade branca e elitista, como fios-condutores de violência e opressão que são. Precisamos desencorajar e combater atitudes machistas, racistas e elitistas, porque elas esfregam na nossa cara nosso fracasso como sociedade.

Referências

(1) MacKinnon, Catharine A. “Desejo e Poder” in: Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli (org.) Teoria política feminista: textos centrais, organizada por. Vinhedo: Horizonte, 2013.

(2) Varikas, Eleni. In: HIRATA, Helena et al. (Org.). Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

(3) Lerner, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. Tradução Luiza Sellera. São Paulo: Cultrix, 2019.

(4) Pisano, Margarita. O Triunfo da Masculinidade. Tradução: Estudos no Brejo. São Paulo: 2017.

(5) QG Feminista. Morgan, Robin. Sobre mulheres enquanto povo colonizado. Tradução: Furiosa. São Paulo: 2020.

(6) Lorde, Audre. Irmã outside. Tradução Stephanie Borges. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. Título original: Sister Outsider.

(7) QG Feminista. Brava, Fêmea. A feminilidade como sujeição à masculinidade. Rio de Janeiro: 2020.

(8) A Pública. Afiune, Julia; Anjos, Anna Beatriz. “Temos que construir a utopia no dia a dia”, diz a boliviana Julieta Paredes. Maio, 2020.

(9) hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 1 ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.

(10) QG Feminista. Brava, Fêmea. A socialização para os papéis sexuais é violência; e a violência é uma linguagem a ser abolida. Rio de Janeiro: 2020.

(11) QG Feminista. Zaidman, Claude. O que é socialização e o que é educação?. Tradução: Furiosa. São Paulo: 2018.

(12) Franulic, Andrea. Notas sobre misoginia (portugués). 2003.

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Natalia Kleinsorgen | feminista autônoma, abolicionista de gênero, jornalista, antipunitivista e anticárcere