O meio do fim

Desperto do sono e olho o celular. 21:38. Sonhava com música tocando, cinco segundos mais e da janela vem o som: são gritos e bombas. Trinta e um de agosto, uma data pra história, e ela acontece também aqui, doze andares abaixo, em um prédio entre o Minhocão, a Consolação e a São João. Os porcos de…

canção para ver

quando de sexta
você me aparece
e pede leituras de lençol
um filme, mentiras, sossego
festa ou outras propostas

blue moon

seria mais uma noite linda
a cidade
clima de sorrisos
a gente toda nos vendo
mas a lua é grande, hoje
eclipsa
inverte a lógica e qualquer previsão
melancolia na cama
blues
os lençóis azuis
a água que cai
triste, tudo tão triste

adentro

sol longe do horizonte
de hora marcada o sonho interrompido
o dentro do dentro, sertanejo
bagagem pronta
errante e vacilante
tanta distância…

do que fica

qualquer cartilha pra aperto no peito receita:
abrir janelas
puxar
pelo
nariz
...
soltar
pela
boca
...
o resto é por conta:
1-passos em ponta de pé
2-silêncio e ausência
3-rabo de olho
4-outros ares
sonhei com uma praia
um dia bom
um medo
mas a cabeça mira reto
mas os olhos têm rabos
mas os pés têm raízes…

balada do boleto

contas a pagar
encanamento
lâmpadas
a favor,
apenas o novo chuveiro

débito automático
empréstimo
nome
sujo
esponja suja
precisa de papel
meio
de mês, fim
de mês
fim de…

mais uma mentira

alguns poemas são bem falsos
um deles, ridículo, fingido demais
não chegou nem chegará a quem foi feito
(por não ser a ela)
outro, tão transparente
que o mais prudente
é achá-lo ruim

linha do tempo

embarcação possível
num cais distante
o retorno será breve
mas surgem ondas sobre a tela
você teria uma nova jornada
comprida, longe
talvez nunca voltar
aqui, ancorado
traço outras rotas
mil planos de navegação

bolsas

tem bagagem que pesa só depois da viagem
por isso ombros cansados
contrariados de não aguentarem
espelho mostra olhos abertos
há muito
caídos
pudera ser sono ou ressaca
lição aos quase trinta
não te faz vivo levantar muito cedo
às vezes é amigo o chão
e qualquer estação
de rádio

500 dias e ela

e aí quem diria
um tempo
voar era proibido
desamarrados
embaçam as lentes
luzes bocas e chuvas na avenida
olhos que olham
que falam
falham
choram saudades
dos futuros presentes
em dedicatórias
praias
lençóis
nesta mesa
em que tu vem
senta
e me cumprimenta