Dez Mitos e Verdades Sobre Estereótipos Franceses

Nariz em pé, romantismo, falta de banho… Até que ponto é verídica a visão que nós temos dos francos?

Mariana Prates
QUARANTENADA
16 min readSep 4, 2020

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Um típico francês no imaginário brasileiro. Fonte: Getty Images.

Apesar de todos os empecilhos e reviravoltas causadas pelo bendito Coronavírus, acabei fazendo dois colegas franceses nesta quarentena.

A primeira é a Mathilde. Nós nos conhecemos por meio do Buddy System, site europeu de apadrinhamento de estudantes estrangeiros. Ele funciona para diversas cidades universitárias do continente, inclusive Paris, facilitando o contato entre intercambistas e locais que visam fazer novos amigos de diferentes backgrounds culturais.

Meu perfil lá no site de apadrinhamento. Foto: reprodução/Buddy System.

O processo é bem simples. Você se inscreve, preenche seus dados e preferências, fala um pouco sobre você, e pronto! A equipe deles encontra um estudante local com hobbies e expectativas similares aos seus, e a partir daí vocês começam a interagir.

O sistema de apadrinhamento é usado em diversas universidades, inclusive na UFMG. No primeiro semestre de 2017 fui madrinha de uma intercambista finlandesa, a Annukka, e desde então percebi o quão importante é conhecer alguém da cultura local ao se mudar para um país estrangeiro. Por isso, em janeiro de 2020, me inscrevi como futura intercambista no Buddy System, com o objetivo de ser apadrinhada por colegas parisienses também.

Em maio, o site avisou que meu perfil havia dado match! Era justamente a Mathilde, minha mais nova madrinha. Ela tem 21 anos, é nascida e criada em Paris e atualmente estuda Letras/Inglês na Sorbonne Nouvelle, onde em um mundo sem Coronavírus eu iria estudar no segundo semestre de 2020. Apesar de todas as incertezas com relação ao futuro de meu Erasmus, nós continuamos papeando e trocando figurinhas sobre a vida desde então.

O segundo é o Romain, que fiquei conhecendo pelo Tandem, um app para aprendizado de idiomas no qual você troca ideia com pessoas de todo o mundo no objetivo de treinar seus conhecimentos em idiomas estrangeiros. Em meados de março, com as aulas da Aliança Francesa suspensas por decorrência da pandemia, decidi me inscrever no site por indicação de uma amiga que o usa para praticar seu espanhol. A experiência rendeu conversas interessantes com pessoas da França, República Dominicana, Austrália e até do Cazaquistão.

De qualquer forma, o Romain tem 26 anos e vem da região de Grand-Est, ao leste da França, quase na fronteira com a Bélgica e Alemanha. Ele é formado em Fisioterapia e tem uma visão bem aberta sobre a cultura e a história de seu país: uma das primeiras perguntas que fiz foi como é que os franceses aprendem sobre o Imperialismo dos séculos 17 a 19 por seu país, e ele respondeu que é mais voltado para as supostas “conquistas” do que para o sofrimento causado nas antigas colônias, infelizmente.

Enquetes persuasivas. Foto: reprodução/Instagram.

Aproveitando meus novos contatos gringos, decidi fazer uma apuração jornalística quanto à veracidade dos estereótipos do povo francês na ótica de nós, brasileiros. Sendo assim, no dia 7 de agosto de 2020, uma sexta-feira à noite, coloquei uma caixinha de respostas nos stories de meu Instagram pessoal perguntando a meus seguidores quais as principais características que lhes vinham em mente ao pensar na terra dos Francos. Para minha surpresa, a brincadeira rendeu grande engajamento.

Eis aqui algumas das respostas que recebi:

Foto: reprodução/Instagram.

A partir de todas as sugestões enviadas, fiz uma filtragem das mais relevantes e convidei meus colegas gringos a darem suas opiniões de Especialistas em Cultura da França quanto ao que nós achamos deles, aqui no Brasil. Sempre reforçando que são estereótipos, claro, e que não necessariamente estou de acordo com as opiniões.

Felizmente, ambos se mostraram muito abertos à entrevista, curiosos para saber como é que nós enxergamos o seu país. Dou logo o spoiler de que nem tudo é do jeito que a gente imagina. Será que você acerta quais são verdade e quais não tem absolutamente nada a ver?

Dez Mitos e Verdades Sobre o Povo Francês

1/10: Não são muito receptivos com turistas e não gostam quando estrangeiros tentam se comunicar em inglês;

Mathilde: Não, os franceses podem ser muito receptivos! Só que muitos não falam inglês fluente, então ficam desconfortáveis ou inseguros de se comunicar em outra língua.

Romain: Acho que algumas pessoas estão cansadas de tantos turistas, e só querem ser deixadas em paz (risos). E muita gente não se sente confortável em falar inglês, porque nosso ensino de línguas estrangeiras não é muito bom nas escolas, sabe? Não tem muita prática em sala de aula.

Aos fatos: Segundo o Índice de Países Mais Amigáveis 2019 da organização de expatriados InterNations, a França é tida como pouco receptiva a estrangeiros, no 51º lugar das 64 nações avaliadas. A termo de comparação, o Brasil é visto como muito receptivo, em 15º lugar.

Como já citamos na Capital do Se Vira Nos Trinta, Paris foi a segunda capital com o maior número de turistas em 2019, tendo recebido cerca de 20 milhões de visitantes internacionais. Já o Brasil, à mesma época, recebeu menos de 10 milhões. Ou seja, a pequena Paris recebeu o dobro de visitantes do que todo o nosso país — o que nos faz pensar que o grande número de forasteiros pode realmente ser uma incógnita importante para a suposta má recepção.

O que não necessariamente significa que o estereótipo seja de todo verdade. Durante a enquete pelo Instagram, uma amiga que viajou a Paris para um congresso científico mandou o seguinte depoimento: “ouvi dizer que eles eram frios e não falavam em inglês com os turistas, até que fui para lá e vi que não tem nada disso!”.

Em 2012, último levantamento da União Europeia sobre o multilinguismo de seus cidadãos, cerca de 39% dos franceses falavam a língua de seus vizinhos britânicos. Como nossos Especialistas em Cultura da França bem citaram, é possível que parte dos locais só estejam com vergonha de se comunicar em outro idioma.

De qualquer forma, nossa correspondente Olívia Motta sugeriu na crônica do Jeitinho Francês que você saiba um mínimo de francês antes de visitar o país, nem que seja para gastar o seu bonjour. Facilita a comunicação, não é mesmo?

Uma aula básica do idioma para quem quiser se aventurar por lá depois do Coronavírus. Fonte: reprodução/OláBrasil.

2/10: Têm hábitos alimentares muito saudáveis e dificilmente são acima do peso;

Mathilde: Eu diria que a questão dos hábitos saudáveis não é de tudo verdade, mas isso do sobrepeso é. A França tem um dos menores índices de obesidade dentre os países europeus.

Romain: Falso, 20% da nossa população é obesa… Acho que a gente devia parar de seguir os ideais estadunidenses de fast-food e começar a se exercitar mais.

Aos fatos: Ambos estão certos. Ao mesmo tempo em que um quinto da população está na faixa da obesidade, o índice da França está dentre os dez menores do continente, junto da Sérvia, Holanda, Portugal, Suécia e Áustria (20%), Itália (19%), Suíça (19%), Dinamarca (19%), Moldávia (18%), e Bósnia e Herzegovina (17%).

Coincidentemente, o índice de obesidade aqui no Brasil é exatamente o mesmo: 20%.

3/10: Carregam baguetes para todos os lugares, às vezes mesmo debaixo do braço;

Mathilde: Bom, é verdade que os franceses adoram baguette (risos). E sim, a gente carrega elas pra tudo quanto é lugar.

Romain: Cem por cento verdade. Quando você precisa carregar várias baguettes para algum lugar, é muito útil enfiar elas debaixo do braço. Reduz o risco de cair!

Um francês pratica malabarismos para não derrubar suas baguettes diárias ao tentar pescar as chaves. Fonte: backpacksinfirst.

Aos fatos: Na primeira (e única) vez em que fui na França, com quinze anos de idade, me deparei com uma das cenas mais inesquecíveis de toda a viagem: um homem andando de bicicleta com duas baguetes enfiadas na mochila.

Hoje em dia, 98% dos franceses consomem o pão diariamente. A paixão é tanta que os boulangers, padeiros, precisam seguir diretrizes específicas para a sua fabricação. Segundo o Decreto do Pão de 13 de setembro de 1993, instituído pelo Primeiro Ministro da época, as baguettes devem ser feitas apenas com farinha de trigo, fermento, água e sal. O trem é sério, mesmo.

Aqui no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também possui um Guia de Boas Práticas Nutricionais que visa nortear a fabricação do pão de sal — que apesar de também ser chamado de pão francês, foi trazido até nós pelos portugueses. Mas independentemente do nome que você usa, fique à vontade para fabricar o seu da forma como achar melhor.

4/10: São pessoas muito bem-vestidas e requintadas, especialmente em Paris;

Mathilde: Mais ou menos, mas realmente tem certo interesse geral na moda e em andar arrumado. E sim, a maioria dessas pessoas consideradas bem-vestidas e requintadas realmente estão aqui na capital.

Romain: Nem tanto, a maioria das pessoas não se veste tão bem… Mas em Paris as pessoas são mais ricas, então sim (risos). E também tem a Fashion Week, né.

Aos fatos: Em 2013, a França foi eleita pelo caderno de viagens da CNN como o terceiro país mais bem-vestido do mundo. Nas palavras do portal, “a corte real francesa se tornou árbitro de estilo para o resto da Europa no século 17, e ainda é, apesar de a aristocracia da moda atualmente não vir dos cortesãos de Luís XIV, mas […] de casas como Vuitton, Dior e Givenchy”.

Aproveito a oportunidade para dar uma boa notícia aos amantes do senso fashion latino-americano: nós também estamos na lista! Segundo a CNN, “apesar de a clássica combinação de ‘roupa de banho e Havaianas’ ainda reinar nas praias do Rio de Janeiro, uma estética mais requintada emerge no maior país da América do Sul […], catalisada pelo advento da São Paulo Fashion Week na virada do milênio”.

Apesar da menção honrosa, tenho críticas. Enquanto o ícone fashion da França é dado como a atriz Eva Green, “antiga Bond girl cujas silhuetas […] evocam os designs clássicos de Coco Chanel”, o nosso ícone é ninguém mais, ninguém menos do que… Carmen Miranda. Segundo o editorial, os chapéus de fruta da cantora supostamente teriam trazido a “cultura do Carnaval do Rio para uma maior audiência”.

Me desculpe, CNN, mas em meus 22 anos vividos em terras brasileiras eu nunca (nem uma única vez) me deparei com alguém que saísse com frutas equilibradas na cabeça. Se for para escolher, prefiro a “clássica combinação de roupa de banho e Havaianas”, que se adequam muito ao nosso verão tropical do que qualquer modelito considerado “requintado” por especialistas em moda europeus.

5/10: Levam seus direitos civis muito a sério e são pessoas muito reacionárias; tendem a começar uma revolução sempre que não se sentem satisfeitos com algo. Queimam muitos carros nestas revoluções;

Mathilde: Total. Os franceses sabem fazer greves, barricadas e protestos muito bem. Alguns manifestantes vão porque realmente estão insatisfeitos, e alguns quebram ou botam fogo nas coisas como forma de protesto. Outros aparecem só para depredar, mesmo.

Romain: O povo francês não gosta de mudanças, especialmente quando é contra ele. É da cultura. Para cada projeto de mudança na lei, as pessoas protestam. Essa história de queimar carro acontece com mais frequência nas regiões periféricas, nos protestos o que as pessoas costumam fazer é quebrar os carros, as vidraças das lojas, esse tipo de coisa. E é claro que algumas pessoas vão nas passeatas só para quebrar tudo. Mas agora o governo do Macron autoriza que a polícia pegue pesado nas manifestações, atire com balas de borracha e tal, mesmo quando ninguém está fazendo nada demais… Tem até histórias de pessoas da polícia se fingindo de manifestantes para entrar no meio da galera quebrando tudo, para culpar os manifestantes mais tarde.

Aos fatos: A fama dos franceses queimando carros é tão forte no imaginário brasileiro, que nós temos até uma página do Facebook dedicada à prática, a Eu Sou Fã dos Franceses Porque Qualquer Coisa Eles Vão Lá E Queimam Carros. A página até te ensina a falar “francês piromaníaco”, uma versão revolucionária (e incendiária) do idioma.

Exemplo das aulas de francês piromaníaco. Fonte: reprodução/Facebook.

Quanto aos protestos, eles realmente soam mais acalorados por lá do que por aqui, ao menos tendo como base as notícias que chegam até nós. Como em novembro de 2018, quando um grupo de gilets jaunes (“coletes amarelos”), que manifestavam contra o aumento do preço da gasolina no país, armou barricadas para impedir o trânsito e destruiu o asfalto da Champs Elysées — que como mencionamos na Terceira A(paris)ção, é tida como a avenida mais importante da cidade.

É como se um belo dia, nós saíssemos de casa e déssemos de cara com cidadãos munidos de britadeiras e picaretas arrancando fora a Avenida do Contorno. Dá pra imaginar?

Cenas dos manifestantes arrancando a Champs Elysées. Fonte: Le Parisien.

6/10: Têm hábitos de higiene menos rígidos;

Mathilde: Sim…

Romain: É verdade. Nós estamos dentre os países europeus onde as pessoas menos lavam as mãos depois de ir ao banheiro, e um quarto dos homens não troca a roupa de baixo todos os dias… Complicado.

Aos fatos: Em comparação com o Brasil, a maioria dos países têm hábitos de higiene considerados menos rígidos. 99% dos brasileiros tomam no mínimo um banho por dia, sendo que cada cidadão toma em média 12 por semana. Em contrapartida, 76% dos franceses se lavam diariamente, tendo a média de 6,5 banhos semanais.

Nossa mania de limpeza vem dos povos originários do continente americano, que tinham o costume de se lavar até dez vezes por dia nos rios. Na Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manoel de Portugal sobre a chegada dos europeus no Brasil, em 1500, o escrivão relata que os indígenas eram “tão limpos (…) e tão formosos, que não pode mais ser!”. Apesar da relutância inicial dos portugueses a cederem ao hábito, ele acabou se tornando intrínseco ao povo brasileiro, ao ponto de sermos conhecidos hoje como os que mais tomam banho no mundo (fato do qual me orgulho enormemente).

Além das questões culturais, o clima também influencia nossas diferenças: de acordo com o Weather Channel, enquanto a temperatura média anual em Belo Horizonte é de 24ºC, em Paris ela baixa para 12,8ºC. É de se esperar que você sinta mais necessidade de uma boa ducha (ou várias) nos trópicos do que nos polos, não é mesmo?

Média global de banhos por semana. Repare que o Brasil está isolado na linha de frente, com 2 banhos diários por cidadão. Fonte: Euromonitor.

No entanto, fiquei impactada com os dados do Romain e precisei fazer uma checagem, só para confirmar que ele estava certo. De acordo com a Gallup International, associação suíça de pesquisas de opinião, 38% dos franceses não tem o hábito de lavar as mãos após ir ao banheiro — o quarto maior índice da Europa, mais limpinho apenas que os espanhóis (39%), italianos (43%) e holandeses (50%). Mas a gente não está tão diferente. Aqui no Brasil, 27% da população não higieniza as mãos após aquela passadinha no banheiro. Em tempos de Coronavírus, espera-se que ambos os países tenham melhorado sua performance.

Além disso, em fevereiro de 2020 o jornal Le Parisien divulgou com exclusividade um levantamento do Instituto Francês de Opinião Pública (uma espécie de IBGE) quanto aos hábitos de higiene locais. Nele, vinha a desconcertante informação de que 27% dos homens no país não troca de roupa íntima diariamente, contra 6% das mulheres. Ademais, 1% de ambos os gêneros afirmaram trocar a peça duas vezes… Por mês.

Busquei algum dado similar com relação a nós, mas não encontrei nenhuma pesquisa sobre o assunto. Espero que seja um bom sinal.

7/10: São muito apegados ao consumo de vinho e pão. Se um francês te convidar para ir na casa dele, é provável que ele vá te oferecer ambos, e é mal-educado recusar a oferta;

Mathilde: Verdade! Vinho e pão são clássicos aqui, mas não é todo anfitrião que te oferece os dois. Às vezes, não oferecem nenhum…

Romain: Pão com queijo, salame seco e vinho tinto são típicos! Eu não diria que é falta de educação recusar, mas a pessoa vai insistir bastante ou te oferecer outra coisa no lugar. Tem toda uma pressão social ao redor do consumo de álcool, e as pessoas vão te achar chato ou introvertido se você não beber junto.

Aos fatos: Estatisticamente falando, os franceses bebem bem mais do que nós, seja vinho ou não.

Em 2016, a Organização Mundial da Saúde constatou que o consumo médio de álcool (puro) no mundo era de 6,4 litros por cidadão ao ano. Fazendo as contas, dá seis cervejas de 360ml, ou cinco taças de vinho por semana. O Brasil está acima da média global, com 7,8 litros anuais: dez latinhas, ou sete taças semanais. A bebida mais consumida por aqui é a própria cerveja (63% dos entrevistados), seguido de destilados (34%), e só então o vinho (3%).

Já os franceses consomem em média 12,6 litros por ano. São dezessete latinhas ou onze taças por semana, o que os deixa em oitavo lugar no ranking de maiores bebedores de álcool do mundo. O vinho é a opção preferida (58,8%), seguido também por destilados (20,7%), e só então cerveja (18,8%). Mas lembrando que em vários países da Europa ela não é servida gelada, e sim na temperatura ambiente!

8/10: São mais fechados emocionalmente e levam um tempo para se abrir com “estranhos” (mas quando se abrem, é uma amizade de verdade que pode durar para sempre);

Mathilde: É verdade que os franceses podem ser mais fechados emocionalmente do que outros povos, sem demonstrar sentimentos com facilidade. Mas também depende muito da pessoa. Alguns se abrem super rápido, outros, nem tanto.

Romain: Não conheço muitas pessoas de outros países para comparar, acho que varia de pessoa para pessoa…

Aos fatos: Recapitulando as palavras da Amandine durante a crônica do Jeitinho Brasileiro, pode ser que na França exista menos a “simpatia de fachada” que alguns gringos percebem por aqui.

Depois de quatro anos na América Latina, minha professora de Toulouse acredita que os franceses são mais fechados do que nós. Para ela, é super fácil se enturmar por aqui quando se é estrangeiro — o difícil é fazer amizades, já que nossa abertura não necessariamente significa intimidade.

9/10: São muito românticos e apaixonados no que diz respeito a relacionamentos;

Mathilde: Olha, eu não acho que os franceses sejam muito românticos, não (risos).

Romain: Pessoalmente, eu me considero romântico quando estou com alguém; gosto de passar tempo com a pessoa, fazer algo legal para ela, dar presentes e tal… Mas esse estereótipo vêm do século 19, por conta do Romantismo. No geral, acho que os franceses sempre tentam “conseguir” a pessoa de quem estão a fim, mesmo se os envolvidos não estão exatamente solteiros. Antes também era comum que os homens dessem sempre o primeiro passo, mas cada vez mais as mulheres estão tomando a iniciativa.

Aos fatos: Se os franceses são românticos eu não sei, mas em 2013 o idioma deles foi votado por internautas do Hotels.com como o mais atraente do mundo. Busquei algum motivo “científico” para tal, mas acabamos caindo sempre no estereótipo de Paris como a Cidade do Amor, dos locais como amantes apaixonados, etc.

Nos resta então o já citado movimento romancista dos anos 1800, que nos trouxe figuras conhecidas como Victor Hugo (Os Miseráveis) e Alexandre Dumas (O Conde de Monte Cristo). À época, Paris se tornou palco de diversas narrativas ficcionais que retratavam a cidade como um antro de refinamento, com uma elite social e cultural que ditava as normas de etiqueta da época. Uma visão romanceada e eurocêntrica, sim, mas que permeia o imaginário de muitos até os dias atuais.

10/10: Parisienses são pessoas distantes, podendo soar como indiferentes ou arrogantes para quem é de fora. Os garçons costumam ser rudes e se irritam facilmente com os clientes.

Mathilde: Muito verdade. Já ouvi histórias de bartenders e garçons de pontos turísticos que não eram receptivos, ou eram até grosseiros com os estrangeiros. Tem até os que fazem golpes para passar os turistas para trás.

Romain: Verdade, os parisienses não são muito educados. Você chega nos lugares dando “bom dia” e eles não costumam te responder… As pessoas não respeitam as leis de trânsito e tudo lá é uma loucura, cada um pensa que pode fazer o que quiser!

Aos fatos: Sobre a suposta má-direção dos parisienses, me sinto na obrigação de dizer que não há placas de “pare” na cidade. Já existiu uma solitária, em 2012, que de tão novidade, foi até anunciada pelo jornalzinho da polícia local. No entanto, em 2014 a pobre sumiu do dia para a noite em circunstâncias misteriosas, e desde então a cidade segue sem uma única placa de “pare”. Desse jeito, é de se esperar que o trânsito seja um caos, oxe.

Quanto a turistas sendo passados para trás, é verdade que viajantes são uma isca e tanto para golpistas, seja em Paris ou em qualquer outro lugar. O guia turístico e youtuber cearense Max Petterson, que mora na França desde 2014, filmou algumas ocorrências de golpes típicos na cidade para alertar os futuros viajantes:

Algumas dicas para ninguém ser passado para trás na Cidade Luz. Fonte: reprodução/YouTube.

Fazendo um balanço geral da experiência, eu diria que todos os estereótipos tem seus exageros e suas verdades. Exceto o das baguettes, que aparentemente é cem por cento verídico.

Da mesma forma, é possível que nós, brasileiros, estejamos cheios de paradigmas espalhados pelo mundo — alguns não muito agradáveis de se ouvir. É só nos lembrarmos de minha amiga Olívia, que disse ter ficado bastante impactada com alguns clichês negativos que ouviu sobre o Brasil em seus seis meses por Paris.

Na dúvida, é sempre interessante não propagar preconceitos. Acho melhor trocar ideia com algum local antes de sair por aí espalhando algum clichê desagradável… Ou no mínimo, checar muito bem seus fatos!

Adendo de apps úteis

Para quem quiser trocar ideia com os gringos, relembro alguns aplicativos que permitem conversar com pessoas ao redor do mundo, treinar o aprendizado de idiomas e, de quebra, ainda fazer amigos virtuais:

- Tandem
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Hello Talk
-
Busuu
-
Greengow (único dos quatro que funciona como um tradutor instantâneo, ou seja, você não precisa falar outra língua para interagir!)

Fontes

- Prevalência de obesidade em adultos acima de 18, de 1975–2016, Organização Mundial da Saúde. 2017. Acesso em 03/09/20.
- Brasileiros atingem maior índice de obesidade nos últimos treze anos, Ministério da Saúde. 25/07/19.
-
Comportements Alimentaires et Consommation de Pain en France, Centre de Recherche pour l’Étude et l’Observation des Conditions de Vie, 2017. Acesso em 04/09/20.
-
Relatório Global Sobre Álcool e Saúde 2018, Organização Mundial da Saúde. Acesso em 04/09/20.

- Special Eurobarometer 386: Europeans and their languages, Comissão Europeia. Junho de 2012. Acesso em 31/08/2020.
-
Índice de Proficiência em Inglês da EF, Education First. 2019. Acesso em 03/09/20.
-
Índice Global de Cidades-Destino 2019, Mastercard (2019). Acesso em 06/06/2020.

- Personal Appearances: Global Consumer Survey Results on Apparel, Beauty and Grooming. Euromonitor International. Acesso em 02/09/20.
-
Les français fâchés avec l’hygiène (“Os franceses de mal com a higiene”). Radio France. 26/02/2020. Acesso em 02/09/2020.
-
Where Europeans Wash Their Hands After Using The Toilet (“Onde os europeus lavam as mãos após ir ao banheiro”). Statista, 27/02/20.
-
COVID-19: percepção, opinião, comportamento e hábitos de consumo, IBOPE Inteligência. 24/03/2020. Acesso em 02/09/20.

- The Surprising Reason There Isn’t a Single Stop Sign in Paris (“O motivo surpreendente pelo qual não há uma única placa de PARE em Paris”), Reader’s Digest. 06/01/20. Acesso em 04/09/20.

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Mariana Prates
QUARANTENADA

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