Design Jams: Como projetar soluções melhores colaborativamente

Experimentando e adaptando metodologias de design (e talvez de jazz) para a realidade de uma startup.

Leandro Novaes
QuintoAndar Design
5 min readSep 17, 2019

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A nossa disciplina tem algo muito interessante que é: como designers, nós podemos redesenhar a nossa forma de trabalhar. Estamos sempre atentos a oportunidades de melhoria nos nossos processos. Foi assim que começamos a fazer design critiques no QuintoAndar, há um tempão. Também foi assim que nasceram as nossas Design Jams.

Estive na última edição da UXConf 2019 e tive a oportunidade de contar um pouco sobre como fazemos Design Jams no QuintoAndar (obrigado Pedro, Rafael e Thiago!). Fiquei devendo um formatinho mais compartilhável desse conteúdo, então vamos lá. 🙂

Ah! Para quem se interessar, esse artigo tem trilha sonora.

Aqui no QuintoAndar os desafios tem ficado cada vez mais complexos. Se antes trabalhávamos em fluxos para facilitar a locação de imóveis, agora temos desafios como por exemplo provar que há demanda para um modelo de negócios em que reformamos imóveis, melhorando ao mesmo tempo qualidade e liquidez.

Imagem exemplificando um processo baseado em 5 etapas: empatia, definição, ideação, prototipação e testes.

Uma das questões que enfrentávamos era que ao apostar em uma autonomia de cada designer trabalhando em desafios e times diferentes, sintetizar desafios complexos e gerar ideias para soluções ficava mais custoso. Estávamos perdendo não só agilidade, mas também o potencial do olhar do grupo sobre alguns temas.

E foi assim que encontramos uma oportunidade de melhoria. A hipótese? Ao reunir um grupo de pessoas para focar por um período de tempo em um único problema, ganhamos agilidade e soluções melhores.

Sobre jams e sobre jazz

Dave Brubeck era um gênio do jazz, sozinho no piano ele já era uma lenda. Mas foi só quando ele se juntou e montou um quarteto com um pessoal para fazer umas jams que eles compuseram o Time Out. Esse álbum é considerado uma obra-prima, o primeiro a explorar compassos fora do padrão. The Dave Brubeck Quartet rompeu com os princípios do jazz até então. Boa parte da crítica caiu em cima, o público adorou.

Duas imagens: na imagem da esquerda Dave Brubeck está tocando piano sozinho; na da direita ele está reunido com o quarteto, além do pianista estão tocando também um saxofonista, contrabaixista e baterista.

Sessões de jam são muito comuns no jazz e queríamos trazer exatamente isso para o design: aproveitar o potencial de um grupo e, numa mistura de habilidades e improviso, estimular a criatividade para criar novos materiais.

Explorando do nosso jeito

Vocês devem saber que já existem várias dinâmicas com objetivos parecidos, nós mesmos já testamos algumas delas no passado. A verdade é que, no nosso contexto e no contexto de muitas outras startups, dificilmente conseguimos seguir um processo à risca como o design sprint. Aplicar um método de design pré-formatado na realidade da sua empresa pode ser tão difícil quanto empurrar um triângulo em um espaço quadrado naqueles brinquedos educativos de encaixe de formas geométricas. O nosso segredo foi adaptar.

Chegamos então na seguinte definição para as Design Jams:

A Design Jam é uma dinâmica que reúne métodos de design de forma modular, onde pessoas de diferentes especialidades se reúnem por um curto período de tempo para focar em uma necessidade de projeto, explorando estratégias e soluções.

Tínhamos um problema identificado, uma hipótese de solução e um formato pronto para ser colocado em prática, estava na hora de testar. Pilotamos a dinâmica com algumas sessões e trouxemos alguns aprendizados.

Na imagem 4 pessoas estão desenhando. Na frente um computador mostra um contador de tempo.

Para dar um pouco mais de ideia de como foi, em uma das sessões foi levado o desafio de melhorar a experiência de pessoas passando por análise de crédito. Foi reunido um grupo de designers e engenheiros e apresentado o cenário atual, com dados qualitativos e quantitativos, análise de reclamações de clientes e limitações atuais no produto. O grupo se reuniu então por cerca de 2 horas e meia para definir um objetivo a longo prazo, reformular problemas como oportunidades, definir uma jornada, desenhar possíveis soluções e fazer um mini-critique.

Essa Jam serviu para os participantes como uma imersão sobre o tema, gerando alinhamento e engajamento. Porém o tempo disposto foi um grande desafio devido ao número de métodos aplicados. Além disso, percebemos que a participação de pessoas de outras áreas seria uma excelente contribuição para o desafio.

Os testes validaram que as Design Jams funcionam com desafios bem recortados, por serem adaptáveis, colaborativas, multidisciplinares e ágeis. Elas não funcionam quando o tema é grande demais. Se você ainda não sabe muito sobre o seu público ou o que não está funcionando e porquê, ainda não é hora de fazer uma Jam.

Iterando o experimento

Após validar o que funcionava e o que não funcionava nos nossos primeiros experimentos, chegamos no nosso modelo de Design Jam.

Para preparar uma Design Jam, tentamos sempre seguir os requisitos abaixo:

  • Um desafio realista e factível para o tempo disponível. Redesenhar um aplicativo de corretores não seria um desafio realista, mas auxiliá-los a identificar se um imóvel está disponível para uma visita de imediato sim;
  • Um conjunto de métodos de design rápidos, definidos de forma modular de acordo com o desafio proposto;
  • Uma sala reservada por 2 a 3 horas;
  • Entre 6 e 8 participantes multidisciplinares;
  • Uma pequena apresentação com informações do cenário atual, dados qualitativos e quantitativos;
  • Papel, caneta, post-its e tudo o mais.

Chegamos também a uma definição para dois tipos de Jams:

Imagem ilustrativa das Design Jams para definição e para ideação

Design Jam para definição

A Design Jam para definição é aplicada quando o objetivo é chegar a uma definição de problema. O conhecimento sobre um tema é reunido, e a definição de problema é formatada com foco no usuário.

Possíveis métodos para a Jam de definição: mapa de empatia, como podemos, matriz CSD, brainstorming, matriz de priorização.

Design Jam para ideação

A Design Jam para ideação é aplicada quando objetivo é começar a desenhar possíveis soluções. As necessidades do usuário e do negócio serão traduzidas em soluções viáveis.

Possíveis métodos para a Jam de ideação: fluxogramas, storyboards, sketches, board session, mapa de calor, speed-critique.

Você pode inclusive experimentar aplicar duas Jams para um mesmo projeto. definindo um problema e gerando soluções na sequência, funciona aqui. 😉

Aprendizados

Fizemos mais de 40 Design Jams em cerca de 1 ano. Esse número na verdade é aproximado, a essa altura eu já perdi a conta.

Com a Design Jam aproveitamos melhor o potencial do olhar de um grupo multidisciplinar, agilizamos parte do nosso processo e melhoramos progressivamente a qualidade das soluções propostas.

O mais interessante desse desenvolvimento foi conseguir estabelecer as Design Jams como parte da nossa rotina. Não queríamos reinventar a roda ou criar a grande nova metodologia do design do momento, e sim adaptar para a complexidade do nosso contexto.

Jazz é sobre criatividade e sobre improvisação, é sobre processos alinhados a um entendimento dos fundamentos, de forma que se possa criar algo novo a partir de conceitos que já são bem estabelecidos. Design também.

Vamos conversar! Aproveita que leu esse texto até aqui e me conta como você experimenta processos de acordo com a realidade da sua empresa. 👋

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Leandro Novaes
QuintoAndar Design

Staff Product Designer @ Delivery Hero. Writing stories about the journey of being a designer. // linkedin.com/in/leandronovaes