O que faz Design Ops na vida real

Aprendizados sobre a área que virou hype no mundo do Design

Lívia Amorim
QuintoAndar Design
5 min readMar 13, 2019

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Design Ops, ou Design Operations, é a buzzword do momento. Nos últimos anos, investir mais em design se tornou uma realidade em grande parte das empresas — tanto na contratação de designers, quanto na aplicação de métodos e práticas que incorporam Design como estratégia do negócio.

Hoje é comum que designers trabalhem em equipes, e não sozinhos, como há alguns anos. O mercado tem respondido rapidamente a esse movimento e criou um conjunto de ferramentas para abraçar as dores que designers têm no dia a dia. São inúmeros softwares que ajudam na criação de protótipos, testes de usabilidade e documentações.

Tendo em vista esse contexto, um novo papel surgiu para facilitar a migração das pessoas de suas tarefas operacionais para posições mais táticas: o designer (ou time) de Design Ops.

O que é Design Ops

Collin Whitehead, da Dropbox, divide Design Operations em duas categorias: operações de projetos (projects) e operações de produto (operations). Já Dave Malouf, co-fundador do IxDA, divide em três categorias: pessoas (people), fluxo de trabalho (workflow) e governança (governance). Mas ambos concordam que pode haver uma mistura entre todos esses papéis, principalmente em ambientes de startup.

Costumo dividir Design Ops em duas grandes vertentes: Pessoas e Workflow.

Com relação a Pessoas, Design Ops tem o objetivo de contratar as pessoas certas, capacitá-las e mantê-las motivadas com foco em uma mesma visão. Para isso, o time pode:

  • propor um processo de contratação fluido para candidatos;
  • montar um onboarding bacana para quem acabou de chegar no time;
  • levar designers do time para eventos e cursos;
  • propor rituais entre o time de design.

Sobre Workflow, Design Ops tem o objetivo de proporcionar as ferramentas necessárias para a execução do trabalho da equipe de design:

  • processos, ferramentas e frameworks;
  • playbooks e guias;
  • base de conhecimento;
  • design system.

O dia a dia não tem glamour, como sugere a buzzword. É um trabalho estratégico para facilitar questões operacionais. Envolve desde comprar ingressos e passagens de avião para eventos até montar um framework para testes remotos.

Aqui no QuintoAndar, antes de montarmos o time de Design Ops, designers do time se dividiam para realizar as demandas de operação (como a gente contou no UX Team Summit). Com o tempo, a equipe cresceu e sentimos a necessidade de pessoas alocadas para determinadas tarefas, inclusive auxiliando designers que quisessem cuidar de alguma iniciativa.

Hoje, o time de Design Ops é composto por mim e pelo Tiago Aguiar (dedicado a design system). Nós somos responsáveis por criar e manter um design system; acompanhar e facilitar os processos de design; organizar o onboarding de novas pessoas designers; e mais uma série de coisas que são parte da rotina de operações, mas isso a Globo não mostra.

O que não é Design Ops

É fácil cair na armadilha de achar que Design Ops se resume a uma equipe responsável pelo design system (que às vezes não passa de um styleguide) e pelo guia de redação. Inclusive, lendo alguns artigos aqui no Medium e vendo palestras sobre o tema, vejo diversos profissionais, em diferentes empresas e contextos, falando sobre como esses artefatos facilitam o dia a dia das equipes de design. Mas quem compõe essas equipes? Por quais problemas elas estão passando?

Designers trabalham em torno de problemas cabeludos, testando e validando soluções. Design Ops também. Às vezes a solução é um design system; às vezes não. Pode ser que consistência não seja um problema, ou que não haja viabilidade técnica, ou que a equipe precise de um ambiente mais livre para testar suas hipóteses antes de cair nas regras de componentização.

O dia a dia de Design Ops não se resume a entregar artefatos. O trabalho se concentra nas soluções que facilitam o trabalho e a dinâmica da equipe de design, de modo a torná-la mais eficiente.

A minha trajetória como Design Ops

Antes: O que eu era antes de ser Design Ops?

Desde os 15 anos sou designer. Ainda hoje, sou designer de produto. Vejo que ter o background da profissão e ter sentido as dores dos processos e das ferramentas me ajudou a entender os problemas pelos quais meu time passa.

Mesmo que você venha de outras formações e profissões, estando em Design Ops, você continua sendo designer. Pode ser que você não fique horas na frente do Sketch e não faça testes de usabilidade, mas ainda assim vai projetar e validar soluções.

Agora: Sou Design Ops, o que faço?

A primeira coisa é conhecer as pessoas do time. Conhecer o público-alvo é praxe no Design, e isso não muda quando se está em Design Ops. Também é importante conhecer os stakeholders — desde as lideranças até pessoas de outras áreas. Podem ser as pessoas responsáveis pelas finanças da empresa que fazem as compras das licenças de software. Vá até elas, conheça o dia a dia, entenda os processos, documente e saiba os momentos em que você pode atuar.

Quando cheguei no QuintoAndar, a primeira coisa que fiz foi chamar pessoas de todas as áreas e níveis para conversas informais. Foi um jeito de conhecer a empresa por vários pontos de vista e, a partir disso, estruturar um roteiro para fazer uma série de entrevistas exploratórias nas semanas seguintes.

As entrevistas formais são parte da etapa de Descoberta (seguindo o Double Diamond do Design Thinking), e têm o objetivo de investigar os processos da equipe, o dia a dia das pessoas e listar suas dores.

Eu e o Tiago Aguiar fizemos essas entrevistas, analisamos qualitativamente e estruturamos o resultado enquanto Jobs To Be Done. Depois de analisar os problemas, priorizamos cada um deles e listamos em um Roadmap de Problemas. Ele ajuda a focar no objetivo, fazer cortes temporais (geralmente por trimestre) e falar o mesmo idioma que as pessoas que trabalham em Produto.

Depois: O que vou ser quando crescer?

Não sei. Existe uma ansiedade natural em relação à nossa carreira, ao que vem depois. Até cheguei a preencher alguns exercícios de reflexão para tentar desvendar os próximos passos. Inclusive, essa ansiedade não existe apenas em “carreiras novas”, mas em qualquer carreira. O que significa crescer profissionalmente? Isso é muito pessoal e não tem certo ou errado. É um caminho pessoal a ser desvendado.

Costumo dizer que estou Design Ops — e não que sou Design Ops. Imagino esse cargo como um conjunto de atribuições específicas, e não como uma carreira. Eu continuo sendo designer, vendo Operações como um squad (pensando no modelo Spotify que o QuintoAndar respira hoje) e podendo transitar por outros squads.

Estar Design Ops requer ser especialista em operações, assim como existem designers especialistas em writing, design system e motion. Mas nada te/me impede de transitar livremente entre esses múltiplos chapéus, aprendendo cada vez mais.

Vamos construir Design Ops juntos?

Design Ops é algo novo no mercado e ainda estamos aprendendo, criando do zero. Não existe uma fonte de verdade, bootcamp ou palestra que te ensine tudo o que é necessário. Precisamos compartilhar nossos aprendizados para desenhar esse papel juntos, falando o que acontece de verdade por trás dos bastidores. Sem hype, sem gurus.

A parte mais emocionante do Design Ops é que você pode se envolver na criação de uma prática que não existia cinco anos atrás. É o começo de um novo papel e você pode ajudar desenhá-lo (Meredith Black, DesignOps HandBook)

Se você está Design Ops (ou quer estar), comenta aqui no post suas dores e aprendizados. 😀

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