Crônicas do Tempo 17:00 — O arrependimento que destrói

Bruno Oliveira
Reflexões
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3 min readSep 20, 2020

A metanoia é algo sério. Mas é um processo doloroso — pedir desculpas (para si ou para outras pessoas) é algo complexo. Começa no entendimento dos erros que cometeu no passado/presente, mas, principalmente, no entendimento que na maioria das vezes temos cada vez menos poderes de mudar o que já passou. É uma tristeza genuína pela dor cometida. Se arrepender é o primeiro passo para o perdão, mas se arrepender com o remorso leva a uma autodestruição dolorosa.

Como diria o Rappa, “o nascimento de uma alma é coisa demorada não é partido ou jazz”. Temos que parar de julgar o (nosso) passado, hoje temos informações que não tínhamos naquela época. Somos mais maduros, experientes, mas não menos crianças. Precisamos nos dar crédito por ter tomado boas decisões, ainda que por várias vezes não a tenhamos tomado. Também podemos evitar nos compararmos a outras pessoas, a outras situações e cenários. Cada contexto muda todo o significado da ação (e reação). Sempre haverá um gap entre o que quero, o que querem de mim e o que realmente realizo e conquisto — precisamos saber lidar com isso para não viver uma vida de arrependimentos.

Poemas que abordam estas temáticas:

  • Divã do Amor Obscuro: O arrependimento nos coloca em um divã. Nossa vida passa como se fosse um filme, mesmo os nossos momentos mais tóxicos são vistos como queridos em troca da nostalgia. Há a diferença entre o que eu quero e o que as demais pessoas querem, e tudo isso me coloca em uma escuridão profunda.

Tua voz me hipnotiza, rega a duna do meu coração
voz, doce e longínqua, quente voz de gelo
longínqua e doce voz obscura e dissimulada
ponho-te em um divã, quero trocar-te confidências

  • Trajetos Franceses: Mesmo os momentos felizes, como uma viagem para Paris, podem trazer dor e sofrimento colaterais. As nossas perdas ficam manchadas na nossa alma. “Não deveria ter feito aquela viagem” ou “Poderíamos ter passado mais tempo juntos” — são frases que não nos ajudam a nos perdoar.

Em meu sonho, estava no jardim
encontrei sementes de castanheiro
o vento me trazia as lembranças do Sena
o passado é o ópio dos amantes

  • Ozymandias: A pior sensação é aquela em que se percebe que tudo o que foi construído desmoronou. Ser apenas uma sombra do passado é um fardo pesado demais para carregar. Mas o ponto de inflexão ocorre justamente quando você identifica os erros e tenta se reconstruir.

Lembro meus sonhos
queria conquistar o mundo
enfrentei obstáculos tamanhos
me perdi no meu coração, imundo

“Por onde andei, enquanto você me procurava?” (Nando Reis — Por onde andei)

Este post faz parte de uma série de posts denominados “Crônicas do tempo”, um compilado de poesias já publicadas neste espaço e uma dissertação a respeito de uma característica ou fenômeno do tempo. Ao total, serão 24 textos (referentes às 24 horas do dia) e o grande objetivo é registrar uma resposta para algo que as pessoas sempre me perguntam: por que o tempo é tão importante para você? Tentarei responder nessas 24 crônicas (que não são exatamente crônicas).

“Ah! Bruta flor do querer” (Caetano — O Quereres)

Crônica Passada:

Crônica Futura:

“No balcão do botequim a prosa tá parada não se fala da vida não acontece nada” (O Rappa — Papo de surdo e mudo)

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Bruno Oliveira
Reflexões

Auditor, escritor, leitor e flanador. Mestrando em TI, tropecei na bolsa de valores. Acredito nas estrelas, não nos astros. Resenho pessoas e o tempo presente.