Crônicas do Tempo 19:00 — O desejo da imortalidade

Bruno Oliveira
Reflexões
Published in
3 min readOct 11, 2020
Uma alegoria da imortalidade

Imortalidade é um dos principais desejos de alguns dos principais vilões da literatura e quadrinhos — normalmente não vemos heróis atrás desse “poder”. Vilanizar essa ideia é uma tentativa de se conformar de que todos somos perenes e que vamos acabar um dia, não adianta lutar contra isso e devemos viver em um grau máximo enquanto podemos. Mas, mais do que um tema da ficção, a imortalidade é algo real e próximo da gente. Tentamos ser imortal em vários momentos. Momentos nossos que ficaram no passado, são fortemente forçados a virem novamente para o presente. Seja pela nostalgia, pela lembrança, pela saudade, as memórias são nossas principais armas rumo a eternidade. Ainda que ilusória.

Somos eternos enquanto duramos, nas letras da bossa nova encontramos um espaço nas artes para nos mostrar como alcançamos essa imortalidade. O passado, presente e futuro se misturam em meio a eternidade, as memórias se perdem na nossa noção do tempo. O que o tempo nos tira, a memória resgata. O que o tempo nos coloca, a memória registra (e esquece, quando possível). Recordamos e somos recordados nessa eterna luta pela sobrevivência, de sermos mais persistentes do que o tempo nos permite ser.

Poemas que abordam estas temáticas:

  • Memórias: As memórias são nossas armas para se agarrar a eternidade. Somos imortais enquanto lembramos e somos lembrados. A mente que não registra a vida, se habituou a mesmice. Vamos registrando nossos viveres e lembrando nossos momentos — nada mais humano do que isto.

A memória é nossa armadura contra o tempo
o que o tempo nos tira,
a memória traz de volta
é o provar de um bom vinho

  • Eternidade: Podemos viver a imortalidade em alguns momentos da nossa vida. Se a realidade nos impede que a vivemos em plenitude, a arte torna a imortalidade presente. Ao menos imortal para nós mesmo.

O poeta já dizia
eterno é o que vive uma fração de segundo
não só fuga e vento

  • Feynman: a realidade é dura contra a nossa mortalidade. Mas a ciência nos ajuda a entender os fenômenos, o que está no passado, também está no presente e no futuro. Basta descobrimos esses mistérios, como verdadeiros cientistas do tempo.

O tempo é uma ilusão persistente
tento agarrá-lo, mas ele escorre pelas mãos
da clássica mecânica
quântica — bela, ávida e dialética
algo que não se esgota, muda conforme o olhar

“E se eu fosse o primeiro a voltar / Pra mudar o que eu fiz / Quem então agora eu seria?” (Los Hermanos — O velho e o moço)

Este post faz parte de uma série de posts denominados “Crônicas do tempo”, um compilado de poesias já publicadas neste espaço e uma dissertação a respeito de uma característica ou fenômeno do tempo. Ao total, serão 24 textos (referentes às 24 horas do dia) e o grande objetivo é registrar uma resposta para algo que as pessoas sempre me perguntam: por que o tempo é tão importante para você? Tentarei responder nessas 24 crônicas (que não são exatamente crônicas).

“Quando eu olho o meu olho além do espelho / Tem alguém que me olha e não sou eu / Vive dentro do meu olho vermelho / É o olhar de meu pai que já morreu / O meu olho parece um aparelho” (Diogo Nogueira — Além do Espelho)

Crônica Passada:

Crônica Futura:

“Fora da memória tem uma fantasia para você recordar todo dia” (Tribalistas — Fora da Memória)

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Bruno Oliveira
Reflexões

Auditor, escritor, leitor e flanador. Mestrando em TI, tropecei na bolsa de valores. Acredito nas estrelas, não nos astros. Resenho pessoas e o tempo presente.