Crônicas do Tempo 21:00 —Daquela gratidão

Bruno Oliveira
Reflexões
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3 min readNov 8, 2020
A Pátria (Pedro Bueno, 1919)

Gratidão é o esforço do reconhecimento, uma aventura em si mesmo, atenção ao que merece valor. É acima de tudo um reconhecimento — do esforço, do processo, das limitações, de tudo que há de bom e ruim, em equilíbrio. É entender tudo como dádiva, tudo que te fortalece, tudo que o engrandece, tudo que o torna quem você é — e você passa a ter orgulho disso. As dores vão existir, elas vão estar lá, mas elas servem como tempero para os bons momentos. Quem é grato esta pronto para retribuir: para as pessoas que fizeram parte, para você mesmo, para a comunidade, para o mundo. É viver em eterna dívida, e isto fazer parte do seu propósito e combustível da felicidade. É bom para nós, e para quem está ao nosso redor.

Você se lembra da última vez que se sentiu grato por algo ou alguma coisa? Com que frequência você reconhece as coisas boas que acontecem ao seu redor (e não apenas os murmúrios sobre aquilo que não te agrada)? Claro que praticar a gratidão é mais difícil do que escrever sobre ela, mas talvez ela seja o melhor escudo contra a ansiedade: quem é grato não precisa ficar esperando por algo que vai acontecer ou mudar. Tudo o que existe é bom do jeito que é, e vai continuar bom do jeito que virá a ser. Mas não se iluda, por mais que tenha havido um crescente aumento de postagens no Instagram com a hashtag #gratidão, não da pra colocar tudo no mesmo bolo. Gratidão não é necessariamente uma experiência espiritual, ela pode ser simplesmente um estar em si. Gratidão não é algo que deve estar só na cabeça, na mente, mas deve se espalhar em todo o corpo. Temos um enorme privilégio em viver, isso não quer dizer que não vivemos com medo, mas o sentimento de gratidão é algo que consegue transpor essas nossas limitações. Tente ser grato pelo uma vez hoje.

Poemas que abordam estas temáticas:

  • Replicante: Depois de algumas primaveras de vida, nossa mente se enche de imagens. Nossos olhos captaram diversas experiências, mas também transborda algumas. Essas imagens podem transmitir lágrimas, mas no final elas vão se perder na chuva. Tudo o que resta é a gratidão, e aquela vontade de viver novas experiências — e o processo continua.

Outros momentos já não residem em memória
todos estes momentos se perderam no tempo
como lágrimas na chuva

  • Pôr-do-sol: As coisas se vão, e voltam logo em seguida. Os momentos do ocaso podem ser os momentos de paz, para quem tem gratidão no coração.

Às vezes sinto a paz,
como um pôr-do-sol
a minha tristeza vira sossego
são as nuvens que acariciam o Sol
é a sombra que refresca os campos

  • Gratidão: Gratidão é aquele momento de plena felicidade. Não importa o que está no passado, o que estará no futuro. O que vale é aquele presente, e você se torna muito grato por tudo. Sem medos, arrependimentos, as suas raízes fazem sentido (e você está pronto para voltar para casa quando precisar) ao mesmo tempo que você vislumbra um caminho aberto de novas possibilidades. A vida sorri de volta para você.

Gratidão é aquele momento
que olhamos para o céu
e ele olha de volta para a gente
e só nos resta abrir um grande sorriso

“O meu lugar / É cercado de luta e suor / Esperança num mundo melhor / E cerveja pra comemorar” [Arlindo Cruz — Meu Lugar]

Este post faz parte de uma série de posts denominados “Crônicas do tempo”, um compilado de poesias já publicadas neste espaço e uma dissertação a respeito de uma característica ou fenômeno do tempo. Ao total, serão 24 textos (referentes às 24 horas do dia) e o grande objetivo é registrar uma resposta para algo que as pessoas sempre me perguntam: por que o tempo é tão importante para você? Tentarei responder nessas 24 crônicas (que não são exatamente crônicas).

“A paisagem está acesa, e me alumiô / Foi o coro das princesas que entoou” [Luiza Lian e Bixiga 70 — Alumiô]

Crônica Passada:

Crônica Futura:

“A vida é boa pra carai, nem sei por que eu tô chorando / Eu tenho vinte e poucos anos e não vou parar aqui” [Lagum — Ninguém me Ensinou]

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Bruno Oliveira
Reflexões

Auditor, escritor, leitor e flanador. Mestrando em TI, tropecei na bolsa de valores. Acredito nas estrelas, não nos astros. Resenho pessoas e o tempo presente.