BREVE

Por Lucca Tartaglia

ano II: ensaio
ano II: ensaio
3 min readDec 31, 2021

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Toda história longa é feita de brevidades e toda epopeia é, de muitas formas, um breviário — não um livro de ofícios, mas um livro de passagens breves que, unidas, fazem, de um apanhado de fotografias, um longa metragem. No dia 16 de março de 2020, há quase dois anos, saiu, pela Ano I: Ensaio, o conto “Poça”, que trazia, na ocasião, uma linguagem ensaiada muitas vezes e, até aquele momento, pouco madura; uma linguagem “parabólica”, beirando a fábula, por vezes, ou o apólogo. De lá para cá, foram 10 contos que tiveram o privilégio de serem acompanhados pelas imagens compostas pelo nosso editor-chefe, o Diego Perez. A experiência com e na Ensaio, para além de compor e acolher o exercício necessário na criação de uma Manada (o livro de contos que sairá em breve), começou muito antes do princípio e não terminará quando um fim anunciado chegar, porque a revista já teve muitos nomes. A revista não é feita de textos, como se pode imaginar, ou de palavras ou mesmo de registros e plataformas; a revista — a nossa, a sua Ensaio -, é feita — porque sempre foi feita — , de pessoas e de uma ideia fixa. Já disse nos bastidores (algumas vezes) e deixo aqui, por escrito, que o barco foi velado por todos nós, mas quem garantiu o curso pela tempestade a dentro foi o editor-chefe: um obstinado, caprichoso, talentoso e obsessivo escritor. Um velho e grande amigo, devo dizer. Fernando Teixeira, outro companheiro das antigas, para além do companheirismo e da troca de pareceres, deu-me a felicidade imensa de ver o conto “A queda” publicado, dado à luz de outros olhos. Foi também na Ensaio, este lugar imenso que chamamos, durante dois anos, de “revista”, que conheci Mayã Fernandes e, por intermédio, Anace Lima, as editoras do Líquen, livro que reúne poemas escritos entre 2010 e 2020. Foi no espaço comunal da Ano I e da Ano II que tive o privilégio de conhecer a Laura Redfern Navarro, o Carlos Castelo, a Karina Sgarbi e o Henrique Conceição. Agora, à beira de 22 — dos 100 anos da semana, aquela de 1922, e do ano complexo (para ficar no mínimo) de 2022, com eleições, a pandemia, novas variantes, crises em curso, etc; a Ensaio, no formato que a conhecemos, entra em hiato, em suspensão, para seguir viva e atuante — preciso concordar com o Fernando — , nos textos e projetos de todos e de cada um de nós. Na toada dos últimos dois anos, tive a satisfação de ministrar um (per)curso breve sobre a poesia brasileira ultracontemporânea, participar de um curso de narrativas oferecido pela revista e ministrado pelo Diego, de prefaciar a consumação de um plano que já somava sua primeira década, o zine Ideia Fixa, de ver a concretização do Viçosa e de acompanhar, com um imenso aprendizado, a trajetória de cada uma das pessoas que colaboraram com a Ensaio, no conselho editorial e além dele.

Posto no fim — que só tem o nome que tem porque assim decidimos -, abro a Revista Breve, nº 1, ano I — um exemplar vivo, mutável, orgânico, mais um título entre tantos títulos que nomeiam, de tempos em tempos, uma mesma força motriz — , e no interior das páginas revisito a patota de escritores que acreditamos — e cremos, realmente — ser de quando em quando. Folheio com calma o artefato arquitetado por anos, o artefato de folhas intocáveis, reconhecendo em cada estilo as realidades radicais e as raízes de cada um, os sentimentos e as tantas conversas que rasgavam noites e madrugadas em planos e apegos. Por isso e por tudo, não deixo um adeus, pois o fim, aqui, é o começo, mas digo, com algumas certeza, caro leitor: até breve!

porém
A vida é

Obrigado, Diego!

A princípio, Lucca Tartaglia é professor, graduado em Letras, pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Estudos literários, pela mesma instituição, e doutor em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atua como co-editor e colaborador das revistas FORPROLL, Contemporartes e ano II: ensaio.

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