Esperamos que isso fique claro com esse Word Art de 1997
Por Daniel Salgado, João Brizzi e Nícollas Witzel
Quantas vezes você curtiu alguma postagem sem realmente clicar em seu link? Das últimas conversas que você teve com seus amigos, quantas foram baseadas em informações incompletas ou boatos em função da pressa para consumir informação? Em outubro do ano passado, época em que a Poleiro dava seus primeiros passos, nossa maior preocupação era a criação de um espaço onde novos produtores de conteúdo pudessem mostrar seu trabalho. Com o passar do tempo, outro desafio foi, aos poucos, se colocando em nosso caminho: como fazer uma geração que é o tempo todo bombardeada por quantidades imensas de informação dedicar dez minutos de seu dia ao nosso trabalho?
Do ponto de vista da produção, fazemos a nossa parte: seja com gifs bacanudos ilustrando temas polêmicos, matérias dignas de uma adaptação para o BuzzFeed ou mesmo as melhores tirinhas da internet brasileira, não medimos esforços na tentativa de tornar a experiência de nosso leitor mais agradável e fluida. Mesmo assim, as estatísticas de nossos textos fazem questão de deixar claro que há uma disparidade significativa entre a popularidade de nosso conteúdo de consumo mais rápido e nosso conteúdo mais elaborado, tanto em números absolutos quanto na proporção entre visualizações e leituras.
Ainda que se reflita em nossos acessos, o questionamento não se resume apenas a essa publicação. Será que, em nossas vidas, não seria mais interessante sermos menos apressados? Isso não nos deixaria menos ansiosos? Não faria com que tivéssemos opiniões melhor formadas — ou pelo menos faria com que ouvíssemos aqueles que têm?
Para encontrar a resposta para a infinidade de perguntas que se gera à medida que mergulhamos no dilema, precisamos voltar um pouco no tempo. Mais especificamente para junho de 2012.
O que começou como uma reflexão após um almoço calmo e demorado junto de um amigo acabou se tornando o mais importante texto sobre o Slow Web Movement. Em seu manifesto sobre o movimento, Jack Cheng traça uma série de paralelos com outros temas da vida para mostrar o quanto uma redução do ritmo de nossa relação com a internet pode ser benéfica. O parágrafo inicial da página sobre o assunto é bastante esclarecedor:
Faz quanto tempo desde a última vez que você checou seu celular? Quanto tempo desde que deu uma olhada em seus e-mails? Você sente seu bolso vibrar no meio do dia mesmo quando não há nenhuma nova notificação? E se há alguma, você consegue só deixar pra lá?
Embora tenha uma dimensão prática pouco palpável — ninguém vai deixar de conferir as novas mensagens no WhatsApp algumas vezes no dia — , o Slow Web nos traz um horizonte de discussão interessante. Perceber que há mais gente no mundo preocupada em produzir formas diferentes de usar a internet não só nos encoraja a tentar encarar a rede de outro jeito como também nos dá as ferramentas para tal.
Se, na gringa, iniciativas como a Matter, publicação do próprio Medium, o 538, o Vox e tantas outras já apresentam propostas diferentes para a produção e o consumo da informação, a chegada do Medium Brasil não deixa por menos. É uma comunidade que, aos poucos, se cria e propõe uma mudança gradual na relação entre escritores e leitores.
É impossível saber o tamanho do impacto que se pode alcançar defendendo essa movimentação. Desde que o Rodrigo Ghedin trouxe o assunto à tona na internet tupiniquim, também em 2012, as reflexões foram escassas e a criação de soluções praticamente não existiu.
Quase três anos depois, por que tentar propor algo parecido?
A mudança nada mais é do que um pensamento que se torna mais frequente que os outros. Discutir o quanto as pessoas têm se deixado levar facilmente por qualquer tipo de informação vem se tornando algo mais constante em nossa rotina. Dessa vez, o cenário parece ideal.
As manifestações de 2013, as eleições do ano passado e o recente panelaço pelo impeachment de nossa presidenta foram todos momentos bastante distintos, mas que indubitavelmente carregaram consigo a percepção de que existe uma necessidade de termos mais calma na apuração e divulgação daquilo que falamos e ouvimos. Não por menos, paralelamente, o Medium já se aproxima do primeiro milhão de usuários apostando na possibilidade de dar ferramentas para que qualquer pessoa consiga produzir seu próprio conteúdo de maneira fácil e, ao mesmo tempo, elaborada.
Do cruzamento dessa imensidão de informações sobre a Poleiro, a internet e o mundo onde vivemos, nós finalmente conseguimos pôr em palavras nossa linha editorial e, consequentemente, nosso modus operandi. Como não podia deixar de ser — e como já fazemos desde o início — , nós prezaremos sempre pelo conteúdo mais elaborado em detrimento do mais banal.
Isso não quer dizer que negaremos a existência de tantos outros portais que fazem bons trabalhos de outra maneira; nós apenas nos posicionaremos de um jeito diferente. Diferente tanto por nos preocuparmos em divulgar pontos de vista distintos entre si quanto por propor, ao nosso leitor, que ele reserve 15 minutos de seu dia para saber mais e com mais calma sobre algum dos assuntos que estão em voga no mundo.
A essa altura, você pode estar se perguntando sobre os momentos em que há a necessidade de consumir mais e mais rápido, mas de maneira alguma tais situações devem apresentar uma contradição à atitude proposta. É só uma questão de repensar tal ideia de necessidade: quando algo de importante acontece, é óbvio que as primeiras coisas que nos chegam são relatos imediatistas e pouco elaborados, mas será que nós precisamos ver neles a fonte única de informação sobre determinado assunto?
Os exemplos possíveis para abordar o dilema são incontáveis, mas o mais importante disso tudo é pensar o desafio proposto e tê-lo em mente durante nossa rotina. Uma vivência menos apressada e mais reflexiva pode melhorar nossas vidas e, por que não, o mundo ao nosso redor.
Aceite o nosso desafio: vá além dos títulos.
Este texto é um editorial da Revista Poleiro destinado a propor uma nova maneira de se utilizar a internet. Se você quiser debater o assunto, colaborar com a revista ou só saber mais sobre quem somos, entre em contato! Nosso e-mail é contato@revistapoleiro.com.br
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