5 livros que me marcaram em 2018

Mateus Pereira
Revista Subjetiva
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4 min readJan 7, 2019

Se tivesse que escolher uma série de adjetivos para classificar o ano de 2018, certamente vocábulos como ambíguo, conflitante e paradoxal estariam nessa lista. Após um longo período desempregado, voltei ao mercado de trabalho e dessa vez em uma área relacionada com a minha formação. Em busca de comida e, principalmente, lugares novos para beber, passei a sair mais de casa que o habitual. E após quatro anos longe das salas de aula, decidi que era o momento de tentar uma especialização profissional.

Mesmo assim, 2018 foi um ano de frustrações. Poderia colocar toda a culpa no resultado das eleições, que transforma o meu futuro numa enorme icógnita, já que as únicas coisas que sei fazer estão ligadas com a comunicação. Dominado pelo cansaço, parei de maratonar séries, vi poucos filmes e tive um fracasso retumbante nas metas de leitura. Cumpri apenas um terço do objetivo planejado, largando títulos pela metade, sendo atingido por ressacas literárias e permitindo que o sono fosse minha prioridade inúmeras vezes. Ok, esse texto está bem desolador em vista do propósito que tinha ao começar a escrevê-lo. Ainda assim, encontrei um tempo para falar sobre as minhas 5 leituras favoritas de 2018. De alguma forma, elas mudaram meu ponto de vista ou reascenderam uma velha chama dentro do peito. E sinceramente, espero que essas dicas possam causar o mesmo efeito em você. :)

“Prisioneiras”, de Drauzio Varella

Definitivamente, a primeira e a melhor leitura do ano. Encerra a trilogia sobre o sistema prisional brasileiro dando um murro na cara da sociedade. No livro, Varella mateve a capacidade de contar histórias sobre mulheres fortes de maneira sensível, sem maniqueísmos, e devolvendo a elas o direito a fala que foi cerceado pelas grades da prisão. Abordando temas como a sexualidade, violência doméstica, igualdade de gênero e pobreza, é um título que me tirou da zona de conforto sem piedade. Aliás, algo que Drauzio faz com muita frequência.

“Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, de Marçal Aquino

Acredito que quando é para você ler algo isso está selado no seu destino e não tem jeito. Junte isso a um desafio literário, um livro que você recebe de presente pelo correio e um título que instiga a curiosidade. Devorei essa obra de Marçal em poucos dias com um sorriso no rosto. As inversões de narrativas, fluxos de consciência, diálogos reveladores, um romance insaciável e um desfecho longe dos clichês felizes tornam o livro um deleite. E os famigerados lábios de Lavínia, são um mero detalhe, mas que ficaram registrados em minha imaginação assim como nas lentes da câmera de Cauby.

“Jantar Secreto”, de Raphael Montes

Quatro amigos em dificuldade financeira decidem realizar jantares com ingredientes exóticos para a elite carioca. Adianto que os pratos servidos não dão água na boca, uma vez que todos os preparativos de cada refeição são narrados nos mínimos detalhes. A fluidez da narrativa, a construção dos personagens, o capítulo diagramado nos moldes de uma conversa de WhatsApp e o clímax taranantinesco compensam a leitura. Em Jantar Secreto, Montes faz jus a comparação com o escritor Stephen King. Já pode se dizer que é um clássico contemporâneo do horror nacional.

“Sem Pressa”, de Katherine Funke

Segui a indicação do título e li sem pressa, desfrutando cada página escrita por Katherine. É um mergulho no gênero do jornalismo literário, com histórias me envolveram pela delicadeza na escolha das palavras, que fertilizam a imaginação, constroem cenários poéticos e personagens pecualiares. E o melhor de tudo: sem perder a essência da alma humana.

Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva

O baque vem logo na primeira página. Um pulo que mudou tudo. Marcelo narra o acidente que o tornou tetraplégico e sua posterior recuperação do movimento dos membros superiores. Sem espaços para romantismos ou frases clichês motivacionais, mescla ironia, angústia, amizades e a busca pelo retorno da indepêndencia de seu corpo em pouco mais de 200 páginas.

Além dos livros nacionais, deixo uma menção mais que honrosa para 3 livros estrangeiros que também amei em 2018: Ensaio sobre a cegueira (José Saramago), Kindred (Octavia Butler) e Tony & Susan (Austin Wright)

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Mateus Pereira
Revista Subjetiva

Jornalista tímido que gosta de escrever sobre cultura pop e aleatoriedades da vida. Reclama muito no twitter. E ama sorvete com batata frita. IG: m_pereiras