As diferentes cores de Chameleon

“Polêmico” disco lançado em 1993 pelo Helloween não merece as críticas que recebe

Diego Cataldo
Revista Subjetiva
3 min readApr 19, 2019

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Ouço Helloween, sei lá, desde 2000 quando eu tinha 14 anos. E só hoje, aos 32, é que parei para ouvir o “polêmico” Chameleon. E digo aos senhores que gostei. Flutuando pelo “soft” metal, hard rock, pop, alternativo, progressivo e passagens acústicas, o título do álbum encaixou perfeitamente no contesto.

Quando jovem nunca me dei o trabalho de procurar o álbum, pois ouvia dos meus amigos mais velhos e mais entendidos em Metal que “o disco é uma bosta, o pior do Helloween”.

Acusá-lo de ser um disco comercial é um erro sem tamanho. Aliás, vamos conversar: a partir do momento que uma banda põe o seu disco na prateleira para vender — e nisso se enquadra aquela banda TRVE que diz que “não faz som comercial” -, o disco é, sim, comercial. Isto não se discute.

E sinceramente? O álbum está longe, mas muito longe de ser o pior da carreira da banda. Chameleon está para o Helloween assim como X-Factor está para o Iron Maiden: foi escolhido como bode expiatório.

Mas fico feliz por tê-lo escutado somente hoje 19 depois de conhecer o Helloween— Chameleon foi lançado em 1993 e, portanto, tem 26 anos — , pois pude amadurecer para ouvi-lo despido da armadura do headbanger truezão que só quer saber de bateria e guitarras hipervelozes e vocais “no talo”.

>> Precisamos falar sobre o Helloween

Chameleon é muito mais que o disco experimental do Helloween. Chameleon é o álbum mais corajoso da banda alemã. É o lançamento que rompeu a fronteira da mesmice e apostou na novidade.

Manter-se fiel a uma fórmula é garantia de sucesso, mas isso torna o músico refém de algo que, um dia, ele não vai querer mais. E ser refém de alguma coisa pra sempre é uma boa muleta para quem não tem muito para oferecer. O que não era o caso do Helloween aqui.

(O trecho acima pode soar incoerente com relação ao que eu escrevi sobre o Blind Guardian nesse texto aqui. Contudo, lá deixei bem claro que, particularmente, eu não gostei das mudanças apesar de entendê-las e achá-las necessárias)

A banda simplesmente se permitiu. Michael Kiske, Michael Weikath, Roland Grapow, Markus Grosskop e Ingo Schwichtenberg atuaram como músicos no mais amplo sentido da palavra. Experimentaram, tentaram, criaram e exploraram um terreno que nenhuma outra banda de metal exploraria.

>> O panzer alemão chamado Ingo Schwichtenberg

Chameleon é uma importante quebra de paradigma dentro do fechadíssimo universo heavy metal e mostrou uma faceta criativa do Helloween que, caso a banda ficasse presa no legado Keepers, nós nunca tomaríamos conhecimento.

O flow rendeu pérolas maravilhosas e dançantes como First Time, Crazy Cat — o surpreendente uso de metais deu mais grandiosidade e um clima jazzístico à música — e Step Out Of Hell. Windmill — chamada por meus amigos TRVE de “Shitmill” — nem com muito esforço é ruim. Muito pelo contrário. A balada composta por Michael Weikath mesmo doce e suave é recheada de uma graciosa melancolia.

When The Sinner é um hard rock que flerta sem pudor com o pop. O refrão acompanhado pelo naipe de metais faz da música uma canção estranhamente palatável. I Don’t Wanna Cry No More surpreende com a pegada country pop.

Revolution Now agrada com um quê de alternativo. Music, uma composição de Grapow sobre um garoto que gosta de música, tem traços progressivos e um bom refrão orquestrado. “Music is like sunrise for me”, diz a letra.

A banda sentiu-se tão confiante com seu “controverso” álbum que quase o tocou na íntegra durante a turnê — apenas Longing (música que encerra o disco) não foi tocada ao vivo, e não havia muito espaço para o “Helloween antigo” no setlist.

Chameleon rompeu o status quo e mostrou um Helloween colorido e diferente. Como um camaleão.

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