Melhores séries que assisti em 2020

Victor Hugo Liporage
Revista Subjetiva
Published in
4 min readDec 18, 2020

As séries em destaque são sobre gente diversa, feita por realizadoras com diferentes vivências e que buscam apresentar uma perspectiva normalmente sub-representada na indústria.

Das seis, cinco estrearam esse ano e são faladas aqui porque merecem ser acompanhadas pelos anos que estão por vir.

1. I May Destroy You (1ª temporada — Disponível na HBO)

A melhor do ano com folga, inclusive segundo a crítica. Londres, traumas, internet, escrita e redes sociais: tudo numa espiral de autodescoberta com narrativa que transgride padrões e impressiona pela versatilidade da Michaela Coel.

Uma série com capacidade única de explorar a multiplicidade de seus personagens e vivências. A trilha é um destaque à parte, além da fotografia imersiva e um elenco brilhante, com algumas das maiores revelações da indústria, como Paapa Essiedu e Weruche Opia.

2. Ramy (2ª temporada — Disponível no Hulu)

A história de um muçulmano do Egito nos EUA, mas que não se sente nem egípcio nem americano. Um sujeito em constate embate com a própria identidade, como dito por Frantz Fanon:

“o árabe, permanentemente estrangeiro em seu próprio país, vive em um estado de absoluta despersonalização”.

Quem é Ramy? Qual é seu país? Quem é sua família? Há um certo ego do protagonismo masculino do autor, que também é protagonista, produtor e diretor, mas há um esforço fundamental para retratar seus pares, em episódios dedicados ao desenvolvimento das personagens da mãe, pai, tio e irmã (os melhores, diga-se de passagem).

Lembra muito Atlanta e, das séries em exibição há mais de uma temporada, divide o pódio. (Não está disponível no Brasil. Link pra download.)

3. Grand Army (1ª temporada — Disponível na Netflix)

Pros carentes de Euphoria, Grand Army supre bem a falta. É uma versão mais soft da série da HBO, mas igualmente densa — e eu diria que até melhor.

É raro ver séries adolescentes que representam seus personagens honestamente, longe de estereótipos e superficialidades. Grand Army, junto de I May Destroy You e Euphoria, tem uma das melhores fotografias e interpretações da TV, com monólogos chocantes.

O elenco vai fazer muito apavoro na indústria. O que Odley Jean atua é maluquice.

4. Woke (1ª temporada — Disponível no Hulu)

Um cartunista negro nunca racializou sua arte e nem mesmo sua vida, mas após sofrer uma abordagem policial racista, repensa toda sua identidade e obra.

A premissa é séria, mas o desenvolvimento é descontraído a ponto de ser a série mais divertida da lista (o personagem do T. Murph, então… Merecia um spin-off). Apesar de seguir um padrão televisivo relativamente tradicional, o texto de Woke é afiado e faz várias reflexões ácidas sobre o papel do humor, da classe artística e a indústria do entretenimento como um todo.

(Não está disponível no Brasil. Link pra download).

5. 8 em Istambul (1ª temporada — Disponível na Netflix)

A indústria audiovisual turca é proeminente e com muitas similaridades à brasileira, sobretudo em relação às suas “novelas” comerciais. A série “8 em Istambul” se destaca como uma produção autoral que mostra um outro lado desse país tão plural.

Com uma narrativa muito próxima ao cinema arte, com vários planos sequência e longos diálogos concentrados no subtexto do personagem, a série é outra que chama a atenção pela qualidade das atuações e fotografia.

8 pessoas de diferentes classes, religiões, gêneros e profissões no caldeirão cultural que é Istambul, nos limites entre a cultura ocidental e oriental.

6. Pequenos Incêndios Por Toda Parte (Minissérie — Disponível no Prime Video)

Adaptada do brilhante livro de Celeste Ng, Pequenos Incêndios é uma das histórias mais potentes da TV no ano. A sensibilidade da história que coloca frente a frente o privilégio e os “estrangeiros” foi carregada pela interpretação sempre de alto nível de Kerry Washington.

Peca apenas por manter uma certa estrutura convencional, típica dos dramas tradicionais americanos, mas nem isso foi capaz de diminuir o impacto da narrativa. Uma história essencial sobre maternidade, privilégio, classe e raça.

Menção honrosa à Better Call Saul, sempre dando uma aula de roteiro, e à Desalma, obra da referência Ana Paula Maia, uma das escritoras mais relevantes do país e que ainda tem muito a oferecer à indústria audiovisual nacional.

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