O que vale?

Os estaduais “não prestam” para boa parte da mídia, mas uma eliminação neles causa muita dor de cabeça (e horas de debate).

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
3 min readApr 25, 2017

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Eduardo Baptista: “ameaçado”, segundo a imprensa, desde que chegou ao Palmeiras no início de 2017. (foto: R7.com)

Desde 2003 com o Campeonato Brasileiro sendo disputado em sistema de pontos corridos, os estaduais (pelo menos aqueles dos estados mais representativos no futebol do país) são disputados no primeiro semestre e são vistos cada vez mais com desdém por parte da mídia. A expressão “não valem nada” é muito repetida por comentaristas nos intermináveis debates que existem na TV (principalmente de assinatura) esportiva nos dias de hoje (já abordamos este tema AQUI).

Mas o que me espanta é, além do espaço desmedido que se dá para campeonatos que, segundo muitos jornalistas, não valem nada, é a análise de trabalho de um treinador e as suas perspectivas. A montagem de uma equipe não se sustenta em pouco tempo e é mais do que necessário dar tempo para que o treinador possa trabalhar.

No entanto o que vemos é uma pressão exagerada por resultados já em um campeonato que — sempre segundo alguns jornalistas- nada vale. Ora, se o estadual não é parâmetro, porque se cobrar um técnico de forma desmedida? Se ele não acrescenta na história de um clube grande, o resultado não seria irrelevante? Pelo tempo que se gasta discutindo os estaduais, fica claro que a definição de desprezo inicial não se sustenta.

Tweet humorístico (@cornetaeuropa) resume a situação.

É evidente que os estaduais não definem uma classificação para torneios sul-americanos por exemplo; eles tem sua importância relativizada pelo próprio calendário como disse no começo do texto. Mas a partir do momento em que existem são sim parâmetro de uma montagem de trabalho que pode vir a dar frutos lá na frente. Assim como uma equipe não é maravilhosa se vence o torneio local, também não está tudo errado quando acontece uma derrota.

No caso específico do torneio paulista, Santos (nas quartas de final), São Paulo e Palmeiras (nas semifinais) foram eliminados e os três mantiveram seus treinadores. O que é algo a se ressaltar como positivo, dentro do mercado insano de treinadores que vemos no Brasil e já abordamos AQUI. No entanto a realidade de cada clube é diferente.

Dorival Junior e Rogério Ceni, técnicos de Santos e São Paulo. (foto: UOL)

O Santos possui um trabalho de quase 2 anos com Dorival Júnior e que, parece, continua com o apoio da diretoria do clube. Ainda que não tenha conseguido vencer títulos nacionais nesta sua segunda passagem no clube da Vila Belmiro, o treinador tem conseguido se manter e levar o time a disputar a Libertadores.

No São Paulo a situação é mais complexa. Rogério Ceni, tendo sido ídolo do clube têm, ao mesmo tempo, apoio por parte da torcida e cobrança externa por ser quem ele é. O fato dele não ter uma experiência faz com que erros possam ocorrer e as duas eliminações nos torneios disputados até agora (além do Paulista, também na Copa do Brasil) não ajudam em um clima mais tranquilo, mas por enquanto a diretoria o mantém no cargo.

Porém a situação mais complicada é a de Eduardo Baptista no Palmeiras. Com um elenco numeroso, mas até certo ponto superestimado em termos de qualidade, ele sofre com a pressão desmedida de estar dirigindo um pretenso “supertime”. Sim o plantel do alviverde é forte, mas talvez em certa medida não seja tão superior como foi plantado pela mídia em determinado momento. Além disso, Eduardo ainda sofre por não ser um técnico de grife, e isso pesa em muitas análises RESULTADISTAS que vemos por aí.

E essas análises acabam revelando que, no fim, tudo vale, dentro de sua importância, claro. Não adianta apenas desmerecer um campeonato porque você não transmite ou só porque ele poderia (e os estaduais poderiam mesmo) ser menores. Porém uma coisa é apontar os erros, outra é desprezar — e ao mesmo tempo falar tanto de algo, apenas para tentar causar polêmica, como no caso de uma derrota. Um trabalho se faz de um conjunto de coisas, e penso ser importante valorizar todas para melhorar uma análise.

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