Mindfulness (ou Atenção Plena) — Melhore sua vida de forma simples

Rodrigo Aguiar
Rodrigo Aguiar
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9 min readMay 23, 2017

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Ao acordar pela manhã, onde você está? Provavelmente você dirá “Na cama, dãrrr”, mas não responda tão prontamente. Observe onde sua mente está quando começa a abrir os olhos. Pergunte-se onde essa entidade que chamamos consciência está posicionada no tempo e no espaço.

É bem possível que sua consciência esteja posicionada nas tarefas que fará logo em seguida ou mesmo que esteja focada em problemas, assuntos ou encontros muito importantes que acontecerão ao longo do dia. É comum também que ela esteja voltada a acontecimentos graves ou relevantes do dia anterior ou de um passado mais ou menos distante.

O fato é que raramente sua consciência está participando do ato de acordar realmente. Raramente você está totalmente consciente desse ato no sentido de participar dele apropriadamente.

Mente num canto, corpo no outro

Em geral, praticamente tudo o que fazemos ao longo do dia é assim: Comemos com a mente no trabalho, trabalhamos com a mente voltada ao fim de semana ou ao happy hour, passamos as horas de diversão pensando nos problemas que temos que resolver e assim sucessivamente e ininterruptamente. Nem mesmo dormir tem sido algo ao qual as pessoas se entregam e por isso dormem mal, acordam como se tivessem lutado uma batalha (o que de certa forma é verdade) para mais um dia onde suas mentes não estarão efetivamente onde estão seus corpos.

Tenho visto frequentemente o termo mindfulness não só no mundo virtual, mas também na vida real e noto que há muita dúvida a respeito do que exatamente é isso.

De forma muito simples, mindfulness é exatamente o estado de consciência oposto ao que descrevemos acima, oposto à forma como normalmente estamos habituados a funcionar.

É o estado de consciência onde você pode realmente estar focado, atento e receptivo ao que está fazendo e ao que está acontecendo a você no momento presente.

Sei que ao ler isso, você pode estar até acreditando que sabe fazer isso, afinal de contas, parece algo tão simples, banal. E realmente é, mas o fato é que vivemos uma vida que não privilegia esse tipo de atitude ou prática e há muitas provas disso.

Escrevo esse texto como um liame para a maioria dos meus textos anteriores. Quando digo que:

1. a vida pode acabar se tornando uma eterna fuga de frustrações (link aqui),

2. é preciso estabelecer um mapa ou modelo a seguir (link aqui),

3. 87% das pessoas estão insatisfeitas no trabalho (link aqui),

4. a depressão é a maior causa de afastamento do trabalho (link aqui),

5. o medo paralisa nossas melhores intensões (link aqui),

6. o otimismo é uma escolha mais inteligente (link aqui),

7. a comunicação não violenta é uma ferramenta poderosa (links aqui, aqui e aqui),

entre outras ideias que venho desenvolvendo ao longo de cada semana, estou também afirmando que todas essas situações são profundamente influenciadas por estarmos ou não com nossa mente efetivamente consciente do momento que estamos vivendo.

Mas se conseguimos identificar um possível problema ou causa raiz, qual seria, então, a solução?

Mindfulness ou Meditação da Atenção Plena

Não acredito em panaceias. Para cada pessoa há um caminho a ser percorrido para que suas dificuldades (cada uma delas) sejam vencidas e assim tornem-se pessoas melhores. Mesmo assim, tem aumentado o número de pesquisas demonstrando que uma possível solução (dentre outras) para tratar essa causa raiz talvez seja algo que faz parte do conhecimento milenar do ser humano: A Meditação.

É bem possível que ao ler a afirmação acima, você traga à tona muitos pensamentos, conceitos, rótulos e preconceitos a respeito do que é a meditação. A mais comum delas é que isso é coisa de oriental e que é algo chato.

O que eu posso dizer, apoiado também pelas pesquisas científicas recentes, é que está na hora de você entender um pouco melhor a esse respeito.

Muito antes de a cultura oriental se tornar algo pop/cult como é hoje, há pelo menos 22 anos atrás, eu já era fascinado por ela, tanto é que aprendi a falar e escrever em japonês sozinho mais ou menos nessa época (nerd, tá bom, eu já sei).

Dentre os assuntos orientais sobre os quais me debrucei, a meditação surgiu logo no começo e descobri que, embora essa prática tenha se difundido e conseguido maior evidência a partir de suas vertentes orientais, ela é algo que acompanha a história da humanidade e ocorreu em muitos pontos do globo, assumindo as mais variadas formas. Egípcios, caldeus, sumérios, indígenas americanos, entre outros, tinham suas próprias práticas de meditação com finalidades algumas vezes similares e outras vezes bastante divergentes, mas na base, era sempre para que o ser pudesse expandir-se além dos seus próprios limites.

Vou focar aqui num tipo de meditação, que foi muito bem sistematizada e tem sido exaustivamente estudada, a meditação da atenção plena ou, como tem sido difundida, mindfulness.

Muitos estudos têm indicado que a meditação pode melhorar a qualidade de vida em muitos aspectos, dentre eles o stress, a dependência química, a depressão, a ansiedade, o aprendizado, os transtornos alimentares, a pressão arterial, a resposta à dor, os níveis de hormônios, a saúde celular entre outros.

Tudo isso parece ocorrer por conta de a meditação conseguir transformar o nosso cérebro de uma forma que normalmente não fazemos no dia a dia. Nosso cérebro está se transformando o tempo todo, neurônios criam novas conexões entre si todos os dias em resposta aos estímulos e é isso que comumente é chamado de neuroplasticidade. O mais interessante, porém, é que uma vez que nosso cérebro mudou, nossa resposta às situações futuras também muda e a meditação parece ter um papel muito importante na construção de respostas mais saudáveis e equilibradas não só no nível cognitivo e emocional como também no nível fisiológico.

Mas afinal, o que é essa meditação da atenção plena? É algo difícil? algo que precisa de uma postura específica ou de uma vestimenta diferente? Precisa ser feito em determinada hora? Deve-se adotar essa ou aquela dieta? É preciso professar essa ou aquela religião?

Estudando sobre meditação, eu finalmente li em algum lugar que após conhecer todas as técnicas, aquele que medita sente-se livre para não usar técnica nenhuma. (mindfuck!)

Um pouco de história

A verdade é que meditar realmente é simples e não precisa de nada além da sua ativa vontade. É algo que pode ser tão corriqueiro quanto respirar. Lembre-se de que há muitas pesquisas que mostram cada vez mais essa verdade já que elas buscam estudar a prática da meditação livre de dogmas e conceitos religiosos através do teste da essência da técnica apenas.

Nesse âmbito, muitas pessoas admiram-se da dedicação e esforço do povo japonês, do esmero com que fazem cada coisa, com que cuidam de cada detalhe buscando sempre a perfeição e a atenção a cada nuance, seja na arte, na culinária ou na vestimenta. Na verdade esse é um dos traços que se difundiu para esse povo há centenas de anos, quando os samurais eram os guardiões da ordem, da política, da sociedade e de toda a cultura japonesa chegando até mesmo a exercer as funções de imperador.

O código samurai (bushidô) e as práticas de artes marciais foram intensamente influenciados pelas práticas do zen budismo que tem sua origem no budismo indiano. O cerne do budismo, por sua vez, é o paradigma de que o ser humano pode se aperfeiçoar e atingir a iluminação, um estado da mais alta perfeição acessível ao ser e é esse paradigma que moldou a meditação da atenção plena até o formato que conhecemos hoje. Essa acabou sendo a chave de todo esse processo, algo como o buril a ser usado na lapidação de um diamante.

Samurais de verdade e com caras de poucos amigos

Os japoneses incluíram a atenção total em seu dia a dia de tal forma que tudo o que era feito, buscava a perfeição na técnica, na execução e no resultado final. Um exemplo disso é a própria cerimônia do chá. Muita gente acha graça de haver toda uma ritualística apenas para beber uma xícara de chá, mas o objetivo final da cerimônia do chá não é beber o chá (outro mindfuck!). O objetivo é conseguir um estado de consciência diferenciado através da atenção total a cada detalhe, a cada movimento, de forma que isso só pode ser possível através de um estado de consciência máximo no aqui e no agora, no que se está fazendo.

Assim é também com a marcenaria, onde constroem-se casas de vários andares, apenas com madeira e sem usar um único prego. Assim é também na mundialmente conhecida forja de espadas, na produção de tecidos, enfim, na vida como um todo.

Templo Kiyomizudera — mais de 1200 anos e construído todo em madeira sem uso de pregos

A vida moderna tem apagado um pouco dessa cultura no Japão de hoje, mas sua essência ainda está lá e pode ser encontrada até mesmo nos imigrantes atualmente em outros países muitas décadas afastados de sua terra natal.

Já há centenas de anos algumas pessoas perceberam que praticar a atenção plena modificava a pessoa de uma forma em que ela poderia ir se aprimorando em níveis que a maioria das pessoas apenas aspira atingir. Foi assim na Índia com os faquires, foi assim na China com os monges mestres de artes marciais e foi assim com os samurais no Japão.

Esse conceito ganhou força em nossa sociedade ocidental nos últimos anos principalmente por conta do estilo de vida cultivado pela grande maioria das pessoas. Uma vida onde estão desconectadas mentalmente daquilo que estão fazendo e vivendo, onde a insatisfação frente às dificuldades leva-as a uma busca insaciável por momentos efêmeros de prazer, uma vida onde apenas reagem, tendo pouco controle sobre essas reações, mesmo aquelas que não são aparentes e que ocorrem internamente, num nível não perceptível.

A proposta da atenção plena é justamente fazer com que possamos utilizar a neuroplasticidade para ensinar o nosso cérebro e a nossa mente a termos maior consciência de nós mesmos, tendo então controle sobre o que se passa conosco. Ter esse poder é ter o poder de escolher ser e fazer o que quiser.

Quando temos essa consciência e esse controle, os desafios, problemas e dificuldades da vida deixam de controlar como devemos viver e passamos a escolher como podemos reagir e até mesmo solucionar as questões que nos chegam.

Espero que você possa compreender o quanto é mais fácil enxergar respostas, saídas e soluções quando não estamos dominados pelas emoções.

Transformando-se pela meditação

O mais interessante da meditação da atenção plena é que ela deve ser praticada sem maiores objetivos em mente (caramba, outro mindfuck!). Sim, é isso mesmo que você leu. Toda vez que você pratica a meditação com algum objetivo em mente, sua mente se perde na ansiedade da aquisição daquele resultado. Esse é o modo no qual você e sua mente já estão acostumados a operar.

Esse é um processo sutil, algo diferente do que você está acostumado a fazer. Em nosso mundo moderno, precisamos ser rápidos, objetivos, atingir resultados. O problema é que sendo assim, trilhando esse caminho de forma exclusiva (a meditação surge como uma outra forma de abordar os estímulos), as pessoas não estão conseguindo os melhores resultados ou, pelo menos, dificilmente os obtém de uma forma sustentável.

É justamente por isso que, se você mudar sua atitude mental sobre essa questão de como reage às coisas e sobre o objetivo da meditação durante a mesma, seus neurônios serão obrigados a criar novas conexões que permitam que esse novo modelo de mundo seja estabelecido dentro de você, já que as conexões existentes reforçam o modelo em que você já está acostumado a operar (Bingo!).

Sem forçar nada, com muita suavidade, a meditação da atenção plena mobiliza seus neurônios para que se organizem de uma forma diferente daquela que estão acostumados a operar já que estamos introduzindo uma nova resposta aos estímulos.

Essa semana li um texto de uma amiga que em determinado ponto falava do cheiro do sabonete e outra amiga comentou dizendo que passou muito tempo sem prestar atenção no cheiro do sabonete nem quando o usava no banho. Sim, essa é a vida que levamos e a proposta da meditação da atenção total é justamente a de termos as rédeas de nossas vidas em nossas mãos!

No próximo artigo eu trarei orientações sobre a prática de meditação da atenção plena. Não coloquei neste artigo para que não ficasse mais longo do que já está.

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Abraços.

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