As 5 melhores leituras 2021/2 (Resenhas #14)

Salatiel Bairros
Salatiel Bairros
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7 min readJun 26, 2022

Este foi provavelmente o semestre que menos li livros nos últimos 4 anos, o que certamente não significa que li menos, mas acabei focando muito mais em leituras de artigos relacionados à computação. No entanto a lista aqui se refere apenas aos livros que foram lidos no semestre no modelo de sempre: ranking com os 5 melhores, descritos de forma um pouco mais extensa cada um, e uma lista com breve descrição das outras leituras. Foram no total 10 livros, com destaque para o autor Yago Martins, presente em 5 dessas leituras.

I. Top 5 melhores leituras

1. Vida em Comunhão — Dietrich Bonhoeffer

Se um único encontro com um irmão traz tanta felicidade, que riqueza inesgotável deve se abrir àqueles que, pela vontade de Deus, são considerados dignos de viver em comunhão diária com outros cristãos! Obviamente o que para a pessoa solitária é indizível graça de Deus, facilmente pode ser desprezado e pisado pela pessoa que goza desse privilégio todos os dias. Facilmente esquece-se que a comunhão dos irmãos cristãos é um presente fracioso procedente do reino de Deus, que pode nos ser tirado a qualquer hora, e que talvez um prazo muito curto de tempo esteja nos separando da mais profunda solidão. (P. 12)

Páginas: 107| Data: 1939| Editora: Sinodal| Dificuldade: Média

Sem dúvida nenhuma esse livro é a obra mais confrontadora sobre vida comum de igreja que já li. O autor lida tanto com os temas mais amplos do amor ao próximo, cuidado, convivência e perdão quanto navega no fundo dos detalhes das intenções do coração. Por exemplo, falando sobre louvor, Bonhoeffer aponta para o risco de buscarmos a nossa glória durante o cântico congregacional, ao tentarmos destacar nossa voz entre todas, especialmente buscando fazer vozes diferentes da melodia principal que a congregação está cantando. Segundo ele, precisamos sondar o nosso coração para a intenção desse ato, pois o louvor em comunidade não é uma performance de coral e precisamos cantar para proclamar consolo das verdades de Cristo aos outros e a nós mesmos, recebendo tal consolo ao ouvir nossos irmãos.

Fui recomendado pelo pastor Guilherme de Carvalho a ler esse livro ao expressar para ele algumas frustrações minhas com a vida da igreja e passo a recomendação adiante: o livro é um espancamento a todos, como eu, sempre com críticas a Igreja na ponta da língua.

2. Redimindo a Matemática — Vern S. Poythress

A beleza na aritmética mostra a beleza do próprio Deus.

Páginas: 213| Data: 2019| Editora: Monergismo| Dificuldade: Média

Por ser pessoalmente inclinado à apologética pressuposicionalista, minha abordagem a esse livro já foi inicialmente positiva. O autor argumenta de forma bastante interessante através da ideia de que se em Deus encontramos o absoluto da bondade, beleza e verdade, toda a verdade é divina, inclusive a verdade aritimética. Dessa forma, podemos identificar atributos divinos na própria matemática a tal ponto que toda a verdade matemática pressupõe Deus mesmo que aquele que interage com a matemática não esteja ciente disso. São abordados os problemas da natureza da matemática, do uno e do múltiplo, necessidade e contingência, epistemologia, infinito e outros. A argumentação do livro, no entanto, possui algumas falhas ou interpretações forçadas no uso do texto bíblico para alguns argumetnos específicos, como ao lidar com o uso divino de estruturas matemáticas simples na criação e na lei.

O livro Redimindo a Matemática é um livro de um nicho muito específico, ainda que o autor o tente deixar mais acessível. Recomendo para cristãos interessados em aplicações de apologética ou que tenham ciências exatas em seu dia-a-dia de estudo e trabalho e desejam entender melhor como a matemática nos apresenta Deus como Revelação Geral.

3. Faça discípulos ou morra tentando — Yago Martins

Morrerão em seus pecados aqueles que tiverem uma crença errada a respeito de Cristo. A salvação depende de uma compreensão correta acerca dos pontos centrais da fé cristã. Ainda que o discipulado seja mais do que crença nas palavras de Jesus, ele nunca será menos do que isso.

Páginas: 234| Data: 2017| Editora: Concílio| Dificuldade: Baixa

Como todos os livros que li do autor até então, Faça discípulos ou morra tentando é bastante direto e não poupa o leitor das confrontações necessárias sobre o tema do discipulado. O livro é separado em 3 partes: (1) Os significados e os métodos do discipulado, onde somos apresentados à necessidade da comunhão da igreja e de um discipulado orgânico e real, (2) A extensão e o campo do discipulado, onde somos chamados a viver uma vida de pregação do evangelho, cujo discipulado é o objetivo principal de todas as coisas que fazemos. O autor também aborda as missões transculturais e os riscos de impormos cultura ou agirmos de formas racistas ao irmos para o campo missionário. (3) O sinal público do discipulado lida com a questão do batismo, visto que está intimamente relacionado ao fazer discípulos: quem batizar? Quando? Como? Apenas pelos pastores? Tais questões são respondidas de formas diferentes dentre as diversas tradições cristãs e Martins argumenta em favor da posição Batista congregacional de forma muito interessante.

Considero a série de quatro livros sobre a “Grande Comissão” escrita pelo Yago como um dos melhores materiais em português sobre o tema de leitura acessível a qualquer membro de igreja. Dado que o discipulado está no centro orbital da vida cristã neste mundo, a leitura desse livro é certamente de grande valia.

4. Pecados aceitáveis — Yago Martins

Na luta contra uma ênfase errada no comportamento ou contra padrões comportamentais exagerados, muitos acusam de moralismo o mero interesse por santificação e por viver uma vida que agrade a Deus. Se isso é moralismo, então há um lugar para o moralismo na Escritura.

Páginas: 166| Data: 2020| Editora: Dois dedos de Teologia| Dificuldade: Baixa

Atraso, insônia, preguiça, fofoca, gula, tolice, impaciência, zoeira, palavrões, infertilidade e nudez. Em muitos aspectos esses são pecados aceitos e ignorados na cultura de tal forma que não os tratamos como desvios morais necessários de arrependimento. O autor nos confronta com verdades a respeito desses pecados e nos alerta sobre a seriedade deles. Através desses pecados podemos roubar e ferir a nós e nossos irmãos e, aos poucos, corroer a comunhão inteira da igreja. Livro simples de ler mas confrontador. Recomendo uma leitura lenta e reflexiva para cada capítulo. Se possível, um capítulo inteiro por vez.

5. Moldando um mundo digital: Fé, cultura e tecnologia computacional — Derek
Schuurman

A tecnologia não é neutra; é uma atividade cultural carregada de valores em resposta a Deus que molda a criação natural. Tampouco é autônoma; é uma área na qual exercemos liberdade e responsabilidade.

Páginas: 187| Data: 2020| Editora: Monergismo| Dificuldade: Média

Recentemente comecei a me interessar mais por filosofia da tecnologia e as respostas cristãs para os dilemas dessa disciplina. Escolhi esse livro como uma leitura introdutória, pois o autor o escreveu como uma tentativa de responder a pergunta: “o que minha fé tem a ver com meu trabalho como engenheiro elétrico?”. O autor apresenta uma visão geral da relação da tecnologia com os quatro grande aspectos da revelação bíblica: criação, queda, redenção e glorificação. Somos apresentados ao fato de que as ferramentas que criamos também nos moldam, podendo se tornar falsos deuses em nossa vida em um tipo de tecnocracia. Por outro lado, a capacidade de criarmos tecnologias tão maravilhosas é fruto da própria obra divina em nós e não pode ser ignorado.

Recomendo a leitura para quem trabalha na área da tecnologia e quer entender como o cristianismo se relaciona com essa área tão em alta no momento.

II. Leitura ruim em destaque

10. O Algoritmo Mestre — Pedro Domingues

Resolvi destacar esse livro como pior leitura do semestre pois ele é um exemplo concreto de idolatria da tecnologia, ou seja, do entendimento da tecnologia como esperança redentiva e escatológica para a humanidade. O autor argumenta em favor de um algoritimo de aprendizado único, um aprendiz universal, cuja argumentação se dá nos mesmos moldes de uma apologética evidencialista para um Criador. Ainda que eu o considere como um livro ruim, recomendo a leitura como uma forma de ter contato com aquilo que autores como Schuurman apresentam.

III. Outras leituras

6. Reflexões Cristãs — C. S. Lewis: Coletânea de artigos sobre temas diversos, como ética, literatura, cultura, orações, subjetivismo e muitos outros. Presentes aqui muito da genialidade e estilo do Lewis de se expressar.

7. Os sermões dos maricas — Yago Martins: Terceiro livro da série sobre a grande comissão. Apresenta uma dura crítica às pregações e aos pregadores cujo objetivo nunca é confrontar os ouvintes e apresentar a real mensagem do Evangelho: arrependimento.

8. Você é o ponto fraco de Deus e outras mentiras da Teologia do Coaching — Yago Martins, Pedro Pamplona e Guilherme Nunes: Bastante complementar ao livro anterior, esse livro é uma colaboração entre três ótimos pastores brasileiros buscando confrontar o que chamam de “Teologia do Coaching”, a apresentando como uma nova teologia da prosperidade, cujo público alvo são as novas gerações e o objetivo é anestesiar as pessoas, acumulando seguidores.

9. A religião do bolsonarismo — Yago Martins: Uma análise prática e com muitas evidências da idolatria que se formou em torno do atual presidente do Brasil que aconteceu muito, infelizmente, dentro das próprias igrejas, inclusive por aqueles que, corretamente, apontavam a idolatria aos governantes anteriores.

É notável que o semestre de 2021/2 foi de uma carga de leitura bem menor que os anteriores. Aponto principalmente minha falta de tempo. Também é destacável a presença do autor Yago Martins nas leituras: 5 dos 10 livros lidos. São poucas as oportunidades que temos de acompanhar bons autores enquanto eles publicam suas obras e dentro do contexto em que publicam. Como sempre, espero que este “relato de leitura” o incentive a ler mais, especialmente aquilo que mais importa.

IV. Listas anteriores

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Salatiel Bairros
Salatiel Bairros

Cristão, marido, pai e programador. Trabalha como Engenheiro de Dados. Especialista em IA (PUC Minas) e pós-graduando em Teologia Filosófica (STJE).