Salmo 4.6–8: A luz do mundo
A suficiência de Deus em um mundo insatisfeito e de falsas alegrias
Há muitos que dizem: quem nos dará a conhecer o bem? Senhor, levanta sobre nós a luz do teu rosto. Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho. Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro. (Sl 4:6–8)
Depois de clamar, acusar justamente e declarar sua confiança em Deus, Davi expressa o sentimento que nunca tarda de aparecer em nossos corações: o que faremos agora e qual é a nossa esperança? Diante de tanta maldade e conflitos, em um mundo onde o homem quebrou seu relacionamento com Deus, consigo, com os outros e com a natureza, quem nos dará a conhecer o bem?
Há muitos que dizem
Ao escrever desta forma, Davi parece expressar um tipo de lamento constante do povo, um clamor da comunidade. De certa forma, este texto lembra a tristeza do apóstolo João em Apocalipse, ao não encontrar ninguém capaz de abrir o livro com os selos:
Vi, também, um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos? Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro, nem mesmo olhar para ele; e eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele. (Ap 5:2–4)
Quem nos dará a conhecer o bem? Quem trará a nossa salvação, confortará os nossos corações e nos trará esperança diante de tanta maldade? Qual é a esperança, inclusive, para os poderosos que ouvissem Davi e se arrependessem dos seus pecados? Sinta, por um momento, esta pergunta. Quem nos dará a conhecer o bem? Enquanto mantivermos nossos olhos apenas nas coisas deste mundo, essa pergunta ecoará sem resposta e não teremos nem mesmo a quem clamar por uma resposta. Ecoará vazia na existência.
Senhor, levanta sobre nós a luz do teu rosto
Davi sabia do silêncio que encontraria se buscasse a resposta nas coisas da terra. Ele sabia que havia apenas um para quem ele poderia olhar e clamar por resposta. Apenas em Deus, o único que é verdadeiramente bom, há esperança de consolo.
Este clamor para que Deus levantasse a luz do seu rosto é encontrado na literatura babilônica como uma metáfora de um rei que ergue seu rosto e olha com favor e benevolência em direção a alguém. É um clamor por misericórdia feito em posição de humildade, assumindo Deus como o verdadeiro rei e sustentador do povo.
Podemos encontrar a ação de Deus em suas respostas às orações de Davi e ver como Deus o abençoou. Contudo a resposta definitiva ainda não tinha sido dada e, antes oculta, nos é hoje revelada (Cl 1:26–27): Jesus, como a Palavra de Deus encarnada em resposta a seu povo, nos diz:
Eu vim como a luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não pereça nas trevas. (Jo 12:46)
Graças a essa luz, o choro de João que citei anteriormente pôde ser interrompido:
Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e seus sete selos. (Ap 5:5b)
A luz que é revelada por meio de Cristo é a resposta definitiva ao clamor pela revelação da luz de Deus e pelo Seu favor. Ela também que nos dá a convicção de uma alegria acima de qualquer coisa que podemos encontrar aqui. Cristo é a resposta definitiva à infelicidade da vaidade que permeia o livro de Eclesiastes e a fonte de uma alegria maior do que daqueles com fartura. Seja qual for a nossa condição de vida atual, nEle somos fortalecidos, alegrados e confortados. O clamor de Davi e do povo poderia ser motivado pelas circunstâncias, mas ecoou nos corações de todos os pertencentes ao povo de Deus ao longo de toda a história e hoje, em Jesus, temos a verdadeira “alegria das alegrias” que será ainda maior no futuro que Ele já tem preparado para nós.
Em paz me deito
O que nos resta de verdadeira ansiedade após a experiência de contemplar essa alegria que nos é dada? O mesmo Deus que ajudou Davi é o Deus que nos revelou Sua salvação. Se Davi, que via a nova e verdadeira aliança pelas sombras projetadas pela antiga, descansava e confiava em Deus e encontrava nEle repouso, quanto mais nós que recebemos a própria Palavra encarnada, vimos Deus em Cristo e nEle temos nossa redenção. Em Jesus Cristo temos a paz definitiva com Deus, conosco, com o outro e até mesmo com a criação. Todas as nossas relações são transformadas após o contato com a verdadeira luz.
Chegará o dia em que a luz pela qual Davi clamava se estenderá visível por toda a terra, em uma cidade que não precisará de sol nem lua, pois a glória de Deus a iluminará e o Cordeiro será sua lâmpada. (Ap 21:23)
