OS DINÂMICOS DEFENSORES!

Claudio Basilio
sobrequadrinhos
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27 min readMar 2, 2024

E houve uma equipe no Universo Marvel… uma equipe que na verdade era uma “não-equipe”, e que além de reunir alguns dos principais personagens da Casa das Ideias marcou toda uma geração de fãs de quadrinhos de super-heróis entre os anos setenta e a primeira metade dos oitenta ao protagonizar sagas que muitas vezes beiravam o bizarro. Dito isso… fiquem conosco caso queiram saber mais sobre algumas das principais HQs dos Defensores, um time de aventureiros cuja origem foi construída… aos poucos!

Trio Titânico

No final da década de sessenta o roteirista e editor Roy Thomas era responsável pelas aventuras do Doutor Estranho, e no gibi Doctor Strange #183 (1969) ele colocou o herói místico da Marvel (que na época vestia trajes mais escuros e uma chamativa máscara negra que cobria todo o seu rosto!) frente a frente com os Imortais, uma raça de demônios que venerava o Inominável, uma monstruosidade sobrenatural claramente inspirada nos escritos de H. P. Lovecraft. Para a tristeza de Thomas a revista do Mestre das Artes Místicas foi cancelada antes do término da saga dos Imortais, mas como naquele período ele também escrevia as histórias do anti-herói aquático Namor e do Hulk foi encontrado um “jeitinho” para resolver esse problema, e a trama lovecraftiana foi concluída em Sub-Mariner #22 e The Incredible Hulk #126. A partir daí uma semente criativa foi plantada…

Doutor Estranho e Namor encontram uma relíquia relacionada aos Imortais na capa de Sub-Mariner #22 (1969). Arte de Marie Severin e Frank Giacoia.

O tempo passou, e em 1971 Roy Thomas decidiu criar uma reunião ocasional de super-heróis solitários na aventura “The Titans Three” (“O Trio Titânico”, em uma tradução livre), publicada nas edições #34 e #35 de Sub-Mariner e onde Namor, Hulk e o Surfista Prateado enfrentaram juntos os Vingadores. Inicialmente Stan Lee se opôs ao uso do Surfista Prateado (o então editor-chefe da Marvel morria de “ciúme” do personagem e não queria que nenhum outro autor chegasse perto do aventureiro cósmico!), porém com paciência Thomas conseguiu a autorização do seu mentor para usar o ex-arauto de Galactus, e a reação entusiasmada dos leitores a história levou o corpo editorial da Marvel a aventar a possibilidade de lançar um gibi periódico de uma nova superequipe.

Capa de Sub-Mariner #34 (1971), onde Namor, Hulk e o Surfista Prateado encaram um exército hostil. Arte de Sal Buscema.

De conversa em conversa Stan Lee e Roy Thomas decidiram que os personagens que apareceram em Sub-Mariner #34 e #35 seriam reunidos num inédito time heroico, com uma condição: por causa do já citado “ciúme” de Lee a presença do Surfista Prateado na vindoura equipe estava vetada! Para contornar a situação o editor-chefe da Marvel sugeriu que o Doutor Estranho substituísse o herói alienígena, o que Thomas achou uma boa escolha, uma vez que o caráter cordato do Mestre das Artes Místicas seria o contraponto perfeito para as personalidades estouvadas do Hulk e Namor. Lee também “recomendou” que a supergrupo fosse batizado de “Defensores”, e nesse caso Thomas ficou um pouco contrariado, visto que ele preferia uma denominação mais “agressiva”, algo como “Titãs” (se lembram da mencionada aventura publicada em Sub-Mariner #34 e #35?) ou então “Invasores” (nome que anos mais tarde foi usado para designar outro agrupamento heroico). Definida a designação e os integrantes do novo supergrupo, faltava estabelecer uma “coisinha”: qual seria a dinâmica narrativa que nortearia as aventuras dos Defensores?

No começo dos anos setenta a Casa das Ideias tinha três supergrupos: o Quarteto Fantástico, cujas histórias eram calcadas nos relacionamentos familiares dos seus integrantes; os X-Men, que funcionavam como uma escola que treinava pessoas odiadas e perseguidas; e os Vingadores, que na prática sempre foram um “clube”, com regras de atuação e membresia estabelecidas. Para distinguir os Defensores dos demais times da Marvel o esperto Thomas decidiu que Hulk, Namor e Doutor Estranho seriam uma “não-equipe”, ou seja, eles se encontrariam quase sempre de maneira informal e não seguiriam nenhum regulamento, e a formação do grupo poderia mudar de uma aventura para outra, com a livre retirada ou acréscimo de outros super-heróis da editora.

Capa de Marvel Feature #1 (1971), onde Hulk, Namor e o Doutor Estranho finalmente formaram os Defensores. Arte de Neal Adams.

Definidos os principais integrantes do grupo e o conceito que o guiaria, os Defensores estrearam em 1971 na revista Marvel Feature #1, numa aventura escrita por Roy Thomas, desenhada por Ross Andru e arte-finalizada por Bill Everett (o criador do Namor). Em sua primeira história como um time Namor, Hulk e o Doutor Estranho estabeleceram uma precária aliança visando a desativação do Omegatron, um supercomputador que detonaria todo arsenal nuclear da Terra quando o mago tecnológico Yandroth (o seu criador) falecesse. Stan Lee e Thomas quase caíram para trás quando receberam a HQ pronta — o trabalho de arte-final de Everett foi no mínimo “sofrível” –, porém ela cumpriu o seu objetivo, que foi estabelecer a então mais nova superequipe da Marvel.

Os Defensores encaram o alienígena Xemnu na capa de Marvel Feature #3 (1972). Arte de Gil Kane e Ralph Reese.

Roy Thomas e Ross Andru produziram mais duas histórias dos Defensores publicadas em Marvel Feature #2 e #3, onde os heróis enfrentaram respectivamente Dormammu (arqui-inimigo do Doutor Estranho) e Xemnu, uma aberração extraterrestre que surgiu nos gibis de monstros da Marvel dos anos cinquenta, quando ele era curiosamente chamado de… Hulk! Obviamente com o advento do Gigante Esmeralda em 1962 o vilão foi rebatizado, e também obviamente os Defensores caíram nas graças dos fãs, o que levou a equipe a ganhar uma série periódica própria.

Thor de Saias

Em 1972 Stan Lee deixou o cargo de editor-chefe da Marvel, e assumiu as funções de publisher (uma espécie de diretor-geral de publicações), garoto-propaganda e porta-voz da editora. Roy Thomas substituiu Lee como o líder editorial da Marvel, e por causa do aumento da sua carga de trabalho repassou a concepção das histórias dos Defensores para o promissor Steve Englehart. Assim, no segundo semestre daquele ano The Defenders #1 chegou nas bancas de jornal, e ao lado do desenhista Sal Buscema o novato Englehart trouxe de volta os Imortais e o Inominável.

Capa de The Defenders #1 (1972), onde Namor está prestes a ser sacrificado em honra ao Inominável. Arte de Sal Buscema e Jim Mooney.

Nas edições seguintes de The Defenders os Defensores ganharam um “inesperado” membro, no caso o Surfista Prateado, uma vez que com o afastamento de Stan Lee do dia a dia da Casa das Ideias a regra sobre a “proibição de uso” do herói cósmico foi levemente afrouxada. E então, em The Defenders #4 a “não-equipe” recebeu uma integrante inédita: a magnífica Valquíria! Mas… falamos que a personagem era “inédita”? Na verdade ela tinha antecedentes na Mitologia Nórdica, na Música Erudita e até mesmo em outras histórias das Marvel…

Os Defensores partem para a batalha final contra o Inominável na capa de The Defenders #3 (1972). Arte de Gil Kane.

As valquírias eram entidades espirituais que nas lendas vikings eram encarregadas de levar as almas dos guerreiros mortos em batalha para Asgard — mais especificamente para Valhalla, o palácio de Odin –, onde eles passariam a Eternidade se dedicando a matanças sem sentido, orgias e bebedeiras. A mais famosa e poderosa das valquírias era Brunhilda, que foi uma das principais personagens de “O Anel do Nibelungo”, um conjunto de quatro óperas composto por Richard Wagner, e de forma natural ela foi levada para os quadrinhos de super-heróis.

Valquíria faz a sua primeira aparição na capa de The Avengers #83 (1970). Arte de John Buscema e Tom Palmer.

No final de 1970 o sempre inefável Roy Thomas e o desenhista John Buscema usaram a revista The Avengers #83 para apresentar a história “Come on in… the Revolution’s Fine!” (“Venha… Que A Revolução Está Ótima”, numa tradução livre), onde uma misteriosa e belicosa donzela chamada Valquíria induziu as integrantes femininas dos Vingadores a confrontarem seus colegas homens. No final da aventura foi revelado que na verdade a guerreira era um disfarce usado por Encantor, uma feiticeira asgardiana e antiga adversária dos Maiores Heróis da Terra.

Valquíria ataca o Hulk na capa de The Incredible Hulk #142 (1971). Arte de Herb Trimpe e John Severin.

Roy Thomas criou a Valquíria porque queria brincar com a possibilidade de existir uma “Thor de Saias” nos gibis da Marvel, e não resistiu a tentação de usá-la novamente em “They Shoot Hulks, Don’t They?” (“Eles Atiram em Hulks, Não É?”, numa tradução livre), uma HQ satírica desenhada por Herb Trimpe e publicada em The Incredible Hulk #142 (1971), onde um grupo de milionários presumivelmente “progressistas” se uniu para defender o Hulk da perseguição do Exército Americano. Entre os ricaços havia a socialite Samantha Parrington, que através de um feitiço engendrado por Encantor incorporou o espírito e os dons de Brunhilda, e foi induzida a atacar o Gigante Esmeralda. Na conclusão da trama bem-humorada de Thomas a adorável Srta. Parrington voltou ao normal, e tudo indicava que tão cedo os leitores não se reencontrariam com Valquíria, porém Steve Englehart a reaproveitou nos Defensores, já que na opinião do escritor a guerreira de Asgard seria perfeita para dar “textura” para a “não-equipe”.

Capa de The Defenders #4 (1972), onde Valquíria se torna integrante da “não-equipe”. Arte de John Buscema, Jim Starlin e Frank Giacoia.

Em The Defenders #4 aliados com o ex-vingador Cavaleiro Negro os Defensores enfrentaram Casiolena, uma bruxa extradimensional que havia conquistado o coração do Executor, o antigo amante de Encantor. Em meio ao conflito a feiticeira asgardiana vinculou a alma de Brunhilda ao corpo de Barbara Norriss (uma enlouquecida adepta dos Imortais), e com o auxílio da renovada Valquíria os heróis derrotaram sua adversária. Todavia, nas últimas páginas da aventura a perversa Encantor transformou o nobre Cavaleiro Negro em uma estátua de pedra, e esse foi o pontapé inicial para uma das maiores e mais importantes sagas da Marvel de todos os tempos!

Vingadores vs. Defensores

No final dos anos sessenta e começo dos setenta a Marvel tirava proveito do verão no Hemisfério Norte (um período de férias escolares, onde supostamente os jovens leitores estariam mais dispostos a gastar dinheiro com quadrinhos) para lançar revistas especiais com mais páginas, que geralmente traziam uma história inédita de grande impacto acompanhada da republicação de HQs clássicas da editora. Por razões desconhecidas em 1973 a Casa das Ideias abortou a publicação desses gibis, e um indignado Steve Englehart decidiu tomar uma providência para substituí-los.

Naquela época Steve Englehart também escrevia The Avengers, e inspirado nos clássicos encontros da Liga da Justiça com a Sociedade da Justiça anualmente lançados pela DC Comics (para saber mais sobre eles clique aqui, aqui e aqui!) o roteirista concebeu um confronto entre os Defensores e os Vingadores, que seria publicado durante três meses de forma intercalada nas séries regulares dos dois grupos.

Homem de Ferro encara o seu ex-parceiro Gavião Arqueiro na capa de The Defenders #9 (1973). Arte de Sal Buscema.

Steve Englehart levou a sua proposta para Roy Thomas, que num primeiro momento demonstrou preocupação com a logística de publicação da aventura: se um dos títulos atrasasse (e atrasos de gibis eram absolutamente comuns naquela época) os leitores teriam a compreensão da história prejudicada, mas o escritor garantiu que todos os roteiros seriam entregues no prazo. E para completar o quadro a saga proposta por Englehart seria desenhada por Bob Brown (responsável pela arte de The Avengers) e Sal Buscema, dois profissionais conhecidos pela rapidez e pontualidade na produção dos seus trabalhos.

Capitão América e Namor se digladiam pelo Olho Maligno na capa de The Avengers #117 (1973). Arte de John Romita Sr. e Mike Esposito.

Batizada com o nome de “Avengers/Defenders War” (no Brasil ela é conhecida como “Vingadores vs. Defensores”), a saga de Steve Englehart, Bob Brown e Sal Buscema foi publicada entre as edições #115 e #118 de The Avengers e nos gibis The Defenders #8 a #11, e como já citamos tudo começou com a transformação do Cavaleiro Negro em uma estátua de pedra: na busca da cura para o herói petrificado o Doutor Estranho evocou um feitiço e soube da existência do Olho Maligno, um objeto místico ligado aos mitos arturianos que provavelmente salvaria a vida do vingador. Porém, haviam dois problemas: em Fantastic Four #54 (1966) o Olho Maligno se fragmentou em seis partes que se espalharam por toda Terra, e os Defensores (devidamente reforçados com a presença do ex-vingador Gavião Arqueiro) precisariam se dividir para encontrá-los; e o encantamento realizado pelo Doutor Estranho na verdade foi manipulado por Dormammu e Loki (o primeiro adversário dos Vingadores, se lembram?), que estabeleceram uma parceria e pretendiam usar o artefato medieval para seus propósitos malévolos. Para complicar ainda mais as coisas outro fator surgiu…

Capa de The Defenders #10 (1973), onde ocorreu o confronto mais esperado pelos fãs: Hulk contra Thor! Arte de John Romita Sr.

Loki receava que Dormammu “passasse a perna” nele, e numa jogada arriscada o deus nórdico entrou em contato com os Vingadores, e de forma mentirosa afirmou que os Defensores pretendiam usar o Olho Maligno para conquistar o mundo. Os Maiores Heróis da Terra foram obrigados a sair no encalço da “não-equipe” liderada informalmente pelo Doutor Estranho, e um confronto de grandes proporções eclodiu, confronto esse que foi concluído com os dois supergrupos se reunindo para enfrentarem e por fim derrotarem Dormammu e Loki. Ah, no epilogo da saga foi revelado que o espírito do Cavaleiro Negro se materializou no período histórico das Cruzadas Medievais, e feliz por lutar ao lado do mítico monarca inglês Ricardo Coração de Leão o herói decidiu ficar por lá.

Capa de The Avengers #118 (1973), com a conclusão de “Vingadores vs. Defensores”. Arte de John Romita Sr. e Ron Wilson.

Vingadores vs. Defensores” não foi a primeira aventura a ser publicada em séries diferentes (a já mencionada saga dos Imortais a antecedeu nesse quesito) e nem foi a primeira história longa da Casa das Ideias (“A Guerra Kree-Skrull” se esparramou por nove edições de The Avengers entre 1971 e 1972), mas o seu modelo de publicação se tornou uma referência para os vindouros encontros de super-heróis tanto da Marvel quanto da DC Comics, especialmente a partir dos anos oitenta, o que lhe confere uma enorme importância histórica. Após o término de “Vingadores vs. Defensores” Hulk, Namor, Doutor Estranho e cia. continuariam a ter suas HQs publicadas em The Defenders e por lá os leitores se deparariam algumas… bizarrices!

Personagem Favorito

Steve Englehart ficou cansado de trabalhar simultaneamente em duas revistas de supergrupos, e por causa disso abandonou a produção de roteiros dos Defensores e continuou com os Vingadores. O versátil Len Wein substituiu Englehart como escritor titular a partir de The Defenders #11, e de forma rápida tentou imprimir sua marca pessoal na revista.

Os Defensores batem de frente com o Esquadrão Sinistro na capa de The Defenders #13 (1974). Arte de Gil Kane e Joe Sinnott.

Nas edições #13 e #14 de The Defenders a “não-equipe” encarou o conquistador extraterrestre Nebulon e o Esquadrão Sinistro, um pastiche da Liga da Justiça que Roy Thomas havia criado em 1969 para enfrentar os Vingadores. De quebra-pau em quebra-pau os Defensores derrotaram seus inimigos, e no processo ganharam um novo membro, no caso o misterioso Falcão Noturno!

O Falcão Noturno aparece em destaque na capa de The Defenders #15 (1974), onde os Defensores enfrentaram Magneto e Irmandade de Mutantes. Arte de John Buscema e Mike Esposito.

A identidade secreta do Falcão Noturno era Kyle Richmond, um milionário que após ingerir uma fórmula alquímica criada pelo alienígena Grão-Mestre teve sua força e agilidade aumentadas, especialmente no período da noite. Dinheiro não era um problema para Richmond, e com o objetivo de agregar valor aos seus novos talentos ele gastou uma bela grana com apetrechos especiais e um “pomposo” uniforme inspirado em aves de rapina. Posteriormente o Grão-Mestre levou Richmond para o Esquadrão Sinistro, onde ele se envolveu em escaramuças com os Vingadores e o Demolidor.

O Filho de Satã (o sujeito com o tridente na mão) se torna membro dos Defensores em Giant-Size Defenders #2 (1974). Arte de Gil Kane e Klaus Janson.

O Falcão Noturno era uma clara homenagem ao Batman, e Len Wein nunca escondeu de ninguém que o Cavaleiro das Trevas era o seu personagem favorito, então de forma muito óbvia o escritor tornou o redimido Kyle Richmond membro dos Defensores, mesmo porque ele queria um personagem “seu e o somente seu” na revista The Defenders, já que a evolução narrativa do Hulk, Namor e Doutor Estranho estavam quase que estritamente atreladas as suas séries próprias. Porém, os planos de Wein para o Falcão Noturno não foram levados adiante, porque em 1974 o escritor foi convidado a revitalizar os X-Men (saiba mais sobre esse tema clicando aqui), e na sua despedida dos Defensores (publicada entre The Defenders #17 e #19 e que contou com a participação especial de Luke Cage) ele legou para a Casa das Ideias a Gangue da Demolição, um equipe de vilões chinfrins empoderados por magia asgardiana que com a passagem do tempo se tornou uma das principais “buchas de canhão” da Marvel. Ah, Wein ainda teve tempo para em Giant-Size Defenders #2 acrescentar aos Defensores o dúbio Filho de Satã (Daimon Hellstrom), um sujeito dotado de enormes dons místicos que supostamente era descendente direto do Coisa-Ruim que comandava o Inferno.

Temáticas Incomuns

Dono de um estilo de escrita que dava preferência para temáticas incomuns, no final de 1974 o roteirista Steve Gerber tomou as rédeas criativas dos Defensores a partir da edição #20 de The Defenders, e ficou por lá até o segundo semestre de 1976, encerrando sua passagem no número #41 da revista. Autores, leitores e pesquisadores da Nona Arte são quase unânimes em afirmar que Gerber foi o melhor escritor da “não-equipe”, e agora vamos falar um pouco sobre o seu trabalho.

Os Defensores enfrentam o grupo racista Os Filhos da Serpente na capa de The Defenders #24 (1975). Arte de Gil Kane e Klaus Janson.

Nos números #23 a #25 de The Defenders com o auxílio luxuoso de Luke Cage, Jaqueta Amarela e Demolidor a “não-equipe” encarou os Filhos da Serpente, uma organização racista que era uma espécie de versão “pitoresca” da Marvel para a Ku Klux Klan. O detalhe curioso dessa pequena saga foi o surgimento de Jack Norriss, o antigo marido de Barbara Norriss (a hospedeira de Valquíria) que de todas as formas possíveis e imagináveis tentou convencer sua “esposa” a reatar com ele.

Os Guardiões da Galáxia são o destaque na capa de The Defenders #26 (1975). Arte de Gil Kane e John Romita Sr.

Os Guardiões da Galáxia eram um agrupamento guerrilheiro que enfrentava o temível Império Badoon no Século XXX, e graças as maravilhas das viagens no Tempo eles se aliaram aos Defensores em Giant-Size Defenders #5 e The Defenders #26 a #29. A equipe futurista surgiu em 1969 por mérito dos talentos de Arnold Drake e Gene Colan, porém até 1975 eles tiveram pouquíssimas aparições nos gibis da Marvel, e coube justamente a Steve Gerber refinar a ambientação e caracterização dos Guardiões da Galáxia, que nos últimos anos se tornaram a inspiração para a criação da equipe cósmica homônima que estrelou vários filmes do Marvel Studios.

Cena retirada de The Defenders #25 (1975), onde o Elfo Pistoleiro dá o ar da sua graça pela primeira vez! Arte de Sal Buscema e Mike Esposito.

Steve Gerber sempre teve um senso de humor peculiar (tanto que ele é o criador de Howard, o Pato), e essa característica se manifestou nas suas histórias dos Defensores quando em The Defenders #25 ele apresentou aos fãs o Elfo Pistoleiro (“Elf With a Gun”, no original em Inglês), que literalmente era um elfo que portava uma pistola e que de forma aleatória aparecia nas aventuras da “não-equipe” e matava pessoas. Gerber nunca se preocupou em criar uma origem ou background para o personagem (que com o tempo ganhou uma certa importância na mitologia dos Defensores), mas ele tinha uma ótima explicação para a sua criação: o personagem surgiu porque Sal Buscema estava cansado de desenhar vilões com roupas de cobra, no caso os Filhos da Serpente! Mas as coisas não pararam por aí…

Os Cabeças capturam os Defensores na capa de The Defenders #33 (1975). Arte de Gil Kane e Frank Giacoia.

Em The Defenders #31 Steve Gerber iniciou um intricado arco narrativo onde Nebulon voltou a dar as caras ao lado Homem-Planta e dos Cabeças, um esquisitíssimo grupo que já havia aparecido na edição #21 da revista, e que era essencialmente constituído por vilões de quinta categoria da Marvel estreantes nos anos cinquenta cuja principal característica era a cabeça destoante em relação ao corpo, como era o caso do Homem-Gorila, cuja constituição física simiesca era adornada por um crânio humano. Essa saga marcou tanto a admissão de Clea (discípula e namorada do Doutor Estranho) e da neurocientista e super-humana soviética Guardiã Vermelha (Tania Belinskaya) nas fileiras dos Defensores quanto a despedida de Gerber de The Defenders. Todavia, os fãs da “não-equipe” ainda esbarrariam com aventuras pouco convencionais na sua revista.

Personagem Romântica

O editor e roteirista Gerry Conway foi o responsável pelos scripts de The Defenders #41 a #45, e trouxe junto consigo o então desenhista principiante Keith Giffen, que naquele período era um clone mal-ajambrado de Jack Kirby e estava muito longe de ser o renomado quadrinista que posteriormente seria amado por quase todos os fãs. Outro destaque da breve passagem de Conway foi a entrada nos Defensores de Patsy Walker, uma personagem cuja trajetória editorial foi no mínimo sui generis!

Capa de Patsy Walker #1 (1945), que obviamente trouxe a estreia da espevitada heroína Patsy Walker. Arte de Mike Sekowsky.

Patsy Walker estreou nos gibis da Marvel em 1944, e inicialmente estrelava HQs humorísticas de temática adolescente, sendo que muitas delas foram produzidas pelo lendário quadrinista Al Jaffee. Nos anos sessenta a Srta. Walker se tornou protagonista de gibis românticos voltados para o público feminino, porém a predominância do gênero “super-herói” no gosto popular fez com que a Casa das Ideias interrompesse a produção de histórias inéditas da mocinha. Aparentemente Patsy Walker se tornaria uma vaga lembrança na mente dos leitores mais velhos, mas uma jogada surpreendente de um certo roteirista mudou o destino da personagem.

Felina (Patsy Walker) se encontra com Valquíra e a Guardiã Vermelha e relembra o período em que foi treinada por Serpente da Lua, personagem que teria muita importância nos Defensores. Arte de Keith Giffen e Klaus Janson.

No início da década de setenta o mutante Fera ganhou algumas HQs redigidas por Steve Englehart na revista Amazing Adventures, e o roteirista achou que seria interessante usar Patsy Walker como coadjuvante nas aventuras do antigo x-man. Em 1975 Englehart levou o Fera para os Vingadores e trouxe Patsy Walker a tiracolo, e a outrora personagem romântica se tornou a super-heroína Felina ao tomar para si um traje especial que amplificava a sua agilidade natural e que outrora pertenceu a Greer Grant Nelson (que posteriormente assumiu a identidade heroica de Tigresa).

Tramas Estranhas

O então assistente editorial David Anthony Kraft (com o auxílio inicial de Roger Slifer) se tornou o roteirista titular de The Defenders a partir da edição #46, e decidiu manter a tradição do título de trazer tramas estranhas, tanto que nos números #58 a #60 da revista ao lado desenhista Ed Hannigan ele lançou a saga “Xenogenesis: Day Of The Demons” (“Xenogênese: Dia dos Demônios”, numa tradução livre), onde um grupo de ocultistas tentou transformar a Terra no lar de uma raça de demônios. Esta pequena saga marcou a filiação nos Defensores do Mata-Demônios (Devil-Slayer no original em Inglês, e que também é conhecido como Assassino Diabólico no Brasil), um ex-mercenário (cujo verdadeiro nome era Eric Simon Payne) dotado de um manto místico que lhe permitia executar teleportes e que era uma cópia descarada de Demon Hunter, um herói criado por Kraft na extinta editora Atlas/Seaboard. Porém, a verdadeira “curiosidade” em torno de “Xenogenesis…” residia em outro aspecto.

Mata-Demônios encara os Defensores na capa de The Defenders #58 (1978). Arte de Ed Hannigan e Klaus Janson.

David Anthony Kraft era fã do grupo de hard rock psicodélico Blue Oyster Cult (conhecido pelo hit(Don’t Fear) The Reaper”), e decidiu prestar uma homenagem a ele em “Xenogenesis…”: o primeiro e segundo capítulos da saga foram nomeados respectivamente de “Agents of Fortune” (“Agentes do Destino”) e “Tiranny and Mutation” (“Tirania e Mutação”), nomes de dois álbuns da banda de rock. Não contente com isso Kraft batizou a vilã do arco narrativo de Vera Gemini (alcunha inspirada na canção “The Revenge of Vera Gemini”), e armou uma pequena aparição especial do Blue Oyster Cult na terceira e última parte da trama.

Capa de The Defenders #62 (1978), onde para o desespero do Falcão Noturno o cafajeste Dollar Bill abre inscrições para os Defensores! Arte de John Romita Jr. e Bob Layton.

Na sequência de “Xenogenesis…” os leitores se depararam com “Defender For A Day” (“Defensor Por Um Dia”), uma aventura divertida publicada entre The Defenders #62 e #65 onde o pretenso cineasta e pilantra Dollar Bill literalmente abriu um “concurso público” para a entrada de novos membros nos Defensores. Para o desespero do Falcão Noturno (que na época liderava o grupo e era amigo de Bill) quase todos os super-heróis de segundo e terceiro escalão da Marvel se candidataram a uma vaga na “não-equipe”, e obviamente uma enorme confusão ocorreu, que foi resolvida com os “aspirantes” a defensores voltando contrariados para suas casas.

Capa de The Defenders #66 (1978), onde Valquíria retorna para Asgard e a sua origem é revelada. Arte de John Buscema e Bob McLeod.

A verdadeira origem de Valquíria era envolta em mistérios, e em The Defenders #66 a #68 foi explicado que num passado distante Brunhilda e Encantor eram amigas, porém a feiticeira enganou a guerreira e aprisionou o seu corpo em um local escondido em Asgard, passando a fazer uso do seu espírito para motivos escusos e eventualmente o incorporando em hospedeiras como Samantha Parrington e Barbara Norriss. Aliás, a alma da Srta. Norriss estava presa no verdadeiro corpo de Valquíria, e após um conjunto de ações de maga Casiolena a insana assecla dos Imortais bateu de frente com os Defensores, e naturalmente foi derrotada.

Roteirista Principiante

Os Defensores adentraram os anos oitenta contando com os roteiros de Ed Hannigan e protagonizando aventuras ora interessantes, ora esquecíveis, e no final de 1980 a partir da edição #92 o gibi The Defenders foi assumido por um jovem escritor egresso da DC Comics chamado J. M. DeMatteis. A partir da chegada do roteirista principiante um importante ponto de inflexão surgiu na carreira editorial da “não-equipe”.

Cena de The Defenders #94 (1981), onde a mando da Mão de Seis Dedos o aterrador Gárgula sequestra Patsy Walker. Arte de Don Perlin e Joe Sinnott.

Logo de cara em The Defenders #94 o novato J. M. DeMatteis lançou o Gárgula (Isaac Christians), um idoso que com o objetivo de salvar a sua pequena cidade natal fez um pacto com um grupo demoníaco chamado A Mão de Seis Dedos (“The Six-Fingered Hand”, no original em Inglês), que transplantou a alma do ancião para o corpo de um demônio. Rapidamente o Sr. Christians foi agregado aos Defensores, e segundo DeMatteis o fato do personagem ser um homem velho aprisionado na carcaça de uma criatura sobrenatural abriria um leque enorme de possibilidades narrativas. Uma curiosidade interessante: ao criar a aparência do Gárgula o desenhista Don Perlin se inspirou em uma cena da tira de quadrinhos do Príncipe Valente, onde o clássico personagem de Hal Foster se disfarçou como um demônio.

Capa de The Defenders #100 (1981), edição comemorativa que reuniu quase todos os integrantes regulares dos Defensores. Arte de Al Milgrom e George Roussos.

No transcorrer do confronto contra A Mão de Seis Dedos foi revelado que o agrupamento demoníaco estava sob o comando de Mefisto (o diabão-mor da Marvel), e por fim os Defensores o confrontaram em The Defenders #100, uma edição comemorativa que reuniu quase todos os super-heróis que até então atuaram de forma regular na “não-equipe”. Em The Defenders #104 o Fera abandonou o seu posto nos Vingadores e se tornou integrante dos Defensores, e a partir da sua chegada mudanças importantes ocorreram no grupo.

Novos Defensores

Entre as edições #112 e #114 de The Defenders a “não-equipe” foi parar na Terra-712 (uma das incontáveis dimensões paralelas da Marvel) e por lá enfrentaram o Esquadrão Supremo (um grupo de super-heróis muito similar ao já citado Esquadrão Sinistro) e o Onisciente, um alienígena dotado de vastíssimos poderes telepáticos que após o término do conflito passou a fazer parte dos Defensores.

Capa de The Defenders #113 (1982), onde o Oniscente (que posteriormente se tornaria membro dos Defensores) instiga o Esquadrão Supremo contra a “não-equipe”. Arte de Don Perlin e Steve Mitchell.

J. M. DeMatteis continuou a brincar com os Defensores, e em The Defenders #122 ele trouxe de volta o Elfo Pistoleiro, que sequestrou Hulk, Namor, Surfista Prateado e o Doutor Estranho e os levou para uma viagem através do Tempo, onde eles tiveram contato com o Tribunal, uma misteriosa organização supostamente dedicada a proteção do fluxo temporal. E então… em The New Defenders #125 (calma, explicaremos mais adiante a mudança no nome da revista!) os membros fundadores da “não-equipe” souberam através do Tribunal que se eles continuassem trabalhando juntos desencadeariam uma série de eventos que redundariam na destruição da vida em nosso planeta no século XXIV!

Capa de The Defenders #122 (1983), onde o Elfo Pistoleiro retorna e traz más notícias para os Defensores! Arte de Don Perlin e Brent Anderson.

Sem outra opção os quatro primeiros integrantes dos Defensores se separaram e juraram nunca mais trabalharem juntos como uma equipe, e isso abriu espaço para um plano a muito acalentado pelo Fera, que envolvia a criação de um grupo formal de super-heróis. E assim ao lado do Anjo, Homem de Gelo (antigos colegas do Fera nos X-Men), Valquíria, Gárgula e Serpente da Lua o ex-vingador constituiu na rebatizada The New Defenders #125 os Novos Defensores, que teriam como base operacional uma mansão localizada no deserto do estado americano do Colorado. Aliás… antes de prosseguirmos vale a pena falarmos um pouco sobre a Serpente da Lua!

Capa de The New Defenders #125 (1983), que marcou a completa reformulação dos Defensores. Arte de Carl Potts e Bill Sienkiewicz.

Serpente da Lua surgiu em 1973 nos primeiros confrontos dos Vingadores contra Thanos (saiba mais sobre eles clicando aqui!), e o seu verdadeiro nome era Heather Douglas, uma moça que na infância foi levada para Titã por Mentor, o governante do satélite de Saturno. Por lá ela passou por um árduo treinamento sacerdotal que a tornou uma formidável artista marcial e telepata, e com o passar do tempo a sua arrogância cresceu a tal ponto que ela passou a se considerar uma divindade. Nos anos setenta Serpente da Lua fez aparições esporádicas nos gibis da Marvel (chegando inclusive a ser tutora de Patsy Walker por um tempo), e no início da década de oitenta ela fez uso dos seus vastos poderes psiônicos para se tornar a déspota de um pacífico planeta em The Avengers #219. Os Vingadores conseguiram derrotar a telepata, e ela foi levada para Asgard para receber a devida punição de Odin, e a partir daí o seu caminho cruzou com o dos Defensores.

Serpente da Lua tem o seu primeiro (e nada amistoso!) encontro com os Defensores em cena extraída de The New Defenders #125. Arte de Don Perlin e Kim DeMulder.

Em The Defenders #123 o soberano de Asgard determinou que Serpente da Lua precisaria aprender a ser humilde, e para que esse intento fosse alcançado ela deveria caminhar pela Terra usando uma tiara mística que inibiria parte dos seus dons psíquicos. Odin também determinou que Valquíria seria a guardiã da recalcitrante heroína, e essa foi a “deixa” para Serpente da Lua se tornar integrante da novíssima versão dos Defensores organizada pelo Fera.

Lado Sombrio

O primeiro desafio dos Novos Defensores foi contra o Império Secreto, uma organização terrorista que a mais nova equipe formal da praça enfrentou entre The New Defenders #126 a #130. Curiosamente J. M. DeMatteis — que concebeu os Novos Defensores — ficou aborrecido ao escrever as histórias de um time tradicional de super-heróis, e abandonou o título após a edição #131, legando para a equipe Nuvem, uma belíssima jovem capaz de converter seu corpo numa substância gasosa.

Os Novos Defensores fazem “cara de mau” na capa de The New Defenders #128 (1983). Arte de Carl Potts e Kevin Nowlan.

Peter Gillis substituiu J. M. DeMatteis em The New Defenders, e iniciou uma longa enredo onde Serpente da Lua lentamente passou a ser influenciada por uma maligna entidade mística homônima. Como resultado a sacerdotisa de Titã tentou de forma sutil subjugar telepaticamente seus colegas de equipe, e um fato inesperado ocorreu: Nuvem se apaixonou por Serpente da Lua, e para dar vazão ao seu amor em The New Defenders #136 ela se transformou num rapaz! Resumindo: num sentido amplo é possível entender que Nuvem foi a primeira personagem de gênero fluido da Marvel, e o segredo sobre a sua origem seria revelado mais adiante.

Nuvem se transforma num rapaz e declara o seu amor para Serpente da Lua em cena extraída de The New Defenders #136 (1984). Arte de Don Perlin e Kim DeMulder.

Uma das intenções de Peter Gillis era rechear os Novos Defensores com integrantes inéditos, e para cumprir esse objetivo aos poucos ele apresentou aos leitores novos personagens como o assassino Aniquilador (em The New Defenders #133), um membro da raça dos Eternos chamado Intruso (que apareceu em The New Defenders #147) e Andromeda, a filha de Attuma (um dos maiores inimigos de Namor) que estreou em The New Defenders #143, e justamente nessa edição Serpente da Lua sucumbiu ao seu lado sombrio e atacou os Novos Defensores, que após uma luta encarniçada a derrotaram na edição seguinte do título.

Serpente da Lua ataca seus colegas Defensores na capa de The New Defenders #143 (1985). Arte de Brent Anderson e Bret Blevins.

A procedência de Nuvem finalmente foi esclarecida nos números #149 e #150 de The New Defenders: a personagem era uma nebulosa (um tipo de aglomerado gasoso existente no espaço sideral constituído basicamente por poeira, hidrogênio e gases ionizados) senciente que se dirigiu a Terra em busca de ajuda contra o Ladrão de Estrelas, uma entidade cósmica que devastou inúmeros setores do Cosmos. Ao adentrar no nosso planeta Nuvem se deparou com o casal vítima de um acidente de carro formado por Carol Faber e Danny Milligan, e ao se aproximar deles ela mimetizou suas características físicas, e no processo perdeu a memória. Com as suas lembranças recuperadas Nuvem voltou ao espaço ao lado dos Novos Defensores, e juntos eles derrotaram o Ladrão de Estrelas.

Capa de The New Defenders #150 (1985), onde no espaço sideral os Novos Defensores descobriram a origem de Nuvem. Arte de Frank Cirocco.

Serpente da Lua retornou em The New Defenders #151, e a na batalha que estendeu para a edição seguinte da revista a decaída heroína foi derrotada de forma definitiva, com um alto custo: Valquíria, Aniquilador, Intruso, Andromeda e Gárgula faleceram. E assim, para a tristeza de muitos leitores no final de 1985 The New Defenders foi cancelada… e nos cabe aqui explicar as causas de tal cancelamento.

Capa de The New Defenders #152 (1985), onde os Novos Defensores tiveram o seu conflito final com Serpente da Lua. Arte de Frank Cirocco.

As péssimas vendas de The New Defenders justificavam o seu fim, mas haviam outros fatores envolvidos: a Marvel precisava liberar recursos editoriais para o lançamento do Novo Universo, um projeto que pretendia botar na praça gibis estrelados por um conjunto de super-heróis mais “pés no chão”. Além disso em meados dos anos oitenta os X-Men dominavam as listas de mais vendidos, e para capitalizar um dinheiro com esse fato a Casa das Ideias tinha a intenção de lançar um novo título estrelado pelos integrantes originais da equipe mutante, e para isso precisava do Anjo, Fera e Homem de Gelo. Desse modo no início de 1986 os fundadores dos X-Men foram reunidos no gibi X-Factor, e eram claras as indicações de que tão cedo os leitores não se reencontrariam com os Defensores. Mas o Destino — ou talvez a memória afetiva de certos fãs e autores — não permitiu que os Defensores caíssem no Esquecimento!

Resgate

No transcorrer da sua trajetória editoral a revista The Defenders se tornou a plataforma para o lançamento de quadrinistas promissores e para a publicação de HQs pouco convencionais. Por causa disso de tempos em tempos a Marvel resgatou brevemente a “não-equipe”, e chegou a usar o nome “Defensores” para batizar superequipes que tinham pouca ou nenhuma relação com o grupo original, como foi o caso do time formado por Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e Demolidor que estrelou uma minissérie televisiva lançada originalmente pelo Netflix em 2017. Falaremos aqui de alguns desses resgates que foram publicados no Brasil.

Capa de The Incredible Hulk #370 (1990), onde após um longo inverno os membros fundadores dos Defensores voltaram a trabalhar juntos. Arte de Dale Keown e Bob McLeod.

Em 1990 o escritor Peter David e o desenhista Dale Keown finalmente reuniram Hulk, Namor e o Doutor Estranho nos gibis The Incredible Hulk #370 e #371, onde juntos eles confrontaram uma monstruosidade originária de um universo constituído de matéria escura. O mesmo adversário foi usado como mote para no ano de 1992 as revistas The Incredible Hulk Annual #18, Namor the Sub-Mariner Annual #2, Silver Surfer Annual #5 e Dr. Strange Annual #2 servirem de palco para um novo reencontro dos membros fundadores “não-equipe” ao apresentarem a saga “O Retorno dos Defensores”. Em 2005 o trio criativo formado por Keith Giffen, J. M. DeMatteis e Kevin Maguire produziu a divertidíssima minissérie dividida em cinco capítulos The Defenders, onde em meio a dezena de piadas os heróis bateram de frente com Dormammu. Ah, antes que nos esqueçamos: em 2009 entre os números #10 e #12 de Hulk os quadrinistas Jeph Loeb e Ed McGuinness criaram os Ofensores, um maligno grupo constituído por Barão Mordo, Terrax, Tubarão-Tigre e Huk Vermelho, velhos adversários respectivamente do Doutor Estranho, Surfista Prateado, Namor e Hulk.

Capa de Defenders #1 (2005), onde em uma aventura bem-humorada os Defensores enfrentaram Dormammu. Arte de Kevin Maguire.

E assim encerramos esse esforçado texto sobre a mais importante “não-equipe” da história editorial da Marvel. Mas… antes de irmos embora passaremos algumas informações bibliográficas cruciais para colecionadores brasileiros de gibis:

● O primeiro encontro “não-oficial” dos Defensores (onde eles encararam os Imortais) foi publicado no Brasil de forma fracionada em diferentes períodos: Doctor Strange #183 permanece inédita por aqui; Sub-Mariner #22 foi publicada pela Ebal em 1975 no gibi O Homem-Aranha #70; e The Incredible Hulk #126 saiu em duas revistas: Príncipe Submarino e O Incrível Hulk (Super X) #49 (Ebal, 1971) e O Incrível Hulk #11 (Bloch, 1976);

● O segundo encontro “não-oficial” dos Defensores (onde Hulk, Namor e Surfista Prateado formaram uma equipe temporária) foi publicado em terras tupiniquins parcialmente em Almanaque do Homem-Aranha e Seus Super-Amigos, gibi lançado pela Bloch em 1975;

● As três primeiras aventuras dos Defensores finalmente constituídos como uma “não-equipe” (publicadas originalmente em Marvel Feature) podem ser encontradas no encadernado A Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel: Clássicos #23, lançado em 2017 pela Salvat;

● As primeiríssimas edições de The Defenders foram republicadas no Brasil pela última vez em dois encadernados: A Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel: Clássicos #23 (números #1 a #5) e Coleção Histórica Marvel: Os Defensores #1 (números #1 a #7), disponibilizada pela Panini em 2016;

● A clássica “Vingadores vs. Defensores” pode ser encontrada pelos fãs brasileiros em duas edições:

Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel: Clássicos #27 (Salvat, 2017) e Os Maiores Clássicos dos Vingadores #4 (Panini, 2008);

● A admissão do Falcão Noturno nos Defensores foi publicada em nosso amado país no gibi Os Defensores #5 (Bloch, 1976);

● Para a tristeza dos fãs brasileiros praticamente todas as histórias dos Defensores que foram concebidas por Steve Gerber, Gerry Conway, David Anthony Kraft, Ed Hannigan e J. M. DeMatteis permanecem inéditas na Terra Descoberta Por Cabral;

● Quase todas as aventuras concebidas por Peter Gillis para os Novos Defensores foram publicadas por aqui entre as edições #101 e #139 de Capitão América (Editora Abril), no período que vai de 1987 a 1990.

● O reencontro de Hulk, Namor e Doutor Estranho urdido por Peter David e Dale Keown pode ser lido no encadernado A Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel #11 (Salvat, 2015);

● A saga “O Retorno dos Defensores” foi publicada pela Editora Abril em 1995 na edição especial Épicos Marvel #6;

● A divertida minissérie dos Defensores elaborada por Keith Giffen, J. M. DeMatteis e Kevin Maguire está disponível em dois encadernados: Os Heróis Mais Poderosos da Marvel #23 (Salvat, 2015) e Marvel Apresenta #26 (Panini, 2006);

● O advento dos Ofensores pode ser lido nas edições #56 a #58 da série mensal Universo Marvel, que foram levadas para as bancas de jornal brasileiras pela Panini em 2010;

E assim… Neste exato momento do Tempo e nesta exata localização do Espaço agradecidamente falamos para todos que chegaram até aqui:

E TENHO DITO!

Para saber mais:

Wikipedia: Defensores

Wikipedia: Lista de integrantes

Twomorrows: Back Issue #65

Marvel Database: Lista de aparições dos Defensores

Grand Comics Database: The Defenders (1972)

Guia dos Quadrinhos: Lista de aparições dos Defensores no Brasil

Comic Book Resoures: A máscara do Doutor Estranho

Comic Book Resoures: A origem bem-humorada da Valquíria

Comic Book Resoures: O amor de Valquíria pelo Cavaleiro Negro

Comic Book Resoures: Os cinquenta anos de “Vingadores vs. Defensores”

Comic Book Resoures: A ressurreição do Falcão Noturno

Comic Book Resoures: A origem do Filho de Satã

Comic Book Resoures: Como Patsy Walker se tornou uma super-heroína

Comic Book Resoures: A relação entre Patsy Walker e Tigresa

Comic Book Resoures: A homenagem ao Blue Oyster Cult

The Comics Journal: Entrevista com Steve Englehart

The Comics Journal: Entrevista com David Anthony Kraft

The Comics Journal: Entrevista com J. M. DeMatteis

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Claudio Basilio
sobrequadrinhos

Apenas um rapaz latino-americano que gosta de falar de Quadrinhos e Cultura Pop. E de outros assuntos também!