#CyberSentidos

Gustavo Nogueira de Menezes (Gust)
swarm creativity
Published in
8 min readAug 2, 2015

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Updates dos 5 sentidos humanos por meio das tecnologias já são possíveis (e isso pode impactar drasticamente nosso futuro)

Eu sou Gustavo Nogueira e, desde que comecei a série #FuturoDasCoisas, tenho me dedicado a estudar os mais diversos temas relacionados à futurismo: realidade virtual, robótica, impressão 3D, internet das coisas…

Uma das reflexões mais interessantes é que as inovações que citei são só uma pequena parte do que vem por aí. Porque cada um delas gera um efeito colateral próprio na humanidade como um todo. A tecnologia é mais humana do que você imagina. Analisá-la por esse olhar interdependente nos faz vislumbrar as tendências de economia, cultura, sociedade e gestão que nos aguardam alguns passos à frente, em nosso futuro.

Ao tentar compreender o impacto das tecnologias exponenciais na vida de todos nós, seres humanos, é que os próximos grandes passos da humanidade começam a tomar forma.

Para te ajudar a enxergar mais longe, nessa edição da Swarm Creativity vou compartilhar alguns exemplos de "sentidos humanos 2.0" que estão surgindo com a tecnologia (e como isso pode impactar drasticamente no nosso futuro). Vem comigo!

Você conhece histórias interessantes sobre cyborgs e sentidos ampliados pela tecnologia? Compartilha com a gente no grupo da Swarm Creativity com a hashtag #CyberSentidos

1. Os sentidos humanos serão ampliados para além do corpo físico.

Sim, a tecnologia tem influencia até mesmo sobre os nossos 5 sentidos básicos: audição, olfato, paladar, tato e visão. Por vezes para misturá-los e criar um #MashupSensorial, mas também já existem aparatos tecnológicos para expandir os limites dos nossos sentidos para além do nosso corpo físico.

No Tomorrow, curso de futurismo que participei aqui em Porto Alegre, vi experimentos em que um cientista que conseguiu se conectar a um braço biônico em outro continente, e movê-lo através de suas ondas cerebrais enviadas até o braço pela Internet. E em outro experimento similar, um cientista controlando o braço de outra pessoa(!) por impulsos “brain-to-brain” transmitidos online.

Mas e se essa conexão entre cérebro e microchips conectados à Internet, além de mexer braços, te desse acesso ao que outra pessoa enxerga, hackeando a retina de outras pessoas pela Internet? Indo mais longe, te fizesse enxergar por meio de smartphones, câmeras de segurança? Essas versões cyborg de nós mesmos com poder de telepatia e telecinese são temas de pesquisas em diversos laboratórios do mundo, entre eles o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (…e você aí achando que o maior perigo era alguém ler os seus e-mails.)

Que usos esse tipo de conexão com objetos ou pessoas pode ter no futuro?

Apesar de parecer ficção cientítica, há aplicações que podem transformar vidas. O uso de próteses controladas por impulsos do cérebro para o membro biônico podem devolver a sensação de toque — e a independência — às pessoas amputadas.

Assim como as próteses de membros biônicos, por meio de um microchip implantado na retina, já é possível fazer com que pessoas cegas possam recuperar a visão. Mas também mais que isso, fazendo com que uma pessoa possa sentir o mundo de formas que nenhum ser humano conseguiria sem o auxílio da tecnologia.

A empresa MHOX Design está produzindo em laboratório olhos biônicos impressos 3D. A tecnologia substituirá, por meio de implante, os olhos orgânicos naturais — de pessoas com deficiência visual ou não — e prometem não só recuperar a visão como alguns “superpoderes” à sua escolha: autoregeneração em caso de doenças ou acidentes; visão 15/10 com maior alcance que o comum; e, sim, gravação das imagens em vídeo, compartilháveis online(!)

Sim, a ideia de um transplante de olhos pode ser assustadora. Mas calma que a empresa Ocumetics, indo por um caminho mais confortável, também promete visão além do alcance humano por meio de lentes de contato biônicas.

2. As máquinas também poderão sentir

Tantas adições cibernéticas ao corpo humano nos faz refletir sobre o extremo oposto: seres cibernéticos com adições orgânicas.

Um dos extremos aos quais eu fui apresentado no Tomorrow mostrava uma estrutura robótica conectada por bluetooth a um cérebro — orgânico — de um rato. O "corpo robô" se movia sobre rodas e transmitia as sensações do que encontrava pelo caminho ao cérebro conectado.

(Não. Tentem. Isso. Em. Casa.)

Aprofundando o tema sob outras perspectivas, o próprio cérebro humano pode ser visto como uma máquina processando informação e emulando comportamentos e sentimentos em resposta.

O que impede as máquinas de, assim como o cérebro humano reage, começarem a fazer o mesmo?

No filme Ex Machina, o personagem principal — humano — precisa testar a personagem robô sob sua capacidade de demonstrar inteligência e autoconsciência, procedimento conhecido como teste de Turing. Mas, ao fim do filme, a minha visão é de que em breve estaremos realizando o teste para identificar inteligência emocional em robôs e sua capacidade de lidar com sentidos e sentimentos (alheios e os seus próprios).

Até mesmo o Google, utilizado por todos nós em cerca de 95% das buscas e apps variados, caminha nesse sentido. Em um projeto com foco em redes neurais cibernéticas o sistema começou a criar suas próprias interpretações das informações disponíveis online, como "sonhos profundos" que parecem viagem de LSD.

Google's Deep Dream

Apesar da associação com drogas psicotrópicas, há estudiosos que apontam que esta seria a forma como um cérebro primitivo “sentiria” o mundo ao redor.

Mas, com algumas melhorias — que nas tecnologias atuais ocorrem com altíssima velocidade, em crescimento exponencial — logo logo essas inteligências artificiais estarão conversando conosco e dividindo seus gostos e interesses.

Que limite separa um ser orgânico com partes tecnológicas e um ser tecnológico com partes orgânicas? Existe um limite?

3. Até quando estaremos felizes em nos limitar aos 5 sentidos básicos?

Com tanta discussão sobre sentidos ampliados pela tecnologia, há pessoas buscando privação sensorial, utilizando aparatos tecnológicos para anular os seus sentidos por completo, ainda que por um breve espaço de tempo. — Mas essa discussão você confere no texto do sobre #MashupSensorial ;)

Aqui, a discussão que que quero trazer é do quanto nossos sentidos atuais — e mesmo nossos corpos físicos— vão continuar sendo necessários a longo prazo. (Ou não tão longo assim).

Ray Kurzweil, diretor de engenharia no Google e fundador da Singularity University, também é conhecido por uma meta de vida peculiar: ser o homem que não pretende morrer.

Ray Kurzweil acredita que com os avanços exponenciais da tecnologia no nosso tempo, em breve vamos conseguir viver para sempre, seja copiando o conteúdo dos nossos cérebros para um computador, e replicando nossa consciência em outros corpos biônicos.

Esse pensamento se desdobra na ideia de no futuro sermos "consciências digitalizadas", como a que vimos em Her. No filme, Samantha é um ser originalmente cibernético, e em algumas cenas levanta a questão sobre a não necessidade de um corpo. Se cruzarmos com o interesse de Kurzweil de que nós, seres orgânicos, possamos migrar um dia para esse formato, toda essa discussão sobre #CyberSentidos e sentidos ampliados se torna defasada, já que os 5 sentidos atuais deixariam de ser utilizada, e talvez sejam criadas novas formas de sentir.

E se pudermos copiar nossa consciência para outro corpo, ou viver de forma virtual dentro da Internet? Você trocaria seu corpo atual?

// Para Degustar

Para quem quiser consumir mais sobre o tema, minhas indicações são:

Sense 8: Sobre pessoas conectadas, não há como não lembrar da recém obra dos Wachovski para o Netflix, em que 8 pessoas espalhadas pelo mundo conseguem acessar informações e habilidades de outras pessoas entre si.

A série aborda assuntos como empatia, feminismo, transgêneros, entre outros. Recentemente, inclusive, foram produzidos diversos vídeos de conteúdo extra somente sobre essas temáticas, na plataforma Sense 8: Decoded.

Repo Men: Em um contexto no qual a substituição de membros e orgãos vitais por similares biônicos se torne comum, o filme mostra uma empresa que produz e vende esse tipo de produto. Mas será que partes do nosso corpo podem/devem ser tratadas como produtos?

Black Mirror: Se você ainda não viu a série que aborda o lado obscuro do impacto das tecnologias na nossa sociedade, faça isso agora. (Mesmo.) Dá para assistir o episódio especial de natal no YouTube, mas as duas temporadas são MUST SEE.

Transcendent Man: Por último, mas não menos importante, esse documentário conta a história de Ray Kurzweil na sua jornada pela vida eterna. A história, inclusive, inspirou o filme Transcendence, com Johnny Depp.

// Swarm Creativity

A cada mês, publicamos um novo conjunto de artigos, que se integram em uma experiência coletiva e são complementados por você. Leia os demais dessa edição: Mashup Sensorial: sinestesia e ampliação da experiência humana e Sense Boost: estimulando os sentidos para criar novas perspectivas sobre o (seu mundo).

Na Swarm Creativity, analisamos e discutimos temas diversos, promovendo pesquisas e encontros com o objetivo de agregar conhecimento e estreitar laços. Consumir menos para pensar mais, coletivamente. Assine nossa newsletter, participe das discussões no nosso grupo no Facebook e leia todos os artigos já publicados aqui em nossa coleção no Medium.

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Gustavo Nogueira de Menezes (Gust)
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Artist, researcher and entrepreneur questioning our relationship with time as individuals and as a society.