Ciclo de vida das startups: adaptando a receita de bolo

Do nascimento da ideia à escalada, empreendedores acabam passando por algumas fases semelhantes. Mas, afinal, as regras são as mesmas para todas as startups?

Thomás Dias
Tech at Quero
7 min readAug 7, 2020

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Entre diversos modelos, há algumas receitas de bolo para a vida de uma startup a serem seguidas. Fonte: Nappy

Se você trabalha em uma startup, deve ter passado por algumas dessas fases de um produto lançado: criação, lançamento e escalada. Com anos de aprendizado e sucesso de empreendimento de grandes nomes de tecnologia, ganhamos de presente referências para traçarmos nossos planos com cada ideia de produto que a gente tem. Quem aí tem na sua biblioteca pessoal livros como The Start-up J Curve, de Howard Love, ou o Lean Analytics, de Benjamin Yoskovitz e Alistair Croll?

Exemplos dos estágios de “Lean Analytics”. Fonte: O’Reilly

Esses são apenas alguns exemplos de metodologias. Mas a verdade é que é lendo e vivendo na prática para entender que não dá para seguir uma receita de sucesso para lançar um produto totalmente escalável no mercado. O jeito é aprender o máximo possível com essas referências e acrescentar seus aprendizados quando viver tudo isso na vida real. Porque ninguém o que te conta é que, na verdade, está tudo bem se não acertarmos 100% nesse trajeto.

E, sim, eu tenho esses livros na minha estante. Mas, hoje, resolvi reservar um espaço em uma das prateleiras para alguns aprendizados que vou listar a seguir.

Ingredientes e modo de preparo

Embora os livros tenham objetivos diferentes, ambos acabam explicando resumidamente qual será a trajetória de uma startup, passando seus desafios, possíveis fracassos até a evolução de um produto de sucesso. Em poucas palavras, você tem que passar pelo problema, depois há de se explorar as soluções a fim de entender se essas soluções têm market fit. Os próximos passos são: achar um modelo de rentabilidade para só depois escalar seu produto.

Adiando desde já o perdão aos autores, eu reuni as ideias de ambos os livros e desenhei um fluxo que acompanha todo o ciclo de vida de uma startup.

1. Dando asas à imaginação

A criação de “The Startup J-Curve”. Fonte: Book Video Club

Tivemos a ideia e estamos em busca de um time qualificado e de recursos financeiros para tirar essa ideia do papel. É quando estamos mais apaixonados e empolgados com o produto que vai nascer em breve com objetivos bem desenhados — pelo menos em nossas cabeças, né? É a fase de “criação” do The Startup J-Curve.

2. Tirando a ideia do papel

Fases de lançamento, transformação e modelagem de “The Startup J-Curve”. Fonte: Book Video Club

É hora de lançar o produto mesmo quando ele não está tão pronto assim. A gente até sente aquela vontade de pesquisar mais ou desenvolver mais features, mas precisamos colocar o produto na rua. Para o livro The Startup J-Curve, é o momento do “lançamento”.

3. Ouvindo o coração (dos usuários) para evoluir

Não dá pra deixar pra lá! Temos que ouvir o que nossas experiências com o lançamento (mesmo que tenha sido um fracasso) têm a dizer, ouvir os feedbacks e mudar o que for preciso. E sem se apegar com a ideia original de nossos produtos, beleza? Com a “empatia” (estágio de Lean Analytics), vamos passar pela fase de “transformação” (etapa de The Start-up J-curve) de nosso produto.

4. Fazendo barulho

Também podemos pensar em dar um empurrãozinho no produto caso ele não viralize organicamente entre os usuários. Pensando em novos incentivos, na fase de “viralização” (Lean Analytics), podemos pensar em programas de fidelidade, por exemplo.

5. Botando tudo na ponta do lápis

Já monetizamos nossos produtos (“receita”, em Lean Analytics)? É hora de pensar sério no modelo de negócio. Chegou o momento de acertar o modelo de negócio ( fase de “Modelagem”, em The Startup J-Curve), diminuir os custos e maximizar o faturamento para gerar um fluxo de caixa positivo.

6. Escalando montanhas para alcançar novos voos

É o estágio final! Seu produto conseguiu deixar aquela marquinha no mundo, então é hora de investir em uma boa infraestrutura, novas pessoas e novos processos (“escalada”, em The Start-up J-Curve e Lean Analytics).

E, se tudo deu certo, sua startup deixou de ser uma startup propriamente dita para ser um empresa bem estabelecida no mercado. É o momento de seus fundadores pensarem na expansão ou em até mesmo seguir em frente para novos desafios como empreendedor.

Parabéns, você ganhou o Jogo da Vida das startups!

Depois das fases do vale da morte, é hora de escalar em “The Startu J-Curve”. Fonte: Book Video Club

Após as expectativas, a realidade (ou como adaptar a receita “no olho”)

Parece um sonho, né? Pois é! E, assim, você acorda caindo da cama. Cada ideia, cada empresa e cada empreendedor acabam encontrando peculiaridades no meio do caminho que podem desviar-nos dos estágios previstos em ambos os livros.

Se isso aqui fosse um jogo mesmo, seria como pular algumas casas devido a alguma nova carta que tiramos ou por conta de uma nova ideia que encontramos na trajetória da empresa. O objetivo é muitas vezes genuíno: encurtar o caminho até o fim, ou melhor, até o sucesso final da nossa empresa. Com isso, temos duas possibilidades: realmente chegar no final do jogo mais rapidamente ou voltar algumas casas para aprendermos com os erros dessa decisão.

Ao pensar em um exemplo prático, é perfeitamente natural pensarmos em casos de produtos que tentamos escalar sem sabermos ao certo se há market fit. E isso não é lá tão condenável, já que muitas vezes algumas empresas são mais alinhadas ao growth, por exemplo.

Mas atenção! Entenda que escalar um produto antes de encontrar market-fit pode ser catastrófico. É comum os founders apaixonados por suas ideias pensarem “meu produto é incrível, resolve tudo” e decidirem escalar. No fim das contas, acabam descobrindo, na prática, que resolve só uma parte do problema e que, infelizmente, o mercado não o aceitou.

Entre outras “receitas de bolo”, temos a do “Product Life Management”. Fonte: Product Plan.

Na receita de bolo, também há a instrução clara: devemos pensar no modelo de vendas somente depois de encontrar o market fit, pois não há como cobrar por um produto não desejado. Porém, ao encontrar produtos menores que podem financiar o desenvolvimento de novos produtos, podemos gerar uma pequena receita para continuarmos focando na inovação e acertar no próximo produto ou ideia.

Outro ponto é a exploração de soluções, que muitas vezes não é feita corretamente. Quem nunca se deparou com aquele stakeholder que está certo de que uma certa ideia é a melhor solução a ser pensada? E, no final das contas, investimos um esforço em algo que não vai resolver a vida de ninguém.

Mas está tudo bem, nem isso é condenável! Porque esse é o dilema do Steve Jobs, né? Ele resolvia problemas que as pessoas não sabiam que tinham. Porém, com quantos Steves Jobs você já trombou por aí? rs!

Provando o bolo da vida real, anotando o que deu certo (e errado)

Deixando as ironias de lado para dar espaço ao bolo que acabou de sair do forno: vamos aos aprendizados!

Entendo que é muito difícil seguir à risca esse framework ou algum outro parecido com esse. Afinal, ele prevê a monetização só depois de encontrar market fit e criar uma estratégia de viralização. Como que a empresa vai se manter? Bem, neste artigo aqui, eu escrevo sobre exemplos reais em uma empresa ambidestra. Ou seja, caso a sua startup não receba investimento para sustentar as fases iniciais, essa pode ser uma boa estratégia.

Apesar de sabermos que nem sempre dá para seguir a receita (seja por um ingrediente faltando ou pela ousadia de um chef despreparado), as etapas sugeridas nos livros fazem sentido, sim, para quem vive a história de uma startup. Então, podemos dizer que vamos seguí-las à risca enquanto podemos.

Se não der, tudo bem. O importante é, pelo menos, tentar cumprir cada etapa minimamente para que suas chances de sucesso no negócio sejam maiores. Talvez você não conclua a etapa por inteiro, mas é bom ter em mente que, se você for um “chef” que gosta de arriscar, pode dar muito errado ao tentar implementar uma ideia sem saber se você pode resolver o problema de um número mínimo de pessoas.

O grande aprendizado aqui é a gente entende se você não conseguir concluir uma etapa. Pois, se você não conseguir escalar a ideia para muita gente, você conseguiu, pelo menos, gerar uma receita que pode ser investimento para novas ideias que resolvam o problema de muito mais gente.

Ah, e se mesmo assim você decidir por mudar totalmente essa receita descrita acima e der certo, não esqueça de anotar e compartilhar com a gente, hein? Afinal, de regras quebradas, às vezes, nascem modelos de negócio inovadores.

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