TODAS AS 280 MÚSICAS DE LULU SANTOS, DA PIOR À MELHOR

Marco Antonio Barbosa
Telhado de Vidro
Published in
42 min readOct 30, 2020

Há na língua inglesa uma expressão muito interessante e que não tem tradução exata para o português: “taking for granted”. Ao pé da letra seria algo como “tomar por garantido”, mas na prática o termo é usado para definir aquela coisa (ou pessoa) que é menosprezada/subestimada por conta de sua disponibilidade ou de sua familiaridade. Você “toma por garantido” algo que — supostamente — sempre estará à sua disposição. Algo tão onipresente e familiar que deixa de merecer atenção especial.

Não existe na história do pop brasileiro alguém tão taken for granted quanto Lulu Santos. A quantidade de hits acumulados, a ubiquidade na mídia, a capacidade de comunicação com o público; de forma consistente, LS tem sido uma força dominante em nosso mainstream nos últimos 40 anos. Tanto que, não raro, deixamos de dar o valor devido à sua obra e seu talento. (Quem “deixamos”, no caso, somos nós, iconoclastas de gosto refinado.) Recorrendo mais uma vez ao vernáculo britânico, familiarity breeds contempt.

Em um cenário pop quase sempre nivelado por baixo, o “pecado” de Lulu é o excesso, e não a omissão. Não há outro combo semelhante: melodista de sensibilidade pop instintiva + letrista inteligente e engraçado + guitarrista versátil e muito habilidoso + cantor preciso e carismático. Tantos dons, refletidos em uma tremenda facilidade para agradar ao público, geram desconfiança e até despeito por parte da inteligentzia. Isso se traduz em uma presença rara em listas de melhores do ano/década/todos os tempos, e críticas que variavam da condescendência à maledicência. (O relacionamento nem sempre amistoso com a imprensa tem seu papel no contexto. Eu mesmo, em meus tempos de intrépido repórter, levei umas patadas do cantor. Algumas merecidas, outras não.)

Engana-se quem acredita ser possível apreender todas as nuances da musicalidade de Lulu apenas ouvindo seus sucessos. A revisão completa de sua obra que empreendi para escrever esta lista me mostrou isso. Fica claro que o astro construiu uma assinatura sonora cujos timbres e elementos harmônicos/melódicos são recorrentes; quem não reconhece o som da guitarra e o posicionamento estratégico dos acordes menores? Mas para além do pop fluido dos anos 80 e das incursões eletrônico-funkeiras dos anos 90/2000, a obra do cantor passa por samba, psicodelia, hard rock, reggae e blues. E incorpora influências africanas, caribenhas e até de axé music. Lulu despontou como hitmaker pop-rock, mas sua curiosidade antropofágica revela uma alma tropicalista. Outro detalhe que só percebi agora, ouvindo toda a obra em sequência: todos os discos de estúdio (e alguns ao vivo) trazem pelo menos uma faixa instrumental, em geral fechando o álbum.

Poeticamente, a obra de LS é muito marcada pelo amor, ora cantado de forma romântica, ora em sua expressão mais carnal (em especial nos primeiros anos de carreira), ora focado no dia a dia a dois — são diversas canções dedicadas a Scarlet Moon (1952–2013), companheira do cantor por 28 anos. Além disso. o mais recente trabalho, o bom Pra Sempre (2019), é um ~álbum conceitual~ narrando o relacionamento com o atual marido, Clebson. Mas há também muitas letras lotadas de ironia, indiretas bem pouco sutis para personagens diversos e comentários sobre política e comportamento humano.

Em uma carreira que já entrou na quinta década (contando apenas os anos solo), altos e baixos são inevitáveis. Curiosamente, dos momentos de baixa (de popularidade) saem alguns dos trabalhos mais interessantes do cantor, como os pouco lembrados Honolulu (1990) e Liga Lá (1997). Depois do fracasso de vendas de Longplay (2007), Lulu chegou a declarar que não lançaria mais álbuns. Uma meia-verdade: na última década, soltou apenas dois LPs de inéditas. Compensou a desaceleração com álbuns-tributo a Roberto & Erasmo Carlos e a Rita Lee — escolhas conservadoras, com um olho no marketing e outro na homenagem sincera.

Não consegui encontrar uma relação oficial com todas as canções de Lulu. A lista a seguir foi compilada a partir da discografia publicada na Wikipedia, confrontada/complementada com o que há de disponível nos serviços de streaming. Então aí embaixo estão reunidas todas as músicas de todos os álbuns de estúdio + faixas lançadas em discos ao vivo que não foram regravadas em estúdio + uma ou outra encontrável apenas em singles ou em coletâneas. O que inclui as duas canções do compacto que ele lançou há 40 anos, inaugurando sua carreira solo ainda sob o nome Luiz Maurício. Remixes não foram considerados. Desnecessário lembrar, mas lembrarei assim mesmo: como nos rankings anteriores (Legião, Paralamas, New Order, R.E.M., João Gilberto, Weezer, Arctic Monkeys e Los Hermanos), a lista reflete unicamente minha opinião pessoal. A tradicional playlist no Spotify vai lá embaixo, no pé.

280) “Cyberia” — Instrumental ambient composto por Sacha Amback e Alex de Souza, faz um contraponto à energia dançante das outras faixas de Eu & Memê, Memê & Eu. Surge nesta posição porque, na prática, não é uma canção de Lulu (que nem participa da gravação). Aliás, o álbum todo (produzido muito rapidamente para dar prosseguimento ao sucesso de Assim Caminha a Humanidade) é repleto de caôs similares. O que não o impede de ser um dos mais legais na discografia do cantor.

279) “La Danza del Tezcatlipoca Roja” — Espaço aberto para o percussionista Ramiro Musotto apresentar uma composição própria ao berimbau, enfeitada com diversos samples e batidas eletrônicas.

278) “Chac” — Lembram de quando o drum’n’bass era o som do futuro? Lulu (& Memê) embarcaram nessa também, produzindo este simplório experimento em 1996. Isso rolou no disco Anticiclone Tropical, o terceiro consecutivo produzido por Memê. Àquela altura, a fórmula da parceria já mostrava sinais de repetição.

277) “Ando Meio Desligado” — Regravação equivocada da canção dos Mutantes. Afora o arranjo drum’n’bass genérico, os vocais forçadíssimos não convencem. Liga Lá, o álbum que inclui esta faixa, é o mais viajante da discografia de Lulu. Combina eletrônica, psicodelia, covers de MPB e viagens instrumentais — e nem tudo faz sentido.

276) “Fé Cega, Faca Amolada” — Mais um clássico da MPB submetido à eletrônica, de forma bisonha. É louvável o esforço de reinvenção, mas com esses timbres fajutos de 303 a coisa não progride.

275) “Televisão” — A nova versão — eletrônica e jocosa — do sucesso dos Titãs foi gravada para o humorístico Tá no Ar (rede Globo), em 2017.

274) “O Óbvio” — No Lulu Acústico MTV II, o astro cedeu o microfone para o baixista Jorge Ailton apresentar uma composição própria. Como esperado, a canção se parece bastante com um pop genérico de Lulu.

273) “Quetzalcoatl” — Lulu deu o nome de uma mítica serpente alada a este instrumental de Liga Lá. O título é mais interessante que a música — nada mais que um groovezinho funky de clima lounge.

272) “Como É Grande o Meu Amor por Você” — Em 2013, o cantor lançou o Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo, um daqueles “projetos conceituais” criados para reativar a carreira de veteranos. O caráter marketeiro da empreitada se confirmou na obviedade do repertório — e na participação de dois ex-membros do reality show The Voice (que proporcionou significativa visibilidade a Lulu, um dos jurados). Na recriação de “Como É Grande…” , o romantismo naïf da versão original é substituído por um clima de fim de noite, com vocais bem canastrões. A introdução assobiada é inexplicável.

271) “Emoções” — Desculpe, Lulu, mas faltou emoção nesta.

270) “Eu Te Darei o Céu” — O novo arranjo ficou entre o reggae e o blues.

269) “Sou uma Criança, Não Entendo Nada” — Aqui o registro fica próximo da sonoridade (tosca) do rock brasileiro dos anos 80.

268) “Festa de Arromba” — Versão pouco criativa na qual Lulu insere uma citação ao riff de “Johnny B.Goode”.

267) “É Preciso Saber Viver” — Transformada em um leve funk.

266) “Quando” — O rock jovemguardista vira um blues elétrico.

265) “As Curvas da Estrada de Santos” — Recriada ao estilo de uma baladinha pop-soul anos 50.

264) “Sentado à Beira do Caminho” — Esta talvez tenha ficado sóbria demais, desidratando o drama da gravação original.

263) “Não Vou Ficar” — Lulu não toma muitas liberdades em relação à gravação de Roberto.

262) “Minha Fama de Mau” — Mais semelhante ao registro original, com uma pitada de rhythm’n’blues para esquentar.

261) “Você Não Serve Pra Mim” — A mais ousada do tributo a Roberto & Erasmo. Lulu troca as guitarras em fuzz e o tom apocalíptico da original por uma marcante percussão funkeada e o vocal em falsete de Jorge Ailton.

260) “Xibom Bombom” — Lulu nunca negou o interesse pelos ritmos baianos. Na hora de regravar (em 2015) um, aham, clássico da axé, dispensou a percussão de samba-reggae e levou As Meninas para o baile funk. Divertido, descartável.

259) “Disco Voador” — Quatro anos depois do tributo a Roberto e Erasmo, o cantor arremessou outro projeto conceitual, em homenagem a Rita Lee. Como no anterior, rebateu a obviedade na escolha das músicas com um saudável ecletismo nas regravações. Segundo Lulu, de todo o repertório de Baby Baby! esta é a canção que mais se aproxima de suas próprias composições. A regravação ficou sem surpresas, porém simpática.

258) “Nem Luxo, Nem Lixo” — Mais uma canção de Rita que foi completamente tragada pelo universo estético de Lulu.

257) “Ovelha Negra” — A balada virou um reggae sacolejante… com batida afro-baiana.

256) “Alô Alô Marciano” — Assinada por Marcelinho da Lua, a produção não se distingue de tantos outros “remixes dance de MPB” que fizeram sucesso anos atrás.

255) “Paradise Brasil” — Menos conhecida das canções de Baby Baby, esta aqui mereceu uma roupagem house dada por Memê.

254) “Mamãe Natureza” — Um remake em estilo de blues rural acústico.

253) “Agora Só Falta Você” — Lulu e Sanny Pitbull refizeram o rockão em formato funk melody.

252) “Mania de Você” — Com um arranjo eletrônico minimal, substitui os improvisos vocais do original de Rita por um bom solo de guitarra.

251) “Caso Sério” — O estilo criado para esta versão foi definido como “tambolero”, ou a mistura do ritmo da versão original com o tambôzão funk (devidamente domesticado).

250) “Desculpe o Auê” — O próprio Lulu reconheceu a semelhança estilística com outros tantos clássicos seus ao estilo “bolero havaiano”.

249) “Baila Comigo” — O arranjo da recriação enfatiza a latinidade, e Lulu aproveita para encarnar um Santana. (O guitarrista, não o automóvel da Volkswagen.)

248) “Fuga Nº II” — A única dos Mutantes incluída em Baby Baby mistura um clima de soul brasileiro à doce psicodelia original.

247) “Influência do Blues (Vinheta)” — Interlúdio guitarrístico original incluído no álbum-tributo a Roberto & Erasmo.

246) “Boogaloop (Vinheta)” — Fechamento instrumental do álbum de covers dos “irmãos Carlos”.

245) “Blueseado” — Instrumental de inspiração blueseira (dã) incluído em Luiz Maurício. Bem-feito mas sem personalidade. Lançado em 2014, o disco buscava “pacificar” as diversas tendências pesquisadas por Lulu nos anos anteriores: o pop-rock de sempre, o batidão funk e a eletrônica lustrosa produzida por Memê.

244) “Fricção Científica” — A intro remete ao rock sulista norte-americano (“Sweet Home Alabama”, alguém?). A fricção é aquela mesma na qual você está pensando, com direito a gemidos lúbricos. Faixa menos “moderna” do álbum de estreia, Tempos Modernos.

243) “Moonsense” — Pouco mais longa que uma vinheta, este instrumental eletrônico abria Honolulu (1990) e anunciava que as incursões brazucas de Popsambalanço e Outras Levadas eram coisas do passado. O álbum não fez o sucesso que merecia, talvez por ter saído bem no meio da fase mais mutante de Lulu (o LP seguinte seria o roqueiro Mondo Cane).

242) “Astronauta (feat. Gabriel o Pensador)” — O título é enganoso, já que Lulu é o coadjuvante e Gabriel assume o protagonismo nesta faixa de Lulu Acústico.

241) “Gosto de Batom” — Funkinho que reafirmava o pendor black das primeiras composições. A letra é insinuante (“Vem pra cama que aqui tá bom”), mas o solo de sax soprano dá uma brochada no arranjo.

240) “O Ritmo do Momento” — O ritmo do momento (em 1983) era um pseudo-ska um tanto gaiato, sem letra (só tem uns gemidos e vocalises). Feita claramente para esticar o lado B do álbum ao qual empresta o título — produzido mais uma vez por Liminha e que consolidou no imaginário da nação a persona de Lulu como cantor-compositor.

239) “Bole Bole” — Esta canção não agrega muito ao repertório do álbum de estreia, apesar do refrão em falsete e das brincadeiras eletrônicas no arranjo.

238) “Esse Brilho em Seu Olhar” — Balada esquecível do segundo LP, com melodia pobrinha.

237) “Paz e Amor” — Indecisa entre o funk eletrônico e o pop convencional, tem melodia e letra nada memoráveis. Incluída no sexto álbum, Toda Forma de Amor (1988), no qual o cantor aperfeiçoou a artesania pop e o ecletismo do bem-sucedido Lulu.

236) “Aguenta a Mão” — Reggaezinho maroto não muito diferente do som feito pelos Paralamas no mesmo período. Tem, inclusive, uma ponte com sonoridade à la Police. O solinho de flauta aos 2:30 é tocado por Ritchie. Foi lançada em Tudo Azul (1984). Carregado de participações especiais (e de hits), o álbum fincou de vez a presença de Lulu nas FMs.

235) “Questão de Estilo” — Rock quadradão e acelerado, com uma alusão à jovem guarda (“Morrer de mal de amor já não é bem / Papo firme”).

234) “Bilhetinho” — A levada e a melodia remetem ao pop do anos 50, mas a instrumentação é puro r’n’b genérico e sintetizado. Não casa bem.

233) “É.O.Q.A.” — Popsambalanço e Outras Levadas foi saudado, em 1988, como o “disco brasileiro” de Lulu. Só que esta canção não é particularmente representativa da guinada. Tem uma melodia desconjuntada (em especial no refrão) e um arranjo eletrônico que não resistiu bem aos anos. Na letra, recados cifrados aos invejosos de plantão, aqui chamados de “vuduzentos”.

232) “Ton Ton” — Em parceria com Arthur Maia, Lulu retorna aos ritmos norte-africanos para fazer uma canção buliçosa e curtinha.

231) “Duplo Sentido” — Frenética e esquecível faixa do lado B (ou melhor, lado esquerdo) de Lulu. Foi o álbum no qual o cantor deu a volta por cima em 1986, depois do subestimado Normal.

230) “Hey Hey, My My (Into the Black)” — Certo, Lulu, todo mundo entendeu. Você estava fazendo um disco majoritariamente eletrônico e dançante (Assim Caminha a Humanidade), mas não queria que suas credenciais roqueiras fossem questionadas. Então você regravou um clássico de Neil Young… em ritmo de bossa nova. Todo mundo entendeu.

229) “Raiô” — Funk eletrônico que se perde entre as faixas de sonoridade similar em Bugalu. O LP de 2003 é o menos inspirado dos trabalhos produzidos por Memê.

228) “Chega de Dogma” — Em vez de recorrer ao tradicional número instrumental para fechar Bugalu, Lulu lançou mão de um techno de academia de crossfit, com letra minimal (que se restringe ao título da faixa). Som e letra pareciam um óbvio recado aos que ainda cobravam o cantor pela infidelidade à ortodoxia roqueira.

227) “Janela Indiscreta” — Confissões de voyeurismo neste roquinho de alta carga lúbrica. A mais dispensável das canções inéditas de Lulu Acústico.

226) “Circulando” — Blues instrumental que fecha o álbum Letra & Música. Para dar um ar vintage à coisa, ruídos de vinil velho foram inseridos na gravação.

225) “Hormônios” — Número instrumental que sumariza bem o estilo de Mondo Cane. Mais roqueiro que o disco anterior, Honolulu, foi rotulado por alguns apressados como “o disco grunge” de Lulu. Fracasso de vendas, gerou um único hit radiofônico (veja o número 23 desta lista).

224) “Rio Comprido Blues” — Dois anos depois de “Mojo” (ver logo abaixo), Lulu volta a apresentar um blues elétrico instrumental. Curioso, mas não casa com o clima do LP.

223) “Mojo” — Inusitada escolha para a abertura de Toda Forma de Amor: um blues instrumental, levado apenas na guitarra. O ouvinte desavisado poderia achar que se trata de um número de John Lee Hooker ou de Willie Dixon.

222) “Asa Branca” — Na virada dos anos 80 para os 90, Lulu estava em plena fase de redescoberta da brasilidade. A versão instrumental do cavalo-de-batalha de Luiz Gonzaga, fundamentada em synths e guitarras, simboliza bem a fase.

221) “Shani” — Depois das viagens de Liga Lá, Lulu resolveu buscar um caminho do meio no álbum seguinte, Calendário: convocou o parça dos anos 80, Liminha, para a produção, mas continuou a apostar em beats e programações. Este é o costumeiro número instrumental para encher linguiça/arredondar o conceito do disco. A combinação de guitarra, cítara e texturas de teclados soa bacana.

220) “Spydermonkey” — Uma brincadeira um tanto subversiva: o ritmo é de samba, as harmonias de teclados remetem à bossa nova de elevador e o dedilhado é na guitarra distorcida.

219) “Restinga” — Em Singular, Lulu mostrou um interesse particular em misturar samba e guitarras cheias de efeitos. Esta instrumental fecha o álbum com mais uma incursão por essa estética. No conjunto, trata-se de um disco definitivamente menor na carreira do cantor.

218) “Intoxicado” — O drum’n’bass já nem estava mais na moda quando Lulu e Memê arriscaram esse experimento híbrido, em 2003. Faltaram melodia e refrão.

217) “Domingo Maldito” — Rock ortodoxo, sem misturebas — e sem graça também — no qual Lulu proclama seu ódio pelos domingos.

216) “Singular” — Curiosa e não muito bem sucedida faixa-título do álbum de 2009. Une uma toada meio foxtrote a uma letra com métrica estranha.

215) “Seu Mal / Moon da Lua / Metal Leve” — Um falso medley unindo três ideias que decerto não foram julgadas dignas de ir pra frente por conta própria. “Seu Mal” até tem uma melodia legal, mas não combina com a estranheza de “Moon da Lua” (e seus vocais com tremolo). O “metal” da última parte, instrumental, é leve mesmo.

214) “Ninguém Merece” — Roquinho tolo e descartável lançado em Longplay. Entre beats e flertes com o samba, o álbum de 2007 não deixou grandes lembranças.

213) “Atropelada” — Outro experimento falho de Singular: uma boa linha de guitarra (aparentada à de “I Want to Break Free”, do Queen) é desperdiçada, usada como enfeite para uma melodia torta e pouco cativante.

212) “Graal” — Uma das menos interessantes de Assim Caminha a Humanidade, a despeito da percussão inspirada nos ritmos afro-baianos.

211) “Força do Destino” — Animado rock que abria Tudo Azul. Nesta faixa, o arranjo parece carregado demais (metais, baixo com slap) e falta uma melodia mais memorável para acompanhar o excesso de energia.

210) “Ronca, Ronca” — Rock à la Stones carregado de convidados (Rita Lee, Roberto de Carvalho, Erasmo Carlos, Evandro Mesquita). Jorjão Barreto incorpora Ian Stewart no piano, e Evandro faz a gaita blueseira.

209) “O Retorno do Maia Intergalático” — Intrigante por seus vocais falados e pela gaiatice da letra sci-fi.

208) “Tudo” — Tentativa de fazer uma parte 2 de “Como uma Onda”? Letra e sonoridade previsíveis.

207) “Cara Normal” — Quase reggae, quase balada pop, é notável por conter o mote original que inspirou a letra de “Tudo Igual”, lançada nove anos depois. O álbum do qual é uma quase-faixa-título, Normal (1985), foi o primeiro tropeço comercial. Ele dispensou Liminha, produziu o disco por conta própria e assumiu vários instrumentos… e alguns riscos que não foram bem recebidos pelo público.

206) “A2” — O lado B de Popsambalanço e Outras Levadas dispensava as misturebas tropicalientes da primeira metade do álbum e investia em canções pop mais ortodoxas. “A2” é um exemplo típico (e não muito inspirado).

205) “Ano Novo Lunar” — Outra canção de Tudo Azul aparentada ao som do Police. O título parece mais uma referência à amada Scarlet Moon.

204) “Um Dia na Vida” — Uma letra repleta de indiretas (“Negozinho não dá qualquer uma / Fica cheio de razão impune por aí”) e uma harmonia cheia de firulas não chegam a compensar a melodia, que não ata nem desata.

203) “Vicino” — O rock mais roqueiro de Popsambalanço. Lulu quase copia o riff de “Satisfaction” na abertura, mas faz um desvio antes de incorrer no plágio explícito. Os metais sintetizados prejudicam o arranjo.

202) “Submundo Vaticano” — Olha aí o elo perdido entre a fase da virada dos anos 80/90 e a parceria com Memê. Este funk-rock com toques eletrônicos foi lançado na trilha da telenovela Olho no Olho, em 1993. Hoje é uma das raridades no catálogo do cantor.

201) “Auto-estima” — De letra deprê e andamento arrastado, esta composição foi feita em 1994 e só veio à luz dez anos depois. Pela temática, caberia bem no repertório de Letra & Música.

200) “Deusa da Ilusão” — Ode a Scarlet Moon (“Selena que ilumina o céu”) com arranjo e melodia delicados. Gravada ao vivo, apresenta alguns leves deslizes na interpretação vocal.

199) “Nova Ordem” — A letra é mais interessante que a música (tudo soa meio artificial e estéril). Nos estertores do governo Sarney, Lulu apregoava que “Mais dia, menos dia vai chegar/Uma nova ordem que não vai mais tolerar/Nem abuso, nem mistificação”. Será que os versos “Considere-me um negro/Mais um na multidão/Que não esquece os dias de dor no pelourinho” seriam aprovados em 2020?

198) “Leia Meus Lábios” — Roquinho genérico oculto no lado B de Honolulu.

197) “O Rei do Iê Iê Iê” — Retorno a uma sonoridade mais típica em meio às brasilidades de Popsambalanço. Até o velho slide na guitarra ressurge.

196) “Rito Pagão” — Pop-reggae bobinho, olvidável.

195) “The Look of Love” — O cover do hit eternizado por Dusty Springfield quase adentra o território da música de barzinho. Ganha um toque de originalidade pelo uso liberal do vocoder.

194) “Dê um Rolê” — Versão OK para o clássico do repertório de Gal Costa. Scarlet Moon dá uma canja declamando o poema “As Sem-Razões do Amor”, de C. Drummond de Andrade.

193) “O Calhambeque” — Lulu nunca negou seu amor à Jovem Guarda, e explicita a influência nesta versão do cover famoso na voz de Roberto Carlos. Com uma batida programada e um arranjo esparso, diferencia-se da sonoridade mais rebuscada das outras faixas de Tudo Azul.

192) “Tempo em Movimento” — Um encontro entre dois “tempos”. A composição lançada em 2016 tem todos os traços de outras parcerias com Nelson Motta, mas a base eletrônica traz uma batida funk amaciada, que representa o Lulu do terceiro milênio.

191) “Esta Canção” — Balada acústica carregada de autocomiseração, pedidos de perdão e versos terminados em “ão”.

190) “Fulcio” — O “momento latino” de Singular é uma declaração de amor a um certo Fulcio. Pela interpretação vocal exagerada, provavelmente não é para levar a sério.

189) “De Cor” — Canção mediana com ritmo um pouco funkeado. Momento menos interessante em Letra & Música.

188) “SDV (Segue de Volta?)” — Cinquentão, Lulu demonstrava estranheza frente aos tempos de likes & dislikes das redes sociais. O som é um samba-funk eletrônico qualquer nota.

187) “Tempo Real” — Uma (entre várias) das canções de Programa na qual Lulu se limita à autoimitação. O álbum, lançado em 2002, não gerou grandes hits e sofre de uma homogeneidade excessiva nos arranjos.

186) “Sem Pressa” — Agradável mas sem personalidade, como boa parte das canções de Bugalu.

185) “Zazueira” — Concebida originalmente para um tributo a Wilson Simonal, esta versão injeta samba e funk pancadão na pilantragem composta por Jorge Ben em 1968.

184) “Michê (Chega de Longe Bis)” — Faixa eletrônica e funky de Luiz Maurício, vitaminada com canjas de Mr. Catra e Jorge Ailton. O arranjo e os vocais em falsete fazem lembrar Prince.

183) “Não Acredito (I’m a Believer)” — Esta versão em português do sucesso dos Monkees chegou a tocar bem nas FMs. A sonoridade se mantém fiel à da matriz, talvez para compensar o bem-humorado besteirol da letra (“Eu achei que o amor fosse mole / Algo assim feito um requeijão”, WTF?!).

182) “You’ve Got to Hide Your Love Away” — No disco ao vivo Amor à Arte, Lulu deixou sua beatlemania transbordar em duas versões. Esta aqui, comportada, segue a linha acústica da gravação original.

181) “Não Identificado” — Esta versão do clássico tropicalista, num registro delicado, foi lançada no álbum ao vivo Amor à Arte. O solo de sax, como (quase) sempre, é dispensável.

180) “Sem Nunca Dar Adeus” — Rock com um quê de latinidade (e outro quê de new wave tropical), foi incluído como bônus no álbum MTV Ao Vivo.

179) “Zerodoisum” — Poderia ser um samba-exaltação à cidade do Rio de Janeiro. Lulu optou em transformar a composição no momento mais eletrônico de Letra & Música.

178) “As Escolhas” — Em 2003, o hoje sumido Pedro Mariano estava com moral suficiente para compor uma parceria com Lulu. O co-autor dá uma canja na gravação lançada em Bugalu, uma balada soul genérica.

177) “Made in Brazil” — Homenagem ao rock brasileiro que abria o álbum Lulu Acústico (2000). A letra é mais imaginativa que a melodia/harmonia.

176) “Din Don” — Pseudobossa que providenciava um momento de leveza no álbum Letra & Música.

175) “Chico Brito” — O sambinha de Wilson Batista recebe ares eletrônicos e uma interpretação vocal cheia de maneirismos, que ressalta os irônicos comentários sociais da letra.

174) “Black and Gold” — Bossa nova com letra em inglês e um arranjo que toma feitio de r’n’b sofisticado.

173) “Delete” — Levada com bom balanço e uma letra engraçada, no manjado esquema “exorcizando os malas da minha vida”, contribuem para redimir esta canção de Bugalu.

172) “Seu Aniversário” — Uma canção de parabéns (?) embalada num r’n’b simpático e saltitante.

171) “Do Outro Mundo” — Se não fosse pelos vocais cheios de tiques & melismas, esta canção de 2002 poderia passar por uma faixa típica dos anos 80.

170) “Kryptonita” — Retorno às letras safadinhas do começo de carreira. Na sonoridade, peca pelo excesso de blips & blops que não compensam a melodia pobre.

169) “Demorou” — Funk-rock que poderia ter um pouco mais de peso. Não encaixa muito bem no repertório de Anticiclone Tropical.

168) “Vida Incomum” — Roquinho new wave que reafirmava a persona “normal” assumida por Lulu em seu quarto álbum.

167) “Eros e Tânatos” — Uma marchinha carnavalesca (!) com arranjo eletrônico que faz as vezes de alívio cômico no álbum Programa.

166) “Paraíso Perdido” — Esta é uma das várias faixas de Calendário nas quais o cantor dispensa a banda e deixa Liminha cuidar das bases eletrônicas. Acaba perdida entre outras tantas no mesmo formato.

165) “Dinossauros do Rock” — Rock latino gravado ao vivo em 1989. A letra previa que os dinossauros do rock “se tornarão combustível pra alimentar outra chama”. Depois de 30 e tantos anos, qual seria a visão do autor a respeito? Interessantes também são os versos “Os funcionários do rock / Batem o ponto na fama / Deitando em cama de prego / Pra esperar o Nirvana” — dois anos antes do estouro de “Smells Like Teen Spirit”. Coincidência ou clarividência?

164) “Melô de Amor” — Lado A do primeiro single solo. É exatamente o que diz na embalagem: uma “melô” lançada em 1980 quando o cantor atendia pelo nome de Luiz Maurício. Uma composição alinhada à estética do soul/r’n’b com sotaque brasileiro dos anos 70, regravada (e melhorada) em 2003 para o álbum Bugalu.

163) “Luca” — A passagem experimental de Programa. Sintetizadores e guitarras criam um clima dark, sublinhado pelo vocal cheio de efeitos.

162) “Língua Presa” — R’n’B meia boca lançado em Bugalu, com uma performance vocal brincalhona.

161) “Replay” — O groove é pesado e legal, mas a melodia desce quadrada. Na letra, estão de volta as insinuações sexuais típicas dos primeiros anos.

160) “Bolado” — Tudo certinho nesta faixa de Calendário — batida, arranjo, melodia. Mas não há elementos que a façam sobressair mais na massa de canções semelhantes feitas naquela época.

159) “Procedimento” — Samba de letra sombria e interpretação vocal dramática. Nota-se, pela construção da melodia e da harmonia, que Lulu estudou bastante as estruturas clássicas do gênero.

158) “Olhos de Jabuticaba” — Pop-rock de balanço bem brasileiro, a começar pelo título (repetido no refrão). O berimbau sampleado dá uma bossa extra ao arranjo.

157) “Jahu” — Jahu é o nome de uma empresa especializada em operação de andaimes de construção civil. A curiosidade inspirou esta divertida canção de 2003, que brinca com o fetiche feminino por “operários com torso de Van Damme” e imagina mulheres substituindo homens nas obras a céu aberto.

156) “Figurativa” — Mais uma homenagem à musa Scarlet Moon, desta vez lançada como faixa de trabalho de Programa. É um roquinho despretensioso, que mereceu um videoclipe bacana em desenho animado.

155) “Creio” — Talvez a faixa mais comportada de Liga Lá. Tenta recuperar a pegada melódica típica, com um arranjo que sugere, de leve, influências indianas.

154) “Amém” — Funkinho de letra ameaçadora em tom de desabafo (“Não me cerceia porque senão eu destempero! / E começo a escoicear, fico irracional”).

153) “Salto Fino” — Este funk suavemente sensual, uma parceria com Bernardo Vilhena, exibe Lulu contemplando uma certa heterodoxia de gênero (“Ser mulher é tão legal quanto ser homem”).

152) “Bonobo Blues” — Aqui, uma inusitada reflexão existencial: seria a raça humana melhor, se fossemos mais aparentados aos bonobos, em vez dos chimpanzés? “Descendemos do macaco errado”, canta ele de modo entristecido.

151) “Ny Popoya Y Papa” — No repertório de Normal, representava a faceta mais “anormal”. Sobre um ritmo afrocaribenho, Lulu grunhe, geme e mia e transforma a letra em uma virtual sequência de onomatopeias.

150) “Baby de Babylon” — Levou um tempinho, mas afinal em 2009 Lulu conseguiu reproduzir por conta própria o estilo de produção disco-house característico de Memê. Só faltou aplica-lo numa composição mais interessante.

149) “Orgulho & Preconceito” — A mais sincerona (“Só ouço verdades no que dizes / Só sinceridade”) das canções de Pra Sempre, combina um beat inspirado no estilo tambôzão com uma harmonia pop clássica.

148) “De Mi” — Insinuante composição (de Charly Garcia) com letra em espanhol. Aqui, as experimentações eletrônicas de Liga Lá funcionam bem, criando um clima próximo ao do trip-hop.

147) “Honolulu (O Havaí É Lá)” — Referência marcante nos primeiros anos de carreira, o som dos luaus havaianos voltava a inspirar Lulu em 1990. A atmosfera é meio jazzy, remete ao pop tradicional pré-rock’n’roll.

146) “Samba em Berlim” — Não é um samba, e sim um pop-rock funkeado. Lulu saudava a então recente queda do Muro de Berlim, num tom gaiato (“Arriou o muro arriou / Que permaneça sempre assim / Desmoronou o muro borocoxô”).

145) “Outro Papo” — Concessão à MPB tradicional em mais uma parceria com Nelson Motta. O jogo entre o violãozinho e o arranjo de cordas remete à sonoridade de Amoroso, de João Gilberto — um dos álbuns favoritos de Nelson. Contribui para ampliar o tom de indecisão estilística de Honolulu.

144) “Senta a Pua” — Tem um riff legal e um solo heroico (porém curto). Passa a impressão, todavia, de ser mais uma daquelas faixas medianas feitas para rechear o lado B (no caso, do álbum Honolulu).

143) “Cicatriz” — O refrão é rock, a levada dos versos é reggae, a letra é autodepreciativa (e ganha graça extra com a interpretação).

142) “Realimentação” — Um samba perdido no meio do disco mais roqueiro de Lulu. Mas não é sambão: tem uma pegada cool, meio jazzística, e uma melodia sinuosa.

141) “Perguntas” — Entre os questionamentos da letra, Lulu indagava em 1989: “Diz aí qual é a vocação? / País deveras / Ou projeto de nação?”. O som é inspirado em ritmos africanos, mas merecia um arranjo menos plastificado. Regravada em 2009 e convertida em um eletrofunk com guitarras em segundo plano e um vocoder no talo.

140) “Deixa Isso Pra Lá” — A obsessão com o funk carioca orienta a regravação do proto-rap de Jair Rodrigues. O tambôzão em loop ficou a cargo do DJ Mãozinha.

139) “Ele Falava Nisso Todo Dia” — A canção de 1968 de Gilberto Gil se transforma em um rock pesado, cantado de forma agressiva.

138) “Lá Vem o Sol” — Simpática (e fiel) regravação do sucesso dos Beatles, com letra vertida para o português. Outro hit do álbum ao vivo Amor à Arte.

137) “Vôo de Coração” — Há quatro covers de clássicos brasileiros em Liga Lá. Esta é a versão mais feliz (o original é um sucesso de Ritchie) do lote.

136) “Dancin’ Days” — Depois de tantos flertes com a disco, nada mais natural que (instigado por Memê), Lulu resgatasse a faixa-chave do estilo no Brasil.

135) “Tim Medley” — Para fechar Assim Caminha a Humanidade, Lulu fez um mashup de “Do Leme ao Pontal” e “Rodésia”. Memê gasta seu arsenal todo na produção, metendo samples de hip hop, quebradas de samba-reggae e stabs sintetizados.

134) “Gritos & Sussurros” — Esta faixa de Pra Sempre é bem old-school, com uma melodia bem costurada, a velha guitarra slide e os acordes menores polvilhados pela harmonia.

133) “Surreal” — O r’n’b orienta esta canção de Longplay. Lulu sensualiza na letra e nos vocais.

132) “Inestimável” — Retorno à sonoridade típica dos anos 80 em meio à modernidade dançante de Assim Caminha a Humanidade. Não se decide entre o reggae e a balada pop.

131) “Hoje em Dia” — Reggae que comenta com ironia a reação dos internautas ao anúncio público do relacionamento com Clebson Teixeira. Musicalmente, é um tanto pobrinha.

130) “Fogo Amigo” — Faixa menos inspirada de Luiz Maurício, prejudicada por uma melodia vocal meio capenga.

129) “Todo Universo” — Sem arriscar ousadias, aqui Lulu se esforça o suficiente para tramar uma melodia bonitinha e um arranjo que não atrapalhe.

128) “Lava-Jato” — Sim, o título se refere (de forma oblíqua) àquela operação da Polícia Federal. É um rock mid-tempo com melodia pouco memorável, compensada por uma coda instrumental vigorosa.

127) “Ser ou Não Ser (Véi…)” — Um blues despretensioso e clichêzento (com gaita e tudo) no qual Lulu chuta pra longe a ansiedade em relação ao amor.

126) “Nau dos Insensatos” — O arranjo é bem característico do som pasteurizado de Calendário e a letra é qualquer nota. O que redime o conjunto é o refrão.

125) “Um Vício” — Na faixa de abertura de Mondo Cane, Lulu compara o amor à dependência de drogas pesadas (cocaína, sem dúvida). Musicalmente, carrega vários dos traços harmônicos e melódicos tradicionais, atualizados para os padrões do rock do começo da década de 1990.

124) “Febre” — Disco-rock que se destaca pela produção de Memê; a composição é puro throwback ao Lulu jovial do começo de carreira.

123) “Navegadora” — Dedicada a Scarlet Moon, referência que fica clara logo no verso de abertura (“Rosa dos ventos lunares”). Poderia ficar mais bonita com um arranjo menos sintetizado.

122) “Boca a Boca” — A produção é bem assemelhada à de “No Time to Play”, hit do rapper Guru. Há, entretanto, sutilezas polirrítmicas na canção, entroncada entre o r’n’b eletrônico e o samba.

121) “Quae Sera Tamem (Savassi By Night)” — Instrumental bem acima da média das faixas que Lulu costuma enxertar ao fim de seus álbuns, com uma boa trama entre violão e sintetizadores.

120) “Sossego” — A clara inspiração para a recriação do sucesso de Tim Maia, lançada em 1995, é “Kiss”; até a voz de Lulu foi acelerada para chegar no falsete de Prince. Mas não é cópia pura: tem uns riffs de guitarra invocados e backing vocals gaiatos.

119) “Assaltaram a Gramática II (feat. Gabriel O Pensador)” — Dezesseis anos da original que gravou com os Paralamas, Lulu resgatou esta canção para uma versão própria, ao lado do então bombado Pensador. O reggae desconjuntado da primeira gravação virou um raggamuffin com exaltados vocais de Gabriel.

118) “Atualmente” — A mais pesada de Normal. A letra alude, com ironia, à (então) recente abertura democrática (“Atualmente / A gente pode dizer o que quer / Pode mas não sai de cima do muro”). O solo de sax é pura niuéive tropical.

117) “Bigorrilho” — Lulu leva a composição de Paquito, Romeu Gentil e Sebastião Gomes para um terreno distante da versão original de 1963 — virou um híbrido caribenho-africano, com participação de Oswaldinho do Acordeom.

116) “Imaginação” — Apesar do título, falta um pouco de imaginação à composição, que se parece com tantas outras de Lulu. Mas tem um pique legalzinho.

115) “Quero Minha Mãe” — Samba-funk sutil, no qual Lulu faz manha e pede à mãe “um antídoto “ para “Neutralizar toda essa cafajestada”.

114) “Sirigaita” — O termo meio pejorativo no título poderia ser questionado nos dias de hoje. O mais notável na canção é um ligeiro cacófato (“O teu jogo não me enjoa”) na letra.

113) “Duplo Mortal” — Um “chacundum” (expressão do próprio LS) de violão conduz esta macia canção de Singular, que se avoluma na hora do refrão.

112) “Se Não Fosse o Funk” — Com ênfase na parte “melody” do funk melody, Lulu transforma o original do MC Marcinho em uma balada acústico-eletrônica.

111) “Letra & Música” — No disco homônimo de 2005, Lulu buscava retomar o rock. Mas apesar da animação no som, no fundo o álbum tinha um tom tristonho. Na faixa-título, ele explicava como o sofrimento o inspirava (“Vez em quando eu sinto / Uma grande dor / Que se não me mata / Me faz melhor cantor”).

110) “Pra Sempre” — R’n’b manhoso que dava título ao álbum de 2019. Como todo o resto do disco, transborda de romantismo.

109) “A Mensagem” — Programa é um álbum que contém poucas surpresas. “A Mensagem” é uma delas: uma tentativa de rap sobre um arranjo de gingado discreto. A letra faz alusões a Gabriel O Pensador e aos Paralamas do Sucesso.

108) “E Então? (Boa Pergunta)” — Sambinha posto no fechamento de Mondo Cane, como que para limpar os tímpanos depois de tantas guitarras altas. Os versos “Jamais me esquecerei / Do gosto doce daquele caju/ Que você me deu” me soam com um certo duplo sentido.

107) “Walkpeople” — Esta bossa nova modernizada leva a grife de Marcos Valle (co-autor, junto a Ed Motta). Cantando num tom mais baixo que o habitual, Lulu dá umas escorregadas leves na afinação (uma raridade em sua carreira).

106) “Tão Real” — Singela canção de amor (mais uma) semiacústica de Pra Sempre. Foi a primeira composição da safra dedicada ao romance com Clebson Teixeira.

105) “Efe-se” — A letra é inspirada por “Fuck You”, de Cee-Lo Green (“E toda vez que o negão toma na cara um não / Ele bate ombros e diz ‘foda-se’”), o resto nem tanto: é um popzinho saltitante. O contraste é bacana.

104) “Propriedade Particular” — Samba daqueles de almanaque, carregado de passionalidade e drama. Lulu dispensa o violão e dedilha uma guitarra distorcida de leve, obtendo uma sonoridade interessante.

103) “Manhas e Mumunhas” — Neste blues-rock de Letra & Música, Lulu pondera sobre os altos e baixos da vida a dois. E conclui: “Já a agonia anestesia o que doía / Que a essa altura separar / Seria como carne da unha”.

102) “Lava” — A rapaziada d’O Terno foi convocada para dar um molho jovemguardista a esta canção pseudobrega de amor.

101) “Dopamina” — A comparação entre o amor e a dependência química (“Estou precisando de overdose”) retorna nesta canção de 2006, um rock com interpolações eletrônicas.

100) “Torpedo” — Mistura intrigante: a melodia é do refrão de canção pop anos 50, mas há um quê de marcha de carnaval nos versos; a batida é de roquinho new wave, mas o instrumento mais destacado é um ukelele.

99) “Radar” — Um bom refrão é o ponto alto da faixa de abertura de Pra Sempre.

98) “Futuro do Passado” — Meio esperançosa, meio pessimista, esta faixa pouco tocada de Toda Forma de Amor demonstrava preocupação tardia com a Guerra Fria.

97) “O Que É Bom” — Seria interessante ouvir como Lulu trataria este funkinho mid-tempo sem a produção de Memê. No contexto de Assim Caminha a Humanidade, ganhou ares de r’n’b urbano contemporâneo.

96) “Luiz Maurício”– Vinte e oito anos depois de “Minha Vida”, Lulu ensaia outra “canção-apresentação”, batizada com seu nome verdadeiro. A levada é dolente e a letra continha um prenúncio de nossos dias de fake news (“Não entendo de política / Não tive educação / O que não quer dizer que vá confundir fato com boato”). No álbum que leva o mesmo título da música, há também um remix de Memê que dá ar dançante à composição.

95) “4 do 5” — Instrumental notável por ser a primeira faixa lançada com a participação dos Paralamas do Sucesso após o acidente que quase matou Herbert Vianna.

94) “4 do 5 (O Sub Dub do Bi & D Ba)” — A versão “dub” do tema instrumental citado logo aí em cima é mais dançante e suingada que a gravação original.

93) “Drones” — Caprichado número instrumental de Luiz Maurício, combinando samba, funk, rock e r’n’b sob sutis intervenções eletrônicas.

92) “Na Boa” — A proposta aqui era juntar uma melodia bem à moda antiga e um arranjo bem à moda do século 21, com synths e programações. Ficou “boa”, sacaram?

91)“Leite e Mel” — Mais uma produção de Memê que cita explicitamente um hit alheio (“On Broadway”) na construção do arranjo. Até que cola.

90) “Boa Vida” — Samba-rock de letra engraçada e levada convincente. “O que você me dá não tem preço”, canta Lulu, com um jeito lascivo e hilário.

89) “Compaixão” — Uma melodia bem trabalhada e o característico timbre do slide recolocam esta canção em um terreno familiar. Fica a questão: por que Lulu escolheu cantar a palavra “poder” com um sotaque caipira?

88) “Máquinas Macias” — Funk rock pesadão, não muito distante do universo do Living Colour e/ou Lenny Kravitz e/ou Jimi Hendrix (citado no trecho “Let Lulu take over”, emprestado de “Fire”).

87) “Aquela Vontade de Rir” — Delicada balada composta por Hamilton Vaz Pereira e Zé Renato. Contrabalançando os muitos rocks de Mondo Cane, ganhou um arranjo muito suave, com teclados e violoncelo.

86) “Brasil Legal” — Na teoria é um samba (com uma harmonia que evoca “Aquarela do Brasil”), na prática virou um híbrido interessante que junta jazz e eletrônica. A guitarra havaiana (tocada por Liminha) está lá só para ninguém esquecer que é uma música de Lulu.

85) “Scarlet Moon” — Esta carta de amor à companheira de tantos anos não foi escrita por Lulu, e sim por Rita Lee (e traz todos os traços do estilo da autora naquele começo de anos 80). LS traz a composição mais para seu campo ao tascar um longo solo de guitarra.

84) “Sócio do Amor” — O estilo característico de produção de Memê, enriquecido por um naipe de cordas, resulta em uma das músicas mais legais do álbum Luiz Maurício. Há também um remix pancadão bacana, produzido por Sany Pitbull e Batutinha DJ.

83) “Tempo/Espaço” — Uma balada acústica com letra viajandona, que se transforma em um pequeno épico psicodélico — com dissonantes intervenções de cordas, metais e synths. Mais uma doideira bem-sucedida de Liga Lá.

82) “Parangolé” — Suingado samba-rock instrumental, que homenageia Hélio Oiticica no título. A boa levada de guitarra é complementada por slaps de baixo e aqueles stabs de Synclavier que, na época (1989), eram o suprassumo da modernidade eletrônica.

81) “Ahn-han” — Faixa instrumental que fechava Normal. Combinação interessante de guitarras pesadas e groove funkeado, costurado por uma batida programada. Entre as várias ousadias do disco, é uma das que funcionam melhor.

80) “Tempo/Espaço Contínuo” — A influência psicodélica que marcava Liga Lá tem seu ponto mais evidente na instrumental que fecha o disco, composta em parceria com o maestro e arranjador Rogério Duprat. Uma orquestra completa foi convocada para o tema, um dos momentos mais interessantes do álbum.

79) “Respeito” — Curioso rock latino temperado com metais em brasa. Lulu rasga a voz sem medo para interpretar a letra cheia de veneno — quem seria a(o) “homenageada(o)”?

78) “De Leve” — Versão traduzida de “Get Back” com uma harmonia bem modificada, atualizada para a new wave. A letra divertida e infame (“Chuchu era um cara…”) é parceria entre Gilberto Gil e Rita Lee.

77) “Cara Legal” — Indeciso entre o boogie-woogie e a pegada carnavalesca, Lulu jura que quer ser “um verdadeiro cara legal”. A bateria eletrônica deve ter parecido uma boa ideia na época da gravação. Já hoje…

76) “Chicana” — Uma gravação de 1983 que remete mais à década anterior; o baixão, levada e timbres lembram a disco music. Pra equilibrar, Lulu mete um solo pseudometal.

75) “Pé Atrás” — Outro dos rocks funkeados de Lulu. Arthur Maia gasta (quase) tudo o que sabe na linha de baixo.

74) “Eu Não” — Lulu atira para vários lados aqui. A levada combina samba e funk, há guitarras distorcidas em segundo plano e intervenções eletrônicas aqui e acolá. Regravada em 1999 no álbum Calendário e transformada em um pseudoreggae eletrônico meio safado, tramado por Liminha e Fábio Fonseca.

73) “Sinhá & Eu (Roadsong)” — Lulu narra uma viagem pelos Estados Unidos, acompanhado por uma certa “Sinhá” (Scarlet, decerto), embalado por um groove gostoso.

72) “Cadê Você?” — Pop-disco-funk com luxuoso arranjo de cordas, tudo bem típico da “fase Memê”.

71) “Fullgás” — Esta versão do hit de Marina Lima ganhou arranjo malandramente assemelhado ao de “Billie Jean”. O zoado improviso no sax foi fornecido por Milton Guedes. O conjunto soa ainda mais cool que a versão original.

70) “Pop Star” — Recriação eficaz do hit do João Penca (1985). O ritmo staccato dá um clima beatlesco à versão.

69) “A Lei da Selva” — Com esta incursão pelo pop dançante de influência africana, Lulu conquistou outro hit radiofônico em 1989.

68) “Gambiarra” — Este rock de 2006 brincava com a potencial confusão instigada no público, com a alternância entre tantos experimentos sonoros. “Oi, tudo bem/Não sei se você está me reconhecendo mas…”, cantava ele, ao mesmo tempo em que retomava a guitarra e trocava as programações pela banda, mais uma vez.

67) “Hyperconectividade” — Com um riffão dos bons, era uma concessão ao estilo mais tradicional, depois de três álbuns produzidos por Memê. Basicamente é um rock como os dos anos 80, só falta um tiquinho de molho…

66) “Contatos” — Boa melodia e uma harmonia bem tradicional posicionam esta canção acima da média do repertório de Longplay.

65) “Roleta (Irresistível)” — Rock ligeiro e de batida dançante. Típico do som mais direto e orgânico de Letra & Música.

64) “Sábado à Noite” — A versão original do sucesso do Cidade Negra era um r’n’b eletrônico bem cool, lançado em 1999.

63) “Aquilo” — Bom refrão e um arranjo vocal caprichado embelezam a composição. Pilotando as programações, Liminha tenta resgatar o clima das produções de Memê.

62) “Pipoca à Meia-noite” — O emepebista incubado que habita o coração do roqueiro ganha uma breve alforria nesta faixa de Anticiclone Tropical. Depois de uma intro dramática, vira um sambinha leve e divertido.

61) “A Coisa Certa” — Um bom groove embala esta faixa de Mondo Cane. A guitarra wah-wah é o ponto alto.

60) “Vai Entender” — Balada bem na linha “Brazilian soul”, remetendo muito aos anos 70. Lulu faz até mesmo o trecho falado, à la Barry White, entre wah-wahs e violinos.

59) “El Chupa Cabra” — Funk instrumental caprichado que fecha Anticiclone Tropical. Simplão e eficaz.

58) “Fogo de Palha” — Agradável (mas previsível) tentativa de unir a batida dançante da fase Memê com um pop-rock mais orgânico.

57) “Pop Coração” — Para enfeitar esta composição de 1989 — um canto tribal, minimalista — Lulu armou um arranjo de samba eletronizado. Combinado com a interpretação vocal, rende um conjunto surpreendente.

56) “Mala & Cia” — Samba-funk no qual Lulu dá um passa-fora em um(a) parceiro(a) folgado(a).

55) “Fevereiro” — Excelentes guitarras distorcidas (com picadas de microfonia) impulsionam este rock de 1992. Captei uma possível referência crítica a “Metal Contra as Nuvens”, da Legião Urbana (“Ar! é necessário respirar / Fugir debaixo dessas nuvens de metal /Ferro fundido, enxofre e fel”). Já o trecho que fala em “Fugir do lixo obrigatório da estação / Caras e cus na televisão” dispensa interpretações.

54) “Ecos do Passado” — Psicodelia tardia mas muito eficaz. Voz e guitarras carregadas de efeitos e uma linha de baixo bem beatlesca (que lembra a de “Rain”) dão conta do recado.

53) “Já É” — O single que apresentava Bugalu trazia de volta todas as marcas da dobradinha Lulu & Memê. Tocou bem em rádios e na TV, com mérito.

52) “Ro-Que-Se-Da-Ne” — Paródia perfeita do estilo do Ultraje a Rigor, com direito ao sotaque ôrra meu e ao estilo vocal ovo-na-boca. A descrição do encontro com “um diretor de gravadora” que “quer pegar no meu pau” (no meu não, no dele) rendeu à canção um veto da ainda vigilante censura federal… em 1986.

51) “Riding a High” — Em 1988, Lulu confessou que a inspiração para esta canção com letra em inglês era a tal “new bossa” feita por Style Council e Everything But The Girl. À parte o inesperado da premissa (um brasileiro recriando a recriação de um estilo brasileiro!), a ideia funciona bem.

50) “Foi Mal” — Com guitarras bem jangly e uma melodia de inspiração sessentista, esta faixa de Mondo Cane poderia ser um hit na parada indie britânica (se ganhasse letra em inglês, claro).

49) “Os Sobreviventes” — De melodia doce e letra sombria, fechava Popsambalanço e Outras Levadas. Os versos hoje parecem proféticos (“Cada hora que incendeiam um oceano / Fico morto de pavor de te perder / Cada página que estampa uma desgraça /… / Mas será possível que fechar os olhos / É o que vai sobrar pra nós por aqui?”).

48) “Mina de Prazer” — Bom groove, bem brasileiro e ao mesmo tempo universal, emoldura uma rara parceria com Péricles Cavalcanti. A percussão de Marcos Amma é o destaque.

47) “Tuareg” — O cover da canção de Jorge Ben (eternizada por Gal Costa) deu a chance para Lulu & Memê mesclarem influências de axé music à ambientação pseudoarábica do original. E deu liga.

46) “Aviso aos Navegantes” — O suingue manemolente desta faixa apresentou ao mundo Anticiclone Tropical em 1996. Agradável, mas menos empolgante que os singles dos outros álbuns em parceria com Memê.

45) “De Pé Junto” — Delicada e romântica canção de Anticiclone Tropical. Com os truques estilísticos de Memê sob controle, a melodia e as belas harmonias da guitarra sobressaem.

44) “Eu Sou Outro Você (E.S.O.V.)” — Pop-rock old-school, com todos os truques de melodia e arranjo pensados para laçar o fã do “Lulu tradicional”. Preste atenção à linha de baixo de Dunga.

43) “E Tudo Mais” — Feita de encomenda para o segundo Acústico MTV do cantor, traz uma daquelas combinações inconfundíveis de harmonia e melodia que garantiram tantos sucessos no passado.

42) “Cobra Criada” — Reggae de melodia macia e letra venenosa, direcionada aos fofoqueiros de plantão (“Gente esquisita /Normalmente incompetente/Fica pelos cantos/Fala mal de todo mundo”). Os efeitinhos dub na mixagem ainda soam convincentes.

41) “Twist (Disco)” — Não era nem um twist, nem uma disco, e sim um rascunho pós-punk que, lá pelo meio, continha uma quebrada meio bossa nova. Em conjunto com a letra, o som era um ataque de ironia pesada às “modernidades” britânicas cultuadas no underground SP/RJ.

40) “De Repente” — Esta faixa de Normal é redimida por um refrão excelente, daqueles pra levantar a galera. Nota bizarra: na versão do álbum disponível no Spotify ela foi trocada por “De Repente Califórnia”.

39) “Tesouros da Juventude” — O repertório de Tempos Modernos era dividido entre canções de amor e letras mais viajantes, narrando aventuras insólitas e situações meio surreais. Esta aqui está no segundo grupo. As guitarrinhas soam bem esquálidas.

38) “Telegrama” — A estética pós-punk engana, mas esta canção tem melodia e harmonia acima da média. Cerca de 30 segundos de solo de guitarra valorizam a obra.

37) “Adivinha o Quê” — Outro exemplo da “fase erótico-insinuante” de Lulu nos primeiros anos da carreira. O arranjo era muito, muuuuuuito “moderno”… em 1983. O balanço da levada latina, porém, ainda se sustenta bem até hoje.

36) “A Cura” — Se em Lulu os hits estavam todos concentrados no primeiro lado do vinil, Toda Forma de Amor inverteu a lógica: “A Cura” foi um dos três sucessos saídos do lado B do disco de 1988. Inegavelmente cantarolável, com seus “iê-iêeeees” e “na-na-na-na-nas” populistas ao extremo. A letra esperançosa é um consolo.

35) “Tudo Mais” — Espécie de suíte instrumental que progride a partir de “Tudo”, a faixa que a antecedia em O Ritmo do Momento. Destoa do estilo ensolarado do álbum, sugerindo inesperadas influências pós-punk.

34) “Brumário” — O solitário hit de Popsambalanço e Outras Levadas abria o disco e servia de carta de intenções da “fase brasileira” de Lulu. Um samba-funk de inegável simpatia, com seu riff jorgebeniano e um potencial para o sacolejo reconhecido até pela especialista Ivete Sangalo.

33) “Samba dos Animais” — O rei do pop se arrisca em um samba 100% ortodoxo (de autoria de Jorge Mautner) e, com sua habilidade típica, se sai muito bem. Ao violão, Nelson Jacobina, longevo parceiro de Mautner. O momento mais brasileiro do disco mais brasileiro de sua obra.

32) “Lua de Mel” — De volta ao “som dos mares do sul” que inspirou tantas canções naquela primeira fase. Percussão e slide guitar remetem a mais um luau imaginário, e Lulu capricha na sutileza para valorizar a bem construída melodia vocal.

31) “Condição” — Funk-rock que antecipava as experiências eletrônico-funkeiras da década de 1990. Incorpora vocoders e até uma tentativa de rap, num resultado bem impactante. A animada canja vocal no segundo verso é de Arthur Maia (1962–2018), e era um ponto alto nos shows daquela fase.

30)“Vale de Lágrimas” — Pode ser o último grande single da carreira do cantor, e já se vão 15 anos… É uma canção de sofrência, mas a letra tem versos com belas imagens e a interpretação vocal soa bem sincera.

29) “Sereia” — Mesmo em 1995, no auge de sua simbiose com Memê, Lulu não deixou de ser fiel às suas raízes. Esta parceria com Nelson Motta habita o mesmo universo sonoro e poético de “Como uma Onda” e “Lua de Mel” — e servia como um momento “orgânico” entre os samples e remixes de Eu & Memê, Memê & Eu.

28) “Demon” — Uma das preferidas da casa. Reggae maroto com letra em inglês (cantada com sotaque jamaicano!) que pregava, em síntese, que cada um tem seu demônio particular… e deve lidar com ele em particular. O arranjo arrisca, com propriedade, influências de dub. Não faria feio num disco dos Paralamas da mesma época.

27) “Tão Bem” — Outro (dos quatro!) hits de Tudo Azul, uma simpática quase-balada com letra meio romântica, meio safadinha. O onipresente naipe de metais empresta uma influência r’n’b ao arranjo.

26) “Casa” — Música de trabalho de Lulu, que já chegava espantando as recaídas esquizoides de Normal. O cantor celebrava a volta para uma “casa” metafórica que poderia ser o retorno ao sucesso radiofônico, ou apenas o reencontro com o pop energético e redondo dos três primeiros LPs. De todo modo, hit merecido.

25) “Areias Escaldantes” — Primeiro single sob o nome oficial de Lulu Santos, de 1982. Eficaz mistura de pop new wave, com acenos ao Police, e melodia de inspiração sessentista. Um template que seria reciclado várias vezes depois.

24) “Você Teima” — Agitado funk-rock com uma levada meio latina — ouvindo agora, me soou similar a “Low Rider”, do War. O refrão é daqueles grudentões, contagiantes.

23) “Palestina” — A canção mais surpreendente de Tempos Modernos, uma declaração de amor a uma sedutora guerrilheira palestina (!) embalada em uma melodia sinuosa. Por acaso ou não, precedia “Areias Escaldantes” na ordem do disco — outra música ambientada no Oriente Médio.

22) “Assim Caminha a Humanidade” — Atualizando a estética da disco music para os anos 90 e acrescentando um balanço bem tropical, esta canção botou Lulu na abertura da estreia da novelinha Malhação. (Acreditem, era uma grande vitória em 1994.) As cordas não apenas são de verdade; foram orquestradas por Lincoln Olivetti.

21) “Apenas Mais uma de Amor” — Meio perdida no repertório roqueiro de Mondo Cane, esta balada acústica foi o único sucesso do álbum. A riqueza harmônica e a doçura da melodia abafam as implicações da narrativa da letra, que desenha um amor platônico “que não tem a menor pretensão de acontecer”.

20) “O Descobridor dos Sete Mares” — Ao reciclar o groove de “Disco Inferno”, Lulu atualizou o sucesso de Tim Maia e consolidou a fórmula de sua “fase Memê”.

19) “Pra Você Parar” — Pouca gente lembrava da existência de Moacir Santos em 1990,quando Lulu inseriu a melodia de “Nanã” no riff de guitarra desta canção. A levada sincopada, a letra politicamente incorreta e o canto onomatopeico formam um conjunto irresistível, que merecia ter feito sucesso radiofônico.

18) “Brigas (Meu Benzinho)” — Power pop do bom que acabou ficando na lista dos hits menores do homem. Posso estar viajando, mas o pique acelerado e os teclados proeminentes me remetem ao Elvis Costello fase This Year’s Model.

17) “Se Você Pensa” — Lançado pela primeira vez na coletânea Rei (um tributo à obra de Roberto & Erasmo Carlos), este petardo marcou o início da colaboração entre Lulu e o DJ Memê. O cantor se deu muito bem ao adaptar seu pop rock à lógica dos beats & loops do produtor; a versão é distante tanto da gravação original quanto do estilo tradicional de Lulu. (Adoro o jeito como ele troca o verso “Vai ter que mudar” para um maroto “…Já sabe”.) Gravada também no álbum Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo, numa versão bem inferior.

16) “De Repente Califórnia” — Canção importante para definir a persona de Lulu em sua fase inicial, foi o primeiro hit de sua parceria com Nelson Motta. A letra pode se passar na Califórnia, mas a referência sonora é a música havaiana.

15) “Sincero” — Como descrito várias vezes nesta lista, uma das maiores virtudes de LS é fazer o complicado parecer simples. Nesta canção de 1985, ele não disfarça: a melodia é intencionalmente sinuosa e há várias quebradas na harmonia. A impressão é de que tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Menos imediata que as músicas de trabalho dos LPs anteriores, pode ter sido responsável pelas baixas vendas de Normal. Mas merecia ter tocado mais.

14) “Tudo Com Você” — Roquinho romântico midtempo que trazia mais referências beatlescas na harmonia. Como quase todas as faixas do primeiro disco, tem timbres early 80’s que hoje soam muito datados — o que não chega a ser um demérito. É enganosamente simples (note como o pré-refrão soa meio torto até hoje).

13) “Tempos Modernos” — A faixa-título do primeiro LP de LS nasceu clássica (apesar de “moderna”). Já trazia várias marcas registradas do hitmaker: o slide na guitarra herdado dos Beatles, a poesia coloquial mas sem chavões, a harmonia fácil de entender e difícil de acompanhar.

12) “Tudo Azul” — Faixa-título do terceiro álbum, carrega uma das mais marcantes performances de Lulu na slide guitar. Uma batida sincopada embala a melodia cativante. Também é importante por trazer um aceno precoce à brasilidade mais tradicional, ao incluir um break nordestinizado (“Eu nunca fui o rei do baião…”).

11) “Toda Forma de Amor” — Mais uma faixa-título, mais um hit. Um lick de guitarra inesquecível — quase uma marca registrada — se transforma em um la-la-la dos mais contagiantes. Emenda, sem costuras aparentes, nos versos que desembocam em outro grande refrão. Percebam também que, um ano antes de Renato Russo chutar a porta do closet com “Meninos e Meninas”, Lulu já arriscava um “Consideramos justa / Toda forma de amor”.

10) “Minha Vida” — Aos trinta e poucos anos, Lulu já se acreditava com estofo para compor uma balada biográfica. Mas seria biográfica mesmo? O tom melancólico, resignado e até cínico (“Hoje vendo sonhos / Ilusões de romance / Te toco minha vida / Por um troco qualquer”) parece pouco característico. O que não impede os versos de soarem 100% autênticos. O resultado foi outro dos estouros de Lulu, o álbum.

9) “Um Pro Outro” — Onde uns veem repetição e possíveis recaídas formulaicas, eu prefiro ver a cuidadosa lapidação de uma marca estilística. Se o cara tem a capacidade de fazer um refrão como este a qualquer momento, pra quê negar a própria natureza? Foi o quarto (é, quarto) sucesso a sair do lado A (ou melhor, lado direito) de Lulu — demonstração de momentum comercial/criativo poucas vezes vista no rock nacional.

8) “Como uma Onda (Zen-Surfismo)” — Primeiro e merecido mega-hit da carreira do homem, representa o pináculo da estética “luau-sessentista meets new-wave-brazuca” do começo dos anos 80. A filosofia “zen” da letra de Nelson Motta é clichê, mas não deixa de ser verdadeira por isso. Depois de tantas audições, ainda revela surpresas, como a sub-reptícia intervenção do bandoneon lá no fundo do arranjo.

7) “Tudo Bem” — Talvez para compensar a relativa estranheza de Normal, em 1986 lançou esta canção como single standalone; uma real volta à “normalidade” melódica e popíssima. É fácil ler na letra um comentário ressentido sobre a recepção fria dada ao LP anterior. Não tem problema, pois como o próprio Lulu lembra em mais um refrão lavador de almas, o amor cura tudo.

6) “Tudo Igual” — Tudo igual, mas tudo um pouco diferente também neste hit de 1994. Sobre uma melodia daquelas “fáceis”, o arranjo sequenciadinho providenciado por Memê dava ares de modernidade ao pacote. Era a reconciliação definitiva de Lulu com sua vocação para o suingue, com uma mãozinha providencial do produtor.

5) “Papo Cabeça” — Clássico instantâneo, com todos os elementos no lugar: o riff, a melodia, o refrão, os timbres. Chega a ser uma surpresa lembrar que foi lançada em Honolulu, disco que vendeu menos que o esperado e hoje figura meio esquecido na obra do homem.

4) “Satisfação” — O terceiro hit saído de Toda Forma de Amor também é o mais direto ao ponto. Contém os versos que resumem a obra do compositor: “As canções mais tolas/Tem os seus defeitos/Sabem diagnosticar/O que vai no peito”. A referência, segundo o próprio autor, é “Beatles safra 1966”, mas o pique faz lembrar mais os tempos do iê-iê-iê, e não a fase Revolver.

3) “Um Certo Alguém” — Um daqueles clássicos que consolidam uma carreira, definem um estilo e reafirmam um talento. Lulu sem truques, abrasileirando de modo muito pessoal o pop-rock dos anos 60 (há um quê de Byrds nos arpejos, outro quê de Beatles na harmonia). É tão familiar, tão onipresente, que chega a ser difícil encontrar algo para escrever a respeito dela. O melhor que pode ser dito é que, quase 40 anos depois de seu lançamento, ainda parece fresquinha e emocionante.

2) “Certas Coisas” — Ponto alto da longa parceria com Nelson Motta. Momento mais delicado dentro do frenético repertório do terceiro disco, resistiu muito bem ao tempo. A melodia e a harmonia tinham uma sofisticação rara para o pop brasileiro (ainda têm, na verdade). Lembro de tentar toca-la ao violão, usando uma cifra de revistinha vagabunda, e fracassar miseravelmente — anos mais tarde, conferi os acordes certos e eram ainda mais complicados!

1) “O Último Romântico” — Se Lulu tem uma canção-assinatura, é esta joia de 1984. Afinal, naquele momento ele era realmente o último romântico do rock brasileiro, entre concretos rachados e revoluções por minuto. Não é surpreendente perceber que a poesia descomplicada e muito verdadeira de Lulu sobreviveu muito melhor que a quase todos os seus contemporâneos — um estilo sintetizado aqui, numa letra que é uma verdadeira carta de intenções (e de filosofia de vida). Pra completar, uma emulação perfeita do estilo de George Harrison na inesquecível intro e o refrão mais glorioso daquela década. Dá até para perdoar o solinho de sax e tudo o que parece datado no som; o que toca o coração não envelhece.

A playlist a seguir não tem todas as músicas listadas acima. Os álbuns Singular e MTV ao Vivo não estão disponíveis na plataforma, bem como ou outra raridade (como “Submundo Vaticano”).

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Marco Antonio Barbosa
Telhado de Vidro

Dono do medium.com/telhado-de-vidro. Escrevo coisas que ninguém lê, desde 1996 (Jornal do Brasil, Extra, Rock Press, Cliquemusic, Gula, Scream & Yell, Veja Rio)