O que organizações e produtos têm em comum?

E como podem estimular ou prejudicar inovação?

Cali (Renato Caliari)
Tentaculus
3 min readJul 10, 2020

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Para mim, uma boa forma de enxergar uma organização é como um sistema vivo e complexo. Ao mesmo tempo, de forma simplificada, podemos enxergá-la como um grande produto, tendo suas próprias funcionalidades, bugs e complexidades.

Como no desenvolvimento de um produto:

  • É preciso conhecer o espaço do problema (problem space) e entender as necessidades das pessoas que deseja atender (todas colaboradoras). A partir disso você pode gerar um mapa de oportunidades;
  • É importante formatar as iniciativas com informações do espaço do problema, deixar explícitas as suposições e avaliar e mitigar os riscos com validações (product discovery) para observar os efeitos e saber se as iniciativas são as melhores formas de resolver os problemas, se são fáceis de usar, se as pessoas utilizarão, se encantarão as pessoas e se respeitarão seus valores.
  • É importante o cuidado na implementação de uma iniciativa (product delivery) e o acompanhamento dos seus efeitos.

Como em um produto:

  • Copiar uma “funcionalidade” da concorrência não é o recomendado. Sua organização tem um contexto — e cultura — diferente. Você acaba tendo “funcionalidades” desnecessárias ou que não atendem da melhor maneira o seu próprio público. Elas acabam demandando investimento de tempo e dinheiro, para ter algo ineficaz e muitas vezes prejudicial para o seu contexto.
  • A organização pode ter “débitos técnicos”, “bibliotecas desatualizadas” e “funcionalidades” que não atendem as necessidades. Com o decorrer do tempo, mais problemas são gerados e escalados por conta disso.
  • Muitas vezes encontrar a causa dos “bugs” não é nada simples. Mexer em uma funcionalidade ou fluxo pode impactar em outras partes e gerar outros “bugs”.

Por isso, é necessário ter atenção para criar um “sistema” fácil de manter, que permita adicionar e remover funcionalidades de forma simples quando necessário.

“Uma empresa é um produto: as pessoas que trabalham aqui sabem como usá-la? É simples? Complexo? O que é rápido, o que é lento? Existem bugs? O que está quebrado que podemos consertar rapidamente e o que vai levar muito tempo?” — Jason Fried (CEO da Basecamp) e David Hansson (CTO da Basecamp)

Princípios de desenvolvimento de software

Alguns princípios de desenvolvimento de software também podem ser aplicados numa organização:

  • KISS (keep it simple, stupid): Mantenha simples;
  • YAGNI (You aren’t gonna need it): Não adicione algo até que seja necessário;
  • EAFP (Easier to ask for forgiveness than permission): É mais fácil pedir perdão que permissão;
  • DRY (Don’t repeat yourself): Não repita a si mesmo. Cada porção de conhecimento em um sistema deve possuir uma representação única, de autoridade e livre de ambiguidades em todo o sistema.

Inovação

A inovação desse grande sistema — a organização — é essencial e precede a inovação de produtos e serviços.

Muitas empresas falham ao copiar e colar “funcionalidades” de outras organizações e investir seu tempo, conhecimento, atenção e criatividade apenas no produto final.

Copiam “funcionalidades” como avaliações de performance, processos de metas, decisões centralizadas, sistemas hierárquicos de comando-e-controle, níveis de gerências, burocracias pesadas, treinamentos pontuais e empurrados e várias outras coisas que muitas vezes não têm correlação — ou têm correlação invertida — com inovação, criatividade e resiliência.

Muitas dessas “funcionalidades” estão desatualizadas, possuem vários “bugs”, tornam o sistema lento, trazem mais prejuízos do que benefícios e tornam o sistema ainda mais complexo e difícil de manter.

Outras “funcionalidades” mais básicas e importantes nem mesmo são implementadas.

Com o tempo, as empresas percebem a dificuldade em inovar ou de agir em tempo hábil e, equivocadamente, acreditam que o problema é o produto final ou as pessoas.

Não percebem que possivelmente o maior problema são elas mesmas: como se organizam e se estruturam.

Quando o autor David Burkus foi perguntado que erro as empresas costumam cometer quando falam de inovação? Ele disse:

“O pensamento sobre produtos ou tecnologia. A inovação é maior que um produto ou uma plataforma tecnológica. E, na verdade, são as inovações para organizações e gerenciamento que precedem a inovação de produtos ou tecnologia de qualquer maneira. Grandes líderes não inovam o produto; eles inovam na [fábrica].”

Você deseja atualizar o “sistema operacional” da sua empresa, desenvolver um “produto” melhor para as pessoas ou fazer uma “depuração” (debug) de “bugs” atuais? Vamos conversar.

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