Crescer e amadurecer: encarando as pressões e o desconhecido

Parte 1

Gui Dutra
Textando
7 min readMar 16, 2018

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Desde criança eu dizia que queria me casar com 25 anos. Não sei em que época da minha vida eu passei a pensar assim, mas deve ter sido quando eu fiquei sabendo que meu pai se casou aos 25. Sempre que eu me lembrava disso, vinha em minha mente: “Tá aí uma boa idade pra se casar… Vou me casar com 25 anos!”.

Eu fui crescendo e essa vontade foi se reforçando a cada ano. Na realidade, não tinha nenhum motivo concreto, nada bem pensado e refletido para tomar uma decisão consciente. Eu simplesmente queria me casar com a mesma idade que meu pai se casou. Olhando hoje pra trás é possível perceber que, talvez, eu via meus pais com três filhos praticamente criados e eles ainda novos, com muito gás pra dar e conviver com a família, os amigos e a igreja. E acho que, inconscientemente, eu queria o mesmo pra mim e minha família.

E eu cresci, entrei na faculdade e no mercado de trabalho, comecei a namorar, me formei, noivei com 24 anos e me casei aos 25 (com a lindíssima e maravilhosa Daphne, que vocês já conhecem de outro texto que eu escrevi). E o mais irônico disso tudo é que, alguns meses depois de casado, eu descobri que meu pai tinha se casado com 26 anos, e não com 25! Eu nunca tinha parado pra fazer as contas da sua data de nascimento com sua data de casamento com minha mãe.

Mas antes de noivar e me casar, logo após terminar a faculdade, eu passei por uma pequena crise. Naquele momento da minha vida uma certeza que eu tinha era a de que eu queria me casar com a Daphne (nós ainda namorávamos na época). Porém, praticamente todos os meus amigos tinham morado fora de casa, e eu ouvia muito falar sobre o quão importante tinha sido pra eles viver essa experiência, de poder ter a liberdade de morar sozinho e cuidar do próprio nariz, de ter a responsabilidade de pagar as próprias contas, lavar as roupas sujas, cuidar da casa, etc etc etc. Muitos falavam, inclusive, sobre a relevância de viver essa experiência antes de se casar, quase como um pré-requisito para se chegar ao casamento mais maduro e mais responsável. Para “ajudar”, nesse mesmo ano em que eu me formei, quatro dos meus melhores amigos e a minha namorada estavam se mudando de São Paulo. Fosse por intercâmbio, fosse por estudos ou em busca de uma vida melhor, o fato é que eles estariam vivenciando essa experiência tão superestimada em minha mente naqueles dias: morar fora de casa.

Eu tinha uma certeza: queria me casar com a Daphne. E uma dúvida: será que eu preciso ter essa experiência de morar fora de casa antes de me casar? Eu inclusive tinha um dinheirinho guardado, mas que não seria suficiente para fazer um intercâmbio e também me casar logo depois. Se eu viajasse, demoraria alguns meses ou anos para que eu conseguisse recuperar minhas economias. Ou seja, naquele momento, viajar e morar fora de casa significaria demorar mais alguns meses ou anos para me casar. O fato de eu querer me casar com 25 anos não fazia a mínima diferença nessa crise, afinal isso era simplesmente um desejo que vinha da infância, nada muito sério. Eu ter me casado aos 25 foi pura coincidência.

Contei sobre esses questionamentos para um amigo experiente e casado, e me surpreendeu a rapidez com que ele me aconselhou: “Case! Se você tem certeza de que quer se casar com ela e tem condições pra isso, então case! Não tem porque esperar…”. E me surpreendeu também a minha rápida reação diante daquele conselho: “Mas eu me sinto tão imaturo pra isso…”. A verdade era que eu me sentia imaturo demais pra assumir essa grande responsabilidade que é se casar (e é mesmo!). E meu amigo completou:

“Que bom! É normal se sentir assim. Nós nunca vamos nos sentir completamente preparados para os desafios que surgem em nossas vidas, principalmente nessas fases de grandes mudanças ao entrar na faculdade, se formar, trabalhar, casar, ter filhos, envelhecer etc. E, na verdade, esse seu sentimento mostra o quão pronto você está para se casar. Me preocuparia se você dissesse: ‘Estou completamente tranquilo e preparado para me casar’, isso poderia mostrar uma arrogância e prepotência da sua parte. Mas você reconhecer sua incapacidade de dar esse passo tão importante em sua vida é o melhor caminho para que você coloque isto diante de Deus, confiando que Ele te capacitará. Lembre-se: é completamente normal se sentir assim, incapaz e imaturo. Mas você e a Daphne podem encarar esse desafio, e vocês vão crescer e amadurecer juntos. Vai ser uma bênção! E, claro, isso não o impede de estudar sobre o assunto, se aconselhar com pessoas mais experientes para que elas possam te ensinar valores importantes acerca do casamento, etc…”

“WOW! Que conselho!”, foi o que pensei após conversar com este meu amigo. É claro que ele falou isso tudo porque ele conhecia a mim e a Daphne, e entendia que nós poderíamos assumir esse compromisso. Se ele visse algo em nossas vidas que nos impedisse de casar, com certeza me falaria. E naquele dia eu decidi não viajar, esperar a Daphne voltar do intercâmbio e pedi-la em casamento logo que ela chegasse. Não quero menosprezar as experiências de meus amigos ou outras pessoas ao morarem fora de casa, saindo debaixo das “asas” dos pais. Não tenho dúvidas de que pode ser uma experiência incrível e de grande valor para o amadurecimento e crescimento de qualquer pessoa. Inclusive, meus amigos nunca tinham colocado esse peso de morar fora de casa como um pré-requisito para se casar, eu mesmo que colocava este peso sobre mim, pois eu me achava imaturo demais para casar. A pressão vinha de dentro, e não de fora. Por mais que eu falasse que queria me casar aos 25 anos, eu não tinha ideia do que era o casamento, sendo algo completamente desconhecido pra mim, e encarar o desconhecido gerava em mim medo e insegurança.

Isso tudo vale não somente para a decisão de se casar ou não, mas pode aplicar-se à diversas situações em nossas vidas. É muito comum que esses medos e inseguranças diante do desconhecido nos paralisem ou nos levem a tomar decisões erradas. Mas nem sempre. Às vezes eles podem nos mostrar que realmente precisamos amadurecer e melhorar um pouco mais em algumas áreas de nossas vidas. Às vezes pode ser preciso sim “viajar” antes de dar um passo em direção ao desconhecido. No meu caso, pensar em viajar e morar fora de casa era uma fuga do desconhecido casamento. Eu poderia muito bem encarar o medo e a pressão, e entender que eu deveria sim morar fora de casa antes de me casar. Mas eu não estava encarando de frente, eu estava fugindo, e não adiantava fugir. Quando eu encarei de frente o medo e deixei de fugir, eu entendi como deveria agir. A realidade é que, geralmente, esses medos e inseguranças estarão presentes, e precisaremos de muita sabedoria para reconhecê-los e assim discernirmos o que é melhor. Não é simples e não há uma receita mágica para obtermos este discernimento, mas com certeza a oração e conversas com pessoas mais experientes ajudam bastante.

E falando um pouco sobre a pressão que recebemos, tanto interna (vinda de nós mesmos) quanto externa (vinda de outras pessoas), confesso que recebi pouquíssimas pressões externas relativas ao casamento, mas sabemos que muitas pessoas não têm a mesma “sorte”. Tenho refletido muito sobre como nós, na maioria das vezes até sem querer (outras vezes querendo mesmo), colocamos pressões nas outras pessoas, em especial relacionadas ao casamento. Não vou me aprofundar neste texto sobre este assunto, mas eu gostaria de incentivá-los a refletir sobre isso… Você já parou pra pensar que algumas pessoas simplesmente não querem se casar? Ou que algumas pessoas até gostariam de se casar, mas não encontraram alguém com quem sentissem confiança de compartilhar a vida e os sonhos? Nossas brincadeiras têm sido saudáveis? Nossas conversas têm sido francas e sinceras? Nossas conversas e brincadeiras sobre casamento têm gerado mais intimidade e cumplicidade entre os que estão presentes ou têm gerado mais constrangimento e pressões desnecessárias? As pressões internas e externas que recebemos nós não podemos controlar. Mas as pressões externas que causamos nos outros, essas sim, nós podemos controlar. Façamos a nossa parte!

Graças a Deus (e ao meu amigo), essa foi uma crise que passei, mas uma pequena crise. Bastaram algumas conversas e semanas de orações direcionadas a isso para que eu pudesse perceber este meu medo e insegurança, e a pressão que eu colocava em mim mesmo. A certeza de que eu queria me casar com a Daphne, o reconhecimento da minha incapacidade para assumir o compromisso de um casamento e, principalmente, a confiança em Deus de que Ele me capacitaria, foram essenciais nesse processo de discernimento e tomada de decisão. Isso não quer dizer que as pressões (internas e externas) acabaram, nem que os medos e as inseguranças foram exterminados. Muito pelo contrário… A cada dia surgem novas pressões, novos medos e inseguranças. A cada dia novos “desconhecidos” se colocam diante de mim. Eu percebi que realmente é normal nos sentirmos assim, incapazes diante de novas fases com grandes mudanças em nossas vidas. Mas eu nunca mais me esqueci que esse reconhecimento de incapacidade é a oportunidade para que coloquemos isso diante de Deus, confiando que Ele nos capacitará, confiando que quando somos fracos, Ele nos faz fortes.

Essa foi a Parte 1 deste texto. Na Parte 2 vou compartilhar um pouco mais sobre essas novas pressões, inseguranças e medos que surgem em meio ao casamento, e como esta lição que eu aprendi me ajudou a lidar com eles.

[Leia a Parte 2 >>> ]

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