Como é trabalhar como Front-End Developer, por Fernando Daciuk

William Oliveira
Training Center
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11 min readMar 27, 2017

Esse post é parte de uma série de entrevistas para o Training Center sobre o que um profissional pode dizer sobre sua área de atuação visando mostrar para outras pessoas como é trabalhar no que fazem, esclarecendo para algumas pessoas se elas se dariam bem trabalhando na área ou mesmo só para mostrar para outras pessoas como é trabalhar com isso.

Essa entrevista foi enviada para o Fernando Daciuk, um desenvolvedor web com muita coisa legal para falar.

Introdução

Meu nome é Fernando Daciuk, tenho uma empresa de prestação de serviços — que em breve deve se tornar uma escola online (https://queroser.ninja) — onde eu dou cursos principalmente de Front-End. Hoje tenho 3 cursos: JavaScript, Git e GitHub e um de React em andamento.

Em alguns você pode usar o cupom de desconto do Training Center.

Também sou sócio no Zimp , uma startup que é um programa de fidelidade com novas propostas, diferente dos programas de fidelidade atuais. Estamos trabalhando fortemente para colocar esse projeto no mercado de uma vez por todas, e o que eu posso dizer agora é que estamos quase lá. Em breve, novidades. =)

Tenho também um blog, onde escrevo algumas besteiras de vez em quando, principalmente sobre JavaScript: http://blog.da2k.com.br

Informalmente, eu trabalho como desenvolvedor web desde 2002, e com front-end desde 2004.

Como você conheceu a área de Front-End?

Quando eu estudava no ensino fundamental — e isso foi há muuuuuuuuuito tempo atrás, acredite — eu sempre gostei de tecnologia. Tudo o que tinha botões me encantava. Naquela época, não existiam telefones celulares, — ao menos eu não tive acesso — e o que havia de mais moderno na época eram TVs de tudo coloridas, que tinham alguns botões e rádios toca-fitas K7. Quando minha mãe comprou o primeiro microondas, a primeira coisa que eu fui fazer foi ler o manual para saber o que daria pra fazer com aquele “monte de botões”. Parece brincadeira, mas eu descobri que dava pra travar as teclas e entrar em um modo “demonstração”, onde o tempo passava muito rápido, para demonstrar as funcionalidades do microondas. Apanhei algumas vezes por deixar o microondas nesse modo quando minha irmã tentava esquentar seu almoço.

Mas enfim, conheci computação no ensino médio, onde ganhei uma bolsa de estudos em um colégio particular, onde eu fiz um curso de Técnico em Informática. O primeiro contato que eu tive com programação foi no Quick Basic. Nesses 3 anos, eu aprendi programação desktop — quick basic, visual basic e delphi -, aprendi sobre sistemas operacionais — Windows e Linux -, e tive uma introdução à web e design — HTML, Corel Draw (era a versão 3 na época).

Lembro até hoje que, quando eu criava um quadrado no Corel, e tentava replicá-lo, copiando e colando, fazia um efeito animado para aparecer um ao lado do outro. Eu achava aquilo fantástico no início, mas depois descobri que não era um efeito, mas sim que o computador era muito fraco e não aguentava processar todos aqueles comandos de uma vez, então ele fazia aquele “efeito”. Enfim, foi divertido xD

Mas voltando ao assunto: com o passar do tempo eu pude perceber o valor da web: não era necessário um software específico para programar. Eu poderia usar o próprio “Notepad”. E para executar aquele código só precisava de um browser! E o mais interessante: o mesmo código rodava em QUALQUER SISTEMA OPERACIONAL! Aquela descoberta, pra mim, foi sensacional. A partir daí, eu decidi que iria voltar meus estudos para web, que aquilo ali deveria ser o futuro, não ficar fazendo softwares específicos para cada SO.

Enfim, pulei boa parte da história, mas acho que você entendeu meu ponto.

No ensino médio, eu aprendi ASP como linguagem de back-end. Como os sistemas do colégio eram windows, aprendemos a configurar um servidor chamado “IIS” que entendia o código ASP e “transformava” em código HTML para entregar ao browser.

Após sair do ensino médio, conheci a linguagem PHP. Sempre fui meio “do contra”, e sempre gostei de experimentar coisas novas. Queria porque queria usar Linux, pois era software livre. Ao conhecer PHP, era questão de honra aprender e não precisar depender de um servidor da MS pra rodar código para web, que deveria ser livre!

Até 2004 mais ou menos eu estudei muito sobre Flash. Adorava animações, e ainda era possível programar para gerar as animações usando AS2 e AS3! Era animal :D

Nessa época não haviam muitas referências, e eu nem pensava em pesquisar em inglês, então o meu maior amigo nesse tempo foi um site chamado “apostilando.com” — acho que esse site ainda existe.

Lá havia apostilas de tudo: HTML, JavaScript, CSS, Flash, Dreamweaver, etc.

O site do Imasters também era uma referência na época. Foi quando começou a surgir termos como Web 2.0, IE6 dando suporte full para CSS2, e quando eu comecei a me interessar por web de verdade. Eu fazia HTML somente no Dreamweaver, e só no modo visual. Eu queria ir para o modo código, mas tinha muito receio, não acreditava muito que eu iria conseguir fazer tudo o que eu fazia no modo visual.

Até que um dia eu resolvi deixar ele no modo código e comecei a estudar tag a tag de HTML. Encontrei também uma apostila de CSS, que me ajudou muito a dar os primeiros passos.

Sempre que eu tinha dúvidas, pesquisava algo de CSS e caía no site do maujor.com. Foi uma referência gigante pra mim nessa época. Toda dúvida de CSS sempre tinha uma resposta lá.

Meu maior desafio — e ainda é até hoje — é banco de dados. Nunca fui muito bom com SQL. Até que conheci bancos NoSQL. Facilitou, mas ainda assim não é meu forte. Por isso eu procuro focar meus estudos hoje na base do que eu mais gosto: frontend e backend.

Ao conhecer PHP, era questão de honra aprender e não precisar depender de um servidor da MS pra rodar código para web, que deveria ser livre!

Por você escolheu ser Front-End Developer?

Como eu já disse acima: escolhi trabalhar com web, não ser front-end em si. Percebi na época que web seria um caminho que teria vida longa, e acho que acertei =)

A maior parte da minha carreira com web foi sempre trabalhando como full stack, mas com foco maior em frontend.

Como foi o primeiro trampo?

Meu primeiro emprego na área foi apenas em 2009, em uma agência digital que hoje nem existe mais. Antes disso eu só fazia freelas e pequenos projetos, apenas para estudar. E sim, já fiz site para o meu tio, ou seja, já fui “sobrinho” xD

Já havia trabalhado como auxiliar de produção, designer gráfico, e editor em uma produtora de vídeos. Aprendi tudo o que eu sei pesquisando, tentando, quebrando a cabeça. Mas o empurrão que foi essencial para que eu pudesse chegar a esse ponto de pesquisar para descobrir as coisas por mim mesmo veio do meu primeiro estágio, em 2001, no laboratório de informática do colégio que eu estudei.

O meu chefe, o Sérgio (não lembro o sobrenome dele), que chamávamos de “Sérginho”, tinha seus dias de “chico”. Se ele chegasse no laboratório, entrasse na sala e fechasse a porta, já dava pra saber: não vá falar com ele que ele “tá de chico”. Era certo o chingão em quem aparecesse.

O meu trabalho nesse laboratório era dar suporte para os alunos que faziam o curso de TI. Formatar computadores, instalar softwares, sistemas, drivers, gerenciar rede, etc.. Resolver problemas dos computadores em geral.

Eu estava começando, quando o teclado de um aluno desconfigurou. Eu não sabia como resolver, e fui perguntar ao Serginho, bem nesse dia “do chico”. Quando eu perguntei o que fazer, ele olhou dentro dos meus olhos e disse: “Se vira!”

Eu me virei, fechei a porta e pensei: ferrou! Então eu fui para o meu PC e comecei a pesquisar como configurar teclado no windows. Encontrei em algum fórum alguém explicando como fazer, segui as instruções e deu certo! Eu havia conseguido!

Parece besteira, mas aquilo ali, pra mim, foi o que me libertou de depender de qualquer pessoa, e aprender a me virar por mim mesmo!

Claro que eu aprendi muita coisa com muitos colegas por onde eu passei, mas eu procurava não depender dessa ajuda quando eu tinha um problema. Antes de qualquer coisa, eu pesquisava e tentava resolver por si só. Se não encontrava a solução, aí sim eu chamava alguém, mas só depois de muita pesquisa, e tentativas sem sucesso.

Em cada empresa que eu passei, eu pude absorver conhecimentos diferentes: eu gostava de aprender e ajudar meus colegas. Se alguém tinha alguma dúvida, e eu não sabia resolver, eu pesquisava, encontrava a solução e levava até a pessoa. Esse foi o período que eu mais aprendi coisas novas.

Uma coisa que ficava na minha cabeça sempre que eu começava a trabalhar em um lugar novo, é o que chamam de “síndrome do impostor”. Eu me perguntava muito: “Será que eu sou bom o suficiente para estar aqui?”. Acho que até hoje, em várias situações, muitos de nós passamos por isso.

Eu aprendi a superar isso tentando relaxar, aprender com as pessoas, ficando sempre aberto a ouvir, aprender o que eu não sabia, e repassar o que eu sabia. Quando nós entendemos que não sabemos tudo, e aceitamos isso, essa sensação de “impostor” começa a ir embora, e você percebe que sempre tem que evoluir, e que as pessoas que estão à sua volta estão ali pra te ajudar, e para serem ajudadas. Por isso é um time!

O trabalho em empresas me ajudou muito a ter essa visão.

Quais são as skills de quem trabalha nesta área?

Para trabalhar com front-end é importante conhecer a base da web:

- HTML: apresentação;

- CSS: estilos;

- JavaScript: comportamento.

Ao entender como as três camadas funcionam, e como elas conversam entre si, é importante também entender como a web funciona. Estudar protocolos como o HTTP também é bastante importante.

Após ter essa base — não é necessário conhecer tudo a fundo — , comece aos poucos a estudar ferramentas que facilitarão o uso dessas tecnologias. Frameworks e bibliotecas JS são muito importantes também nessa área, mas o mais importante é entender de fato como elas funcionam. Ao estudar um framework ou biblioteca JavaScript, procure entender como ela funciona por baixo dos panos. Tente simular suas funcionalidades básicas, utilizando JS puro.

Dessa forma você começará a aprender JS mais a fundo, e começará a entender quais foram os problemas que levaram à criação dessas ferramentas.

O mesmo vale para bibliotecas de template de HTML e pré e pós-processadores CSS. Não adianta só conhecer uma ferramenta: entenda porquê ela foi criada, e quais problemas ela se propõe a resolver. Dessa forma você conseguirá evoluir muito nessa área.

Isso falando apenas em habilidades técnicas. É muito importante também ser curioso. Pesquisar e estudar bastante, participar de comunidades, etc. Essa é uma área em constante desenvolvimento. Se você achar, em algum momento, que já sabe o suficiente, e não precisa aprender mais nada, você fica pra trás. =)

Uma dica que eu posso deixar que me ajudou muito a fixar o aprendizado foi ajudar outras pessoas, principalmente em fóruns. Até hoje eu procuro fazer isso, principalmente quando quero aprender algo novo.

Leio a dúvida da pessoa, pesquiso sobre o assunto, tento entender o problema, e levo a solução daquele problema. Se a pessoa que estiver perguntando não for atrás para entender como o problema foi resolvido, e só copiar / colar a resposta, ela vai acabar se tornando só mais um “recortador de layout”, como dizem por aí. xD

Mas fazendo isso, você aprendeu um pouco mais!

Quais são os principais desafios da área?

Acredito que o maior desafio de ser front-end hoje em dia — principalmente para quem está começando — é a quantidade de ferramentas disponíveis. É difícil escolher qual a melhor, com tantas opiniões. Mas mantendo o foco sempre na base — HTML, CSS, JS — , você conseguirá seguir sem muitos problemas. =)

Existem muitas oportunidades no Brasil para se trabalhar como front-end, mas ainda faltam profissionais capacitados. As empresas têm valorizado aqueles que têm se esforçado para aprender de verdade a resolver problemas reais. Mais uma vez: você só alcança esse nível estudando e codando muito! Faça pequenos projetos open source, ainda que pareçam sem muito valor: um jogo, um site para um amigo, para um tio — se você não começar como sobrinho, como vai chegar a ser sênior? xD — pois o aprendizado de verdade vem com a prática. Pratique muito!

E estude inglês! A linguagem tem sido uma barreira para muitas pessoas. Muita coisa da nossa área você só irá encontrar em EN, então não deixe que isso seja uma barreira pra você! Existem muitas empresas fora do Brasil que contratam desenvolvedores brasileiros, ou para trabalhar remotamente, ou ainda para se mudar, onde a empresa ajuda em todo o processo de mudança.

Existem sim desafios, mas também muitas oportunidades =)

Quais são as principais recompensas da área?

Se você gosta de programar, só de fazer o que gosta já é uma grande recompensa. Mas além disso, se você for esforçado, pode ganhar muito bem, trabalhar remoto, ou em empresas que te valorizem como profissional, ou ainda fazer freelas. São muitas oportunidades.

A comunidade de front-end no Brasil e no mundo é gigantesca e super ativa. Empresas gigantes como Google, Facebook, Mozilla, AirBnB, etc., têm profissionais trabalhando constantemente para melhorar a cada dia esse mundo de front-end, principalmente em projetos open source, que estão disponíveis para qualquer pessoa interessada.

Você pensa em mudar de área?

Depende. Front-end tem muitas oportunidades: eu gosto bastante de programar, botar a mão em código mesmo, pensar em lógica, etc. Então o meu foco hoje é bastante em JavaScript, tanto no front-end, como no back-end.

Mas existem muitas oportunidades também se você gosta de design, UX, SEO, animações, jogos, música, etc.

Tem muita coisa que você pode fazer no front-end, mas eu recomendo ir além: aprenda algo diferente da sua área, não fique preso só em HTML, CSS, JS.

Conheça uma nova linguagem de programação, aprenda a desenhar, procure entender de servidores (DevOps).

Cada uma dessas coisas vai agregar na sua carreira como front-end. Seja especialista em front-end, mas não ignore as outras áreas. Não precisa saber tudo, mas tenha ao menos um conhecimento superficial de cada camada que vai afetar no seu trabalho como front-end.

Em resumo: o “depende” na resposta é porque você pode mudar de área dentro do próprio front-end. =)

Por que alguém deveria se tornar um(a) Front-End Developer

Se você não sabe ainda o que quer fazer da sua vida, experimente! Se você gosta de web e gosta de programar — mesmo que ainda não saiba — , e é curioso(a), você tem grandes chances de ser um(a) excelente front-ender.

Nem sempre no início da sua vida profissional você consegue se tornar o que sempre desejou. Tudo bem, hoje em dia é bem mais fácil conseguir um estágio nessa área para começar, mas nem todos têm essa oportunidade. Mas não desistir e seguir atrás do seu sonho com certeza vai fazer você chegar onde quer chegar!

Este foi um post sobre como é trabalhar como Front-End Developer, porém também temos sobre como é trabalhar como Consultor de TI, por André Baltieri, Coordenador de Sistemas, por Jhonathan Souza Soares, Quality Analyst Engineer, por Úrsula Junque, Full-Stack Developer, por Ana Eliza, Líder Técnico, por Elton Minetto, Back-End Developer, por Giovanni Cruz ou mais ainda sobre Front-End Developer, por Matheus Lima.

Confere lá!

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William Oliveira
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Engenheiro de software frontend, escritor do livro O Universo da Programação (http://bit.ly/universo-da-programacao), periférico e bissexual