Saindo de casa: parte 3 (morando na Europa)

Leonardo Pereira
Uma Pera
Published in
4 min readAug 21, 2015

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No começo da semana minha mãe deixou uma mensagem de voz na caixa postal do meu celular, mas, como eu não tenho mais créditos, só vou conseguir ouvir isso daqui a um ano. Julho era meu limite; dali em diante eu só podia gastar créditos, mas não colocar. Também foi assim com o vale-refeição e o Bilhete Único, que era mensal e passou a ver dinheiro pingado. Tudo porque, a partir de agosto, não faria mais sentido recarregar nada disso.

Em agosto eu iria para a Europa.

Tudo começou naquele segundo texto. Quando eu fui morar com a Laís (a namorada) a gente já tinha começado a fazer planos para passar um tempo morando fora do Brasil. E isso não é, de forma alguma, uma fuga do país; não fazemos parte da turma que acha que isso aqui não tem mais jeito, só queremos saber como é viver em outro lugar enquanto melhoramos nosso inglês.

Ainda não me lembro de quem partiu a ideia de juntar as escovas, mas certamente foi a melhor decisão que tomamos, uma vez que precisaríamos de uma pequena fortuna pra fazer o raio do intercâmbio.

Não que isso tenha causado uma influência muito grande na nossa rotina — tínhamos uma viagem a Nova York marcada para o fim de 2014, por exemplo; e, no começo de 2015, inventamos ir até o Chile pra acompanhar o Lollapalooza de lá. Isso tudo foi possível não porque somos ricos, mas porque, além de ganhar relativamente bem, nós também não temos carros, filhos ou altas prestações. As únicas contas vinham do dia a dia, não compramos mais nada grande, não reformamos o apartamento… estávamos economizando do nosso jeito, aos poucos. O plano era viajar em outubro, então até lá conseguiríamos a grana.

Só que o plano mudou

Em maio surgiu a notícia de que, a partir de 1º de outubro, todo e qualquer estudante que desembarcasse na Irlanda (nosso destino) teria direito a somente oito meses de visto. Nós queríamos o ano inteiro, então tivemos de decidir no dia em que saiu essa bomba: mantemos o plano e ficamos menos tempo ou damos um jeito de ir mais cedo e pegar a regra antiga? Os 12 meses venceram.

Aí, sim, começamos a economizar de verdade. E foi um inferno. Vendi um PlayStation 4 comprado na Black Friday de NY, vendemos sofá, geladeira, fogão, cama, cômoda, armário, máquina de lavar roupas, mesa, estante, furadeira, luminárias… Tudo que poderia render algum dinheiro foi embora. Uma vez fomos a uma festa de bicicleta, eu vendi a bicicleta na festa e voltei a pé pra casa. Também entregamos nosso apartamento e ficamos morando com a minha mãe, assim gastaríamos bem menos.

Fiz tudo isso com muito gosto, ainda mais porque fui percebendo aos poucos que os picadinhos, no fim das contas, davam um dinheiro absurdo. Só que eu também vendi meus livros, e isso foi triste demais. Foi ali que eu descobri que realmente estava afim de fazer a viagem, porque mandei embora até os primeiros livros que eu comprei.

Um adendo: antes da faculdade eu tinha lido UM ÚNICO livro inteiro na vida, por isso sempre faço levantamentos pra saber o quanto melhorei na minha média de leitura. Então, entendam: ver meus livros irem embora foi chocante, como se uma parte da minha história estivesse partindo pra sempre.

Mas essa era mesmo a chave de tudo. Uma parte da história havia acabado, chegara o momento de evoluir mais um pouquinho, de viver um sonho novo, fazer aquilo que eu definitivamente jamais imaginei que faria.

Os planos de cinco meses foram apertados em menos de três e, além do dinheiro, havia uma infinidade de coisas pra pôr em ordem: fiz mais de 30 exames médicos, tive de resolver problemas com a Vivo, Eletropaulo, imobiliárias; fazer procuração, mudar conta bancária, renovar habilitação, cancelar convênio. Queria ter dado um mês de aviso prévio no trabalho, só dei uma semana. Foi foda, meses malucos que até me fizeram desenvolver problemas de saúde (porque eu sou ansioso neste nível).

Estamos embarcando na próxima segunda-feira, dia 24. E este texto, mais do que contar o retrospecto do intercâmbio, também serve como início de uma nova parte na Pera. Olha lá na página inicial, tá vendo o link “Europa”? É ali que eu vou contar tudo o que é preciso pra fazer o que eu estou fazendo e também uma curiosidade ou outra que eu encontrar no Velho Continente.

Se estou nervoso? Não, estou em pânico. Mas é uma oportunidade única na vida e eu não quero deixar passar, então… que comece a aventura.

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