Saindo da zona de conforto

Cartas de um Flaneur — #008

Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira
5 min readMay 21, 2020

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Quando saí da casa dos meus pais, em Brasília, para vir morar em Itabira, foi um momento único na minha vida. Era uma mistura de sentimentos estranhos. Por um lado estava feliz com o novo desafio, empolgado com o que o mundo universitário e a vida longe das figuras reguladoras dos pais tinham a me oferecer; por outro lado, toda a insegurança de ter que me virar sozinho e desbravar esse novo ambiente desconhecido deixava meu estômago revirado.

A vida de um morador de república é um pouco desconfortável, a princípio, mas os laços criados são duradouros. Dividir quarto, ter que aguardar na fila pra usar o banheiro, esperar o outro acabar de comer para poder comer depois. Com o passar do tempo as coisas vão melhorando. Conquistar a suíte é o grande objetivo. Não precisar mais dividir quarto e ter um banheiro próprio é um sonho virando realidade. Quem sabe até adquirir uma TV para chamar os contatinhos pra assistir aquele Netflix.

O tempo vai passando e todo aquele desconforto do início vai se dissipando, mas não se esqueça, mudar é preciso. Uma hora acontece com todos nós. Por mais conflitante e desconfortável que pareça, as mudanças nos forçam a sair da nossa zona de conforto e buscar coisas maiores e melhores que antes não eram possíveis.

Em uma dessas conheci o conceito de ativos e passivos. Em resumo, ativos são bens que se valorizam e geram renda ao longo do tempo, e passivos são itens que geram custos, manutenção ou gastos. Ao me deparar com isso, percebi que os passivos são os responsáveis por gerar conforto. Seja uma TV maior, um carro ou um celular mais moderno. Já para eu conquistar esses ativos, deveria abrir mão de um consumo presente, para ter um consumo melhor no futuro. Entender isso foi determinante para mudar, totalmente, minha forma de pensar.

Dando continuidade à carta passada, gostaria e apresentar os elementos presentes na segunda caixinha que deve estar presente em um portfólio de investimentos, os ativos locais.

Assim como a minha história acima, para alcançar conquistas maiores é preciso sair da zona de conforto. Não adianta deixar o dinheiro parado na poupança ou se contentar com apenas a reserva de emergência da 1ª caixa. Entendo o medo e o receio de dar os primeiros passos no momento de investir em aplicações mais sofisticadas. Todos passamos por esse frio na barriga. Mas lembre-se, mudar é preciso!

Os ativos tupiniquins negociados em terra brasilis são de grande importância para compor nossa carteira de investimentos, pois são eles que irão agregar uma rentabilidade maior ao nosso patrimônio. Como visto anteriormente, os ativos são responsáveis por gerar renda e se valorizarem ao longo do tempo, por isso eles têm lugar cativo em nossos portfólios.

O interessante de possuir ativos locais é a capacidade que eles nos oferecem de diversificar nosso portfólio, promovendo uma maior exposição a diferentes setores da nossa economia. Para melhor entendimento, vamos dividir os ativos locais em dois grandes grupos, a renda fixa e a renda variável.

Começando pela renda fixa, temos alguns ativos interessantes para compreender. A renda fixa pública sugere que emprestemos dinheiro ao Tesouro Nacional em troca de uma rentabilidade mais atrativa aos nossos investimentos. Ela possui títulos pré-fixados e títulos atrelados à inflação. O nosso dinheiro será remunerado de acordo com a taxa contratada no momento da aplicação, e trará retornos ao longo do tempo necessário do investimento.

A renda fixa privada é uma maneira de emprestarmos dinheiro a bancos, instituições financeiras e empresas para financiar alguns projetos. A grande maioria desses títulos está atrelada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que nada mais é que uma taxa de juros negociada entre os bancos e toma como base a taxa SELIC. Há um artigo publicado anteriormente que comenta um pouco mais sobre essa modalidade de investimento.

Já na renda variável é possível obter retornos bem mais expressivos, mas com uma dose de risco bem mais elevada também. Alguns dos ativos mais comuns presentes na renda variável são ações e fundos imobiliários.

Ações são participações em uma empresa. Desta forma é possível receber proventos de acordo com o lucro que essa empresa aufere em determinado período, além de estar exposto à variação de seu valor de mercado. Fundos imobiliários, como o próprio nome já diz, são fundos cujo investimento é feito no setor imobiliário, com isso é possível adquirir uma cota desse fundo para se expor ao setor. Já fizemos um texto falando, especificamente, de fundos imobiliários, vale a pena conferir.

Existem algumas maneiras de investir nos ativos locais citados acima. Podemos fazer de maneira direta, ou seja, comprando títulos de dívida do Tesouro ou de empresas na física, e aplicando em ações e fundos imobiliários através da home broker da sua corretora. Ou podemos fazer isso de maneira indireta, delegando a escolha desses ativos a gestores qualificados através de fundos de investimentos.

Existem os ETFs (Exchange-Traded Fund), que são fundos passivos negociados em bolsa. A maioria dos ETFs acompanham índices, ou seja, uma cesta de ações ou títulos. Dessa forma é possível estar exposto a várias companhias através de um único instrumento, com uma taxa baixa, pois não requer nenhuma expertise do gestor responsável para replicar tais índices.

Já os fundos de investimento são alternativas interessantes quando o assunto é gestão de ativos. É possível ter uma carteira de investimentos diversificada, dependendo da capacidade do gestor de utilizar as ferramentas disponíveis para prover retornos satisfatórios ao longo do tempo. Existem gestores que operam apenas produtos de renda fixa, outros que só operam renda variável e há gestores que operam em ambos, conhecidos como multimercados.

Note que aqui não é um jogo de um OU outro, mas sim, um E outro. Você deve compor sua 2ª caixa do portfólio de investimentos com as opções apresentadas anteriormente. Cada uma tem uma função dentro da carteira e se complementam de forma a colaborarem com um bom retorno ajustado pelo risco disposto a correr.

Outra coisa que deve ser levada em consideração é, não se atentar somente à rentabilidade de algum ativo específico. Procure olhar para seu portfólio de investimentos como um todo. Tudo tem razão para estar ali. Desta forma levamos nosso portfólio a um outro nível. Com isso, não há apenas instrumentos de segurança e liquidez, como na 1ª caixa, mas incluindo os ativos locais presentes na 2ª caixa, já é possível vislumbrar uma formação de patrimônio mais robusta e crescente ao longo do tempo.

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Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira

Estudante de Engenharia de Controle e Automação e membro da UNIFEI Finance Itabira. https://medium.com/unifei-finance-itabira