Sympathy for the devil

Cartas de um Flaneur — #009

Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira
5 min readMay 28, 2020

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Retomando o assunto da carta #004 e da carta #005, gostaria de introduzir mais um viés cognitivo ao nosso hall de conhecimentos, o home bias. O viés local, como é traduzido, é a tendência que as pessoas têm de investir a maioria do seu portfólio em ativos locais, ignorando os benefícios da diversificação geográfica. Alguns creditam esse viés à preferência de investir no que lhes é familiar, ao invés de desbravar investimentos desconhecidos, mas será que isso é verdade?

A imagem acima é uma representação do mapa-múndi, porém o tamanho dos países está relacionado ao valor de mercado que este possui no mercado de capitais. Percebe-se que nossa grandiosa nação já não é mais tão grandiosa assim. O tamanho do Brasil se equipara a países como África do Sul, Índia, México e Rússia. Você teria todos os seus investimentos localizados em algum desses países?

Dando continuidade às ultimas cartas, vamos conhecer a terceira caixa que deve estar presente em seu portfólio de investimentos. “Please allow me to introduce myself”, ativos globais e proteções.

Respondendo à pergunta do primeiro parágrafo com outra pergunta. Será, realmente, que os investimentos lá fora são tão desconhecidos assim, e que os investimentos feitos aqui são tão familiares? Você, provavelmente, deve ter chegado a essa carta pelo Instagram, está lendo agora pelo seu Iphone ou computador, cujo sistema operacional é da Microsoft. Muito provavelmente deve ter feito alguma compra na Amazon, ou no mínimo já usou o Google para alguma pesquisa. Essas empresas, que são parte do seu cotidiano, são encontradas na bolsa de valores americana.

Ao fugir do home bias, temos acesso a uma imensidão de oportunidades fora das nossas fronteiras geográficas. Todas as grandes empresas do mundo estão disponíveis para ser sócio no mercado internacional. Mas não são apenas empresas, é possível investir no mercado imobiliário americano, em commodities e até mesmo em moedas estrangeiras.

As oportunidades são ilimitadas e bem mais desenvolvidas do que podemos encontrar aqui. É possível investir em novas tendências como o 5G, internet das coisas (IoT), foguetes espaciais ou até mesmo em empresas de cannabis. Os fundos imobiliários não estão restritos apenas a lajes corporativa, shoppings e galpões logísticos como a grande maioria do Brasil. É possível investir em data centers, florestas, casa da repouso, cassinos, entre outros.

Acho que já fui bastante claro com o que o mercado internacional é capaz de oferecer, mas não é só por isso que você deveria investir nele. Creio que a principal motivação para você ter uma parcela do seu portfólio de investimentos em ativos globais é o fato de esses ativos estarem dolarizados.

O nosso Real tem seus 25 anos. É a décima tentativa de moeda do nosso país, e por enquanto, a que mais teve sucesso. Já o dólar possui mais de 230 anos de existência, e é a moeda de reserva mundial. Acaba que o dólar funciona como uma proteção contra o real, e é sobre isso que gostaria de explicar um pouco. “If I don’t get some shelter, oh yeah, I’m gonna fade away”.

Se estamos pensando em compor um patrimônio ao longo do tempo, não adianta ter apenas os ativos locais. Os ativos globais serão responsáveis por dar uma maior diversificação aos nossos investimentos, reduzindo assim o risco da nossa carteira. Seja pela via cambial, pela diversificação geográfica, ou até mesmo por estar exposto em oportunidades de negócios diferentes.

Convenhamos que o mercado internacional é muito mais desenvolvido e temos que aproveitar dessa característica para proteger nosso portfólio contra qualquer uma das nossas fragilidades. Caso algo vá errado aqui, podemos contar com nossos ativos globais e com as proteções para reduzir os danos causados. Devemos então acender uma vela pra Deus e outra pro diabo.

A composição de um portfólio de ativos locais e globais proporciona essa dualidade. Talvez a mesma dualidade que o próprio Mick Jagger tenha. Por um lado é o líder de uma das principais bandas de rock, transgressor, enérgico e por outro lado é um cavaleiro da coroa britânico, ostentando o título de Sir. Talvez devemos aprender um pouco com ele.

Essa dualidade, recursividade ou até mesmo redundância é parte fundamental da própria natureza. Então por que não aplicar isso aos nossos investimentos? Se temos dois olhos, dois ouvidos, dois rins, dois braços e pernas, é para o caso de um falhar, ter o outro para compensar a tarefa.

Para ter acesso a esse novo mundo de investimentos é necessário ter uma conta em uma corretora estrangeira. Hoje o acesso é muito mais simples e qualquer pessoa com qualquer quantia é capaz de fazer esse movimento. Tendo aberto conta na corretora internacional de sua preferência, basta realizar uma remessa de dinheiro e com o saldo disponível em dólares é só aplicar.

Uma vez entendido isso, devemos alocar nossos recursos em ativos globais, da mesma forma que faríamos aqui. Escolher boas empresas para rentabilizar nosso capital, investir em REITs (Real Estate Investment Trust, os fundos imobiliários americanos) que possibilitem uma boa geração de renda de maneira resiliente e diversificada (e em dólar).

Compor nosso portfólio com commodities metálicas como ouro e prata também é uma excelente maneira de proteção e diversificação. Podemos até manter um caixa em dólar para aproveitar potenciais oportunidades.

Com essas 3 caixas da composição de um portfólio, já é possível vislumbrar um patrimônio sendo construído de maneira ponderada e diversificada. A presença de cada uma delas é fundamental para dar tranquilidade e robustez aos seus investimentos. Alocações locais e globais se complementam e se protegem. Devemos fazer essa simpatia para o diabo, pois, ele está sempre nos detalhes.

Pleased to meet you, hope you guessed my name!” 🤘

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Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira

Estudante de Engenharia de Controle e Automação e membro da UNIFEI Finance Itabira. https://medium.com/unifei-finance-itabira