Unicórnios invisíveis: quem são, onde estão, como achá-los.

Bruno Peroni
VC sem ego
Published in
4 min readNov 19, 2019
Buscando unicórnios? Que tal bons negócios?

A onda de otimismo generalizado no mercado de Venture Capital tem sofrido alguns abalos, que tem alertado muita gente para a importância da solidez dos fundamentos de um negócio, na hora de escolher um investimento promissor.

Infelizmente, em momentos de euforia, é normal que pipoquem em todo canto startups fundadas por empreendedores que desejam buscar um exit rápido e se livrar do negócio assim que for possível, “flippar” a startup.

Ou então empreendedores que são viciados em fundraising. Em um mercado com abundância de capital, pode realmente parecer tentador.

Na minha visão, dinheiro de fundos de VC serve para:

a. Financiar anos de fluxos de caixa negativos para o desenvolvimento de produtos complexos e altamente disruptivos, baseados em ciência; OU

b. Escalar rapidamente modelos de negócio que podem se tornar monopólios ou negócios bilionários, os famigerados unicórnios

Mas olhando bem, esses são casos bem específicos de negócios que possuem fit com fundos de VC. Existem muitos outros bons negócios que podem se beneficiar com smart money, mas que não se encaixam nessas categorias.

O que pode acontecer é o seu fundo de VC querer te “motivar” a percorrer esse caminho, pois é o que ele precisa para ter sucesso e gerar retornos expressivos para os investidores dele. Quanto mais capital se gerencia, mais agressivos devem ser os retornos.

No contexto de fracasso de unicórnios que até bem pouco tempo eram tidos como imbatíveis, como se vê no caso paradigmático da WeWork, fica evidente como a tese de criar um monopólio bilionário sempre pode dar errada, com altos custos para todos os envolvidos. Acredito que esses tipos de founders, “flippadores” e viciados em fundraising, não devem mais encontrar vida fácil em um futuro breve.

Bons negócios com pouco ou nenhum capital de risco

Ao contrário do que muitos empreendedores pensam, conseguir investimento de um fundo de VC não deveria ser o objetivo principal de um negócio. Essa é uma decisão responsável, que exige consistência do fundador e um planejamento bem articulado.

Existem muitas empresas que conseguiram prosperar com pouco ou quase nada de investimento externo. Esses casos denotam a solidez desses negócios, às vezes soluções simples, mas eficazes, para sanar alguma dor muito específica do mercado. Esses unicórnios invisíveis demonstram como atentar para a solidez dos fundamentos de um negócio, baseado em lucratividade e geração de caixa, pode ser um ótimo critério para decidir onde colocar o seu dinheiro.

É o caso do Mailchimp, por exemplo. Nos anos 2000, Bem Chetnust, co-fundador e CEO da companhia, viu-se diante da dor de uma grande quantidade de clientes da sua empresa de consultoria que gostariam de criar newsletter para seus negócios, mas não queria perder tempo e dinheiro desenhando todas as etapas do processo. Então, Chetnust decidiu construir uma ferramenta para automatizar o trabalho, criando a Mailchimp, um negócio de 400 milhões de dólares.

Ou seja, uma ideia simples de automatizar alguma etapa do workflow da sua empresa ou de seus clientes pode se tornar um negócio milionário, sem precisar de muito dinheiro externo, crescendo com recursos próprios. Nesse caso, lida-se com uma demanda pré-existente, uma zona cinzenta não colonizada por ninguém, o que não vai resultar na construção de unicórnios, mas que pode gerar negócios de dezenas de milhões, uma mina de ouro para investidores menores quando minimamente consolidadas.

Mercados de nicho, será que são realmente pequenos?

Outras empresas que iniciaram como startups e tiveram grande sucesso apostaram em nichos de mercado ainda não ocupados por grandes companhias. Quando se faz isso, evita-se uma das maiores causas de morte prematura de startups: bater de frente com grandes tubarões do mercado, com bem mais recursos à disposição para fazer seu negócio morrer precocemente.

Foi o que aconteceu com a Sparkfun, uma startup fundada por Nathan Seidle que funcionava no seu quarto de dormir, focada na venda de kits e componentes eletrônicos para engenheiros que desejavam explorar novos sensores e sistemas exóticos. Preenchendo o vácuo deixado pela RadioShack, a empresa emprega hoje 154 pessoas, faturando U$ 32 milhões por ano e continua crescendo.

É ou será um unicórnio? Não. É um bom negócio? Com certeza.

Negócios como esses continuam pipocando em muitos locais do mundo, principalmente no Brasil. São os chamados unicórnios invisíveis, que ainda não despontaram no mercado como startups de destaque. Encontrá-los é uma arte, que exige muita prática, mas, sobretudo, um bom mapa de fundamentos que oriente a tomada de decisão do investidor.

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Bruno Peroni
VC sem ego

Venture Capital, Inovação e Startups; VC @ Astella ; Host @ A Virada Podcast