5 desafios da pandemia para criadores de conteúdo: #weweInsights do 2º dia de YouPIX Summit

Cláudia Flores
wewe
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7 min readSep 3, 2020

Vai ter resumão hoje sim (e algumas tretas pairando no ar)

Reprodução da palestra “Da aceleração à sincronicidade”, do Gustavo Nogueira/ YouPIX Summit

O segundo dia do YouPIX Summit 2020 — evento sobre criação de conteúdo e influência da YouPIX — parece ter deixado a galera bem animada, mas não sem momentos de forte reflexão.

Teve umas palestras que meu pai amado o que foi isso

Seguindo a ideia de trazer um resumão de insights, estilo o que fizemos ontem, listamos 5 desafios que a pandemia trouxe para todxs que produzimos conteúdo digital — incluindo marcas, creators, agências, etc. — e que provavelmente vamos levar algumas edições de YouPIX Summit para tentar solucionar.

Senta que lá vêm tretas.

Desafio #1: Lidar com o excesso de informação e o impacto sobre nossa saúde mental/emocional

Painel mediado pela Dani Arrais, com Matheus Ilt, Sue Coutinho e M.M. Izidoro / YouPIX Summit

O primeiro painel do YouPIX Summit hoje discutiu saídas para a infoxication termo que define a relação tóxica que muitas vezes criamos com o excesso de informação que se produz e consome nos meios digitais.

Um dos caminhos para se lidar com esse desafio foi citado pelo apresentador Matheus Ilt: o slow content, movimento que propõe uma produção de conteúdo num ritmo mais sustentável do que a alta frequência exigida pelos algoritmos das redes sociais.

“Eu sempre fui uma pessoa que desapareceu [das redes sociais]. Quem me conhece sabe que quando eu estou focado em um trabalho, não consigo fazer mil coisas ao mesmo tempo. Sempre adotei o slow content.”

A dúvida é: como lidar com a pressão de estar sempre online e disponível quando se trabalha com canais digitais? Um dos comentários que eu mais me identifiquei veio do creator M.M. Izidoro:

“Eu odeio o Whatsapp . A gente tá fazendo conteúdo, a gente não é médico, ninguém vai morrer se o conteúdo não entrar em tal dia ou tal horário.”

No fundo, todo mundo sabe que ninguém vai morrer, mas ainda é difícil estabelecer limites e horários para estar “offline do trabalho”. Especialmente porque trabalho e vida pessoal estão cada vez mais nos mesmos lugares.

💡 Dica de Livro sobre esse assunto: Sociedade do cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han

Desafio #2: Equilibrar a busca por resultados com momentos de descompressão offline

Esse desafio é uma treta na mesma linha que a anterior. Se criadores de conteúdo usam a internet o tempo todo para trabalhar, o que eles fazem no tempo livre? Isso mesmo, ficam na internet.

Brinks. Mas vai dizer, não é real?

Assisti a duas palestras hoje apresentadas por redes sociais: uma sobre “Como criar um Reels”, pela Julia Basseto do Instagram, e outra sobre “Marcas Creators”, com o Alex Silva do YouTube. Ambas super úteis, com foco em produção e performance. Mas eu só pensava: ESTAMOS LASCADOS.

Acompanhem comigo por que:

No Instagram, o recomendado pela própria rede social para crescer em visibilidade e engajamento é produzir por dia, no mínimo, 1 post no feed, de 5 a 10 Stories, mais 1 IGTV por semana, 1 live por semana e testar também o Reels para vídeos de 15 segundos. Sem contar a parte de criar estratégia, planejamento, criação, produção, gerenciamento e interação nos comentários, criação de campanhas de mídia, e assim por diante.

Só de ler já tô exausta, vocês não?

No YouTube, o recomendado pela própria rede social é criar, produzir, editar, e publicar vídeos com a frequência maior quanto for possível, com thumbs atrativas, títulos otimizados, palavras chave, atualizar a aba “Comunidade” para se comunicar com os inscritos e ainda criar Stories para YouTube. Sem contar a variação de formatos para diversificar o conteúdo, criar estratégia, postar o vídeo, responder comentários, impulsionar posts, analisar performance, e por aí vai. Alguém me passa um ansiolítico, por favor.

O desafio é real, e a busca é de todo mundo que produz conteúdo, mesmo as grandes marcas e os grandes influenciadores. Existe uma enorme pressão por resultados, mas como saber o limite de parar e sair um pouco para realmente se desconectar?

Os atores, roteiristas e humoristas Eduardo Sterblitch e Marcelo Adnet, que estão produzindo seus quadros de humor em casa durante a pandemia, também falaram hoje no YouPIX Summit sobre o impacto desse momento sobre a nossa saúde mental. Ambos trouxeram um ponto bem interessante: muita gente usa o trabalho de criação como forma de extravasar dores, angústias e ansiedades. Eles próprios afirmaram que criar e produzir conteúdo tem sido a forma que encontraram de lidar com as frustrações e incertezas de uma pandemia.

Por isso, gente amiga, vamos respirar fundo: não tem como a gente se cobrar respostas nesse momento.

Desafio #3: Entender o papel de cada canal em uma estratégia transmídia

Palestra do YouTube “Marcas creators”, do Alex Silva / YouPIX Summit

Esse desafio tem muito a ver com as estratégias e objetivos de comunicação das marcas e creators: por que usamos os canais digitais que usamos?

Cada canal tem seu próprio papel, suas premissas e uma longa lista de to do’s— como vimos ali em cima o exemplo do Instagram e do YouTube. Quando se cria uma estratégia transmídia, com diferentes canais que se complementam, a produção de conteúdo precisa ser consistente e ter profundidade em todos os canais escolhidos, caso contrário conversa não se cria, não se estabelece.

Os criadores de conteúdo hoje são as maiores referências em entender as particularidades de cada canal e seus públicos, por isso as marcas buscam essa lógica creator para suas produções.

Exemplos de marcas creators que foram citadas na palestra do Alex Silva, como cases: Ikea, Sephora, Lyft, Magazine Luiza, Mundo da Menina by Pampilli, Coisa Nossa, do Guaraná Antartica, Sallve, Holistix, XP Investimentos, Sebrae, entre outras.

Questionamentos da palestra “Marcas creators”, do Alex Silva / YouPIX Summit

Desafio #4: Aceitar que estamos vivendo em uma sociedade em transição

Sem dúvida, a palestra que mais me impactou até agora (e acredito que a muita gente) foi a do idealizador da Torus–Lab do Tempo, Gustavo Nogueira: “Da aceleração à sincronicidade — Mudanças no espírito do tempo que marcas e creators devem observar no agora”.

Essa palestra ganhou um resumão próprio feito pela Terena Miller, mas para resumir aqui: estamos vivendo uma transição social, econômica e ambiental caracterizada por uma crise do tempo. Segundo Gustavo, é um ciclo que se retroalimenta: aceleração tecnológica → que leva à aceleração da mudança social → que leva a uma aceleração do ritmo de vida → e o ciclo então recomeça.

Palestra “Da aceleração à sincronicidade” / YouPIX Summit

O tempo para a sociedade, que no passado era tido como algo fluido, começou a ser medido, e na Revolução Industrial passou a ser forçadamente acelerado até se tornar de fato um produto de nossos tempos.

A mensagem principal da palestra é aceitarmos o desafio de viver nessa mudança de era, criando novas relações com o tempo e promovendo nós mesmxs a transformação que queremos viver. Uma utopia, ou melhor, Uchronia.

Para quem quiser assistir à palestra completa, vale a pena:

Desafio #5: Incorporar a fluidez do ambiente criativo

Já que falamos em fluidez, fica mais um desafio aqui: desapegar da era de prever grandes tendências para o futuro.

As mudanças estão acontecendo agora, e a cada segundo novas tendências estão sugindo ao nosso redor no universo digital. O ambiente criativo não pode ser controlado, as pautas podem cair, as campanhas podem mudar e esse é o nosso novo momento: adaptação e, mais ainda, resiliência.

Esse foi o tema do painel “O mundo parou, mas o branded content não”, papo bem inspirador desse segundo dia que basicamente falou sobre as mudanças que vieram para ficar a partir da pandemia.

Mediado por Tainá Saramago, com Marcela Ceribelli, Mariana Rosalem e Débora Dauanny

Para a CEO da @obviousagency, Marcela Ceribelli, o conteúdo mais responsivo diante do comportamento social está entre as mudanças que vieram para ficar. É ser empático em tempo real com quem te segue através do conteúdo, entendendo em que momento as pessoas estão para recebê-lo.

Outro ponto de mudança geral foi a adaptação que as marcas tiveram que fazer devido ao isolamento social: as produções de conteúdos e campanhas — antes com budgets mais altos e produções mais complexas, passaram a ser mais simples, ao estilo dos próprios creators, com destaque para a estética ~desproduzida~ do TikTok, cada vez mais consolidada com a pandemia.

Criar com menos orçamento talvez seja um desafio pela frente para marcas, agências e influenciadores. Para a Head of Branded Content da Natura, Mariana Rosalem, os resultados da marca, mesmo com essa mudança, foram positivos, com destaque para as campanhas com creators, como a do Dia dos Pais com o Thammy Gretchen, uma das mais comentadas de agosto.

O aprendizado que ficou desse e de outros paineis foi: é preciso praticar a verdade (vale para marcas e pessoas), se posicionar de acordo com seu propósito e incorporar a fluidez do momento ao processo criativo, entendendo as transformações que vêm — e as que ainda virão.

Curtiu o resumão? Voltamos amanhã com mais insights quentinhos do terceiro dia. Sem mais tretas dessa vez, prometo.

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