Os Melhores de 2022 — Editor (André)

os melhores discos lançados em 2022 na opinião do editor André Salles

André Salles
You! Me! Dancing!
10 min readDec 22, 2022

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10 Beach Bunny — Emotional Creature

Em meu rascunho original dessa lista, outro álbum estava aqui e Emotional Creature havia ficado de fora. Esse fato começou a me incomodar tanto que aqui está Emotional Creature. O segundo álbum do quarteto Beach Bunny mergulhou fundo no pop punk beirando o emo, com uma acessibilidade maravilhosa e uma produção muito mais polida e interessante do que seu ótimo debut Honeymoon. Um álbum cujo impacto em minha vida pessoal foi se mostrando ao longo dos meses, Emotional Creature é um disco completo. Doce e leve do começo ao fim mas sabendo tocar em tópicos sérios como saúde mental de uma forma sutil, o segundo trabalho do Beach Bunny mostrou que a banda está em uma constante evolução e maturação. Fora que a quantidade de vezes que me peguei ouvindo “Entropy” no repeat esse ano e gritando o verso ‘I wanna kiss you when everyone’s watching’ foi quase vergonhosa; esse disco não poderia nunca estar de fora dessa lista.

OUÇA: “Entropy”, “Oxygen”, “Weeds”, “Fire Escape” e “Love Song”

09 MUNA — MUNA

Eu fui injusto com esse álbum alguns meses atrás em minha resenha original. Ele merecia mais do que uma nota 7.7 e um comentário dizendo que o álbum é ‘um pouco confuso e sem foco ou coesão’. MUNA é um álbum completamente brilhante. As nuances exploradas pelas meninas em suas letras aqui são únicas, abordando todos os estágios vividos em relacionamentos — incluindo o consigo mesmo. “Anything But Me” fala sobre um término em que você ainda se importa com a pessoa e genuinamente deseja conseguir ajudá-la com o que precisar; também temos “Home By Now” que explora uma relação que acabou, mas ainda existe um carinho e um ‘o que poderia ter sido?’ latente. “Silk Chiffon”, com participação de ninguém menos do que Phoebe Bridgers, se eleva como o ponto alto do álbum em uma música sobre se apaixonar e se divertir e, principalmente, sobre querer estar perto da pessoa amada e como ela te faz querer ser o seu melhor. “What I Want” é um hino à parte; uma das raras músicas em que a narradora sabe exatamente o que quer, sabe o que precisa fazer para conseguir, e corre atrás do que é seu. E o fato de que ela sabe seu valor e canta ‘I want that girl right over there to want to date me’ só mostra o quanto MUNA está em outro nível. Sem contar que em “Solid”, Katie fala sobre o quanto sua amada é única e está longe de ser um objeto, nem dela mesma. MUNA soa quase como um recomeço para o trio, mesmo sendo já seu terceiro disco, e faz tudo isso de uma forma absolutamente humana, falha, cheia de defeitos. E é exatamente por essa honestidade que MUNA precisa estar em qualquer lista de Melhores do Ano.

OUÇA: “Silk Chiffon”, “What I Want”, “Anything But Me”, “Shooting Star” e “Solid”

08Hatchie — Giving The World Away

O segundo álbum da australiana Hatchie mostrou uma cantora mais confiante e segura de si do que seus trabalhos anteriores. Mesclando seu dream pop com pitadas de shoegaze, uma boa dose de pop acessível e agora leves toques de disco e dance music. Com um ar mais otimista, intimista e positivo do que no passado, Giving the World Away foi sua melhor obra até o momento. Falando sobre relacionamentos, problemas globais e críticas sociais mas com um tom esperançoso, Hatchie soube incorporar lindos novos elementos, sons e rítmos em sua sonoridade e tudo funcionou muito bem. Keepsake foi um excelente debut após o brilhante EP Sugar & Spice, e agora Giving the World Away prova de uma vez por todas que a moça está em um caminho extremamente interessante em sua música e que ainda nos surpreenderá muito no futuro.

OUÇA: “Lights On”, “The Rhythm”, “Quicksand” e “This Enchanted”

07 Charli XCX — Crash

it’s charli, baby

Charli XCX já fez seu nome nos últimos anos, seu pop altamente experimental já foi do introspectivo ao explosivo ao Vroom Vroom. Charli é sem dúvidas o nome mais criativo dentro da música pop atual, e esse ano ela entregou seu melhor e mais acessível trabalho até hoje. Crash traz lindas influências do pop dos anos 80 e 90 citando Janet Jackson como principal inspiração. Em seu álbum mais coeso desde o impecável Pop 2, Charli XCX com Crash mostra que, se quiser, ela consegue fazer um disco pop comercial melhor do que qualquer outra pessoa. Altamente enérgico como uma bomba, Crash é um disco que já começa a milhão mas sabe desacelerar entregando baladas e nuances incríveis, um disco no qual até as músicas mais fracas são boas. Entre colaborações com Rina Sawayama, Caroline Polachek e Christine and the Queens, quem brilha realmente aqui é apenas a Charli sozinha. Crash é um álbum pop como nenhum outro lançado esse ano. Seu último trabalho lançado pela Atlantic Records, Charli passou anos estudando e experimentando na música pop, e agora nos presenteou com seu TCC: e está formada, e livre de seu contrato. O céu é o limite para o que essa moça vai fazer daqui pra frente.

OUÇA: “Lightning”, “Beg for You”, “Constant Repeat”, “Crash” e “Used to Know Me”

06 Terno Rei — Gêmeos

Foi logo nos primeiros segundos de “Dias da Juventude”, primeira música lançada do Gêmeos lá em Janeiro, que eu tive a certeza de que esse álbum estaria nessa lista agora em Dezembro. Em seu primeiro disco depois de explodir para o quase mainstream com Violeta em 2019, Terno Rei conseguiu fazer de seu quarto álbum um tão memorável quanto o anterior. Recheado com melodias marcantes, letras fortes (ainda não dou conta de “Olha Só” mesmo meses depois) e uma produção impecável, Gêmeos mostra um Terno Rei que não tem medo de tentar coisas novas. De batidas dançantes a sintetizadores e orquestrações, seu trabalho esse ano foi surpreendente na gama de sons explorados pela banda e mais ainda no fato de que eles souberam fazer tudo dar certo na forma de um disco extremamente coeso. Delicado e sutil, com músicas feitas para serem cantadas por multidões em arenas — mas também no calor de seu próprio quarto sozinho ou com aquela companhia especial. Gêmeos é aquele álbum que te faz sorrir enquanto ouve. Basta apenas ouvir o verso ‘Caio no mesmo lugar…’ começar pra fazer meu dia mais feliz.

OUÇA: “Olha Só”, “Difícil”, “Dias da Juventude”, “Só Eu Sei”, “Brutal” e “Esperando Você”

05 Soccer Mommy — Sometimes, Forever

Em 2020, Soccer Mommy lançou color theory, álbum que foi eleito por mim como o Melhor daquele ano — superando lançamentos como Folklore, Punisher e Fetch the Bolt Cutters. Em seu novo disco Sometimes, Forever Sophie conseguiu fazer o que era quase impossível: seguir uma Obra-Prima com outra. E o resultado disso está na parceria improvável com Oneothrix Point Never assinando a produção desse álbum. Aqui, Sophie traz mais guitarras e elementos de um quase shoegaze com vocais suaves e letras que exploram seu lado mais leve. Quando comparado com seu anterior, Sometimes, Forever soa como um álbum mais positivo e ensolarado, mesmo com as camadas de distorção. Soccer Mommy continua fazendo uma música complexa em seu significado, mas dessa vez ela parece se divertir mais do que nunca. Levemente mais feliz do que antes, mas ainda mergulhado na escuridão-esperançosa que só Sophia consegue fazer. Consideravelmente mais leve em sua temática do que color theory, em 2022 Soccer Mommy lançou um álbum que mostrou toda a sua versatilidade de uma só vez.

OUÇA: “Shotgun”, “With U”, “Unholy Affliction”, “Bones” e “Don’t Ask Me”

04 Wynona Bleach — Moonsoake

Fazia bastante tempo que uma banda nova não me deixava tão genuinamente animado quanto o Wynona Bleach. Seu debut completo Moonsoake é um álbum maravilhoso que definitivamente merecia ter sido ouvido por mais pessoas, assim como o EP Sugar. O quinteto da Irlanda do Norte conseguiu o que poucos outros artistas conseguem: trazer algo para o reino do shoegaze que realmente soe novo, fresco e excitante. Distorções pesadas que lembram o melhor de bandas como Ride servem de fundo para vocais dinâmicos, altos e claros, trazendo uma linda áurea de pop para o trabalho. Moonsoake é um álbum absolutamente único, inventivo, que consegue soar interessante a cada segundo sem nunca cair em clichês. Justapondo gêneros e influências desde surf rock até dream pop, o Wynona Bleach é uma banda que não tem medo de expandir seu som e experimentar coisas novas — e esse é apenas seu primeiro disco! E o melhor de tudo é saber que a banda já está preparando música nova e trabalhando em seu segundo registro, que com certeza não decepcionará.

OUÇA: “Drag”, “Glimmer”, “Flesh”, “For Real” e “Moonsoake”

03 Wet Leg — Wet Leg

Wet Leg foi a bandinha indie do ano que surgiu do nada e tomou proporções quasi-gigantescas, com direito até de um (excelente) cover de uma de suas músicas feito por ninguém menos do que Harry Styles. Uma banda que fez seu nome cantando sobre literalmente não fazer nada além de ficar deitado, tomar cerveja quente e o querer voltar para casa assim que se chega em uma festa. Sempre com um senso de humor ácido e afiado, versos quase dadaístas e um som que beira ser uma colagem do melhor lado do indie rock dos últimos dez anos de uma só vez, o Wet Leg fez um álbum que não parece com mais nada lançado esse ano. Wet Leg foi um debut com cara de velho conhecido, instantaneamente viciante e divertido como poucos. Ninguém precisa se levar tão a sério o tempo todo, e essas meninas estão aqui pra provar que podem fazer uma música excelente enquanto se divertem e tentam de tudo. Ah, e esse disco também é o lar da melhor alfinetada dos últimos tempos com ‘when I think about what you’ve become, I feel sorry for your mom’. Como não amar essas meninas?

OUÇA: “Chaise Longue”, “Being in love”, “Ur Mum”, “Wet Dream” e “Too Late Now”

02 Tulipa Ruiz — Habilidades Extraordinárias

A Maioral. A incomparável Tulipa Ruiz voltou em 2022 com seu primeiro álbum desde 2015 — ou 2017, se contarmos o Tu. Ainda sim, já fazia muito tempo. Um álbum novo da Tulipa Ruiz é sempre um presente e Habilidades Extraordinárias foi o maior deles até hoje. Um álbum extremamente versátil, mostrando tudo que Tulipa sempre fez de melhor. Abusando de aliterações, como sempre, e fazendo das palavras um instrumento tão importante quanto os outros, Habilidades Extraordinárias é a antítese ao Dancê e ao Tu. Retornando (de leve) ao som que deu tão certo em Tudo Tanto mas ainda adicionando camadas e novos elementos à sua música de forma magistral. Uma artista como Tulipa Ruiz teria tudo para se manter fazendo a mesma coisa, continuando seu sucesso, e não teria nada de errado nisso. Mas em Habilidades Extraordinárias ela prova que mesmo depois de tanto tempo ainda tem coisa nova pra mostrar, e quem ganha com isso somos nós que temos o prazer de ouvir suas composições. É o melhor cafuné.

OUÇA: “Kamikaze Total”, “Acho Que Hoje Mesmo Eu Dou”, “Samaúma”, “Novelos” e “Vou Te Botar No Pau”

01 Alvvays — Blue Rev

I know you’re back, I saw your sister at the pharmacy picking up

Nunca houve outra possibilidade. O Alvvays retornou depois de cinco anos e nos trouxe o indiscutível Melhor Álbum de 2022. Blue Rev foi o momento em que o quinteto canadense brilhou com mais intensidade que o Sol. Um disco marcado por narrativas e histórias, refrões em constante mudança, uma variedade absurda temática nas letras. E “Belinda Says”. Em Blue Rev o Alvvays fez o disco que sempre esteve destinado a fazer desde que conquistou a esfera indie com “Archie, Marry Me” em 2014; mesclando seu dream pop com guitarras mais pesadas, shoegaze, synthpop, indie rock anos 90 e muita originalidade. “Belinda Says”. Em seu tão aguardado terceiro registro em estúdio, o Alvvays mostrou que continua evoluindo e se aprimorando cada vez mais; sabendo fazer e adaptar de tudo para que sirva no seu som. Blue Rev, nesses mais de dez anos de existência do You! Me! Dancing! foi o primeiro álbum que recebeu uma nota maior do que 10. A simbologia por trás é na verdade bastante simples, Blue Rev é um álbum realmente perfeito até em suas imperfeições. Incorporando as mais diversas influências e resultando em um trabalho emocionante, cativante e inigualável, o Alvvays fez aqui sua despretenciosa Obra-Prima. É difícil pensar que o próprio Alvvays consiga superar isso aqui algum dia, Blue Rev é o tipo de álbum que soa tão alto que não se tem outro lugar para ir senão para baixo. Mas se existe uma banda atualmente que já provou que consegue ficar melhor, mais complexa e mais interessante a cada lançamento essa banda é o Alvvays. E “Belinda Says”. Se precisarmos esperar outros cinco anos por um álbum como esse, que assim seja. E que venha o ALVV04!

OUÇA: Belinda says that heaven is a place on Earth, well, so is hell. And we’ll all get help; Paradise, and we’ll start another life

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