A Arte da Aprendizagem Autodirigida — Blake Boles

Alex Bretas
A Arte da Aprendizagem Autodirigida
5 min readSep 14, 2016

--

Tradução de Alex Bretas

Acesse o texto preliminar e o sumário do livro traduzidos clicando aqui. Veja abaixo os links para os capítulos anteriores:

Motivação

5. Autonomia, Maestria e Propósito

Celina Dill, 14 anos, era uma aluna de uma escola pública em Whidbey Island, Washington que só tirava 10, mas que se sentia esgotada. Até que seu pai sugeriu que eles explorassem outras opções educacionais. Muitas conversas depois, Celina, sua irmã mais velha e seu pai decidiram juntos se mudar da casa alugada onde moravam, guardar seus pertences no galpão de um amigo e viajar pela Europa por seis meses com um orçamento bem reduzido.

Dando aulas de dança, comendo barato e ficando na casa de 50 famílias diferentes em 17 países, a família viajou o continente com menos dinheiro do que o necessário para continuar alugando a casa onde viviam em Whidbey Island pelo mesmo período.

Quando retornou aos Estados Unidos, Celina voltou para a escola, mas não conseguiu ficar alheia ao fato de que algo dentro dela havia mudado profundamente. Na metade do seu primeiro ano no ensino médio, ela começou a ir só em metade das aulas. Depois, decidiu migrar para a educação online.

“Eu percebi rápido”, Celina me disse posteriormente no Acampamento de Quem Não Volta à Escola, “que havia muitas coisas que eu queria fazer com a minha vida que eu simplesmente não podia fazer na escola”. Foi assim que ela decidiu parar de ser uma aluna formal.

Celina, então, começou a dedicar seu recém-conquistado tempo livre cozinhando, fazendo musculação, dando aulas de dança, fazendo retratos fotográficos, tocando harpa, escrevendo e explorando a região em que morava. Seu pai, um professor de dança, artista e designer industrial — e alguém que também abandonou a faculdade de arte — apoiou a escolha de Celina de criar seu próprio caminho de aprendizagem. Sua mãe (divorciada do seu pai) não apoiou muito no início, mas com os argumentos consistentes de Celina e de sua irmã mais velha, ela acabou mudando de opinião.

Com 16 anos, Celina já era bastante independente e queria morar sozinha, e então ela começou a pesquisar opções de moradia de baixo custo. Ela concluiu que poderia construir uma pequena casa num trailer, e que isso lhe daria a privacidade que ela ansiava por um preço bem baixo — caso ela mesma se dispusesse a construir. Com o amplo suporte de seu pai, Celina começou a projetar e a construir uma pequena casa que ela poderia estacionar em qualquer lugar e chamar de sua.

Para desenvolver as habilidades necessárias para construir e projetar, Celina começou a estagiar com um arquiteto local por nove meses. Durante esse tempo, ela fez conexões com pedreiros, coletou restos de materiais pela cidade e reconstruiu um chassi móvel de uma casa com a ajuda de um instrutor de soldagem. Para conseguir o dinheiro para os materiais, ela deu aulas de dança, fez retratos, sites e pegou um trabalho relacionado à inserção e registro de dados.

Hoje, aos 19 anos, Celina está colocando o piso e fazendo as instalações de sua pequena casa. Ela estaciona o trailer na propriedade de um amigo que cobra 400 dólares por mês pela vaga, água, energia e espaço no jardim. Ela está feliz, engajada num trabalho que faz sentido e tem uma ótima perspectiva quanto a seu futuro.

A história de Celina é inspiradora e intimidadora ao mesmo tempo porque é fácil ler sobre pessoas como ela e dizer a si mesmo, “ela é automotivada, eu não”.

Mas aprendizes autodirigidos altamente motivados como Celina não surgem por geração espontânea. Há três ingredientes consistentes em histórias como a dela:

  • Autonomia
  • Maestria
  • Propósito

Todo aprendiz autodirigido precisa de um alto grau de autonomia: liberdade para tomar suas próprias decisões. Celina conquistou sua autonomia ficando um tempo afastada da escola para viajar pelo mundo, e foi assim que ela pôde escolher se tornar educadora de si própria com o (eventual) apoio de ambos os pais.

Em seguida, aprendizes autodirigidos precisam de maestria: a oportunidade de ser excelente em várias habilidades ao invés de apenas apalpar a superfície. Celina buscou maestria como professora de dança, fotógrafa, musicista e também como construtora de pequenas casas, e cada um destes ofícios representou um grande desafio com muito espaço para aperfeiçoamentos.

Por fim, aprendizes autodirigidos precisam de um senso de propósito: o sentimento de que suas buscas estão conectadas a um objetivo maior. Para Celina, o ato de construir sua casa (e ganhar o dinheiro para custeá-la) estava associado a um forte desejo de alcançar independência, criar seu próprio mundo e ter relacionamentos significativos com tudo que a rodeava.

Os ingredientes secretos da aprendizagem autodirigida não são tão secretos assim, afinal. Encontre sua autonomia, maestria e propósito e você encontrará seu caminho.

Autotélico: um outro termo para “aprendiz autodirigido”

Au-to-té-li-co: que tem um propósito que não lhe é externo, mas sim centrado em si mesmo

Uma pessoa autotélica precisa de poucas posses materiais e baixas doses de entretenimento, conforto, poder ou fama porque muito do que ela faz já é, por si só, recompensador. Como essas pessoas experimentam o estado de fluxo no trabalho, na vida em família, nas interações com as outras pessoas, ao se alimentarem e até mesmo sozinhas sem nada para fazer, elas são menos dependentes de recompensas externas que incentivam outras pessoas a levar uma vida composta de rotinas. Elas são mais autônomas e independentes porque não são facilmente manipuladas a partir de ameaças ou recompensas vindas do exterior. Ao mesmo tempo, elas se envolvem mais em tudo que as rodeia porque estão totalmente imersas no momento presente.

Mihali Csikszentmihalyi (Autor do livro “A Descoberta do Fluxo”)

Por uma nova forma de trabalhar e gerar valor

Ei! Sou o Alex. É com muita alegria que faço este blog.

Ofereço este e outros projetos gratuitamente para o mundo, mas ainda preciso de grana para me sustentar. Se quiser conhecer mais sobre o que faço, entre no meu site, e se entender que faz sentido sustentar meu trabalho com qualquer valor, apoie meu Unlock.

Qualquer coisa, entre em contato ;)

--

--

Alex Bretas
A Arte da Aprendizagem Autodirigida

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.