Defesa do design thinking para além do slogan

Aline Ferreira
2 min readMar 27, 2023

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O presente texto é a quarta parte de meus comentários sobre o livro Court traité du design, de Stéphane Vial. Caso ainda não tenha lido as demais partes, recomendo que faça a leitura, pois poderá entender melhor o que será abordado a seguir. Parte I. Parte II. Parte III.

Segundo Stéphane Vial, o design thinking tenta conceber o design como um pensamento. Trata-se, na verdade, de um termo abreviado, referindo-se exatamente a design thinking process, ou seja, um processo de pensamento próprio ao design.

Tim Brown foi um dos seus principais idealizadores, desde os anos 2000. Para ele, trata-se de “uma nova metodologia criativa que se constitui em três etapas essenciais” (Vial, 2010, p. 50), a saber:

1- Entender a cultura e o contexto. Momento de inspiração. Tentar pensar como os usuários. Momento de empatia. Melhor compreensão das necessidades.

2- Fazer experimentações para engendrar ideias. Momento de ideação. Realização de vários protótipos. Quanto mais experimentos, mais ideias.

3- Mão na massa. Momento de implementação. Importância ao âmbito participativo.

Há uma diferença substancial, portanto, entre o design marqueteiro e o design thinking. Nas palavras do autor, “Para os designers, isso implica numa conversão metodológica: passar do design (marketing, decoracionista, estético) ao design thinking (inovador, participativo, social). Isso quer dizer se interessar menos ao objeto do que ao seu impacto” (Vial, 2010, p. 52). Impacto no sentido do efeito socioplástico anteriormente mencionado.

Assim, “os designers do século XX devem se tornar pensadores de sistemas que reinventam o mundo, numa lógica de design centrado no ser humano” (Vial, 2010, p. 52). O que, à primeira vista, pode parecer demagógico por parte do design, trata-se de um ponto filosoficamente importante para ele.

O autor argumenta que de fato pode-se criticar o apelo de slogan e estratégico do design thinking, apontando um caráter ligado em certa medida ao marketing. No entanto, ao mesmo tempo, argumenta-se que “o design thinking é o único verdadeiro conceito de design que os designers profissionais contemporâneos foram capazes de produzir para tentar definir e teorizar o que eles fazem” (Vial, 2010, p. 53). Para além do caráter marqueteiro, ele tem valor epistemológico. Ademais, ele torna possível o design acessível a todos, e não apenas a pessoas “seletas” detentoras de um certo conhecimento inacessível.

Nesse sentido, o aspecto valorizado do design thinking pelo autor é a sua dimensão pensada aplicada ao social. Ele não é um defensor cego de supostas fórmulas mágicas.

Contudo, fica um pouco confusa a sua breve crítica inicial em relação à repercussão do design thinking em forma marqueteira de slogan, ao mesmo tempo em que o defende positivamente como uma forma de pensamento válida e necessária. A meu ver, é um capítulo que deveria ser melhor explorado e aprofundado, a fim de explicar melhor essas questões.

Para finalizar o livro, Vial traz a modificação mais atual que ocorreu com o design: a sua associação ao mundo virtual. É o que veremos na quinta e última parte dessa série de comentários sobre o livro Court traité du design, de Stephane Vial. Clique aqui para ter acesso à Parte V.

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Aline Ferreira

I'm a sociologist with a Ph.D. in Social Sciences. Visit my portfolio: www.alineferreira-phd.com