Tempestade Sob o Rio

Sexta Sessão da Campanha Amazônia Selvagem

Porakê Munduruku
8 min readJun 13, 2020

Ano I, 2º Temporada, Sexta Sessão
Sistema: Lobisomem: O Apocalipse (W20)
Cenário: Amazônia, início do Século XIX
Narrador: Glailson Santos
Data: 03/06/2017 (Sábado)

Resumo da Sessão:

Após sua bem sucedida busca pelo totem, nossa matilha, agora formalmente ligada ao Totem Poraquê, retorna ao mundo físico nas proximidades da Cidade de Santa Maria de Belém, onde são recebidos pela figura imponente da Lenda Viva, Moacir “Sombra-da-Castanheira”, o líder dos Guardiões do Utinga. O venerável Theurge Uktena os recorda a profecia feita por ele mesmo durante a partida do grupo em sua jornada umbral para obter os favores do Incarna Poraquê e, dirigindo-se a seu neto Apoena “Olhos-de-Serpente” por reconhecer nele o alfa desta recém formada matilha, diz:

“Uma tempestade se aproxima no horizonte e prevejo dias difíceis no futuro de nossa seita. Mas o futuro é sempre um risco e uma esperança, Gaia nos oferece um presente ao abençoar sua jornada. Da mesma forma como a superfície plácida do Grande rio espelha os humores do firmamento e o mundo espiritual espelha o mundo físico, vocês são a resposta de Gaia aos novos desafios que teremos em breve pela frente. Vocês são a Tempestade sob o Rio! Sejam honrados e sábios e assim, quem sabe, poderão fazer jus ao pesado fardo que lhe foi delegado. Quando a face de Luna voltar a não ser visível no céu noturno teremos nossa última Assembléia dessa estação chuvosa, então poderão se apresentar como matilha constituída, diante de toda a Seita e cantar seus feitos e encontrar seu próprio lugar entre nós, até lá”. — Assim, com um sorriso sereno, Moacir despede-se da Matilha, agora batizada com o nome “Tempestade sob o Rio”, desaparecendo solenemente entre as árvores atrás de si.

Cientes de que terão cerca de duas semanas até a Assembléia, já que em breve o céu noturno revela a face de Luna em todo seu esplendor, nossos jovens Garou tentam tomar pé das mudanças que se deram durante sua ausência e só então percebem que estiveram fora por um ciclo lunar completo, o tempo na Umbra transcorre de maneira bem diferente do mundo físico.

No dia seguinte, todos voltam a se encontrar dentro dos limites do Caern do Forte da Samaúma. Buscando conduzir sua matilha em direção a grandes feitos, Apoena “Olhos-de-Serpente” decide buscar os conselhos de seus aliados, seu primo, Teçá “Olhos-Atentos”, o Vigia da Terra, e Miracy “Pedra-Molhada”, sua tia e Mestre de Rituais da Seita. Na busca por Teçá, ele se depara com um dos companheiros de matilha do Vigia da Terra, o talentoso Theurge Uktena, Guyrá “Assas-ao-Vento”, que antes de lhe informar o paradeiro de Teçá, lhe presenteia com um enigmático conselho: “Siga as pegadas do Unicórnio, mas não se esqueça que o inimigo nem sempre está onde o chifre dele aponta”.

Mais confiante de que nunca pelo papel cumprido durante o confronto com o poderoso Guerreiro Senhor das Sombras durante o resgate de Palavras-na-Escuridão e também durante a busca pelo Totem, Kamaporã, anuncia sua partida para treinar técnicas de combate com sua Mentora, a poderosa Guerreira Fúria Negra Erínia “Olhos-Flamejantes”, alfa da matilha das Desbravadoras dos Bosques Sombrios.

Poeté “Olho-D’água”, a jovem Theurge da Matilha “Tempestade sob o Rio”, aguarda o retorno de Apoena “Olhos-de-Serpente” com o restante de seus companheiros de Matilha na Clareira onde costumam ocorrer as assembléias da Seita, quando sua atenção é atraída por uma figura misteriosa nas matas que cercam a Grande Clareira, logo ela descobre que trata-se de ninguém menos do que o controverso Ragabash Filho de Gaia, conhecido como “Língua-Ferina”. Poeté simpatiza com os ideais proferidos por seu companheiro de tribo que abandonou seu lugar em uma das mais renomadas matilhas da seita para criar e liderar sua própria matilha, chamada “Os Humildes Servos da Mãe da Floresta”, e assim estar mais livre para buscar auxiliar o povo pobre da província, metendo-se em assuntos humanos muito mais do que os Anciões da Seita consideram sábio, mas ainda se questiona sobre a pertinência de um Ragabash vestir a batina de um sacerdote cristão, mesmo alegando estar a serviço de Gaia.

Cansados de esperar, Galahad “Enfrenta-a-Prata-Afiada”, Alejandro “Palavras-na-Escuridão” e Atiaya “Une-dos-Mundos” decidem buscar pelo Vigia do Caern, o ranzinza Guaraci “Fúria-do-Boitatá”, na esperança de obter alguma glória auxiliando os Guardiões do Caern. Eles encontram Guaraci e sua Matilha, “O Enxame de Jacina”, lidando com malditos na divisa Sul do Caern, vindos das bandas do Engenho do Murucutu, mas nem têm tempo de entrar em combate, pois Guaraci faz questão de demonstrar a espantosa eficiência sua e de seus companheiros de Matilha em lhe dar com qualquer ameaça ao Caern e, com Atiaya oculto por seus Dons de Ragabash, o Vigia aproveita mais uma oportunidade de demonstrar a Galahad e Palavras-na-Escuridão todo o desprezo que reserva aos Crias de Fenris e aos Senhores das Sombras.

Enquanto isso, Enzi “Rompe-Correntes” encontra Teçá e a maior parte da Matilha das Setas Precisas de Yorixiriamori e lhes mostra algumas das canções que compôs acompanhando de seu fiel berimbau, causando uma impressão tão forte no Adren Galliard Teçá, que este se oferece para ser seu mentor. Apoena “Olhos-de-Serpente” logo se junta a eles e recebe de seu primo Teça os parabéns pelo sucesso de sua Matilha na busca por um Totem, o que gera um certo incomodo à Enzi, por perceber que aparentemente toda a Seita considera Apoena automaticamente o Alfa da Matilha, simplesmente por sua linhagem. Sem dar-se conta do incomodo de seu companheiro de matilha, Apoena parte para visitar sua tia Miracy “Pedra-Molhada”, no Coração do Caern.

Na Toca da Serpente, uma área reservada no Coração do Caern, Apoena finalmente encontra sua tia e Mestre de Rituais da Seita, a Anciã Uktena, Miracy “Pedra-Molhada”. A poderosa Theurge lhe parabeniza por suas recentes conquistas e lhe adverte sobre os desafios por vir, mas o mais importante, ela revela que alguém visitou o Caern sem ser percebido pelo Vigia ou seus Guardiões e trouxe até a Theurge da Matilha de Apoena um convite que pode ser aceito ou recusado, mas que deve ser mantido em segredo diante dos demais Anciões da Seita. Com um sorriso malicioso estampado na boca quase completamente desdentada, a Anciã reconhece a Honra conquistada por Olhos-de-Cobra com seus mais recentes feitos, mas ressalta que de qualquer forma, independente da decisão de seu sobrinho vier a tomar, não será pelos seus velhos lábios que qualquer outro Garou tomará conhecimento da misteriosa demanda que virá ao seu encontro e o aconselha a ir buscar por Poeté instantes antes da companheira de Matilha de Apoena usar o elo espiritual que compartilham através do Totem Poraquê para convocar uma reunião.

Novamente reunidos e contando apenas com a ausência de Kamaporã, a Matilha Tempestade sob o Rio ouve atentamente a Theurge Poeté “Olho-D’água” que relata ter recebido um pedido de ajuda de seu companheiro de Tribo, o Fostern Ragabash João Batista “Língua-Ferina” Campos, para resgatar um Parente Mokolé feito prisioneiro por uma poderosa serva da Wyrm conhecida como Matinta. Segundo a Theurge, o tal Parente, conhecido apenas como Domingos, parece ser alguém muito importante para Língua-Ferina, uma espécie de mentor dos controversos ideais políticos nutridos pelo Ragabash e teria participado de uma recente rebelião vitoriosa de escravos nas Antilhas que Língua-Ferina espera poder inspirar a população da província a também se libertar do domínio colonial português.

Diante do exposto por Poeté, a Matilha discute se aceitará ou não auxiliar Língua-Ferina, afinal, o Ragabash não é exatamente alguém de muito prestígio dentro da seita e os Anciões já deixaram claro sua política de não intervir mais do que o necessário em assuntos humanos. Apoena surpreendentemente inclina-se favoravelmente em relação a atender o chamado de Língua-Ferina devido à interpretação que faz do conselho dado a ele pelo Theurge Guyrá “Assas-ao-Vento”. Galahad considera que o simples fato de haver uma criatura da Wyrm a ser combatida e alguém a ser resgatado é suficiente para legitimar qualquer demanda. Une-Dois-Mundos pondera que esta pode ser uma oportunidade única de conciliar os interesses Garou de combater a Wyrm com os interesses mundanos de Enzi “Rompe-Correntes” de por um fim na escravidão dos negros na província. Mas o próprio Enzi sente-se tomado pelo rancor por sua matilha só se voltar para a questão dos escravos por um estranho pedido de um padre branco, depois de ignorar seus próprios apelos para buscar libertar os escravos do Engenho do Murucutu logo após seu Ritual de Passagem. E Palavras-na-Escuridão pondera sobre como o envolvimento com Língua-Ferina pode repercutir na reputação da Matilha junto aos Anciões da Seita.

A discussão sobre que rumo tomar torna-se tensa, quando Palavras-na-Escuridão evidencia o fato de Apoena “Olhos-de-Serpente” já ser considerado o Alfa da Matilha diante de toda a seita, mesmo quando esta decisão não foi formalmente definida entre seus membros. Buscando seguir o conselho de sua tia, Apoena mostra-se reticente sobre comunicar os Anciões da Seita sobre a missão de resgate, o que parece gerar ainda mais desconfiança em Enzi e Palavras-na-Escuridão. Tomado pelo rancor, Enzi parece à beira de um frenesi em meio a uma discussão inflamada com Apoena, mas Palavras-na-Escuridão intervém lembrando que as desavenças entre os membros da Matilha desagradam o Totem Poraquê e que no caso dos dois Uktenas, Enzi e Apoena, decidirem saltar um nos pescoços dos outros, ele próprio se sentiria obrigado a quebrar a promessa feita diante do Totem Poraquê para tentar impedir que ambos se matassem.

A interferência de Palavras-na-Escuridão parece surtir efeito e os ânimos são acalmados, o próprio Palavras-na-Escuridão anuncia diante da matilha seu apoio a Apoena para ocupar a posição de Alfa e deixando de lado suas ponderações iniciais, apóia a decisão de atender ao pedido de ajuda de Língua-Ferina, mas adverte de que Apoena seguirá como alfa apenas enquanto mostra-se digno e nenhum instante a mais. Galahad, então se pronuncia também apoiando Apoena “Olhos-de-Serpente” como alfa e isso parece ser suficiente para por fim aos conflitos e definir o rumo que tomará a Matilha Tempestade sob o Rio.

Uma vez decidido que a matilha atenderá ao chamado de Língua-Ferina, eles são guiados por pistas deixadas pelo Ragabash até um decadente bordel na zona mais pobre da cidade, onde encontram Língua-Ferina, conhecido entre negros, tapuias e brancos pobres dos quatro cantos da província, simplesmente como “O Cônego”, e lá são informados que devem partir em direção à pequena Vila de Beja, nas proximidades da qual, segundo ele, encontra-se o covil da poderosa bruxa, protegido por uma horda de odiosos fomori na forma de porcos hediondos e cadáveres reanimados sedentos por sangue fresco.

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Porakê Munduruku

Mombeu’sara, griô amazônida e escritor. Administrador da Página Brasil in the Darkness e integrante da Kabiadip-Articulação Munduruku no Contexto Urbano.