Design pra Vida — Letra por letra

Marcela Leon
Design pra Vida
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4 min readMar 29, 2018

Me sento em frente ao notebook e vejo o cursor piscando na tela em branco: um alerta insistente da minha inabilidade criativa para escrever.

Desligo a música.

Tiro o fone de ouvido.

Paro e tento ouvir o que minha mente tem a dizer.

Procuro aqui e ali alguma ideia que esteja passando desapercebida.

Nada.

Lembro vagamente de ler em A Grande Magia, de Elizabeth Gilbert — aquela mesma de Comer, Rezar e Amar — sobre como a criatividade é muito mais um exercício diário — umas busca dedicada — do que um lampejo de inspiração que nos toma inadvertidamente.

Quer dizer, aquela história de esperar a motivação vir de dentro, a inspiração vir de não sei de onde. Tudo blá-blá-blá.

Então, não vai ser tão simples como imaginava. Vai ter trabalho envolvido — penso. E logo, uma leve preguiça aparece.

Leve não, pesada.

Chego quase a desistir.

Não é o primeiro ano que me proponho a escrever periodicamente alguma coisa. Seja pelo desejo de exercitar a escrita, seja pelo desejo de registrar algum pensamento. O fato é que me desafio há tempos a quebrar essa barreira de construir em palavras, sentenças e parágrafos à partir daquele amontado de pensamentos que transitam em minha mente.

2018 tem sido até o momento meu melhor ano. Mas estamos em março, então tudo pode acontecer.

Em algumas ocasiões, o texto sai naturalmente, como se fosse a única maneira de expressar um sentimento. São ocasiões onde normalmente sinto que foi exatamente uma inspiração que tomou conta e não há dúvida alguma sobre o que precisa ser colocado em palavras. Os dedos percorrem o teclado ligeiros atrás da próxima letra e, se não tomar muito cuidado, pode ser que as palavras se dissolvam na limitação física de transcrever os pensamentos.

A inspiração reina e a confiança está ali, de prontidão, acompanhando cada etapa da criação. Não me demoro a evoluir nos parágrafos e a conclusão surge na-tu-ral-men-te. É como se aquele texto já existisse e eu só estou ali pra dar vazão e colocá-lo no mundo das palavras escritas.

Em algumas outras ocasiões — na maioria das vezes, na verdade — o cenário é bem diferente.

Passo horas apenas observando uma tela em branco. Com a sensação de carregar uma mente praticamente oca e um propósito de escrever que parece não ter sentido. Afinal, o que tenho de tão relevante e importante assim para compor em um pequeno texto e compartilhar por aí?

Aquela mesma mente efervescente de outrora dá lugar a um cenário de contos de terror: sótão abandonado com bolas de poeira transitando preguiçosamente quando uma brisa se arrisca a passar.

A dúvida do porquê estou me dando o trabalho de fazer alguma coisa que não é simples ou natural, que toma tempo e fosfato, adquire a forma de um verdadeiro empecilho.

Na maioria das vezes eu paro. Desisto. Abandono. A confiança já não se sabe onde está. E a inspiração teima em não se manifestar.

Para conseguir cumprir com minha própria meta e realizar aquilo que me dispus, sei que a única coisa que preciso fazer é vencer a mim mesma. De maneira direta e bastante racional.

E foi o que eu fiz até aqui. Letra por letra. Palavra por palavra. Frase por frase.

Uns vão dizer que foi um exercício astuto escrever sobre a dificuldade de escrever. Acho até que já vi alguns textos ali e aqui de quem enfrentou o mesmo problema que eu.

Outros talvez não se apercebam da brincadeira, de modo a realmente tirarem algum proveito da mesma — a gente não precisa ser tão sério com tudo, não é mesmo?

Espero apenas que esses dois minutos de leitura tenham somado para você leitor, que me acompanhou pacientemente até aqui.

  • esse devaneio faz parte da série 2018 de textos que me comprometi a compartilhar na jornada de Design da Vida. Se ainda não teve a oportunidade de ler os anteriores: Desenhando a minha bússola, Vestindo minhas orelhas de girafa e Jogabilidade convido você a fazê-lo. Pegue uma xícara de café (ou qualquer que seja a bebida que lhe caiba nesse momento) e aproveite esse descanso :)
  • e se você quer conhecer o meu #laboroflove — aquele projeto que eu conto com brilho nos olhos e sorriso na alma — vem ouvir o Baseado em Fatos Surreais, um podcast que conta histórias de mulheres ❤
  • ah, e não custa lembrar: gostou do texto? te fez pensar? clica nas palmas, compartilha com alguém que você acha que vai se beneficiar de alguma forma e me ajude na motivação para continuar na minha meta de 2018 ;)

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Marcela Leon
Design pra Vida

oi! eu sou criadora e produtora do podcast de histórias Baseado em Fatos Surreais. tô no www.papodeprodutora.com.br compartilhando sobre produção em áudio 😉