Comer carne é um dano líquido? uma colaboração entre um comedor de carne e um vegetariano (parte 4)

Esta é a quarta parte da tradução da “colaboração antagônica”, do blog SlateStarCodex, sobre a ética do consumo de animais. Leia as partes anteriores aqui: Parte 1- Consciência animal , Parte 2- Condição de criação dos animais, Parte 3- Felicidade e vidas dignas de serem vividas

Altruísmo Eficaz Brasil
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5 min readFeb 3, 2020

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4. Considerações Sobre A Saúde

4.1. Nutrição

Fontes de proteína animal como carne, peixe, ovos e laticínios contêm um bom balanceamento dos 20 aminoácidos de que precisamos para quase todos os processos metabólicos do corpo, enquanto que plantas individuais são geralmente deficientes em termos de mistura e concentração. O mesmo se aplica a micronutrientes: fontes de proteína animal são muito mais altas em vitamina B12, vitamina D, o ácido graxo ômega 3 DHA, ferro heme e zinco.

Produtos animais oferecem a maior parte do zinco nas dietas americanas, e carne bovina, carne de aves e peixe oferecem ferro na altamente biodisponível forma heme. O painel que estabeleceu a nova Referência de Ingestão Diária recomenda uma ingestão de ferro, diária, 80% mais alta para vegetarianos.

Já foi também expressada preocupação com a dificuldade que as crianças têm em obter a energia e ingestão de nutrientes adequadas a partir dietas pesadas de plantas. Bebês holandeses consumindo dietas veganas tiveram um status nutricional pior e foram mais dados a ter raquitismo e deficiências em vitamina b-12 e ferro, e a Organização Mundial de Saúde fortemente recomenda produtos animais para crianças a fim de assegurar o cálcio, ferro e zinco suficientes.

Se uma dieta baseada em plantas é ou não viável de uma perspectiva nutricional depende, na maior parte, de se você tem os meios econômicos de consumir uma ampla variedade de fontes de alimentos, e pode ser mais arriscada para crianças pequenas ou para pessoas cuja ancestralidade provém de regiões onde o consumo de carne era prevalecente.

4.2. Efeitos de longo prazo à saúde

Estimar os efeitos de longo prazo que comer certas coisas tem à saúde é difícil porque a comida está altamente ligada à cultura em que vivemos, e a cultura correlaciona com quase todo efeito à saúde que a gente poderia imaginar. Menos conveniente ainda, a ciência da nutrição é altamente anti-indutiva; se um grupo de alimentos é identificado como saudável, as pessoas com um interesse em ser saudáveis irão em bando para aquele grupo de alimentos, e pessoas com um interesse em ser saudáveis são dadas a ser saudáveis por um monte de razões, independentemente de dieta.

Eis então um belo resultado de manchete: vegetarianos têm menos doenças cardíacas e, provavelmente, menos doenças cardiovasculares e câncer também. A maioria dos estudos em meta-análises são ajustados a algumas das coisas bem óbvias (raça, renda, etc.), mas nem todo estudo ajusta todo tipo de “confundidor”, e deveríamos ser cautelosos ao confiar em estudos que “ajustam os confundidores”. Se você ignorar os confundidores, então a resposta é clara: uma dieta vegetariana faz bem à saúde, qualquer que seja a régua que usemos para medir (incluindo, possivelmente, a circulação de testosterona, desafiando estereótipos sobre comedores de carne!).

Caso se interesse pelos confundidores: Há um punhado de experimentos naturais legais, apanhando grupos que têm razões para comer certo tipo de comida mas que não se dão ao trabalho de ter o estilo de vida saudável associado, que são o mais próximo que podemos chegar de um verdadeiro experimento nesta área. Em particular, os Estudos de Saúde dos Adventistas Americanos são basicamente o estado da arte no campo, pelo que sabemos. Adventistas têm hábitos alimentares bem singulares, por conta de proibições religiosas sobre certos alimentos, que algumas igrejas adventistas seguem e outras não. Em consequência, se você é adventista, você está funcionalmente “randomizado” em diferentes condições de consumo de alimento dependendo de a qual igreja você vai, e esta randomização pode ser explorada pelos pesquisadores.

Com base no Estudo de Saúde dos Adventistas, uma dieta vegetariana aumenta a expectativa de vida em cerca de 3,6 anos. Quanto menos carne você come, mais saudável é o seu IMC e menos é provável que você tenha diabetes.

No geral, poderíamos esperar que lacto-ovo-vegetarianos tenham uma qualidade de vida, com respeito à saúde, em torno de 10% melhor do que um comedor de carne, sendo a maioria dos benefícios aparentes 20 anos após se fazer a mudança para uma dieta vegetariana.

Você poderia complicar este quadro bastante (especialmente introduzindo o “descontamento” do futuro), mas achamos que está bem demonstrado pelos dados o princípio geral de que, se você dá valor aos anos finais da sua vida, você provavelmente deveria virar vegetariano:

Uma última coisa sobre como a carne pode afetar a sua longevidade; há uma consciência crescente do fato de que carne produzida industrialmente é um terreno fértil para doenças zoonóticas, e que estas doenças podem sofrer mutações e infectar humanos muito rapidamente. Pandemias anteriores como a do H1N1 (“gripe suína”) e H5N1 (“gripe aviária”) podem ter se originado com animais de pecuária, e foram alastradas rapidamente pelo contato próximo de animais mal de saúde e por conta da natureza global da cadeia de suprimento de carne. Na margem, comer carne provavelmente aumenta a probabilidade de uma pandemia global, mas não há boas evidências sobre como o seu consumo individual afeta as coisas na margem.

No modelo, consideramos confiável o resultado do estudo adventista, estimando que uma dieta vegetariana aumentará sua longevidade em 3 anos, e incluímos custos baixos constantes devidos a uma possível deficiência nutricional e benefícios moderados à saúde que aparecem mais tarde na vida.

Leia a Parte 5 aqui!

Tradução: Luan Rafael Marques

Revisão: Fernando Moreno

Traduzido do original: https://slatestarcodex.com/2019/12/11/acc-is-eating-meat-a-net-harm/

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Altruísmo Eficaz é um movimento que busca descobrir e aplicar as formas de fazer o maior bem, usando para isto evidências e racionalidade.