De todos os motivos, Vitor Castrillo

Um clichê fofinho, lindinho e necessário

Alex Mendes
Reticências
3 min readApr 27, 2020

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Fico muito empolgado quando encontro algum livro que retrata o amor entre pessoas do mesmo sexo. Sinto como se estivéssemos semeando mais respeito e tolerância. Talvez por isso eu tenha lido De todos os motivos, de Vitor Castrillo, tão rapidamente.
Uma pena que não tive minhas expectativas atingidas.

Pedro e Henrique são amigos desde pequenos e passam boa parte do tempo juntos. Mas tanta proximidade começa a deixar Pedro confuso em relação ao que sente pelo melhor amigo. Na busca por ajuda, Pedro recorre aos fóruns na internet e, em anonimato, conta momentos dele com Henrique. Pedro procura apoio e coragem para se declarar ao amigo, mas não esperava que um descuido o levasse à felicidade.

Em um país onde o preconceito e a intolerância gritam, encontrar obras que contam histórias de amor entre duas pessoas é um sinal de esperança. De todos os motivos, de Vitor Castrillo, é um pequeno conto que ajuda a reforçar a luta da comunidade por direitos iguais e liberdade para amar.

Your Lockscreen

Fiquei bem feliz com o cenário romântico e cheio de ingenuidade que Castrillo trouxe para as vidas de Pedro e Henrique.
Existe coisa mais gostosa do que duas pessoas descobrirem lentamente que há reciprocidade emocional entre elas?
Vitor me conquistou por dar à Pedro as dúvidas sobre seus desejos em relação ao melhor amigo. Se pararmos para pensar, este momento de dúvida é abafado, na maioria das vezes, pelo medo que temos da reação da família e dos amigos.

Eu me identifiquei muito com Pedro no momento em que ele corre para um fórum na internet e conta para desconhecidos o que está sentindo. A nossa bolha social ainda não compreende um garoto gostar de outro. Se todos olham atravessados e não temos espaço para dialogar sobre os sentimentos, não é raro recorrermos ao ambiente virtual. Esta fuga de Pedro é um detalhe que acaba aproximando o leitor dos personagens e torna o enredo bem atual.

Embora a temática tenha me atraído e a leitura seja leve e rápida, acredito que fui com muita sede ao pote :/ O autor exagerou (e muito) com os clichês, diálogos forçados e um excesso de previsibilidade. A todo momento senti que já sabia como a história terminaria. Em alguns momentos eu: Mds! Pedro, vc ainda não sabe o que sente por Henrique!? ou Ai, por favor! Dormem juntinhos, acordam abraçados e acham que isso é só amizade? São momentos bonitos que evidenciam a liberdade advinda da amizade, mas achei que o autor sustentou por muito tempo algo que estava óbvio para o leitor.

Outro detalhe que eu gostaria de ter visto era a relação com a família. Já que temos várias passagens contando que os dois meninos viviam na casa um do do outro, fica um gostinho de saber como se deram as consequências desse amor. Eu fiquei: Que lindo! Mas como será que a família reagiu? Foram aceitos? Este é exatamente um dos maiores medos das pessoas que estão se descobrindo.

De todos os motivos, o que me faz ser algo seu é só o fato de nós dois existirmos

Muito mais do que falar da amizade e amor entre dois meninos — o que já seria suficiente para eu amar este livro — , De todos os motivos pede para você viver seus sentimentos, pois pode ser que você esteja perdendo momentos felizes só por medo de arriscar. É um livro que vai lançar várias sementes de esperanças aos adolescentes e jovens que acreditam no amor e no respeito.

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Aproveite para ler outras resenhas sobre histórias LGBTQI+: Brilhante, de Renato Ritto| Dois garotos se beijando, de David Levithan | F5, de João Luiz.

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Alex Mendes
Reticências

Publicitário, nortista e designer que trabalha com UX e adora livros.