Favoritos ADQSV 2020: lista da Jess

Chocolate, Nobody Knows e Into the Ring + lista bônus

Jéssica Oliveira
blogADQSV
12 min readFeb 14, 2021

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Feliz 2021! O ano de 2020 foi difícil para a saúde física, mental, econômica e política do mundo. Com a pandemia de COVID-19, a indústria de entretenimento procurou meios de se reinventar e se manter ativa apesar de tudo. O leste asiático se saiu bem nisso, a TV de países como Coreia do Sul, Japão, Taiwan, China e Tailândia (Sudeste Asiático) deram seu melhor dentro das possibilidades com medidas de segurança altamente necessárias. Tivemos atrasos, claro, e muitos filmes passando reto das salas de cinema e indo direto para os serviços de streaming.

Embora tenha sido um ano exaustivo para todos e para a equipe fixa do blog (eu, Aly, Suca e Lu), ganhamos ânimo extra com novas colaboradoras que convidei especialmente para este “Favoritos ADQSV 2020”. Diferente do ano anterior — com os favoritos de 2019 — , mais redatoras tornou possível mais material, posts e diversidade de países. A equipe do blog é pequena e não conseguimos ver tudo que sai, mas trazemos nossas singelas listas para vocês. Essas são nossas impressões sobre as histórias que fizeram nosso 2020 melhor e mais suportável, dramas que nos alimentaram a alma nos dias mais complicados, e eu espero sinceramente que tenha ajudado a todos vocês, queridos leitores visionários.

Para todos os favoritos da redação, confira este sumário abaixo.

SUMÁRIO: FAVORITOS ADQSV 2020

Histórias sociais, políticas e esperançosas lideradas por protagonistas admiráveis me inspiraram a nunca parar de tentar ser uma pessoa melhor. Estes são meus dramas coreanos favoritos de 2020 (sem ordem de classificação). Sem mais delongas, vamos à lista!

Chocolate

Lançado em novembro de 2019, eu sei que parece uma eternidade desde que Chocolate foi exibido e concluído em janeiro de 2020. Mas eu me lembro bem, porque poucos dramas me conquistaram de maneira tão arrebatadora.

O clichê dos amores conhecidos da infância muitas vezes fica saturado na k-dramaland, mas, em Chocolate, há uma das conexões mais genuínas. Um menino carismático alimenta uma menina faminta que chora enquanto come porque a comida era boa demais. Aquilo me partiu o coração de uma forma que em 10 minutos de drama eu já era apaixonada e torcedora dos protagonistas. Este melodrama deixa claro desde o início que é uma jornada sobre os sabores e dissabores da vida, indo do doce ao amargo em todos os episódios.

Eles se desencontram e a vida daquelas crianças muda drasticamente. Ela vira uma cozinheira, sem a mãe que a deixava com fome. Ele se torna um médico cirurgião em uma família rica e abusiva e perde o elo afetivo da comida após a morte da humilde mãe cozinheira.

Chocolate é para os fortes e fãs do mais clássico e puro melodrama, tanto que várias vezes me senti vendo um drama antigo, onde cada emoção importa. Daqueles que você não liga de chorar sempre com as histórias dos pacientes — o drama se passa em um hospital de doenças terminais, onde a morte é uma certeza. Mas enquanto vivemos, o mundo tem cores e sabores, e Moon Cha Young (Ha Ji Won) tenta curar esses corações frágeis com uma refeição quentinha e cheia de boas memórias.

O casal está separado em grande parte do drama, mas torci o tempo inteiro pela felicidade deles, que se resolvessem com suas famílias e para que, finalmente, Dr. Lee Kang (Yoon Kye Sang) conseguisse vestir de novo um avental e pudesse ser apenas ele mesmo.

Onde assistir: NETFLIX.

Nobody Knows

É necessária uma aldeia inteira para cuidar de crianças, diz um ditado. Nobody Knows completa essa ideia com o fato que também haverá maçãs podres nessa aldeia e que alguém precisa apanhá-las. Estrelado por uma policial e um professor, não é por acaso que esse suspense escolha profissões cidadãs que lidam com a nossa segurança e educação de frente (uma história que funciona bem na Coreia, nunca funcionaria no Brasil, onde essas profissões são execradas).

Nobody Knows é um suspense policial com dois temas centrais: amor fraternal e fanatismo religioso, desde a falta de um até o excesso do outro. Não por acaso, um dos pôsteres mais emblemáticos do drama tem todo o elenco principal de jovens e adultos reunidos em uma encruzilhada em formato de cruz. Inspirado pelo filme japonês de mesmo nome (lançado em 2004), de Hirokazu Koreeda, o k-drama também caminha pelo tema de crianças perdidas que precisam de adultos responsáveis por perto. Ele vai desde a raiz do problema até as possíveis soluções.

Duas histórias distintas acontecem em paralelo e se cruzam de maneiras surpreendentes. A policial Cha Young Jin (Kim Seo Hyung) escolheu essa profissão para encontrar o serial killer com discurso bíblico que matou sua melhor amiga na adolescência. Consumida por sombrios sentimentos de culpa (mesmo que ela não tivesse) e desejo de vingança, ela acabou encontrando outra pessoa para se dedicar de todo coração — Ko Eun Ho (Ahn Ji Ho), o vizinho que ela conheceu salvando a mãe dele do namorado violento, tornando-se para sempre a super-heroína do garoto. Um dia, ele cai no terraço de um prédio e todos acreditam que foi tentativa de suicídio, menos Young Jin e o professor Lee Sun Woo (Ryu Deok Hwan).

A relação de Young Jin e Eun Ho floresceu como no jardim da varanda dela. A inspetora era o adulto em que o garoto confiava totalmente, uma pessoa modelo, algo essencial para a mentalidade em formação das crianças. Algo que o vilão do drama nunca teve, e por isso se tornou um monstro. Ele se pergunta: teria sido diferente se fosse com ela? Sem dúvidas, o meu vilão favorito de 2020 — cruel e destruído pela falta de afeto.

Todos os personagens de Nobody Knows são tão reais, possíveis e imperfeitos. Seja um professor que percebe que não sabe tudo sobre seus alunos e família, ou uma mãe que se dá conta do quanto o filho precisa dela, mesmo que ele tenha uma melhor amiga. Direção, elenco, roteiro e cinematografia são perfeitos, mas é a edição de vídeo, os cortes e ordem de “quando mostrar o que”, que mais se destaca. Lembrar desse drama me deixa emotiva porque ele é incrivelmente perturbador e bonito na mesma medida.

Onde assistir: KOCOWA, Viki.

Into the Ring

Sou grata ao meu trabalho como blogueira no KOCOWA (acho que foi o post de primeiras impressões que mais gostei de escrever na vida até agora), porque sem ele talvez eu não teria assistido a essa preciosidade, porque as sinopses iniciais eram tão confusas e não faziam jus.

A melhor escolha que fiz em 2020 foi ver Into the Ring e conhecer Goo Se Ra. O meu voto é todo dela. Nana e um roteiro estreante brilhante deram vida a uma heroína ordinária e obstinada, uma designer desempregada que decide se candidatar a vereadora apenas pelo salário. Que fachada! A jovem adulta que parece uma louca desvairada, tão desinteressada e ignorante sobre política quanto qualquer um, também era a maior justiceira de seu bairro e dedicou a vida a enviar denúncias à ouvidoria da prefeitura. Por quê? É um segredo que o drama guarda a sete chaves até o fim, e o motivo é surpreendente e emocionante. Nada é o que parece, é tudo mais do que você vê superficialmente.

Tudo nesta pequena arena política de um bairro coreano fica irresistivelmente interessante, torna-se simples, divertido e didático. Uma campanha eleitoral cheia de reviravoltas que te leva às lágrimas (meus amigos do Twitter duvidaram de primeira), uma criança ensinando política por meio de dinâmicas do ensino fundamental (sim, você respira política desde criança e não percebe), um porteiro que perde o emprego, uma senhora que tem a casa invadida por bolas de golfe de um clube vizinho, o significado de nomes de bairros, viadutos e uma loja de manhwas. Todo o pequeno universo da vereadora Goo Se Ra toma forma e se torna nosso também. E mostra que tentar melhorar o mundo a partir do seu bairro não é tão impossível quanto parece.

Personagens cativantes, desde o político mais pilantra até as melhores amigas possíveis, um dos melhores casais de 2020, uma trilha sonora de rock e eletrônico animada e uma cinematografia peculiar e desconcertante sempre com supercloses no rosto do elenco estão o tempo inteiro nos convidando para esse mundo político desconhecido mais próximo do que imaginávamos. Utilidade pública.

Onde assistir: KOCOWA, Viki.

Menção honrosa: When the Weather is Fine foi um melodrama literário acolhedor como um casaco no inverno e uma xícara de sua bebida quente favorita. Que saudades do diário do Eun Seob (Seo Kang Joon)! A Suca falou mais sobre aqui.

Premiação em pílulas

Troféus aleatórios que eu inventei para enaltecer rapidinho outros dramas legais que vi em 2020.

Melhor Protagonista Feminina: Goo Se Ra (Nana) de Into the Ring.

Sim, a mocinha que eu já rasguei seda acima. Precisa de uma indicação no Baeksang 2021!

Melhor Protagonista Masculino: Ga Eul Chan (Park Hae Jin) de Kkondae Intern

Eu ri, chorei, passei raiva, ouvi a história dele e me identifiquei como um amigo que desabafou comigo. De mocinho Friendzone (My Love from the Star) a sociopata (Cheese in the Trap), eu tinha amostras mais unidimensionais da atuação de Park Hae Jin. Neste drama de escritório que mistura melodrama realista e comédia absurda, encontramos situações que só quem já trabalhou entende (eu ainda mais porque trabalho com marketing igual ao personagem). Por nos entregar um trabalho tão humano, complexo e completo, do qual rimos e choramos do quão ordinária é a vida, com seus altos e baixos, Hae Jin mereceu o Daesang (Grande Prêmio) da MBC em 2020.

Onde: KOCOWA, Viki.

Melhor Casal: Find Me In Your Memory.

Um elenco carismático, um casal magnético e uma OST memorável (“A Memory In My Heart”, o nome faz jus). Sem amiguinhos da infância, maduro, mas melodrama raiz de sofrência, então nada era fácil (apesar do ótimo tom de humor te distrair várias vezes). Com uma protagonista de looks maravilhosos e que se prioriza no final, porque afinal, precisamos recobrar forças para lutar pelo amor (e por qualquer coisa). Yeo Ha Jin (Moon Ga Young) sempre terá todo meu respeito como mulher e Lee Jung Hoon (Kim Dong Wook) todo meu respeito como jornalista.

Onde: KOCOWA, Viki.

Menções honrosas: Into the Ring e Do You Like Brahms?.

Melhor Expectativas Atendidas: SF8.

Sou fã do gênero e digo tranquila: ficção científica da mais alta qualidade, com histórias em temas e tons muitos diferentes, mas todos refletindo a sociedade como conhecemos e futuros próximos nada impossíveis.

Onde: KOCOWA, Viki.

Melhor parceria ever!!! ❤

Melhor Comeback: Stranger 2.

Meu drama, ninguém sai! Esperei três anos por isso e valeu a pena, valeu tudo. Um roteiro que ainda traz os mesmos temas sobre corrupção e justiça, mas vai além mostrando isso de maneira ainda mais ampla, completa e didática. Uma produção que continua genial e necessária sempre.

Onde: Netflix.

Melhor Minidrama: How to Buy A Friend

Uma história para inspirar escritores por meio da poesia, por incrível que pareça. Não se engane pelo plot e teasers porradeiros de violência escolar.

Menção honrosa: o japonês Nee Sensei, Shiranai No? me representou como pessoa workaholic e disse que tudo bem. Suca o recomendou na lista dela de j-dramas. Leia aqui.

Onde: KOCOWA, Viki.

Melhor Surpresa: Lost Romance (Taiwan)

Fantasia, suspense, romance, comédia (muita), melodrama. Um drama completo, tem de tudo e me surpreendia a cada novo episódio! Sempre que eu achava que misturando tanta coisa ele ia se perder, esse tw-drama ia lá e ficava melhor. Casal surra de química e uma história inspiradora sobre o lugar das histórias e personagens na nossa vida real. Melhor secundário!!! Taiwan, obrigado por essa obra prima.

Onde: Viki.

Followers

Melhor Experiência Fangirl e Melhores Looks: Followers (Japão)

Eu me preparei por toda a vida para amar Followers. Tive gritos de fangirl em várias cenas, desde ver um pôster do Seventeen na rua até ver o MIYAVI (casado pai de família na realidade) indo pra cama da Rimi. Fotografia, moda japonesa e mulheres inspiradoras apoiando umas às outras — tudo o que eu mais amo e admiro (sim, esta premiação interna é completamente tendenciosa).

Onde: Netflix.

Melhor Eu Não Sabia Que Precisava Até Ter: The School Nurse Files (Enfermeira Exorcista)

Louco e belo, me lembra um dos meus animes favoritos, KARAS (2005). Mas eu nunca tinha visto essa temática de mundo espiritual convergindo com mundo real nos k-dramas, não dessa forma, e eu amei! Aplaudi Jung Yu Mi mais uma vez e fiquei surpresa com um Nam Joo Hyuk maduro e atorzão demais.

Onde: Netflix.

Melhor Hype: Crash Landing on You (Pousando no Amor)

Não bastasse ter um casal incrível que foi para o mundo real e o melhor pelotão de soldados que eu já vi, os episódios finais (imensos) de Crash já podem entrar para o hall dos mais épicos de todos os tempos da k-dramaland. Mereceu o hype, aqui e na Coreia. Um dos últimos dramas que eu vi unir a nação dorameira sem querer se matarem entre si (vitória).

Onde: Netflix.

Melhores Dramas de Cura: It’s Okay to Not Be Okay (Tudo Bem Não Ser Normal) e My Unfamiliar Family.

Dois dramas da mesma emissora, da mesma época, que falam do mesmo tema de maneiras opostas. O que significa família? Em It’s Okay to Not Be Okay é superar a família de sangue e descobrir que tudo bem criar seu próprio lar longe deles. Em My Unfamiliar Family é reaprender sobre a família que você tem e lutar por ela porque ainda vale a pena. As duas maneiras são válidas, não existe uma única fórmula secreta. Cada um encontrará o seu jeito de ser feliz.

Onde: Netflix, Viki.

Dois favoritos que vi ano passado não foram dramas de 2020, e sim de 2019 — One Spring Night e Be Melodramatic. Sobre o primeiro, a Suca já foi sensata de eleger um dos melhores no nosso post Favoritos de 2019 (que você pode ler aqui).

Ainda há muitos outros dramas lançados em 2020 que eu quero ver! (Uma listinha com pelo menos uns dez?). Tive algumas decepções? Sim, sempre tem, potenciais desperdiçados, dramas que terminei na força do ódio e perseverança (The Game e Alice) e alguns que dropei na intuição (Born Again, Record of Youth) ou nem comecei. Mas no geral, foi um ótimo ano para a dramaland, mesmo que o mundo e a gente parecesse querer entrar em colapso. Espero que 2021 seja tão bom quanto, ou melhor, para os dramas e para nós. Bons dramas!

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Jéssica Oliveira
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Jornalista, fotógrafa e marketeira. Escrevo sobre cultura pop asiática no medium.com/blogadqsv e no blog.kocowa.com