Do que trata Lobisomem, O Apocalipse?
“No ar causticante, carregado de ódio, paira uma pergunta: quando a fúria tomará você?”.
― Lobisomem: O Apocalipse [2ª Edição]
Lobisomem: O Apocalipse é um jogo de RPG de mesa do Mundo das Trevas anunciado como “um jogo de Horror Selvagem”. É caracterizado por um tom épico e brutal cujo tema central parece ser o dualismo.
Como a própria imagem mítica do lobisomem, metade homem, metade lobo, o jogo explora de diversas formas a dualidade da existência de seus personagens-jogadores: humano e animal, matéria e espírito, racionalidade e paixão, tradição e mudança, selvageria e civilização, corrupção e redenção, criação e destruição, fúria e gnose, o mundo material e a Umbra (o mundo espiritual).
No jogo somos chamados a interpretar um dos membros remanescentes da antiga, poderosa e orgulhosa raça dos Garou, termo que os lobisomens do jogo usam para se referirem a si mesmos.
Livremente adaptados do mito europeu do lobisomem, os Garou não são criaturas amaldiçoadas reféns dos humores da lua, pelo menos não da forma como retratado nas antigas lendas. Eles já nascem Garou, não só entre humanos, mas também entre lobos e, até mesmo, a partir da união proibida entre dois membros de sua própria espécie. E podem mudar de forma a seu bel prazer, retendo a inteligência humana em qualquer dessas formas.
Eles veem a si mesmos como guerreiros sagrados, campeões eleitos por uma deusa antiga, para eles próprios a maior entre todos os deuses, Gaia, a deusa mãe-terra, envolvidos em uma guerra contra as forças da corrupção e da destruição sintetizadas em uma entidade metafísica que eles conhecem como “Wyrm”.
A Wyrm é apenas um dos vértices que uma tríade metafísica que constituí o cerne da cosmovisão de Lobisomem. Segundo essa perspectiva, a realidade, tanto física quanto espiritual, é regida por três forças: a Wyld, a Weaver e a Wyrm.
A Wyld é o princípio dinâmico da criação, os Garou em geral a reverenciam, ela representa a mudança, a vida e a criação.
A Weaver, em contraponto, representa a ordem, o formalismo, a razão e a estagnação. Esse conceito abarca desde a ânsia humana por categorizar e compreender a criação até a tecnologia mais avançada que pode surgir desse processo. Alguns Garou entendem a Weaver como um inimigo tão terrível e perigoso quanto a própria Wyrm.
Por fim, a Wyrm representa a decadência, a corrupção e a destruição; é ela quem ameaça a própria existência de Gaia e de sua criação com o Apocalipse, o fim inexorável.
Tudo o que existe, existiu ou existirá surge do caos criativo da Wyld, se estabelece dentro da ordem imposta pela Weaver e está fadado há um dia se degenerar e ser destruído pela ação da Wyrm.
Para desbravar o cenário do jogo, os jogadores podem optar entre as mais de dez tribos que formam a Nação Garou, cada uma delas refletindo uma determinada tradição de guerreiros tribais com raízes em arquétipos da história humana ou mesmo inspirada na mais primitiva essência das alcateias de caça formadas nas regiões mais selvagens do planeta.
Baseadas nestas diferentes tradições, a gama de personagens abarca desde os povos tradicionais de caçadores-coletores das regiões mais isoladas da África e América até as tribos urbanas modernas que florescem a sombra de grandes metrópoles, passando pelos lendários guerreiros e guerreiras vikings, celtas, amazonas da antiguidade clássica e até solitários beduínos e místicos hindus, mas, também, fortemente influenciados pelo espiritualismo xamânico e animista desses povos antigos.
A Sociedade Garou é brutal e primitiva, mas também fortemente marcada por rituais e por uma espiritualidade que considera que tudo o que existe possui seu próprio reflexo espiritual digno de alguma reverência.
Os Garou têm a missão sagrada de defender Gaia, patrulhando as fronteiras entre o mundo físico e espiritual, protegendo os locais mais selvagens e intocados do planeta e combatendo a corrupção em todas as suas formas.
Para isso, os lobisomens do jogo contam com muitos poderes natos, como: resistência e regeneração sobrenaturais que os tornam capazes de enfrentar artilharia pesada com as mãos nuas; capacidade de mudar de forma tornando-se verdadeiras máquinas de combate cobertas de pelos, com força e agilidade sobrenaturais; capacidade de cruzar a barreira entre os mundos físico e espiritual e interagir com espíritos; e um arsenal infindável de poderes sobrenaturais conferidos por seus aliados espirituais.
Mas apesar dessa nobre missão e dessa gama impressionante de poderes, os Garou são também criaturas desajustadas e atormentadas, que nunca parecem se enquadrar perfeitamente em qualquer dos muitos mundos por onde transitam enquanto lutam sua batalha aparentemente fadada a derrota. Eles caminham entre feras e humanos sendo temidos e incompreendidos por ambos. Vagam pelos sete cantos da existência, tanto física quanto espiritual, sem que possam permanecer por muito tempo em nenhuma dessas duas realidades.
Eles possuem uma característica única chamada Gnose que representa sua ligação com Gaia, seu vinculo com o mundo espiritual. É a Gnose que os possibilita cruzar a barreira entre os mundos e interagir com os espíritos, é ela também que os permite entrar em sintonia com os espíritos aprisionados no interior de objetos sagrados e mágicos, que chamam de Fetiches, para invocar efeitos sobrenaturais e também é o que lhes permite usar alguns de seus poderes mais impressionantes. Porém desenvolver sua Gnose demanda um grande esforço e autoconhecimento, além disso, essa característica quase nunca pode ser canalizada enquanto o lobisomem apela à sua Fúria.
A Fúria interior é o que torna capazes de feitos físicos impressionantes e pode até mesmo levá-los a sobrepujar a morte, mas ela é também o que os torna potencialmente voláteis, passionais e descontrolados e lhes impõem uma maldição que torna sua simples presença desconfortável para a maioria das outras criaturas, como se elas pudessem instintivamente perceber o predador oculto sob sua aparência mundana, quanto maior é a afinidade de um Garou pela Fúria, maiores são os efeitos da maldição e mais propenso a ceder a seus instintos mais básicos ele estará.
Sua dupla natureza, tanto humana quanto lupina, torna os Garou seres eminentemente sociais, um Garou sem uma matilha é uma criatura em profunda desgraça e solidão. Eles só parecem encontrar alguma paz entre os membros de sua própria espécie, comungando em seus locais sagrados, chamados Caerns, cada vez mais raros conforme a Wyrm avança.
Ainda assim, um mandato de Gaia os proíbe de procriarem entre si, o resultado dessa união proibida é sempre uma criatura distorcida e desfigurada que sofre com o desprezo da sociedade Garou, o que os obriga a manter laços estreitos com humanos e lobos para garantir sua descendência.
Grandes corporações inescrupulosas, políticos e empresários corruptos, a cultura de consumo, a destruição da natureza selvagem, monstros e espíritos a serviço da corrupção física e espiritual da terra e da humanidade, suas próprias frustrações e o tradicionalismo conservador de sua sociedade são os maiores desafios enfrentados pelos Garou.
Lobisomem: O Apocalipse foi o segundo título da linha de jogos do Mundo das Trevas, originalmente publicado em 1992, apenas um ano após o pioneiro Vampiro: A Máscara. Um dos maiores sucessos da linha, o jogo recebeu uma segunda edição já em 1994, uma terceira edição em 2000 e uma edição comemorativa de aniversário de 20 anos em 2013. Apenas a segunda e a terceira edições foram, até o momento, publicadas no Brasil pela editora Devir.
Em relação à terceira edição, a edição comemorativa de 20 anos, conhecida pelos fãs como W20, teve, além do adiamento do Apocalipse promovido pela Wyrm, poucas alterações em termos de sistema ou cenário, entre essas mudanças podemos citar: a supressão do Talento “Esquiva”, que passa a ser englobado por “Esportes”; a supressão do Conhecimento “Linguística”, línguas adicionais passam a ser adquiridas como Qualidades de um ponto. E a adição de novos dons e incremento de poder de dons antigos, sobretudo, os de primeiro nível, o que conferiu um clima ainda mais épico ao jogo.
Agora você, filhote, sabe o mínimo para se aventurar neste universo de paixão, dor e fúria. Sejam bem vindos às fileiras da Nação Garou!
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