Ewarë, o “Reino” Encantado da Amazônia.

Uma abordagem alternativa para os Gallain Amazônicos em Changeling: O Sonhar.

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
18 min readJun 15, 2020

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Versão em Português-BR | Versión en Español

Por Porakê Martins, Alex Pina, Aredze Xukurú, Eros Rosado, Jessele Damasceno & Kynni Kayode.

Arte de Alyne Leonel, original para Brasil in the Darkness.

No início do Mundo, Boiaçu foi encarregada de moldar e povoar a terra com todos os tipos de plantas e animais. Ela ficou feliz com seu trabalho e, dos sonhos das plantas, dos animais e da própria terra, surgiram os espíritos. Boiaçu ficou satisfeita com sua criação por eras, até que chegaram os primeiros humanos, os ancestrais dos povos indígenas.

De imediato, para evitar confusão, Boiaçu separou tudo que havia criado, dividindo a Superfície, o Mundo Outonal; do Fundo, o Sonhar e outros Reinos mais além. Aguardando a chegada das estranhas criaturas que são os humanos.

A origem dos Umuanas, os Antigos, remonta àqueles dias. Eles surgiram dos sonhos da terra, Boiaçu os permitiu permanecer na Superfície, ligados aos elementos da natureza, como remanescentes dos primeiros dias, quando ainda não havia a Linha D’água para separar as coisas.

No início, Boiaçu não gostou nenhum pouco dos humanos. Eles eram barulhentos, mal educados e insistiam em tentar mudar as coisas que ela havia criado. Eles derrubavam as árvores, tacavam fogo na mata, desviavam o curso de igarapés e cavavam a terra. Isso irritou Boiaçu. Então, furiosa ela criou os Panemas, a partir dos medos e dos pesadelos daqueles primeiros humanos, para alimentar de temor seus corações e expulsar eles de seus domínios.

Mas eles não eram tolos, viram que não poderiam se manter nestas terras sem as bênçãos de Boiaçu. Então eles imploraram por sua clemência, choraram e fizeram ecoar canções pedindo perdão e orientação. Boiaçu ouviu seu pedido, pois em seu coração não era surda ao sofrimento deles.

Assim foi firmado o Pacto, aqueles humanos poderiam permanecer, se respeitassem a criação de Boiaçu. Só então, Boiaçu nos criou. Seres feitos não só dos temores e pesadelos dos humanos, mas também de seus sonhos e desejos mais elevados, para inspirar, orientar e também punir aqueles que violassem o Pacto.

Este arranjo durou mais algumas eras. E mais uma vez Boiaçu estava feliz e satisfeita com o que havia feito. Mas um dia, os forasteiros vieram dar em nossas praias. Eles não estavam interessados em honrar pacto algum. Na verdade pareciam muito mais dispostos a massacrar até outros humanos como eles, que encontraram por aqui. E trouxeram consigo uma enxurrada de banalidade. E, bem, se você é um humano e não tem apreço nem sequer por outros humanos como você, o que se pode esperar em relação a qualquer outra coisa?

A tolice e a arrogância desta nova leva de humanos foi demais até mesmo para a paciência de Boiaçu. E dessa vez ela parece ter simplesmente virado às costas para a humanidade, se retirou para as profundezas do Fundo, a espera de dias menos tristes.

Antes de partir, porém, ela atendeu ao clamor daqueles entre nós que decidiram insistir em sua tarefa, revelando à Cobra Norato e Maria Caninana os segredos do Expediente Changeling. Ela ainda atende se você clamar por ela do jeito certo, mas é sempre a sua própria maneira, no seu próprio ritmo. Boiaçu é amorosa como uma mãe e misteriosa como o próprio amor, embora sua ira seja a coisa mais terrível de se ver.

Os Taiguaras são aqueles que recusaram o Expediente Changeling e por isso foram exilados, ou se auto-exilaram, no Fundo. Eles visitam a Superfície apenas de vez em quando, para tratar de seus próprios assuntos, e chamam a si mesmos de “Livres”, por não estarem presos à Superfície ou a corpos mortais.

E nós, Parente, os Povos Caapuã de Ewarë, os Nanatüs como se dizia antigamente, somos os que decidiram seguir com a tarefa que nos foi confiada por Boiaçu, compartilhando o destino da humanidade, por dever, amor, fatalismo, desespero ou teimosia. Porque esta é a natureza dos sonhos e dos sonhadores.

̶ Ubiratã, Mapinguari Rezingão do Grande Conselho de Ewarë.

Uma outra perspectiva sobre o cenário Changeling do Brasil

Art de Rodrigo Pascoal

“Minha terra tem Palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.”

- Oswald de Andrade,
“Canto de Regresso à Pátria”.

Este artigo traz a perspectiva da Equipe da Página Brasil in the Darkness, com a valiosa contribuição de nossos colaboradores, para os Gallain sul-americanos, a partir de elementos da cultura indígena, cabocla e afro-brasileira e da apresentação de uma proposta original para kiths amazônicos.

Em linhas gerais, o cenário oficial proposto para o Brasil é dominado por Gallain reclusos e desconfiados, como veremos mais adiante, livremente inspirados na cultura nativa, e que só na atualidade estariam tendo algum contato com os Kithain. Um quadro que, para nós, apenas demonstra um profundo desconhecimento sobre a riqueza histórica e a natureza cosmopolita da região.

Esta série de artigos é um esforço criativo e nossa tentativa de oferecer ao público brasileiro, e latino-americano, fã de Changeling: O Sonhar, uma representação mais digna, à altura dessa riqissíma região, a partir de uma proposta alternativa para o “Reino da Amazônia”, que busca também incorporar elementos da primeira versão para um cenário brasileiro para Changeling, chamado de “O Império do Crepúsculo”, de autoria do fã brasileiro Fabio “Nightrain” Lins, muito anterior ao cenário oficial apresentado pelo C20, que parece bem mais condizente com a realidade de nosso país, embora ainda bastante focado nos Kithain e restrito a uma perspectiva ainda muito eurocentrada.

É de conhecimento geral que o cataclismo conhecido pelos Kithain como “A Fragmentação” foi muito mais tardio e abrupto no “Novo Mundo”. Até o crepúsculo do Século XV, quando a chegada dos colonizadores trouxe consigo todo o peso da banalidade europeia à América, os povos originários do continente e as entidades do Sonhar, conviviam em relativa harmonia nas profundezas das áreas selvagens.

Na América do Sul os Nanätus ou Caapuãs, Changelings nativos também conhecidos como Encantados (apesar de, como é expresso no Players Guide da Edição de 20º Aniversário de Changeling: The Dreaming, Lore oficial ter reduzido o termo a um único kith), alimentavam-se dos sonhos e temores indígenas enquanto os orientavam sobre o necessário respeito à natureza e a importância de manter intocados os lugares sagrados onde o Mirakamby, contraparte Caapuã ao Glamour, flui livremente do “Fundo” (O Sonhar?) para o “Mundo da Superfície” (Mundo Outonal).

No Brasil a colonização portuguesa certamente teve um impacto decisivo na conformação da sociedade Changeling, como reflexo de sua influência decisiva no imaginário brasileiro, até mesmo pela propaganda colonial de superioridade da cultura europeia e pela repressão institucional à propagação das culturas indígenas e africanas, o que explica que na maior parte do território do país os Kithain sejam, de fato, a força hegemônica, dominando o imaginário e os sonhos locais.

Contudo, Changelings oriundos da amálgama de sonhos dos remanescentes dos povos originários e escravizados que, tão pouco, passaram incólumes pela influência dos colonizadores europeus, insistem em resistir à banalidade e ousam, não apenas se manterem vivos no imaginário dos sonhadores mortais, mas buscam ampliar sua influência para disputar os sonhadores brasileiros com os Kithain. Esses são os Caapuãs, termo que pode ser traduzido como “Povo das Matas”, em tupi-guarani, aquela que já foi a língua geral das colônias portuguesas na América do Sul.

Antes da colonização europeia havia pelo menos 5 milhões de nativos nos territórios que correspondem atualmente ao Brasil, algo equivalente às populações somadas de Portugal e Espanha no mesmo período. De modo bem generalista eram centenas, talvez milhares, de povos cada um deles com sua própria língua, cultura e história. Foram divididos pelo olhar dos colonizadores em quatro grandes nações, de acordo com o tronco linguístico ao qual suas línguas particulares pertenciam, um processo análogo a se tentar agrupar portugueses, espanhóis, italianos, franceses e romenos como uma mesma nação apenas por pertencerem todos eles ao tronco linguístico das línguas românicas. Seja como for, tal divisão tradicional separou, para fins supostamente didáticos, os povos nativos em: tupi-guaranis (que em geral habitavam o litoral), macro-jê (na região do Planalto Central), aruaques e caribes (ambos na Planície Amazônica).

Na atualidade, após séculos de perseguição e extermínio, apenas pouco mais de 800 mil indígenas ainda resistem no território brasileiro, o que corresponde a meros 0,4% da população, concentrados no Norte e Centro-Oeste do país, e, ainda assim, eles representam nada menos que 305 etnias e 274 línguas diferentes. A contribuição destes povos, remanescentes ou extintos é inegavelmente inestimável para a cultura e imaginário do Brasil contemporâneo.

Por outro lado, e embora o trabalho escravo tenha iniciado e se mantido com ampla utilização de mão de obra indígena, todos sabemos que a economia das colônias que viriam a formar o Brasil recorreu intensamente à escravização de pessoas oriundas do continente africano. Quase 5 milhões de pessoas foram forçadas a cruzar o atlântico para se verem escravizadas e desterradas no Brasil ao longo de três séculos e meio de escravidão legalizada no país (1538–1888). Africanos oriundos de diversas culturas, etnias e origens (negros da guiné, congos, ambundos, benguelas, ovambos, iorubás, jejes, minas, huaças, tapas e bornus), que nos legaram contribuições que marcaram profundamente nossa história, cultura, sociedade, sonhos e imaginário, cujos descendentes representam hoje mais da metade da população do país.

Assim, embora no imaginário dos sonhadores brasileiros contemporâneos, elfos, gnomos, duendes, bruxas e dragões de origem europeia predominem, eles ainda se vêem forçados a dividir espaço relutantemente com curupiras, exús, sacis, iaras, negrinhos do pastoreio, negros d’água, caiporas e muito mais. Na sociedade Changeling no Brasil, isso não poderia ser diferente. Por aqui o Sonhar é tão múltiplo e diverso, quanto múltiplas e diversas foram as contribuições que formaram essa intrincada tapeçaria de influências multiétnicas que é o Brasil, e, também, tão conflituoso e perigoso quanto o processo que lhe deu origem.

Um outro olhar sobre a história Changeling no Brasil

Arte de Alyne Leonel, original para Brasil in the Darkness.

“Por que plantavas estrelas
Depois de colher o sol
Não viste nas caravelas
A morte com o seu farol
Eh! Guaimiaba Eh! Eh! Guaimiaba !

Amavas a terra livre
Terra sem males sonhavas
Até que o invasor pisou
Flor da paz que guardavas (…)”

– Salomão Habib & João de Jesus Paes Loureiro,
“Guaimiaba”.

Para a maioria dos Kithain o Brasil é uma vastidão desolada tomada por Gallain reclusos. Poucos conhecem ou reconhecem a caótica e isolada corte Kithain local, embora o Protetorado da Floresta, ao qual os Kithain estrangeiros se referem apenas como “Reino da Amazônia” e sobre o qual costumam contar histórias fantasiosas sobre um suposto Reino Gallain Encantado, com pouca relação com a realidade local.

Porém, mesmo para os Changeling nativos, o Brasil pode ter vários nomes. O mais geral e aceito é Império do Crepúsculo. Variações também correm por aí: “Terra do Último Crepúsculo”, “Terra do Crepúsculo”, “Império no Fim do Mundo”, “O último dos impérios a surgir e resistir ao Longo Inverno”, “Terra onde Judas Perdeu as Botas”, etc. Os nobres mais arrogantes costumam referir-se a ele como Emain Ablach, que significa “Terra das Fadas” e seria apenas um dos nomes de Avalon. Eventualmente também se referem ao império como Hy-Braazil, como na lenda irlandesa.

A lenda repetida pelos Sidhe do Império do Crepúsculo, quase sempre representantes de Casa Nobres menores e amplamente marginalizadas por suas contrapartes na Europa e EUA, nos dá conta de que quando os Fomorianos foram derrotados eles foram para uma ilha à oeste da Irlanda, do outro lado do Oceano e que o nome dessa ilha seria HyBraazil. O mesmo destino teria sido seguido pelos Thuata de Danan ao serem derrotados pela descrença humana. Fica a critério de cada um acreditar ou não que o Brasil é o Hy-Braazil da lenda. Mas poucos além destes nobres leva tal história a sério.

Os Kithain costumam acreditar que a raízes da comunidade Changeling do Brasil, como ela é hoje, tenha nascido dos sonhos do Brasil imperial, considerando, também, a época colonial, com seus bandeirantes, indígenas e quilombolas, como fatores importantes do imaginário nacional. O que não poderia deixar de se refletir em todo o conflito e sede por conquistas e sangue que acompanha todo esse simbolismo. Portanto, aspectos, lugares e personagens dessa época também se fazem presentes: Nobres “fidalgos”, bandeirantes, capitães do mato, intrépidos desbravadores, jagunços odiosos, defensores dos direitos das minorias oprimidas, missionários, rebeldes, tapuias, quilombolas, saltimbancos, cangaceiros, pajés, morubixabas, guerreiras amazonas, pretensos heróis e tragédias… muitas tragédias. Mas os Caapuãs em Ewaë conhecem a verdade e sabem que sua própria história é muito mais antiga.

Um mosaico de cores e povos…

Na longa e conturbada história da relação entre Changeling nativos e de origem estrangeiras, os Eborás, uma sociedade secreta Sul-americana formada por Changelings de origem africana ou que se identificam com as Tradições afro-americanas, merecem, um capítulo à parte, como veremos mais adiante.

Vindos ao Brasil principalmente a partir do sangue e dos sonhos dos negros escravizados pelo regime colonial europeu, o testemunho de sua luta de resistência contra essa dominação, as marcantes afinidades na concepção de mundo e costumes observados entre os fées africanos e nativos, a solidariedade nascida na luta ombro-a-ombro contra a opressão e arrogância dos Kithain, fez nascer uma grande afinidade e empatia entre Caapuãs e Eborá exilados no Brasil, de tal maneira que os membros dos kiths Biloko, Djedi, Exu, Kuino, Oba, Obambo e Okubili, que passam pelo expediente changeling no Brasil costumam ser considerados como irmãos pelos Changeling nativos, muitas vezes servindo como pontes na historicamente conflituosa relação entre Caapuãs e Kithains, devido a sua relação mais antiga com os herdeiros dos Tuatha de Danann.

O Império do Crepúsculo

O Império recebeu seu nome em referência a sua localização, à Oeste em relação à Europa, e ao fato de ter sido colonizado efetivamente pelos Kithain apenas após o Despedaçar, considerado por eles o Crepúsculo da Era dos Sonhos. Ele é governado por um Triuvirato formado por três imperadores que se revezam no poder ao longo de cada ano e que são auxiliados pelo Senado Imperial, formado por representantes de cada um dos Reinos que compõem o Império, tais Reinos são soberanos entre si e fiéis à bandeira imperial:

Reino dos Montes Verdes — Basicamente o Sudeste do Brasil, pegando um pouco do Sudoeste da Bahia e estendendo-se pelo sul do Mato Grosso do Sul até a fronteira. É nele que fica a capital do império, o Ducado do BeloMar, governado pelo Duque Keldrian Nightrain de Liam.

No Alto da Boa Vista pode-se avistar (quimericamente) o Palácio do Sol Imortal, sede do governo Seelie e morada de Mikhael Caesar Augustus, imperador sidhe da Primavera. Dirigindo-se ao Largo da Carioca, nos subsolos do Metrô e do Mosteiro, encontram-se as passagens que levam ao Castelo das Sombras, no qual os Unseelie tem seu Imperador do Inverno, Oiche Chiuin, o sluagh. Ainda no centro, aquele com paciência e sorte, poderá vagar pelas ruas do Saara até encontrar a Porta Encantada em algum dos becos, curvas ou entradas do mercado de rua e assim atingir a Fortaleza das Mil Portas, onde Dona Andréa, Exu Imperatriz do Verão, zela por seus compatriotas Caapuãs.

Também é neste reino que se encontra o maior Ducado do império, o Ducado das Altas Torres (Grande São Paulo), governado pela Duquesa Elayne de Fionna. Alguns ducados de relevância que ficam no entorno da capital são o Ducado das Brumas Serranas, reduto conservador Gwydeon abrangendo Petrópolis, Teresópolis e demais cidades serranas em torno do Rio de Janeiro e que está sob a égide do Duque Paranhos de Gwydeon. Existe ainda o Ducado das Marés que compreende toda a Região dos Lagos e é governado pela Duquesa Mariana Cavalcantti de Albuquerque de Fionna.

Reino do Eterno Verão — O litoral do Nordeste. É governado pelo casal real, os Da Gama: Dom José, secretamente um Obá que é tomado pelos Kithain como um Exu especialmente nobre ou arrogante, e Dona Marina, uma Sidhe Outonal da Casa Scathach, , a frente de uma corte muito peculiar que congrega Kithain e Eborá quase na mesma proporção.

Ambos possuem alinhamento “Unsellie”, modernistas e são peças fundamentais na estrutura de poder do Império, um fato agravado pela discreta, embora inegável, influência de Dom José sobre todos os Eborá das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Tal influência é tomada por muitos Kithain como mera admiração legítima por um membro do povo que galgou sua posição por méritos próprios, enquanto para outros a veem como uma incômoda fonte de preocupação, por alimentar os sonhos de grandeza e plebeus insolentes, além do fato de ter sido D. José o responsável direto pela queda do antigo Imperador, línguas ferinas sussurram nas sombras que ele poderia tentar derrubar também sua sucessora.

Reino dos Pinhais — Paraná e Santa Catarina. O grande reduto Tradicionalista do império. Governado pela Rainha Sidhe Lavínia de Gwydeon, responsável pelo tratado de paz entre seu reino e o império. Sua orientação política é tradicionalista, mas sua visão pacifista não admite mortes em nome de qualquer causa.

Reino dos Pampas — Rio Grande do Sul. Governado pelo Rei Troll Flamínio Agripa de Liam e pela Rainha Curupira Yv Vera. Uma forte aliança entre Trolls e Caapuãs formou-se nesse reino, cuja culminância foi o casamento real. São de orientação reformista e de forma geral são fiéis ao império, para o horror dos Caapuãs Amazônicos.

Reino dos Castelos Esquecidos — Área da seca no Nordeste. Não há nenhuma grande concentração de Kithains ou Caapuãs ali. É um ambiente completamente hostil, um deserto infestado de feras quiméricas sedentas por glamour.

A paisagem seca é pontilhada por velhos castelos em ruínas, que dizem pertencer aos True Fae de antes do Despedaçar. Dizem que alguns ainda habitam seus castelos em Bedlam. Não tem governo algum. Suas fronteiras são vigiadas pela guarda imperial para que nada escape de lá e para avisar aos aventureiros que vão arriscar a sorte sobre os perigos e ceder provisões e hospitalidade aos necessitados que vão entrar ou que tiveram a sorte de escapar. É a terra do bando de Capitão Carniça do Mal e seu grupo de cangaceiros.

O Capitão Carniça é um Redcap fora-da-lei que assola a região e seu grupo é constituído de Kithains de todos os kiths, menos Boggans, que o capitão odeia e diz serem “Maricotas de tripa frouxa que só servem pra ter o buxo furado!”. As únicas figuras que o capitão parece respeitar são o Santo Padin Padre Cícero e Lampião que é sua grande inspiração e modelo. Também é conhecido por não ter medo de nada, nem dragão, nem cara feia. Mas todos de seu grupo sabem que ele jamais acampará perto da área consideradas amaldiçoada ou assombradas, pois morre de medo de assombração.

Reino do Xaraés — O Pantanal. Provavelmente o mais longe que um changeling vai entrar impunemente na floresta densa. É governado pelo Rei Sidhe Tibérius de Liam e dizem ser protegido por um grupo conhecido como “Vento das Matas” que seria composto por membros da Casa Scathach. A organização interna é bem mais flexível do que a dos outros reinos, cada grupo ou vila sendo quase autônoma. Tibérius acredita piamente que o melhor governo é o que governa menos. Claramente um Modernista, vive a maior parte do tempo no seu palácio na ilha flutuante de Urbi Máxima que vaga pelos rios e lagos da região sem que jamais se saiba onde está. Quando comparece aos conselhos é para criticar veemente o império e sua estrutura. Os tradicionalistas o adorariam se ele não apontasse sua língua ferina para eles boa parte do tempo também. Era mais contido anteriormente devido a sua amizade pessoal com regente anterior, mas ninguém sabe o que esperar dele com o advento do novo imperador.

Reino dos Cristais — O Planalto Central e adjacências. O maior reino do império, superado em área somente pelo Protetorado da Floresta. É governado pela Rainha Iuno de Eiluned. O império não abastece seus freeholds apenas com Fogos Feéricos originários da Pira da Serpente, mas também com Fontes de Glamour, associadas ao simbolismo Caapuã sobre a Mirakamby (Glamour), que flui do Fundo (Sonhar/Umbra) para o Mundo da Superfície (Mundo Outonal). São fontes de água quimérica que emergem dos cristais e pedras que são obtidos quase que exclusivamente do Reino dos Cristais.

Muitas das pedras que são obtidas e vendidas em lojas esotéricas, se vindas deste reino, tem algum glamour nelas. Algumas, mais raras, foram infundidas pelo glamour de tal forma que se colocada de modo apropriado num local cujo glamour seja particularmente mais alto, e se os rituais corretos forem seguidos, ela torna-se um escoadouro do Sonhar e Glamour em forma de água nasce através dela, tornando o freehold permanente. É uma área que esconde segredos antigos, naturalmente ligados as propriedades dessas pedras, e diz-se que foi a primeira área na qual os Kithain se estabeleceram quando vieram para cá fugindo da banalidade europeia.

A rainha Eiluned tem clara consciência do que é ser governante do território que pode prover material para freeholds e é por sua causa (será só dela?) que o planalto central é conhecido como “terra de intrigas”. Os imperadores mantêm dois postos avançados nesse reino. Uma no Ducado dos Golens (Brasília), para grande desagrado da rainha que fez de lá sua capital e outro na fronteira com a Grande Floresta, conhecido como Capitania Imperial, de onde eles costumam tratar com os Povos da Floresta quando requerido. A Capitania Imperial é governada pela Capitã-Mor Viviane, uma Exu, secretamente aliada da Grande Anciã Eborá, Dona Jesuína de Dambirá .

Capitania dos Golfinhos — Muitos consideram que essa ilha é nada mais nada menos que a Avalon das lendas. Mesmo que não seja, Fernando de Noronha não deixa nada a dever a ilha mitológica. É governada pela Rainha Magna Lucia (normalmente Rainha Lucia), uma epítome de beleza sidhe feminina. As relações da ilha com o império são, no mínimo, questionáveis. Embora o império classifique a ilha como capitania, seus habitantes consideram-se a si mesmos como um reino à parte e parecem não dar a mínima para o que o império diz.

Quem chega lá recebe informações sobre “nosso reino” e não sobre “a capitania”. Mandados e proclamações parecem não surtir muito efeito também. De modo que a área é tida como uma espécie de “zona franca” ou “paraíso legal”, onde todos parecem viver em implícita harmonia. Como o povo da ilha jamais apoiou nenhum inimigo do império e também não se mostra hostil ao território imperial, os imperadores permitem que a ilha seja uma espécie de “área de catarse” para onde os mais revoltados acabam indo, relaxam, se acalmam, e quase sempre, voltam menos perigosos do que foram. A rainha não é envolta em condições mais simples.

Dizem as lendas que a Rainha Lucia é acometida de mudanças de humor graves e que uma vez por mês ela seria completamente tomada por seu aspecto Unseelie e vagaria pelas praias da ilha em busca de uma vítima que seria submetida a sabe-se lá que torturas. Outros desconfiam seriamente de suas alegações de pertencer a casa Fionna e acreditam que ela seria a única descendente de uma tal casa Sebastiana, legítima herdeira do Lendário Rei D. Sebastião, e teria sido amaldiçoada a permanecer no fundo do Oceano por um tempo indeterminado em sua cidade submersa. Ainda segundo tais boatos, quando a cidade de Dom Sebastião viesse à tona mais uma vez, algo que certamente teria a ver com a Rainha Lucia, as ilhas de Marajó e Fernando de Noronha afundariam para dar-lhe lugar. De qualquer modo, as andanças noturnas da rainha durante suas crises, parecem ter dado bases para as lendas da Alamoa na ilha.

Ewarë, o Território Livre Caapuã.

Simbolo Kithain para Ewarë

O império nascente tratou de forma bastante conservadora e tradicional a resistência dos Nativos a um governo Sidhe unificado, o que fatalmente fez ressurgir com renovado vigor a animosidade e o rancor entre Caapuãs e Kithain.

No início, a resistência Caapuã era extremamente dispersa e desorganizada e os Nobres Sidhe tinham a seu lado a disciplina e a experiência militar. A aliança secreta entre os Caapuãs e a Nações Eborás foi fundamental para organizar a resistência em torno de quatro Kiths nativos principais (Caiporas, Curupiras, Karuanas e Mapinguaris) após duras derrotas.

No Norte os Caapuãs e Eborás articularam a criação do Grande Conselho de Ewarë para unificar a resistência dos Changeling nativos contra o assédio Kithain. Liderados por esse Conselho de sábios Síocháin, que já contavam com grande respeito entre os principais Povos Caapuã, foram capazes de unir as Anamas de Changeling nativos de Ewarë mudar a maré da Guerra.

Uma articulação que foi, ainda, favorecida por revoltas que eclodiram no Nordeste, onde Eborás locais tornaram impossível a criação de um Reino unificado, usando táticas de terror e guerrilha para combater as tropas imperiais. E no Sul, onde uma rebelião encabeçada por plebeus Trolls e Changeling nativos depôs o títere regente local ameaçando a unidade do instável Reino dos Pampas.

Ao fim de duas décadas de conflitos sangrentos encobertos pelo manto da Ditadura Militar, o Império estava seriamente abalado e disposto à acatar um acordo de paz que na prática significou a garantia de autonomia ao território de Ewarë sob a liderança amplamente reconhecida do Grande Conselho formado pelos próprios Caapuãs, apesar de todo ressentimento remanescente.

Por toda a Floresta Amazônica, conhecida pelos Caapuãs como Ewarë desde tempos ancestrais e como “Reino da Amazônia” pela comunidade changeling internacional, faz parte deste império Kithain, apenas formalmente, e do ponto de vistas das cortes que compõem o Império do Crepúsculo, é considerada uma área militar, hostil e selvagem para a maioria dos nobres. Ainda que, para os changeling nativos, seja simplesmente seu Lar, a terra de seus ancestrais e, acima de tudo, uma área autônoma, livre do controle Kithain.

Os Povos Caapuã são mais fortes em Ewarë do que em qualquer outra região do país e por aqui o domínio do Império se limita a poucas capitanias em algumas das maiores cidades da região, pelos termos do Acordo de Paz selado entre Caapuãs e Kithains. A principal delas é a Capitania do Rio Negro, em Manaus, de longe a maior de todas elas, comandada pelo respeitado Capitão Marcelus de Liam, aliado das lendárias Ikamiabas.

A NAÇÃO CAAPUÃ | A NAÇÃO EBORÁ

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