Design pra Vida — Letra por letra
Me sento em frente ao notebook e vejo o cursor piscando na tela em branco: um alerta insistente da minha inabilidade criativa para escrever.
Desligo a música.
Tiro o fone de ouvido.
Paro e tento ouvir o que minha mente tem a dizer.
Procuro aqui e ali alguma ideia que esteja passando desapercebida.
Nada.
Lembro vagamente de ler em A Grande Magia, de Elizabeth Gilbert — aquela mesma de Comer, Rezar e Amar — sobre como a criatividade é muito mais um exercício diário — umas busca dedicada — do que um lampejo de inspiração que nos toma inadvertidamente.
Quer dizer, aquela história de esperar a motivação vir de dentro, a inspiração vir de não sei de onde. Tudo blá-blá-blá.
Então, não vai ser tão simples como imaginava. Vai ter trabalho envolvido — penso. E logo, uma leve preguiça aparece.
Leve não, pesada.
Chego quase a desistir.
Não é o primeiro ano que me proponho a escrever periodicamente alguma coisa. Seja pelo desejo de exercitar a escrita, seja pelo desejo de registrar algum pensamento. O fato é que me desafio há tempos a quebrar essa barreira de construir em palavras, sentenças e parágrafos à partir daquele amontado de pensamentos que transitam em minha mente.
Em algumas ocasiões, o texto sai naturalmente, como se fosse a única maneira de expressar um sentimento. São ocasiões onde normalmente sinto que foi exatamente uma inspiração que tomou conta e não há dúvida alguma sobre o que precisa ser colocado em palavras. Os dedos percorrem o teclado ligeiros atrás da próxima letra e, se não tomar muito cuidado, pode ser que as palavras se dissolvam na limitação física de transcrever os pensamentos.
A inspiração reina e a confiança está ali, de prontidão, acompanhando cada etapa da criação. Não me demoro a evoluir nos parágrafos e a conclusão surge na-tu-ral-men-te. É como se aquele texto já existisse e eu só estou ali pra dar vazão e colocá-lo no mundo das palavras escritas.
Em algumas outras ocasiões — na maioria das vezes, na verdade — o cenário é bem diferente.
Passo horas apenas observando uma tela em branco. Com a sensação de carregar uma mente praticamente oca e um propósito de escrever que parece não ter sentido. Afinal, o que tenho de tão relevante e importante assim para compor em um pequeno texto e compartilhar por aí?
Aquela mesma mente efervescente de outrora dá lugar a um cenário de contos de terror: sótão abandonado com bolas de poeira transitando preguiçosamente quando uma brisa se arrisca a passar.
A dúvida do porquê estou me dando o trabalho de fazer alguma coisa que não é simples ou natural, que toma tempo e fosfato, adquire a forma de um verdadeiro empecilho.
Na maioria das vezes eu paro. Desisto. Abandono. A confiança já não se sabe onde está. E a inspiração teima em não se manifestar.
Para conseguir cumprir com minha própria meta e realizar aquilo que me dispus, sei que a única coisa que preciso fazer é vencer a mim mesma. De maneira direta e bastante racional.
E foi o que eu fiz até aqui. Letra por letra. Palavra por palavra. Frase por frase.
Uns vão dizer que foi um exercício astuto escrever sobre a dificuldade de escrever. Acho até que já vi alguns textos ali e aqui de quem enfrentou o mesmo problema que eu.
Outros talvez não se apercebam da brincadeira, de modo a realmente tirarem algum proveito da mesma — a gente não precisa ser tão sério com tudo, não é mesmo?
Espero apenas que esses dois minutos de leitura tenham somado para você leitor, que me acompanhou pacientemente até aqui.
❤
- esse devaneio faz parte da série 2018 de textos que me comprometi a compartilhar na jornada de Design da Vida. Se ainda não teve a oportunidade de ler os anteriores: Desenhando a minha bússola, Vestindo minhas orelhas de girafa e Jogabilidade convido você a fazê-lo. Pegue uma xícara de café (ou qualquer que seja a bebida que lhe caiba nesse momento) e aproveite esse descanso :)
- e se você quer conhecer o meu #laboroflove — aquele projeto que eu conto com brilho nos olhos e sorriso na alma — vem ouvir o Baseado em Fatos Surreais, um podcast que conta histórias de mulheres ❤
- ah, e não custa lembrar: gostou do texto? te fez pensar? clica nas palmas, compartilha com alguém que você acha que vai se beneficiar de alguma forma e me ajude na motivação para continuar na minha meta de 2018 ;)