GASTO DUPLO — O que é e como o Satoshi resolveu esse problema

Nosso sistema financeiro atual é resultado de décadas de melhorias e evoluções. Passamos por muitos problemas, não apenas de fraudes, mas de trágicas políticas fiscais que permitiram chegar, atualmente, a um modelo onde o dinheiro está relativamente bem guardado e protegido. Mesmo para situações extremas, como um banco quebrado, há garantias de que o capital dos clientes não será perdido.

Por outro lado, em se tratando de criptomoedas, isso não existe. É preciso confiar que as transações estão sendo feitas por uma tecnologia descentralizada que muitos nem sabem como funciona. Entender como Satoshi Nakamoto, criador da Bitcoin, resolveu problemas como o do gasto duplo e chegou a um consenso entre os generais Bizantinos é fundamental para que todos se sintam seguros, mesmo quando não há um terceiro agente protegendo e garantindo as transações.

Os generais Bizantinos

Por muito tempo o problema dos generais Bizantinos ocupou a cabeça dos melhores programadores do mundo. E por muito tempo foi considerado impossível de ser resolvido. O problema trata de dois generais que querem atacar uma cidade fortemente protegida. Cada general e seu exército ocupa uma montanha, com um vale entre eles. Para que possam sair vitoriosos o ataque precisa ser coordenado. Caso contrário, se um dos generais atacar sozinho, não terá forças para derrotar o exército inimigo.

Para que seja possível um ataque coordenado é fundamental que os generais se comuniquem através de mensageiros. O problema é que o mensageiro precisa atravessar o vale para chegar à outra montanha, correndo o risco de ser capturado e a mensagem nunca ser entregue. Se um general envia um mensageiro avisando que o ataque será amanhã, ele precisa de uma resposta do outro general garantindo que o ataque será amanhã. O general que recebe a mensagem, mesmo concordando com o ataque, não tem garantias de que sua resposta foi entregue, confirmando o ataque para amanhã.

Sem a garantia de resposta, se um dos generais hesitar em atacar, a derrota será certa para os dois. E mesmo que todas as mensagens sejam entregues, um dos generais acabará sem a garantia da última confirmação. Da mesma forma, numa rede descentralizada como a blockchain, não há um agente entre as transações capaz de confirmar que aquela transação é correta. Papel que bancos e operadoras de cartão de crédito, por exemplo, fazem no nosso modelo financeiro atual.

O problema do gasto duplo

Sem resolver o problema dos generais Bizantinos as criptomoedas seriam um fracasso. Por serem arquivos digitais seria muito fácil criar uma cópia. Ou seja, seria possível ter infinitas bitcoins. Várias transações seriam feitas com a mesma moeda, gerando o problema do gasto duplo.

A solução desse problema foi proposta por Satoshi Nakamoto no paper que criou a Bitcoin e pode ser entendida rapidamente: quando uma transação é enviada para a blockchain ela é inserida em um bloco. Esse bloco possui um hash do bloco anterior, que por sua vez também possui o hash do bloco anterior a ele, criando uma rede. Para que a transação seja válida, o minerador precisa ser capaz de conectar esse bloco à rede e que a própria rede o valide. Essa confirmação virá à medida que novos blocos sejam ligados ao bloco onde está a transação. Por isso que muitas vezes fala-se em “confirmação de 6 blocos”. Quanto mais blocos vierem depois, mais sólida e segura é a transação.

Por ser descentralizada há milhares de cópias da blockchain sendo atualizadas ao redor do mundo. Tornando impossível que um bloco seja fraudado, já que todas essas cópias guardam o histórico da transação. Quando uma informação é enviada entre generais que precisam de uma confirmação de entrega, é a blockchain que garante essa informação.

A resolução do problema do gasto duplo através de confirmações da rede que utilizam algoritmos de criptografia que não podem ser quebrados é a garantia tecnológica, sem influência humana, que faz das criptomoedas o futuro do nosso sistema financeiro.