“Estilos” de Jogar de RPG
Um breve artigo sobre as formas de jogar RPG e como o sistema Fate pode se encaixar em (quase) todos as formas de jogar RPG.
Olá pessoal, após um grande hiato de publicações, resolvi escrever um texto que tem tudo a ver sobre Fate e, na minha opinião, é um problema grave dentro do RPG. Muitos grupos limitam-se a uma forma de narrar e acabam desconhecendo completamente outras propostas.
Embora não exista um jeito “certo” de jogar RPG, vale a pena conhecer as diferentes formas que existem. As vezes você pode simplesmente estar afim de variar e testar outras propostas. Este artigo não tem por objetivo esgotar o tema, apenas apresentar uma ideia do que este autor conhece sobre cada forma e como estes são explorarados. No final de cada seção serão mencionadas dicas para utilizar o sistema de RPG Fate Core ou Fate Accelerated Edition, aqui resumidos apenas pelo termo Fate, dentro do “estilo”.
Estilo “Dungeon Crawl”
Este é com certeza o estilo mais famoso de se jogar RPG que existe: você reune seus amigos, se aventura masmorra a dentro, mata monstros, pilha tesouros, fica mais forte e procura uma masmorra mais forte. Você pode até não visitar uma masmorra inteira, mas trata-se se um jogo de exploração e evolução.
Para utilizar Fate dentro deste estilo, minha sugestão é iniciar os jogadores com uma pontuação mais fraca (pirâmide com máximo em 3) e uma quantidade reduzida de aspectos e façanhas. Regras para equipamentos são muito bem vindas aqui. Os encontros serão de grande importância, por isto, abuse da regra “fate fractal” para que todos os encontros e desafios sejam supreendentes e empolgantes.
Materiais que podem auxiliá-lo:
Textos que o Leo Paixão está escrevendo sobre o tema também estará aqui.
Estilo “Mundo das Trevas”
Infelizmente não encontrei um nome melhor para encaixar nesta categoria, então foda-se, apelidei do jeito que eu quis! O “World of Darkness”, e seus cenários Vampiro, Mago e Lobisomen, introduziram um estilo bastante interessante e voltado para o desenvolvimento do personagem acima de todas as coisas. Aqui o personagem é o foco central e principal do jogo! Rolagens ocorrem exatamente para entender qual é relação entre personagens e suas consequências com a sociedade. As aventuras interessantes neste estilo são cheias de drama, escolhas difíceis, NPCs únicos, investigações e pitadas dosadas de ação. Não economize na narração e nos detalhes, este é um estilo bastante cativante para os jogadores que curtem a proposta.
O Fate já é perfeito para este estilo! Minha recomendação é tematizar o grupo dentro de um dado cenário, assim como é apresentando nos diferentes cenários do jogo mundo das trevas. Os jogadores podem ser um grupo vampiros, lobisomens, magos, amaldiçoados, caçadores do desconhecido, etc. Regras caseiras para explorar poderes adicionais são bem vindos caso você queira jogar Fate dentro desta proposta.
é um excelente exemplo, onde todos os personagens são psiônicos organizados em um time.
Cavaleiros do zodiaco: https://medium.com/fate-rpg/cavaleiros-do-zodiaco-fae-be804265407f
Estilo Investigativo
mimimimi…. todo RPG tem investigação. Ah, jura? Se você não tivesse me contado isto, eu juro que não saberia!
Diferentemente dos estilos anteriores, aqui os jogadores são meros coadjuvantes, pois o vilão/cenário/situação são os verdadeiros astros! Aqui os jogadores encontram-se com poucos recursos, ou poderes, tentando de todas as formas encontrar pistas para parar o vilão/resolver o problema. Não sinta pena de punir os jogadores por movimentos errados, afinal de contas é uma proposta séria e que não será resolvida com tiros de pistola. Este tema pode ou não possuir elementos de terror, cabe a você escolher. Nunca narre uma cena com detalhes! É obrigação dos jogadores perguntar o que existe na cena, pois isto faz parte da investigação: quanto mais eles falam e participam, mais o jogo fica interessante para eles.
Recomendo utilizar o Fate Acelerado para este estilo, visto que o poder de abstração e narração dos jogadores será mais importante para lidar com a cena do que qualquer outra coisa. Entregar fichas prontas é até recomendável. Lembrando: não seja um “dick”, isto é, não provoque cenas inúteis nos jogadores, pois cada minuto procurando “pelo em ovo” é um minuto a menos nas cenas em que eles realmente precisam descobrir algo. Encoraje os jogadores a gastar seus pontos de destinos para inserir mais detalhes na aventura e esteja pronto para se adaptar a todos elees.
Uma sugestão foi uma aventura que eu redigi sobre o distrito 10.
Estilo Narrativo
Mais do que um sistema, esta é uma forma de se jogar RPG. Aqui o peso de criar o cenário e a aventura é diluído entre os jogadores além do narrador. Isto pode ser implementado em qualquer cenário de RPG, embora faça mais sentido quando a campanha já se inicie desta forma.
O sistema Fate foi feito para ser narrativo! Basta que você oriente os jogadores, desde a criação dos personagens, que eles são os responsáveis pela criação do cenário e dos elementos que compõem o cenário. Aqui, mais importante do que perguntar “o que você faz?” é perguntar “vocês gostariam de acrescentar algo na cena?”. Permita que os jogadores narrem a cena com base no resultado final da sua rolagem de dados, desde que faça sentido com a proposta e com a tabela de adjetivos. +4 significa algo “ótimo”, então oriente o jogador algo que narra algo que se enquadre dentro do “ótimo”.
Minha sugestão dentro desta proposta é ver o sistema SPARK, um sistema de regras para criação de um cenário de forma coletiva em FATE:
http://www.drivethrurpg.com/product/117868/A-Spark-in-Fate-Core
Estilo Space Opera
Talvez eu devesse sugerir apenas “Opera”, contudo, Space Opera é um termo modinha que eu gosto bastante. Aqui os personagens não são apenas protagonistas como estão diante de um um evento épico: salvar um império da destruição, salvar o mundo, salvar o bairro, etc. Aqui um dos focos é a disputa do bem contra o mal, mesmo que os jogadores descubram que o vilão é o pai deles. Monstros são importantes? São sim senhor! Mas mais importante do que monstros é uma história cativante onde os jogadores sintam que estão fazendo totalmente a diferença. Aqui é importante pensar em no contexto “macro”. A grande diferença entre este estilo e o estilo Mundo das trevas é que os personagens são muito importantes, por exemplo: Não estamos falando dos caçadores de vampiros lidando com problemas cotidianos; estamos falando da última equipe que o clã Belmont fez para derrotar os vampiros que na próxima lua cheia irão destruir o mundo!
Talvez este seja o melhor gênero que o Fate possa emular, pois é muito mais interessante possuir um personagem com uma história dramática que está resolvendo problemas que vão salvar o mundo. Recomendo ir de Fate Core, ou Fate Básico, sem tirar nem por nada. Aqui mais do que regras o importante é a sua postura como narrador, monstrando quão importante é tudo aquilo que os jogadores estão fazendo para salvar o universo. Escolhas difíceis e revelações deveriam ser o centro aqui. No máximo, adicione uns extras ou poderes que se encaixem com a proposta de salvar o universo. (Tipo robôs gigantes, naves espaciais ou super poderes).
Sugestão de materiais:
Camelot Trigger: http://www.drivethrurpg.com/product/119384/Fate-Worlds-Worlds-in-Shadow?term=camelot+trigger
Bulldogs: http://www.drivethrurpg.com/product/93603/Bulldogs
Espirito do Século: http://www.drivethrurpg.com/product/28296/Spirit-of-the-Century?it=1
Star Wars FATE: https://medium.com/fate-rpg/star-wars-fate-22c65f6e364c
Mechas no FATE: https://medium.com/fate-rpg/mechas-no-fate-eb5f2f9d6ab
Toolkit para veículos no FATE: https://medium.com/fate-rpg/toolkit-para-ve%C3%ADculos-em-fate-b%C3%A1sico-1389e6ea05ed
Fate, um sistema camaleão!
Para mim este é o principal motivo do porque o Fate é sensacional: não importa a forma de se jogar RPG, é possível adaptar para Fate. Antes de escolher uma forma/estilo/jeito/abordagem, apresente este texto para os jogadores, para que eles tenham uma visão mais abrangente do que existe por aí e escolham juntos o a forma vocês querem jogar. ☺
Notas de Rodapé
Este texto foi baseado na experiência empírica de alguém que joga RPG por mais de 18 anos e testou inúmeros sistemas e formas de se jogar. De forma alguma estas notas esgotam o tema ou sequer definem como um jogo precisa ser jogado. Utilize estas informações como fontes de inspiração, e não, como algo imutável.
O termo “estilo” utilizado neste texto refere-se a formas diferentes de conduzir uma sessão de RPG. Este é um texto voltado para o público geral, de forma que as terminologias aqui utilizadas podem estar incosistentes com as teorias do RPG. Recomendo fortemente a todos que desejam aprender mais sobre a teoria do RPG que visitem o grupo “Indie RPG” do Facebook.
A menção aos sistemas de RPG conhecidos foi utilizada de forma proposital, para que o leitor se identique com rapidamente com aquilo que ele já conhece.
